http://www.youtube.com/watch?v=MBW5a77wINQ
Bellini Norma Casta Diva Maria Callas
IV
Quarta lição
O começo da teoria analítica. Entender.
Entre outros motivos da não percepção, está a formação diferente, quanto a imaginário, entre adultos e crianças. O conjunto de adultos que procura entender a criança, vive de forma pragmática e pensa de forma material. O caso mais conhecido, é o do fundador da psicanálise, Sigmund Freud[1]. Como diz Storr, biógrafo de Freud, “Sigmund Freud is part of a group of thinkers who have reacted against religion in its formal expression (E.g. Church, liturgy, the belief that God lives in the heavens etc.), but at the same time seeks to internalise key religious concepts and then relate them to the human psyche. However, unlike modern non-realists who see value in religion as a means for promoting certain social and moral values in society (see God as the Sum of our Highest Ideals), Freud is more akin with the likes of Karl Marx who saw religion as an immediate expression of some deeper human problem which needed to be 'cured' (see Marxism). Although Freud was Jewish, he never practiced his religion and in fact he believed that all religion was an illusion which had developed to suppress certain neurotic symptoms in humans” e acrescenta uma frase do autor: “ [Religion] must exorcise the terrors of nature, [Religion] must reconcile men to the cruelty of fate, particularly as it is shown in death, and [Religion] must compensate them for the sufferings which a civilized life in common has imposed on them”.[2] Formas de pensar que dizem respeito ao pragmatismo usado pelos analistas, que retiram das suas formas de pensar, o pensamento simbólico criado pela mente humana entre a natureza e a crença na existência de uma outra vida. Acrescenta o autor da biografia de Sigmund Freud: “In the end Freud believed, as Marx did that the religious instinct in people was curable (even childish), and so at some point in the future could be abandoned. This would happen once people left behind their psychological illusions and live as restored people in a world of scientifically authenticated knowledge. Yet despite this negative assessment of religion Freud's theory can open up other possibilities for explaining why humans have the religious instinct”[3]. Ideias que Freud desenvolve nos seus textos sobre Moisés[4]para comparar uma ideia fundamental da sua teoria: 'If the relation of a human father to his children is, as the Judaic-Christian tradition teaches, analogous to God's relationship to humanity, it is not surprising that human beings should think of God as their heavenly Father and should come to know God through the infant's experience of utter dependence and the growing child's experience of utter dependence and the growing child's experience of being loved, cared for, and disciplined within a family”[5]
A questão que se coloca para não se entenderem adultos e crianças, é a ideia de, como Freud diz, a religião causa histeria, retira o pensamento positivista e cartesiano e causa uma doença psicopata ao confrontar o que eu faço e penso com o que pode ser feito e pensado por uma criatura não humana. A sua análise começa ao tratar do conceito totem, no seu livro de 1913, Totem e tabu, já citado. A ideia é que o imaginário infantil cria estas entidades, classifica as relações entre os seres humanos e pode pensar que o seu pai é o totem do seu clã, ao qual é retirada a capacidade de mandar, retirando a si a capacidade de amar e criando uma histeria no mais novo. É por isso que Freud retira uma parte do diálogo cultural, entre adultos e crianças, das suas próprias formas de pensar monoteístas e bíblicas, como é possível verificar na sua análise das tábuas para usar o conceito Jesus como Ante Édipo. Por outras palavras, a análise do pensamento omnipotente, retirado dos mais pequenos do grupo, que não querem deixar de ser quem manda[6]. Jesus é o Filho do Pai que em tudo obedece e a tudo fica submetido: vive para cumprir a vontade do Pai, elo central da pesquisa de Freud e da sua escola. Se soubéssemos bem a teoria da nossa cultura, nem era preciso acrescentar nada para entender a figura desse Moisés denominado Jesus. A análise leva em si os conceitos de trauma, libido, latência, recalcamento, repressão, conceitos associados à ideia de erotismo, mas que têm sido definidos antes, como a subordinação de um ser humano a outro, como é o caso dum Moisés que serve e libera o seu povo da servidão, da subordinação a uma família proprietária de seres humanos, como os faraós do Egipto Antigo, enquanto Jesus baixa como ser humano ao meio do seu povo para o redimir – o salvar – de comportamentos que a subordinação a outros povos – no caso Israelita, ao Romano do Ocidente primeiro, e ao de Bizâncio mais tarde – causa entre eles: a luta pelo mais forte, a traição aos seus concidadãos, as formas de cumprir deveres que, para viver em paz com os invasores, se tornam atitudes estimadas de mágoa e zanga para com a sua própria divindade. O denominado Complexo de Édipo, analisado antes, passa a explicar, no caso de Freud, qual a dinâmica das crianças no seu comportamento infantil. O que movimentaria a um ser humano entre o ser amamentado e a idade de entender que existe como entidade própria e pode procurar a sua alimentação, seria o amor ao pai do sexo oposto e os ciúmes ao do mesmo sexo: a luta entre o desenvolvimento da pessoa e a aquisição da autonomia. Talvez, nas próprias palavras de Freud possamos entender o que as metáforas totémicas Moisés e Jesus, significam entre os povos israelitas e, para Freud, o seu derivado, o cristianismo, como refere na sua obra, especialmente no importante texto Totem e Tabu.