Ontem passou-me pela frente dos olhos uma síntese do relatório elaborado pelos homens da Troika sobre a situação na Grécia . A visão que nos dão é aterradora mas pelos vistos para elas é a solução , isto é aquilo que nos aterra é aquilo que eles defendem para a Grécia, tudo com um objectivo: a consolidação orçamental , não nos tempos das vagas gordas, o que seria normal, mas sim no tempo das vagas magras e de tão magras muitas delas já estão que se corre o risco de ficarem eternamente doentes, mas insistir nesse objectivo nessas condições de recessão terrível é politicamente criminoso. É o mínimo que se pode considerar dos lideres políticos que nos levaram a esta situação. Gentilmente, dois professores ingleses dirão que os homens de Bruxelas são mais ignorantes que as crianças, pegam num telescópio e procuram ver ao longe pelo lado oposto! A lição de Keynes é que se deve primeiro olhar para os níveis de emprego e tratá-los. Depois os défices tratam-se quase que por si. Trata-se de olhar pelo telescópio mas pelo lado correcto, não como faz Durão Barroso e os seus altos funcionários. Pelo lado correcto, este é o nosso lado para olhar pelo telescópio, esse é também o de milhões de desempregados que por essa Europa fora estão impedidos de procurar ou de encontrar emprego , esse é o lado pelo qual as crianças desta Europa que pelos criminosos políticos está a ser massacrada, gostariam que se olhasse para assim se vislumbrar o seu futuro, não o seu inferno.
Dessa síntese do relatório , o primeiro parágrafo que aqui repetimos é exemplar: "A recessão parece ser um pouco mais profunda e prolongada do que aquela que se esperava inicialmente de acordo com as nossas projecções ... Há indícios bem claros de que o reequilíbrio da economia está a realizar-se e que o período da mais profunda contracção já passou ... No entanto, está ainda prevista uma nova contracção do PIB real para o segundo semestre de 2011,.assim como a necessidade de consolidação orçamental adicional e das restrições de liquidez vai adiar ainda a recuperação por um bom par de trimestres. O crescimento real do PIB para 2011 está projectado para ser de menos -3,8 por cento. Negativo portanto, embora estejam projectadas taxas moderadas de crescimento a partir de 2012”.
A situação da Grécia está mal, vai ficar pior com as medidas já tomadas, vai ainda continuar a piorar mais com as medidas ainda a tomar, mas a Grécia, como diz o documento da Troika é ainda rica e a conclusão é então aproveitar. Diz-nos o referido relatório:
“o governo grego é um dos soberanos europeus com a mais rica carteira de activos... A maioria desses activos não fornecem quaisquer receitas pertinentes;. empresas estatais deficitárias que têm sido efectivamente uma fonte de custos suportados pelos contribuintes.
Deixemos os juros disparar, e deixar é o verbo a utilizar, o verbo que e então a essa situação se deve aplicar será pois… privatizar,
privatizar. Privatizar, para quê? Para descer o peso da dívida grega. Vejamos como.
Na nossa última aula publicada pelo estrolábio vimos que o peso da dívida relativamente ao PIB na Grécia era de aproximadamente 150% . Também aí explicámos que a expressão de variação da dívida pública por unidade PIB é dada pela expressão db = dp+b(i - g), onde db é a evolução da dívida pública por unidade PIB, b é a ratio da dívida pública relativamente ao PIB, dp é o défice público primário por unidade de PIB, que também pode ser visto como sendo a diferença entre o que os contribuintes pagam ao Estado e o que dele recebem, mais geralmente definido como a posição orçamental por unidade do PIB, sem o serviço da dívida, i a taxa de juro da dívida pública e g a taxa de crescimento nominal do PIB.
