Quinta-feira, 9 de Junho de 2011

O Estrolábio está a ser vigiado pela polícia de Londres. Leiam o mail aqui recebido.

por Júlio Marques Mota

Comunicado:

Na sequência de múltiplas  denúncias sobre o sistema financeiro mundial cujos principais centros estão em Nova Iorque e no  maior paraíso fiscal do mundo, a City de Londres,  o estrolábio tem a honrar de apresentar a confirmação da altíssima vigilância a que um dos seus colaboradores está a ser submetido, conforme se atesta neste email :

It has come to our attention that you have been in contact with the banker turned columnist / author Geraint Anderson (publicly known as 'Cityboy') during the last three years.  He is wanted in connection with financial fraud, assaulting a Police Officer and is currently at large.  In order to be eliminated from our enquiries please fill out this brief form (click here) explaining the nature of your relationship with him.

Sergeant David R. Sole

 

 

Texto

Este email foi recebido da enorme, enorme polícia de Londres, tão enorme  que terá passado a pente fino os meus emails sobretudo os de contacto   com o antigo trader Geraint Anderson autor do livro Citiboys  e Just Business. No primeiro descreve até sentirmos necessidade de vomitar  como se funciona  nesse enorme paraíso fiscal. No segundo, livro, Just Business, diz-nos Geraint Andersen o nosso amigo  e dos paraísos fiscais agora grande e eterno inimigo:
toil of coining it in London's financial heartland turns into a life sentence. All it will take is a handsome seven figure wedge in the bank and it's the good life for him and goodbye to the horrors of the Square Mile. Like the expert chancer he is, he sees an opportunity. Hacking into his boss's computer, he finds something that chills him to the bone. This is big time; there are bad men involved; there are millions at stake. So no change there then. But when he stumbles upon a murder and becomes the prime suspect, he has to go on the run. Together with his partner Gemma, he improvises ingenious ways of outwitting the authorities, a vicious drug cartel and even M15 in a chase that will send him half way round the world if he's going to stay alive...

Continuaremos no Estrolábio  uma denúncia sem quartel destes ladrões dos tempos modernos que por mais que fechemos os nossos bolsos  o dinheiro deles nos fazem com que se evapore , pois como se disse já no Congresso   americano, não no nosso que aqui ninguém sabe nada disso, a mão invisível de Adam  Smith   não é visível porque anda escondida pelos nossos bolsos a bem nos roubar e por essa via bem escondida a fazer os mercados se descontrolar.

 

A peça que se segue mostra bem como é que os milhares de milhões se secam, se evaporam. Continuemos a denúncia. Esta é a melhor resposta a esta polícia, esta  é a denúncia que aqui se segue. Como é que se evaporam milhares de milhões do nosso “querido” Kadafi?  Afinal, estes assaltantes dos tempos modernos não foi só a nós que assaltaram. Não, não senhor. Assaltaram outros assaltantes, mas cuidado, que esgotados estes, depenados estes,  virar-se-ão de novo para os nossos já muito martirizados bolsos.   Houvesse um Robin dos Bosques também ele moderno, inglês de preferência, que o nosso Zé do Telhado nunca serviria, e talvez todos nós estivéssemos bem melhor.

 

Bem, a acabar esta nota: se nada mais aparecer escrito pelo meu punho ou nas teclas estragadas do meu computador   já sabem o meu endereço: estarei preso então pelo trabalho feito  no estrolábio, estarei preso na polícia londrina encarregada destas tarefas de vigilância. Façam então abaixo-assinados pela minha liberdade e pelo encerramento de todos os paraísos fiscais.

 

Como desaparece 98 % do valor de fundos de vários milhares de milhões

 

Sylvain Cypel

 

As perdas do fundo soberano Libyan Investment Authority (LIA) nas suas colocações junto da Société Générale foram recentemente  evocadas. Sobre 1,8 mil milhões de dólares (1,27 mil milhões de euros) confiados ao banco francês, mais da metade evaporou-se depois de terem  sido investidos por este banco  em produtos financeiros muito opacos,  ditos produtos  “estruturados”. Desde que o coronel Kadhafi se tornou  frequentável no Ocidente, não somente plantou a sua tenda em Paris ou em Roma. Os seus filhos e os seus  e emissários eram  muito bem recebidos nos corredores bem alcatifados dos  grandes estabelecimentos financeiros. Criado em Junho de 2007 com cerca de 40 mil milhões de dólares em liquidez e propriedades diversas, LIA detinha, antes do início da actual crise líbia, cerca de 70 mil milhões de activos, 53 dos quais em activos financeiros.

