Segunda-feira, 20 de Junho de 2011

Noam Chomsky e a manipulação dos meios de comunicação

 (enviado por Maria Inês Aguiar)

 

O linguista norte-americano Noam Chomsky, que se define politicamente como “companheiro de viagem” da tradição anarquista, é considerado um dos maiores intelectuais da actualidade. Entre outros estudos, ele elaborou excelentes livros e textos sobre o papel dos meios de comunicação no sistema capitalista. É dele a clássica frase de que “a propaganda representa para a democracia aquilo que o cassetete significa para o estado totalitário”. No didáctico artigo abaixo, Chomsky lista as “10 estratégias de manipulação” das elites. Vale a penar ler e reler:

 

 

1- A estratégica da distração.

 

 

O elemento primordial do controlo social é a estratégia da distracção que consiste em desviar a atenção do público dos problemas importantes e das mudanças decididas pelas elites políticas e económicas, mediante a técnica do dilúvio ou inundações de contínuas distracções e de informações insignificantes.

 

A estratégia da distracção é igualmente indispensável para impedir o público de se interessar pelos conhecimentos essenciais, na área da ciência, da economia, da psicologia, da neurobiologia e da cibernética. “Manter a atenção do público distraída, longe dos verdadeiros problemas sociais, cativada por temas sem importância real. Manter o público ocupado, ocupado, ocupado, sem nenhum tempo para pensar; de volta à quinta como os outros animais (citação do texto “Armas silenciosas para guerras tranquilas”)”.

 

 

2- Criar problemas, depois oferecer soluções.

 

 

Este método também é chamado “problema-reacção-solução”. Cria-se um problema, uma “situação” prevista para causar certa reacção no público, a fim de que este seja o mandante das medidas que se deseja fazer aceitar. Por exemplo: deixar que se desenvolva ou se intensifique a violência urbana, ou organizar atentados sangrentos, a fim de que o público seja o mandante de leis de segurança e políticas em prejuízo da liberdade. Ou também: criar uma crise económica para fazer aceitar como um mal necessário o retrocesso dos direitos sociais e o desmantelamento dos serviços públicos.

 

 

3- A estratégia da degradação.

 

 

Para fazer com que se aceite uma medida inaceitável, é suficiente aplicar progressivamente, em “degradado”, sobre uma duração de 10 anos. É dessa maneira que condições socioeconômicas radicalmente novas têm sido impostas durante os anos de 1980 a 1990. Desemprego em massa, precariedade, flexibilidade, salários que já não asseguram ingressos decentes, tantas mudanças que haviam provocado uma revolução se tivessem sido aplicadas de forma brusca.

 

 

4- A estratégica do diferido.

 

 

Outra maneira de se fazer aceitar uma decisão impopular é a de apresentá-la como sendo “dolorosa e necessária”, obtendo a aceitação pública no momento para uma aplicação futura. É mais fácil aceitar um sacrifício futuro do que um sacrifício imediato. Primeiro, por que o esforço não é empregado imediatamente. Em seguida, por que o público, a massa, tem sempre a tendência a esperar ingenuamente que “tudo irá melhorar amanhã” e que o sacrifício exigido poderá ser evitado. Isto dá mais tempo ao público para acostumar-se com a idéia de mudança e de aceitá-la com resignação quando chegue o momento.

 

 

5- Dirigir-se ao público como crianças de tenra idade.

 

 

A maioria da publicidade dirigida ao grande público utiliza discurso, argumentos, personagens e entoação particularmente infantis, muitas vezes próximos da debilidade, como se o espectador fosse um menino de tenra idade ou um deficiente mental. Quanto mais se procura enganar o espectador, mais se tende a adotar um tom infantilizante. Porquê?

“Se você se dirige a uma pessoa como se ela tivesse a idade de 12 anos, então, em razão da sugestionabilidade, ela tenderá, com certa probabilidade, uma resposta ou reação também desprovida de um sentido critico como a de uma pessoa de 12 anos de idade (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

 

 

6- Utilizar o aspecto emocional muito mais do que a reflexão.

 

 

Fazer uso do aspecto emocional é uma técnica clássica para causar um curto circuito na análise racional, e por fim ao sentido critico dos indivíduos. Além do mais, a utilização do registro emocional permite abrir a porta de acesso ao inconsciente para implantar ou enxertar idéias, desejos, medos e temores, compulsões, ou induzir comportamentos…

 

 

7- Manter o público na ignorância e na mediocridade.

 

 

Fazer com que o público seja incapaz de compreender as tecnologias e os métodos utilizados para seu controle e sua escravidão. “A qualidade da educação dada as classes sociais inferiores deve ser a mais pobre e medíocre possível, de forma a que a distância da ignorância que paira entre as classes inferiores e as classes sociais superiores seja e permaneça impossível de ultrapassar para as classes inferiores (ver “Armas silenciosas para guerras tranqüilas”)”.

 

 

8- Incentivar o público a ser complacente na mediocridade.

 

 

Incentivar o público a achar “cool” o facto de ser estúpido, vulgar e inculto…

 

 

9- Reforçar a revolta pela culpabilidade.

 

 

Fazer o indivíduo acreditar que é somente ele o culpado pela sua própria desgraça, por causa da insuficiência de sua inteligência, de suas capacidades, ou de seus esforços. Assim, ao invés de rebelar-se contra o sistema econômico, o individuo se auto-desvalida e culpa-se, o que gera um estado depressivo um efeito do qual é a inibição da sua ação. E sem ação, não há revolução!

 

 

10- Conhecer melhor os indivíduos do que eles mesmos se conhecem.

 

 

No transcorrer dos últimos 50 anos, os avanços acelerados da ciência têm gerado crescente brecha entre os conhecimentos do público e aquelas possuídas e utilizadas pelas elites dominantes. Graças à biologia, à neurobiologia e à psicologia aplicada, o “sistema” tem desfrutado de um conhecimento avançado do ser humano, tanto de forma física como psicologicamente. O sistema tem conseguido conhecer melhor o individuo comum do que ele mesmo conhece a si mesmo. Isto significa que, na maioria dos casos, o sistema exerce um controlo maior e um grande poder sobre os indivíduos do que os indivíduos a si mesmos.

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por Augusta Clara às 20:58
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5 comentários:
De adao cruz a 20 de Junho de 2011
Verdades como punhos. Mundo podre e perverso.
De adriano pacheco a 20 de Junho de 2011
Excente artigo que dá a conhecer ao público a maneira como se desviam as atenções das massas.

Parabéns pela ajuda pedagógica, Inês Aguiar

Adriano
De Augusta Clara a 20 de Junho de 2011
A verdadeira cartilha da pulhice política. Não me canso de ler o Chomsky .
De Luis Moreira a 20 de Junho de 2011
Maravilha! A maioria não se apercebe que isto funciona assim.
De Inês Aguiar a 21 de Junho de 2011
O verdadeiro mérito é do Carlos L. e da Augusta C., eu só relembrei as sábias palavras de Noam Chomsky.
Obrigada aos dois.

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