Seja então a taxa de financiamento definida pelo taxa dos Bunds, os títulos alemães adicionado do CDS sobre os títulos gregos. A cotação de hoje era a seguinte:
|
Previous Day Close |
Yesterday’s Close |
This morning |
France |
0.334 |
0.337 |
0.340 |
Italy |
1.709 |
1.801 |
1.782 |
Spain |
2.330 |
2.422 |
2.411 |
Portugal |
7.770 |
7.930 |
7.910 |
Greece |
13.309 |
13.839 |
14.10 |
Ireland |
7.867 |
8.066 |
8.235 |
Belgium |
1.112 |
1.144 |
1.143 |
Bund Yields |
3.245 |
3.026 |
3.045 |
E a taxa dos títulos gregos a considerar é então 3.245+13.309, ou seja 16,550. Vimos pelos números da Troika que a taxa de crescimento da economia grega é de (-3,8) então temos :
db=dp+150 [16,550 - (-3,8)]= dp+ 150 (20%) = dp+30%. Se a dívida externa não crescesse, se db fosse igual a zero então dp teria que ser a menos 30%. Este facto significa que se teria que obter um excedente primário de 30% e isto significa pura e simplesmente que por cada euro, (por cada euro grego, ou se calhar por dracma novo, desculpem-me, enganei-me) cada cidadão teria que dar 30 por cento do que ganha para que pudesse ficar a dever o mesmo.
E aqui vai a síntese do relatório da Troika
Troika-report
BERLIM (Reuters) - A missão à Grécia da União Europeia, do BCE e do FMI, diz no seu mais recente relatório obtido pela Reuters na quarta-feira que a próxima parcela do auxílio concedido à Grécia não podia ser feito a não ser que a Grécia corrija a situação de subfinanciamento do seu programa de ajustamento.
Seguem-se aqui alguns pontos por nós destacados do relatório feito pelos peritos da chamada "Troika" da União Europeia, Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional:
RECESSÃO
"A recessão parece ser um pouco mais profunda e prolongada do que aquela que se esperava inicialmente de acordo com as nossas projecções ... Há indícios bem claros de que o reequilíbrio da economia está a realizar-se e que o período da mais profunda contracção já passou ... No entanto, está ainda prevista uma nova contracção do PIB real para o segundo semestre de 2011,.assim como a necessidade de consolidação orçamental adicional e das restrições de liquidez vai adiar ainda a recuperação por um bom par de trimestres. O crescimento real do PIB para 2011 está projectado para ser de menos -3,8 por cento. Negativo portanto, embora estejam projectadas taxas moderadas de crescimento a partir de 2012".
Metas Fiscais
"As receitas arrecadadas pelo Governo resultantes dos impostos continuam a ficar aquém do que nos planos se esperava, mesmo depois da revisão à baixa atribuída em relatórios anteriores.
"A missão de avaliação anterior (Fevereiro de 2011) identificou que, sem medidas adicionais, a meta fiscal para 2011 não seria lcançada em pelo menos três quartos de ponto percentual do PIB. Entretanto, a diferença entre as projecções fiscais e o limite do défice tem-se alargado substancialmente. Se nenhuma acção for tomada, o défice público em 2011 ficaria perto do nível de 2010, acima dos 10 por cento do PIB. "
"O objectivo da estratégia orçamental de médio prazo é o de identificar as medidas de redução do défice, que sejam de efeitos duradouros na redução do défice. O objectivo é reduzir o défice orçamental para 2,5 por cento do PIB em 2014 e reduzir mais ainda em
2015, e colocar o rácio da dívida em situação de ficar a descer de modo sustentado. Para atingir esse objectivo, o governo identificou medidas de consolidação orçamental de 10 por cento do PIB, de 2011 a 2014, e mesmo acima de 11 por cento do PIB, se for o considerado o período de 2011-15 . "
"Este pacote fiscal só pode ser bem sucedido se for posto em prática de forma decisiva e
consistente com o apoio de todos os ministérios . A legislação deverá ser
aprovada pelo Parlamento entre o final de Junho e a primeira semana de Julho."