 

Na Europa, SocGen não foi único a acolher o maná  do “ Guia” Grande Jamahiriya popular e socialista. Nos Estados Unidos, o fundo líbio voltou-se principalmente para o melhor banco  entre os melhores: Goldman Sachs (GS). De Janeiro à Junho de 2008, aí aplicou 1,3 mil milhões de dólares. Em Fevereiro de 2010, já só restavam  apenas 25,1 milhões. Da soma inicialmente investida , 98 % tinha desaparecido. Certamente, conhecem-se empresas - AIG, General Motors, Lehman Brothers, Fannie Mae e Freddie Mac... - cujos títulos , durante a crise financeira, caíram em proporções similares. Mas, no caso de aplicações  de um investimento soberano, deve tratar-se de um recorde mundial em todas as categorias.

 

O jornal  Wall Street Jornal efectuou um  inquérito. O fundo líbio começa por oferecer a  duas dúzias importantes de financeiros ocidentais que nele invistam 150 milhões de dólares. Aí se reencontram, fora  a Société Générale e GS, diversos  bancos (HSBC, JP Morgan, Lehman…), diversos  fundos de investimento e diversos  gestores de fortuna (Carlyle, Och-Ziff…) assim como diversos  fundos especulativos. A primeira reunião GS-LIA realiza-se em Londres, e a City funcionará portanto como placa rotativa da sua relação. Do lado líbio, os interlocutores chamam-se Mustafa Zarti, número dois de LIA  e Saïf Al-Islam , homem de mão e um dos filhos do  “ Guia”, bem como Hatem Al-Gheriani, chefe dos investimentos do fundo. Pelo lado de GS estavam : Michael Sherwood, director de GS para a Europa ladeado por Driss Ben-Brahim, chefe da  divisão mercados emergentes, e Youssef Kabbai, chefe do sector África do Norte.

 

O negócio parece tão prometedor que LIA nele investe directamente 350 milhões de dólares em Janeiro de 2008 antes de aumentar a parada : 1,3 mil milhões de dólares são repartidos entre nove fundos de títulos de alto risco, um cabaz de  divisas de países emergentes e de seis acções prestigiadas , incluindo Citigroup (cuja cotação a seguir se vai afundar), Banco Santander, a seguradora Allianz e EDF. A partir de Agosto, no entanto, enquanto que a falência do banco Lehman ainda ainda não tinha feito explodir a crise financeira, LIA constata que os seus activos na  Goldman já se encontrou muito “secos” . Zarti estava que nem um   “ um touro enraivecido ", assegura um testemunho anónimo ao diário americano da finança, o WSJ. As discussões efectuadas em Trípoli falharam  em circunstâncias tão rocambolescas  que Goldman teve de deslocar pessoal de segurança  para repatriar os seus representantes. Desde então , o seu Presidente, Lloyd Blankfein, e o seu director financeiro, David Viniar, procuram oferecer uma compensação aos Líbios.

 

O banco teria apresentado seis propostas, todas elas recusadas  por Tripoli. Em Maio de 2009, Goldman Sachs oferece a LIA  que adquira  5 mil milhões de acções preferenciais de GS que beneficiam e em muito de confortáveis retornos sobre os investimentos  durante quarenta anos por  apenas 3,7 mil milhões de dólares. Uma última “oferta generosa”, em Junho de 2010, também não é aceite: Tripoli queria recuperar o que lhe era  devido,  sem ser a prazo, a pronto. Desde então, a guerra civil estoirou na Líbia, e a administração Obama impôs que se congelassem os activos ligados a Kadhafi. O montante no território americano está ligado aos 37 mil milhões de dólares, entre os quais estão os miseráveis milhões que ainda restam do fundo criado por Goldman Sachs.

 

Estas perdas abissais suscitam múltiplas perguntas. A primeira, LIA,  não era somente  um fundo “público” ou, mais provável, seria sobretudo um disfarce como esconderijo de desvios financeiros organizados em proveito da família Kadhafi e também de alguns dos seus fiéis próximos  - mas os seus interlocutores bancários será que bem evitam questionarem-se sobre este tema ? Depois , porque é que também Goldman Sachs não preveniu a tempo  um tão grande e importante cliente, como o é  Estado líbio? E para onde foi o dinheiro, uma  vez que nem toda a gente perdeu assim desta maneira ? Como a Société Générale, o banco  GS recusa explicar-se . Por último, porque é que os dirigentes  líbios foram tão lentos a tomar consciência das suas perdas na Europa e nos Estados Unidos e não conseguiram pôr-lhe cobro ?

