por Júlio Marques Mota
Comunicado:
Na sequência de múltiplas denúncias sobre o sistema financeiro mundial cujos principais centros estão em Nova Iorque e no maior paraíso fiscal do mundo, a City de Londres, o estrolábio tem a honrar de apresentar a confirmação da altíssima vigilância a que um dos seus colaboradores está a ser submetido, conforme se atesta neste email :
Texto
Este email foi recebido da enorme, enorme polícia de Londres, tão enorme que terá passado a pente fino os meus emails sobretudo os de contacto com o antigo trader Geraint Anderson autor do livro Citiboys e Just Business. No primeiro descreve até sentirmos necessidade de vomitar como se funciona nesse enorme paraíso fiscal. No segundo, livro, Just Business, diz-nos Geraint Andersen o nosso amigo e dos paraísos fiscais agora grande e eterno inimigo:
toil of coining it in London's financial heartland turns into a life sentence. All it will take is a handsome seven figure wedge in the bank and it's the good life for him and goodbye to the horrors of the Square Mile. Like the expert chancer he is, he sees an opportunity. Hacking into his boss's computer, he finds something that chills him to the bone. This is big time; there are bad men involved; there are millions at stake. So no change there then. But when he stumbles upon a murder and becomes the prime suspect, he has to go on the run. Together with his partner Gemma, he improvises ingenious ways of outwitting the authorities, a vicious drug cartel and even M15 in a chase that will send him half way round the world if he's going to stay alive...
Continuaremos no Estrolábio uma denúncia sem quartel destes ladrões dos tempos modernos que por mais que fechemos os nossos bolsos o dinheiro deles nos fazem com que se evapore , pois como se disse já no Congresso americano, não no nosso que aqui ninguém sabe nada disso, a mão invisível de Adam Smith não é visível porque anda escondida pelos nossos bolsos a bem nos roubar e por essa via bem escondida a fazer os mercados se descontrolar.
A peça que se segue mostra bem como é que os milhares de milhões se secam, se evaporam. Continuemos a denúncia. Esta é a melhor resposta a esta polícia, esta é a denúncia que aqui se segue. Como é que se evaporam milhares de milhões do nosso “querido” Kadafi? Afinal, estes assaltantes dos tempos modernos não foi só a nós que assaltaram. Não, não senhor. Assaltaram outros assaltantes, mas cuidado, que esgotados estes, depenados estes, virar-se-ão de novo para os nossos já muito martirizados bolsos. Houvesse um Robin dos Bosques também ele moderno, inglês de preferência, que o nosso Zé do Telhado nunca serviria, e talvez todos nós estivéssemos bem melhor.
Bem, a acabar esta nota: se nada mais aparecer escrito pelo meu punho ou nas teclas estragadas do meu computador já sabem o meu endereço: estarei preso então pelo trabalho feito no estrolábio, estarei preso na polícia londrina encarregada destas tarefas de vigilância. Façam então abaixo-assinados pela minha liberdade e pelo encerramento de todos os paraísos fiscais.
Como desaparece 98 % do valor de fundos de vários milhares de milhões
Sylvain Cypel
As perdas do fundo soberano Libyan Investment Authority (LIA) nas suas colocações junto da Société Générale foram recentemente evocadas. Sobre 1,8 mil milhões de dólares (1,27 mil milhões de euros) confiados ao banco francês, mais da metade evaporou-se depois de terem sido investidos por este banco em produtos financeiros muito opacos, ditos produtos “estruturados”. Desde que o coronel Kadhafi se tornou frequentável no Ocidente, não somente plantou a sua tenda em Paris ou em Roma. Os seus filhos e os seus e emissários eram muito bem recebidos nos corredores bem alcatifados dos grandes estabelecimentos financeiros. Criado em Junho de 2007 com cerca de 40 mil milhões de dólares em liquidez e propriedades diversas, LIA detinha, antes do início da actual crise líbia, cerca de 70 mil milhões de activos, 53 dos quais em activos financeiros.
Na Europa, SocGen não foi único a acolher o maná do “ Guia” Grande Jamahiriya popular e socialista. Nos Estados Unidos, o fundo líbio voltou-se principalmente para o melhor banco entre os melhores: Goldman Sachs (GS). De Janeiro à Junho de 2008, aí aplicou 1,3 mil milhões de dólares. Em Fevereiro de 2010, já só restavam apenas 25,1 milhões. Da soma inicialmente investida , 98 % tinha desaparecido. Certamente, conhecem-se empresas - AIG, General Motors, Lehman Brothers, Fannie Mae e Freddie Mac... - cujos títulos , durante a crise financeira, caíram em proporções similares. Mas, no caso de aplicações de um investimento soberano, deve tratar-se de um recorde mundial em todas as categorias.