[7] . Mas, em conjunto com este texto de 1913, existem dois, analisados por tantos autores, que no meu texto actual, devo omitir toda a crítica e apenas citar: « Au delá du principe de plaisir»[8], que começa logo com esta frase “La théorie psychanalytique admet sans réserves que l'évolution des processus psychiques est régie par le principe du plaisir.”, para passar, a seguir, a definir o que é o prazer: “Aussi nous sommes-nous décidés à établir entre le plaisir et le déplaisir, d'une part, la quantité d'énergie (non liée) que comporte la vie psychique, d'autre part, certains rapports, en admettant que le déplaisir correspond à une augmentation, le plaisir à une diminution de cette quantité d'énergie. Ces rapports, nous ne les concevons pas sous la forme d'une simple corrélation entre l'intensité des sensations et les modifications auxquelles on les rattache, et encore moins pensons-nous (car toutes nos expériences de psycho-physiologie s'y opposent) à la proportionnalité directe ; il est probable que ce qui constitue le facteur décisif de la sensation, c'est le degré de diminution ou d'augmentation de la quantité d'énergie dans une fraction de temps donnée. Sous ce rapport, l'expérience pourrait nous fournir des données utiles, mais le psychanalyste doit se garder de se risquer dans ces problèmes, tant qu'il n'aura pas à sa disposition des observations certaines et définies, susceptibles de le guider ». Este texto seleccionado é apenas para indicar que, ao longo de 58 páginas, Freud debate o investimento psicológico e fisiológico que todo ser humano faz para dar resposta à sua libido. Libido, conceito referido antes, denota a distribuição de actividade para possuir, como diz na página 48, o lucro de ganhar a batalha de lutar pelo Eu e pelo princípio sexual, incipiente já na infância. A luta para além do princípio do prazer, é a procura de manter unidas dentro do Eu, a sobrevivência. Engano seria pensar que o princípio libidinal é a procura do prazer sexual, diria eu, bem como a procura do prazer de si próprio, de se gostar, de se conhecer, de desenvolver a auto estima, o gosto narcísico de si, definido como está no outro texto referido, Capítulo 3, que começa pelo título de “O Eu, o super-eu e o ideal de si” Há uma certa parte de nós próprios que aceita e gosta do outro e dos outros, enquanto o ideal de mim orienta a minha interacção no mundo que vivo. Os textos de Freud definem, no meu ver, as formas culturais de interagir entre Eu e os outros, orientados pelas regras da cultura do grupo social que nós temos em frente ou dentro do qual vivemos. É este argumento que faz pensar um Freud erótico e não um Freud na procura de explicar esta correlação: eu – outro – regras de comportamento. É aí que devemos pensar a dinâmica do denominado Complexo de Édipo e, finalmente, entrar pela definição de totem. No caso do Complexo de Édipo, Freud diz de forma simples nas suas aulas introdutórias à psicanálise: “childdren desire to sleep with the mother and to kill the father”, ou por outras palavras, as crianças desejam dormir com a mãe e matar ao pai[9]. Esta hipótese é desenvolvida por ter causado grande escândalo na sociedade austríaca e, em geral, entre as pessoas que acreditavam que a família era a paz e a tranquilidade. De facto, não é que a história de Sófocles tenha causado escândalo como ideia cultural. O escândalo é causado pela descoberta de ideias eróticas que têm as crianças e que os adultos não entendem ou não querem acreditar que existam ou sejam reais. O facto de um neo-nato descobrir que a continuidade de sua vida advêm do seio de uma mulher e que essa mulher é repetida e denominada mãe, transfere o prazer que causa a manutenção da vida e a satisfação de comer, a mais básica das necessidades humanas, para a pessoa que a satisfaz. Sentimento emotivo associado a idade que tem a criança, que entende do seu eu e da sua própria super vivência e não do papel histórico – económico que joga o pai dentro de família ocidental. O que interessa é a descoberta feita por Freud da existência da uma vida genital na criança, definida como atracção de corpo a corpo, com emotividade no meio desta atracção[10]. O interessante é o que Ernest Jones[11] tem estudado e, recentemente, tem-se analisado: o evitar do incesto através da criação da ideia de Édipo. O próprio Freud mais tarde analisa os seus textos sobre o Édipo: “Freud claimed in Civilization and Its Discontents (1930)[12] provide the historical and emotional foundations of culture, law civility and decency. I find it embarrassing to admit that when I asked myself how much of this I carry around as my normal conceptual baggage; it turned out to be a light valise. First, there is the oedipal triangle, whereby a child somewhere between three and a half and six wants the parent of the opposite sex and has to come to terms with the same sex.”