Quinta-feira, 16 de Junho de 2011

A bandeira da Grécia em saldo, talvez. E a de Portugal? - por Júlio Marques Mota

 

 

Ontem passou-me pela frente dos olhos uma síntese  do relatório elaborado pelos homens  da Troika sobre a situação na  Grécia . A visão que nos dão é aterradora mas pelos vistos para elas é a solução , isto é aquilo que nos aterra é aquilo que eles defendem para a Grécia, tudo com um objectivo: a consolidação orçamental , não nos tempos das vagas gordas, o que seria normal, mas  sim   no tempo das vagas magras e de tão magras muitas delas  já estão que se corre o risco de ficarem eternamente doentes, mas insistir nesse objectivo nessas condições de recessão terrível é politicamente criminoso. É o mínimo que se pode considerar dos lideres políticos que nos levaram a esta situação.  Gentilmente, dois professores ingleses dirão que os homens de Bruxelas  são mais ignorantes que as crianças, pegam num telescópio e procuram ver ao longe pelo lado oposto! A lição de Keynes é que se deve primeiro olhar para os níveis de emprego e tratá-los. Depois os défices tratam-se quase que por si. Trata-se de olhar pelo telescópio mas pelo lado correcto, não como faz Durão Barroso e os  seus altos funcionários. Pelo lado correcto, este é o nosso lado para olhar pelo telescópio, esse é também o de milhões de desempregados que por essa Europa fora estão impedidos de procurar ou de encontrar emprego , esse é o lado pelo qual  as crianças desta Europa  que pelos criminosos políticos está a ser massacrada, gostariam que se olhasse para assim se vislumbrar o seu futuro, não o seu inferno.

 

Dessa síntese do relatório , o primeiro parágrafo que aqui repetimos é exemplar: "A recessão parece ser um pouco mais profunda e prolongada do que aquela que se esperava  inicialmente de acordo com as nossas projecções ... Há indícios bem claros  de que o reequilíbrio da economia está a realizar-se  e que  o período  da mais  profunda contracção já passou ... No entanto, está ainda prevista uma nova contracção do PIB real para o segundo semestre de 2011,.assim como a  necessidade de consolidação orçamental adicional e das restrições de liquidez vai adiar ainda a recuperação  por  um bom par de trimestres. O crescimento real do PIB para 2011 está projectado para ser de menos -3,8 por cento. Negativo portanto, embora  estejam projectadas taxas moderadas de crescimento  a partir de 2012”.

 

 

A situação da Grécia está mal, vai ficar pior com as medidas já tomadas, vai ainda continuar a  piorar mais   com as  medidas ainda a tomar, mas a Grécia, como diz o documento da Troika  é ainda rica e a conclusão é então aproveitar. Diz-nos o referido relatório:

 

“o governo grego é um dos soberanos europeus com a mais rica carteira de activos... A maioria desses activos não fornecem  quaisquer  receitas pertinentes;. empresas estatais deficitárias que têm sido efectivamente uma fonte de custos suportados pelos contribuintes.

 

Deixemos os juros disparar, e deixar é o verbo a utilizar, o verbo que e  então  a essa situação se deve aplicar será pois…  privatizar,
privatizar. Privatizar,  para quê? Para descer o peso da dívida grega. Vejamos como.

 

Na nossa última aula publicada pelo estrolábio vimos que o peso da dívida relativamente ao PIB na Grécia era de aproximadamente 150% . Também aí explicámos que a expressão  de variação da dívida pública por unidade PIB é dada pela expressão db = dp+b(i - g), onde db é a evolução da dívida pública por unidade PIB, b é a ratio da dívida pública relativamente ao PIB, dp é o défice público primário por unidade de PIB, que também pode ser visto como sendo a diferença entre o que os contribuintes pagam ao Estado e o que dele recebem, mais geralmente definido como a posição orçamental por unidade do PIB, sem o serviço da dívida, i a taxa de juro da dívida pública e g a taxa de crescimento nominal do PIB.