 

Laurence Pope, um ex-diplomata americano excelente conhecedor da Líbia, pensa que depois de alguns  anos de embargo, Mouammar Khadafi não teria beneficiado de um pessoal qualificado como dispõem os outros grandes fundos soberanos árabes (Abou Dhabi, Kuwait, Qatar); peritos que teriam sabido avisá-lo  dos riscos e levá-lo a compreender  a tempo como é que Goldman ou a Generale  dilapidavam as somas que lhes tinham sido confiadas. Talvez que tanto à força de não confiarem em  ninguém - o  seu   filho, Saïf Al-Islam, decidi a sozinho no fundo LIA -, Kadhafi deixou os seus próprios fundos rolarem para o abismo e para felicidade dos bancos que os receberam.

 

Reproduzido de:
Sylvain Cypel,  Lettre de Wall Street: Goldman Sachs et les millions libyens, Le Monde, 7 de Junho de 2011.



publicado por Luis Moreira às 20:00
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15 comentários:
De Luis Moreira a 9 de Junho de 2011
Meu caro, se for necessário será até " que a voz nos doa"
De karocha a 9 de Junho de 2011
Engraçado!

Já agora podia por seguidores, é mais fácil :-)
De Inês Aguiar a 10 de Junho de 2011
Estou contigo, Luís... ninguém fica para trás
De Carlos Mesquita a 10 de Junho de 2011
O título é exagerado. tudo é exagerado.
Toda a Internet é vigiada por várias polícias, herdeiras dos métodos dos empregados de escritório da PIDE que passavam os dias a recortar jornais. A PIDE ficava com montes de papel, agora ficam com montes de informação em memória, quase tudo serve para coisa nenhuma.
Não há problema em ser vigiado pela polícia, quem quiser fazer algo de subversivo até precisa de ser vigiado senão não pode despistá-los. Eles sabem quem são os potenciais perigosos, ou não se assustam ou fingem assustar-se e isso percebe-se.
Não há nada de ilegal nas publicações do Estrolabio.
Sobre a LIA - libyan Investment Authority, a própria LUSA fez em Maio um trabalho extenso de que veio bocadinhos em vários orgãos de informação, sem relevo devido às polícias que há neles, mais eficaz que a de Londres. Todos ouviram falar do "desfalque perfeito", do banco francês SG, do BES e BCP e etc.
Eu publiquei na 3ª, no Oclarinet sobre a "NATO estar a bombardear civis", lá para o fim do post; " o que estará em causa na guerra de agressão à Líbia já não seria apenas(!) uma "guerra do petróleo", mas a tentativa de efectuar um "desfalque" aos fundos soberanos detidos pelos bancos ocidentais. Kadhafi derrubado, o dinheiro investido em segredo desaparece por não ter dono. Cá o BES e o BCP devem estar à espera do resultado da guerra, e nós vamos percebendo cada dia melhor as causas destes conflitos. Há milhões de razões para acabar com Kadhafi, contam-se em notas; os mortos inocentes serão apenas números de baixo valor."

A forma de proteger a Internet Livre é divulgar as mensagens que os controladores não gostam, acagaçarmo-nos é desproteger quem a usa como meio alternativo de informação.
De Luis Moreira a 11 de Junho de 2011
Caro Carlos Mesquita


Diz-nos : O título é exagerado. tudo é exagerado.