[13] Não é o caso do autor estar a dizer não às suas ideias sobre o Complexo de Édipo, mas sim de pensar o papel que a cultura tem entre entidades que têm desejo, altura em que o incesto passa a ser uma realidade mais importante ou mais gritante, que o saber que a criança sente desejos sexuais, desejos que devem ser evitados para manter o que denominamos em Antropologia a exogamia que caracteriza a organização social da nossa cultura. A noção da sexualidade infantil como realidade estava já estabelecida. Nos seus ensaios, diz: “ The source of infantile sexuality...is to trace the sources of sexual instinct [and] has shown us so far that sexual excitation arises a) as a reproduction of a satisfaction experienced in connection with another organic processes, b) through appropriate peripheral stimulation of erotogenic zones and c) as an expression of certain “instincts” (such as the scopophilic instinct and the instinct of cruelty) …The direct observation of children has the disadvantage of working upon data which are easily misunderstadable…”[14]. O próprio autor reconhece a dificuldade, mas é capaz de demonstrar factos que a idade pré-Freud não falava e que Michéle Foucault comenta: “As we have seen Freud’s contemporaries viewed sexuality as flowing directly from nature, directed otherwise resulting in perversions and vice. Freud begins his research alongside Breuer whose notoriety for treating female hysterics with hypnosis and surgical removal of the ovaries had shocked and captivated public attention. While his earliest scientific endeavours were founded upon a purely physiological understanding, Freud’s work would increasingly lead him toward formulating a theory of the mind encompassing and integrating the physiological, psycho-sexual and social dimensions. Freud’s legacy to the twentieth century is to have brought sexuality into the social; the sexualisation of the social.”[15]
[1] Storr, Anthony, 2003: Freud. Website com texto:http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=The+Freudian+theory+of+Religion&btnG=Pesquisa+Google&meta= página 89 do texto.
[2] Storr, obra citada, website http://www.faithnet.org.uk/Science/Psychology/freudreligion.htm
[3] Obra e autor citados nota anterior
[4] Feud, Sigmund, 1938: Der Mann Moses und die Monotheistische Religion ou Moses and Monotheism, http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Freud+Moses&btnG=Pesquisar&meta= Há versão portuguesa, Guimarães, Lisboa, 1990.
[5] Citado por John Hick no seu texto de 1980: One World, Oxford University Press. Website para debate: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Philosophy+of+Religion+John+Hick&btnG=Pesquisar&meta=
[6] Freud, 1913: Totem and taboo. Website com texto: http://www.mdx.ac.uk/www/study/xfre1913.htm Excertos.
[7] A importância do texto não é apenas pelas definições proferidas a partir da comparação de culturas, bem como de autores. Ao mesmo tempo, Freud segue uma via inaugurada pelos seus professores alemães, que referi ao falar de Kraepelin em páginas anteriores: método comparativo, atribuído apenas a Bronislaw Malinowski
[8] Freud, Sigmund, 1920, traduzido do alemão com a sua revisão: Au-delà du príncipe du plaisir http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_sciences_sociales/classiques/freud_sigmund/essais_de_psychanalyse/Essai_1_au_dela/au_dela_prin_plaisir.html , edição electrónica de 1920, revista a tradução pelo autor: Le moi et le ça. http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_sciences_sociales/classiques/freud_sigmund/essais_de_psychanalyse/Essai_3_moi_et_ca/moi_et_ca.html , edição electrónica on line.
[9] Freud, Sigmund, 1910, Introductory Lectures, Viena, desenvolvidas em Totem and Taboo. http://www.sla.purdue.edu/academic/engl/theory/psychoanalysis/definitions/oedipus.html
[10] Freud, Sigmund, 1905: Drei Abhanlungen zur Sexualtheorie ou Trois essais sur la théorie de la sexualité, tradução inglesa Sigmund Freud-7-On Sexuality, Pelican, Londres, 1977. Website com texto: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Freud+The+sources+of+infantile+sexuality&btnG=Pesquisa+Google&meta=
[11] Jones, Ernest, 1935: The Oedipus-Complex as An Explanation of Hamlet's Mystery: A Study in Motive, http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Ernest+Jones+Oedipus+complex&btnG=Pesquisar&meta=
[12] Freud, Sigmund, 1929, versão francesa revista pelo autor http://www.uqac.uquebec.ca/zone30/Classiques_des_sciences_sociales/classiques/freud_sigmund/malaise_civilisation/malaise_civilisation.html Texto on-line
[13] Citação feita no texto de Robert Young, 1999: NEW IDEAS ABOUT THE OEDIPUS COMPLEX, website para debate: http://www.shef.ac.uk/~psysc/human/chap5.html ou http://www.shef.ac.uk/~psysc/psychoanalytic-studies/msg00901.html
[14] Freud, Sigmund, 1905, Three esays on sexuality, Pelican Londres, páginas 120 e seguintes. Website http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&ie=UTF-8&q=Freud+Three+essays+on+sexuality&btnG=Pesquisa+Google&meta=
[15] Foucault, Michele, 1976: L’Histoire de la Sexualité, Gallimard, paginas 56 e 57. Website http://www.isis.aust.com/stephan/writings/sexuality/vict.htm
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