 

Seja então  a taxa de financiamento   definida pelo taxa dos Bunds, os títulos alemães adicionado do CDS sobre os títulos gregos. A cotação de hoje era a seguinte:

 

 

 

Previous Day Close

Yesterday’s Close

This morning

France

0.334

0.337

0.340

Italy

1.709

1.801

1.782

Spain

2.330

2.422

2.411

Portugal

7.770

7.930

7.910

Greece

13.309

13.839

14.10

Ireland

7.867

8.066

8.235

Belgium

1.112

1.144

1.143

Bund Yields

3.245

3.026

3.045

 

E a taxa dos títulos gregos a considerar é então 3.245+13.309, ou seja 16,550. Vimos pelos números da Troika que a taxa de crescimento da economia grega é de  (-3,8)  então temos :

 

db=dp+150 [16,550 - (-3,8)]= dp+ 150 (20%) = dp+30%. Se a dívida externa não crescesse, se db fosse igual a zero  então dp teria que ser  a menos 30%. Este facto significa que se teria que obter um excedente primário de 30% e isto significa pura e simplesmente que por cada euro, (por cada euro grego, ou se calhar por dracma novo, desculpem-me, enganei-me)  cada cidadão teria que dar 30 por cento do que ganha para que pudesse ficar a dever o mesmo.

 

E aqui vai a síntese do relatório da Troika  

  

Troika-report

 

BERLIM (Reuters) - A missão à Grécia da União Europeia, do BCE e do FMI, diz  no seu mais recente relatório  obtido pela Reuters na quarta-feira que a  próxima parcela do auxílio concedido à Grécia não podia ser feito a não ser que a Grécia  corrija  a situação de subfinanciamento do seu programa de ajustamento.

 

Seguem-se  aqui  alguns pontos por nós destacados do relatório feito pelos peritos da chamada "Troika" da União Europeia, Banco Central Europeu e do Fundo Monetário Internacional:

 

RECESSÃO


"A recessão parece ser um pouco mais profunda e prolongada do que aquela que se esperava  inicialmente de acordo com as nossas projecções ... Há indícios bem claros  de que o reequilíbrio da economia está a realizar-se  e que  o período  da mais  profunda contracção já passou ... No entanto, está ainda prevista uma nova contracção do PIB real para o segundo semestre de 2011,.assim como a  necessidade de consolidação orçamental adicional e das restrições de liquidez vai adiar ainda a recuperação  por  um bom par de trimestres. O crescimento real do PIB para 2011 está projectado para ser de menos -3,8 por cento. Negativo portanto, embora  estejam projectadas taxas moderadas de crescimento  a partir de 2012".

 



Metas Fiscais



"As receitas  arrecadadas pelo Governo resultantes dos impostos continuam a ficar aquém do que nos planos se esperava, mesmo  depois da revisão à  baixa atribuída em relatórios anteriores.

 

"A missão de avaliação anterior (Fevereiro de 2011) identificou que, sem medidas adicionais, a meta fiscal para 2011 não seria  lcançada em  pelo menos três quartos de ponto percentual do PIB. Entretanto, a diferença entre as projecções fiscais e o limite do défice tem-se alargado substancialmente. Se nenhuma acção for  tomada, o défice público em 2011  ficaria perto do nível de 2010, acima dos 10 por cento do PIB. "

 

"O objectivo da estratégia orçamental de médio prazo é o de identificar as medidas de redução do défice, que sejam de efeitos  duradouros na  redução do défice. O objectivo é reduzir o défice orçamental para 2,5 por cento do PIB em 2014 e reduzir mais ainda em
2015, e colocar o rácio da dívida em situação de ficar a descer de modo sustentado. Para atingir esse objectivo, o governo identificou medidas de consolidação orçamental de 10 por cento do PIB, de 2011 a 2014, e mesmo acima de 11 por cento do PIB, se for o considerado o período de 2011-15 . "

 

"Este pacote fiscal só pode ser bem sucedido se for  posto em prática de forma decisiva e
consistente com o apoio de todos os ministérios . A legislação deverá ser
aprovada pelo Parlamento entre o final de Junho e a primeira semana de Julho."

PRIVATIZAÇÕES



"O governo grego é um dos soberanos europeus com a mais rica carteira de activos... A maioria desses activos não fornecem  quaisquer 
receitas pertinentes;. empresas estatais deficitárias que têm
sido efectivamente uma fonte de custos suportados pelos contribuintes. Deste modo,  privatizar esses activos irá  contribuir para reduzir a posição financeira  do governo com um pequeno custo, se o  houver, em termos de receitas futuras mas em que se pode  realmente reduzir os  custos actuais ... Para acelerar o processo, e para assegurar a sua completa irreversibilidade , deve ser posta em marcha uma adequada governação : uma agência de privatizações  gerida por um conselho independente e profissional 
deverá ser rapidamente estabelecido. A Comissão e os Estados membros da zona euro poderão nomear observadores para o  conselho da agência. Além disso, para reforçar a sua credibilidade, a missão concordou que os objectivos vinculativos trimestrais  quanto à obtenção de  receitas das privatizações deveria  fazer parte da condicionalidade nos memorando de entendimento actualizados