O jornal Wall Street Jornal efectuou um inquérito. O fundo líbio começa por oferecer a duas dúzias importantes de financeiros ocidentais que nele invistam 150 milhões de dólares. Aí se reencontram, fora a Société Générale e GS, diversos bancos (HSBC, JP Morgan, Lehman…), diversos fundos de investimento e diversos gestores de fortuna (Carlyle, Och-Ziff…) assim como diversos fundos especulativos. A primeira reunião GS-LIA realiza-se em Londres, e a City funcionará portanto como placa rotativa da sua relação. Do lado líbio, os interlocutores chamam-se Mustafa Zarti, número dois de LIA e Saïf Al-Islam , homem de mão e um dos filhos do “ Guia”, bem como Hatem Al-Gheriani, chefe dos investimentos do fundo. Pelo lado de GS estavam : Michael Sherwood, director de GS para a Europa ladeado por Driss Ben-Brahim, chefe da divisão mercados emergentes, e Youssef Kabbai, chefe do sector África do Norte.
O negócio parece tão prometedor que LIA nele investe directamente 350 milhões de dólares em Janeiro de 2008 antes de aumentar a parada : 1,3 mil milhões de dólares são repartidos entre nove fundos de títulos de alto risco, um cabaz de divisas de países emergentes e de seis acções prestigiadas , incluindo Citigroup (cuja cotação a seguir se vai afundar), Banco Santander, a seguradora Allianz e EDF. A partir de Agosto, no entanto, enquanto que a falência do banco Lehman ainda ainda não tinha feito explodir a crise financeira, LIA constata que os seus activos na Goldman já se encontrou muito “secos” . Zarti estava que nem um “ um touro enraivecido ", assegura um testemunho anónimo ao diário americano da finança, o WSJ. As discussões efectuadas em Trípoli falharam em circunstâncias tão rocambolescas que Goldman teve de deslocar pessoal de segurança para repatriar os seus representantes. Desde então , o seu Presidente, Lloyd Blankfein, e o seu director financeiro, David Viniar, procuram oferecer uma compensação aos Líbios.
O banco teria apresentado seis propostas, todas elas recusadas por Tripoli. Em Maio de 2009, Goldman Sachs oferece a LIA que adquira 5 mil milhões de acções preferenciais de GS que beneficiam e em muito de confortáveis retornos sobre os investimentos durante quarenta anos por apenas 3,7 mil milhões de dólares. Uma última “oferta generosa”, em Junho de 2010, também não é aceite: Tripoli queria recuperar o que lhe era devido, sem ser a prazo, a pronto. Desde então, a guerra civil estoirou na Líbia, e a administração Obama impôs que se congelassem os activos ligados a Kadhafi. O montante no território americano está ligado aos 37 mil milhões de dólares, entre os quais estão os miseráveis milhões que ainda restam do fundo criado por Goldman Sachs.
Estas perdas abissais suscitam múltiplas perguntas. A primeira, LIA, não era somente um fundo “público” ou, mais provável, seria sobretudo um disfarce como esconderijo de desvios financeiros organizados em proveito da família Kadhafi e também de alguns dos seus fiéis próximos - mas os seus interlocutores bancários será que bem evitam questionarem-se sobre este tema ? Depois , porque é que também Goldman Sachs não preveniu a tempo um tão grande e importante cliente, como o é Estado líbio? E para onde foi o dinheiro, uma vez que nem toda a gente perdeu assim desta maneira ? Como a Société Générale, o banco GS recusa explicar-se . Por último, porque é que os dirigentes líbios foram tão lentos a tomar consciência das suas perdas na Europa e nos Estados Unidos e não conseguiram pôr-lhe cobro ?
Laurence Pope, um ex-diplomata americano excelente conhecedor da Líbia, pensa que depois de alguns anos de embargo, Mouammar Khadafi não teria beneficiado de um pessoal qualificado como dispõem os outros grandes fundos soberanos árabes (Abou Dhabi, Kuwait, Qatar); peritos que teriam sabido avisá-lo dos riscos e levá-lo a compreender a tempo como é que Goldman ou a Generale dilapidavam as somas que lhes tinham sido confiadas. Talvez que tanto à força de não confiarem em ninguém - o seu filho, Saïf Al-Islam, decidi a sozinho no fundo LIA -, Kadhafi deixou os seus próprios fundos rolarem para o abismo e para felicidade dos bancos que os receberam.
Reproduzido de:
Sylvain Cypel, Lettre de Wall Street: Goldman Sachs et les millions libyens, Le Monde, 7 de Junho de 2011.
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