PRIVATIZAÇÕES
"O governo grego é um dos soberanos europeus com a mais rica carteira de activos... A maioria desses activos não fornecem quaisquer
receitas pertinentes;. empresas estatais deficitárias que têm
sido efectivamente uma fonte de custos suportados pelos contribuintes. Deste modo, privatizar esses activos irá contribuir para reduzir a posição financeira do governo com um pequeno custo, se o houver, em termos de receitas futuras mas em que se pode realmente reduzir os custos actuais ... Para acelerar o processo, e para assegurar a sua completa irreversibilidade , deve ser posta em marcha uma adequada governação : uma agência de privatizações gerida por um conselho independente e profissional
deverá ser rapidamente estabelecido. A Comissão e os Estados membros da zona euro poderão nomear observadores para o conselho da agência. Além disso, para reforçar a sua credibilidade, a missão concordou que os objectivos vinculativos trimestrais quanto à obtenção de receitas das privatizações deveria fazer parte da condicionalidade nos memorando de entendimento actualizados
(updated memorandum of understanding MOU). "
SUSTENTABILIDADE
"O reforçar a consolidação orçamental e os planos de privatização poderá contribuir para levar relação dívida / PIB publica para uma trajectória sustentável. Com base nas projecções actuais, o rácio da dívida pública grega atingirá o pico em 2012/2013 ... e passará a decair a partir daí, com uma contribuição significativa do plano de privatizações .Embora a Grécia tenha que continuar rigorosamente com uma política de austeridade fiscal e da redução do rácio da dívida e terá que o fazer por muitos anos, a inflexão na relação dívida
/ PIB vai contribuir para melhorar a confiança do mercado na economia grega. "
Mecanismos de segurança nos bancos ( BUFFERS)
"O Banco Central da Grécia vai exigir reservas adicionais de capital contra a deterioração potencial do seu ambiente operacional, com base no perfil de risco específico de cada banco . Contudo, a missã faz questão de sublinhar que as perspectivas para o sector grego financeira não são independentes das escolhas assumidas para acabar com a enorme falha quanto ao financiamento soberano ".
REFORMAS ESTRUTURAIS
"Embora haja melhorias na competitividade, graças a uma redução dos salários, as reformas estruturais ainda não alcançaram uma massa crítica que lhes permita obterem um resultado concreto quanto à produtividade da economia e quanto à sua capacidade de crescimento."
CONSENSO POLÍTICO
"A missão identificou alguns pontos de convergência entre os programas de ajustamento e as medidas propostas pelo principal partido da oposição (ND). O Partido ND apoia um programa extensivo de privatizações.e há aqui uma convergência de pontos de vista na sua maioria favoráveis ao desenvolvimento das reformas estruturais e do crescimento, . ... Mais ainda, a missão concordou com a oposição sobre a fundamental importância que há em erradicar as dívidas aos fornecedores e em pagar os reembolsos de impostos o mais cedo possível, assim como estão de acordo sobre a necessidade de acelerar a utilização dos fundos estruturais. Contudo, a missão é de opinião de que os grandes cortes nos impostos.propostos no programa económico do principal partido da oposição são irrealistas e incompatíveis com os objectivos gerais do programa de ajustamento. Contudo, a missão concorda com o governo e com a oposição que se deve trabalhar para a reforma tributária fiscalmente neutra, a partir do Outono em diante, com o objectivo de alargar as bases tributárias, eliminando muitas das isenções fiscais, o que pode assim levar a uma redução nas taxas de imposto sobre o trabalho. No momento em que se está a redigir este relatório, parece muito pouco provável que o principal partido da oposição vá votar favoravelmente o novo pacote de medidas fiscais ".
FINANCIAMENTO
"Grécia, provavelmente, não será capaz de voltar ao mercado em 2012. No plano de financiamento acordado há um ano assumiu-se que a Grécia não iria ao mercado durante quase dois anos e que voltaria a renovar a sua dívida de médio e de longo prazo a partir do início de 2012. Este é agora um cenário muito remoto. O custo de financiamento no mercado continua proibitivo ... É improvável que os rendimentos sobre os seus títulos voltarão para níveis acessíveis em questão dentro de alguns trimestres. O cepticismo dos mercados está relacionado com as dúvidas existentes sobre a capacidade e sobre a vontade do governo grego e da sociedade em continuarem a executar o processo de consolidação fiscal e em conseguirem estabelecer a competitividade da Grécia. Além disso, a incerteza sobre o funcionamento da União Europeia e as possibilidades de financiamento na zona do euro agravou a tensão nos mercados financeiros. "
"A estratégia de financiamento tem de ser revista. Dada que é remota a possibilidade de a Grécia voltar aos mercados financeiros em 2012 para se financiar o programa de ajustamento agora estabelecido.está subfinanciado. A.próximá prestação não poderá ser executada sem que esta questão do sub-financiamento esteja resolvida."
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