(updated memorandum of understanding MOU). "

 

SUSTENTABILIDADE



"O reforçar a  consolidação orçamental e os planos de privatização poderá contribuir para levar relação dívida / PIB  publica para uma trajectória sustentável. Com base nas projecções actuais, o rácio da dívida pública grega  atingirá o pico em 2012/2013 ... e passará a decair a partir daí, com uma contribuição significativa do plano de privatizações .Embora a Grécia tenha que continuar rigorosamente com uma política de  austeridade fiscal e da redução do rácio da dívida e  terá que o fazer por  muitos anos, a inflexão na relação dívida
/ PIB vai contribuir para melhorar a confiança do mercado na  economia grega. "

 

 

Mecanismos de segurança nos bancos ( BUFFERS)



"O Banco Central da Grécia vai exigir reservas adicionais  de capital  contra a deterioração potencial do seu ambiente operacional, com base no perfil  de risco específico de cada banco . Contudo, a missã faz questão de sublinhar que as perspectivas para o sector grego financeira não  são independentes  das escolhas assumidas para acabar com a enorme falha quanto ao financiamento soberano ".



REFORMAS ESTRUTURAIS

 

"Embora haja melhorias na competitividade, graças a uma redução dos salários, as reformas estruturais ainda não alcançaram uma massa crítica que lhes permita obterem um resultado concreto quanto à produtividade da economia e quanto à  sua capacidade de crescimento."

 

 CONSENSO POLÍTICO

 

"A missão identificou alguns pontos de convergência  entre os programas de ajustamento e as medidas propostas pelo  principal partido da oposição  (ND). O Partido ND  apoia um programa extensivo de privatizações.e há aqui uma convergência de pontos de vista na sua maioria favoráveis ​​ao desenvolvimento das reformas estruturais e do crescimento, . ... Mais ainda, a missão concordou com a oposição sobre a fundamental importância que há em  erradicar as dívidas aos fornecedores e em pagar os  reembolsos de impostos o mais cedo possível, assim como estão de acordo sobre a necessidade de acelerar a utilização  dos fundos estruturais. Contudo, a missão é  de opinião de que os grandes cortes  nos impostos.propostos  no  programa económico do principal partido da oposição são irrealistas e incompatíveis com os objectivos gerais do programa de ajustamento. Contudo, a missão concorda  com o governo e com a oposição que se deve trabalhar para a reforma tributária fiscalmente neutra, a partir do Outono em diante, com o objectivo de alargar as bases tributárias, eliminando muitas das isenções fiscais, o que pode assim levar a uma redução nas taxas de imposto sobre o trabalho. No momento em que se está a redigir este relatório, parece muito pouco provável que o principal partido da oposição vá  votar favoravelmente o novo pacote de medidas fiscais ".

 

FINANCIAMENTO

 

"Grécia, provavelmente, não será capaz de voltar ao mercado em 2012. No plano de financiamento acordado há um ano assumiu-se que a Grécia  não iria ao mercado durante  quase dois anos e  que voltaria a renovar a  sua dívida de  médio e de longo prazo a partir do início de 2012. Este é agora um cenário muito remoto. O custo de financiamento no mercado continua proibitivo ... É improvável que os  rendimentos sobre os seus títulos voltarão para  níveis acessíveis em questão dentro de  alguns trimestres. O cepticismo dos mercados está relacionado com as dúvidas existentes  sobre a capacidade e sobre a vontade do governo grego e da sociedade em  continuarem a executar o processo de consolidação fiscal e em conseguirem  estabelecer  a competitividade  da Grécia. Além disso, a incerteza sobre o funcionamento da União Europeia  e as possibilidades  de financiamento na zona do euro agravou a tensão nos mercados financeiros. "

 


"A estratégia de financiamento tem de ser revista. Dada que é remota a possibilidade de a Grécia voltar aos mercados financeiros em 2012 para se financiar  o programa de ajustamento agora estabelecido.está subfinanciado. A.próximá prestação  não poderá ser  executada sem que esta questão do  sub-financiamento  esteja resolvida."

publicado por Carlos Loures às 13:00

editado por Augusta Clara às 01:42
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