De acordo, é tudo exagerado intencionalmente. Mas, deixo uma pergunta: clicou onde diz clic aqui? Não o fez, tenho a certeza.. Faça-o, então . Veja que se trata-se de mais um livro sobre uma realidade, essa sim brutalmente exagerada e não conheço nenhuma ficção até agora que lhe chegue aos calcanhares, aos da realidade que dá por nome a City, o maior paraíso fiscal do mundo. A realidade ultrapassa a ficção e mal portanto dos ficcionistas porque não são então capazes de fazer verdadeiramente ficção e já agora mal de nós que por esse facto bem o pagamos. Pessoalmente não tenho dúvidas e o meu amigo Carlos Mesquita também não que Geraint Anderson será bem vigiado. Eu não tenho dúvidas que ele está. Agora eu! Deixem-me rir.
Aproveitei um email que Anderson me enviou a informar-me do novo livro e a razão do seu envio é simples: fui eu que tratei da edição do seu livro Citiboys, que um editor português tem já traduzido, e bem traduzido que eu saiba, mas que está à espera de melhores dias para o mandar imprimir. Percebe? Se o segundo livro tem a qualidade do primeiro, é, para quem sabe bem inglês um livro a comprar e já, caso contrário, é esperar pela edição francesa ou outra, que é o que eu farei.
Mas desta história, há uma outra história, desaparecem milhares de milhões e não acontece nada, a ninguém. Mas mesmo aí e inocente o jornalista, muito bom, acrescente-se deixa no ar: para onde foi o dinheiro se muita gente não perdeu assim? E tem-se depois a resposta do diplomata, a rematar. E creia-me, é um texto a reler, ou então leiam um outro texto exagerado, muito exagerado, a síntese do relatório da Troika sobre a Grécia. E terá que dizer comigo e com todos os explorados do mundo que esta realidade ultrapassa toda e ficção e que é tudo exagerado. E tem razão.

Júlio Marques Mota.
De Luis Moreira a 10 de Junho de 2011
O título é exagerado para chamar a atenção. E tem duas palavras que são seleccionadas pelo google. Sabes que eu tenho um poste no aventar com o título "Acompanhantes por 9 euros" que tem milhares de leituras? Sempre que um D. Juan escreve a palavra "acompanhante" vai lá ter...
De Pedro Godinho a 12 de Junho de 2011
E quem quer ser lido pelos d. juans que andam a googlar 'acompanhante'?
Quem a tabloidização usa, tablóide fica.
De Luis Moreira a 12 de Junho de 2011
No aventar era assim...dança-se conforme a musica. O titulo no google e fundamental para o texto ser escolhido.
De Pedro Godinho a 12 de Junho de 2011
O mesmo diz o Correio da Manhã sobre os seus.
De Luis Moreira a 13 de Junho de 2011
Se calhar.E parece que e o mais lido.
De ethel feldman a 13 de Junho de 2011
O critério do mais lido não é sinónimo de qualidade, Luis. Tudo depende mesmo quail é o nosso objectivo...
De Luis Moreira a 13 de Junho de 2011
Claro que não. Mas se é o mais lido é porque há quem o leia e temos que respeitar isso e ter a noção que ler outros jornais e revistas é um privilégio de uma minoria. infelizmente, mas é assim. E isso explica muitas coisas que se passam neste país.
De Pedro Godinho a 14 de Junho de 2011
Por isso, para que não haja um 'pensamento único', importa que haja outra forma de escrita e de notícia que a dos Correios da Manhã e quem o não quer ser não lhe deve vestir a pele.
De Luis Moreira a 14 de Junho de 2011
Mas eu não leio o CM. Mas há pessoas que leiem e precisam de ser respitadas. E escrever um título que o google reconheça não tem nada a ver com imprensa tablóide.Há regras nos blogues.Embora, e ainda bem, nós não as observemos.
De Carlos Mesquita a 11 de Junho de 2011
Caro Júlio Marques Mota. Entendamo-nos.
O que eu digo que é exagerado é o título e o conteúdo sobre a vigilância a pessoas que tomam posições públicas que não convêm "aos poderes". É normal, e não tem consequências se essas pessoas não praticarem qualquer ilegalidade.
Podem-lhes arranjar uma "estrangeirinha" nos casos mais bicudos, como "podem ter sido" as tramóias (?) sexuais de Straus-Kahn ou de Julian Assange e agora a parvoíce de Kadhafi ter dado viagra às tropas. São casos extremos, nada têm a ver com o nosso nível de denúncia.
Quando eles "fazem saber" que estão a vigiar alguém de uma forma especial, é obviamente para atemorizar; se esse alguém torna isso público, matam uma série de coelhos duma cajadada.
O que não desejo é que quem lê o artigo fique com receio de andar pela Net, de visitar o Estrolabio, ou interagir convosco. Nesse caso, (e deviam saber que há muita gente que tem medo da própria sombra, apesar de nunca terem feito nada de especial) o que dizem ter feito intencionalmente é contraproducente.
Não é preciso ter medo por andar na Net, nem é preciso ser muito corajoso para escrever nos blogues. Só isso.
Acabo de publicar um post sobre a venda de armamento pelos EUA.
Abraço.

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