O caráter hibernou! Deram-lhe uma dose cavalar de antidepressivos e puseram-no a dormir. Está reduzido a pó de caca pelo que as elementares noções de dignidade transformaram-se numa massa untuosa, venal e degradada.
O mundo está dando várias cambalhotas globalizantes em que se mistura na mesma panela o liberalismo económico, o comércio livre e a não menos livre circulação de capitais. O dinheiro, o poder económico, a submissão política, a ambição, as fortunas provocatórias, desumanizam a sociedade. Nesta arena estimula-se a intolerância, o egoísmo, o cinismo, o culto da ganância do poder que pode nem ser, necessariamente, o do dinheiro.
Perante isto interrogo-me: como poderá vir a ser a raça humana no século XXI?
A partir da matriz atual nada se anuncia de bom. Politicamente as nações mais avançadas estão a ser lideradas por indivíduos medíocres e a economia global está fazendo deles seus reféns. Se tivermos uma visão desapaixonada verificamos que, na prática, a maioria dos países estão insolventes. Não é apenas a Irlanda, Grécia e Portugal, mas também a Itália, a Espanha, a Bélgica, os Estados Unidos da América, numa dança de possível junção de mais uns quantos. Quer dizer: vivemos num universo global falido.
Com tais ventos as pessoas encontram-se mais afastadas da reflexão crítica, do pensamento filosófico (no sentido do conhecimento), dos ensinamentos culturais que fortaleçam a massa crítica tornando-as conscientes da realidade e das malfeitorias e conferindo um elevado grau de exigência coisa que nenhum político ou patrão do dinheiro deseja. O saber só trás atritos!
O retrato atual da sociedade não contempla a camaradagem, a verdade, a solidariedade, o sacrifício, a generosidade, a amizade desinteresseira. Mergulha tudo num caldeirão de interesses, acotovelando-se, atropelando-se, traindo quem for preciso para atingir rapidamente os ambiciosos objetivos. É feio! É indigno! Paciência, é preciso ser rico aos 30 anos.
Lamento, mas não acredito que isto esteja melhor lá para 2050. Bem sei que depende do ponto em que nos colocarmos. A velocidade é característica comum à rapidez executiva das ações e ao processo abrasivo da vida. Homens e mulheres serão submetidos a um grau de exigência maior e o convívio pessoal perderá terreno perante o convívio de círculos de amigos via Internet (facebooks, twitters, etc.). O prazer de criar e desfrutar realidades virtuais e representações tridimensionais fornecerá um novo tipo de contacto cibernético com os povos, cidades, pessoas e vida sexual. Segundo uma multiplicidade de formas e atos ao gosto de cada um, epicuristas informáticos viverão na dependência de fabulosos aparelhos gestores de progresso e a rendição à inovação técnica será veloz a fim de alimentar incansavelmente o ego
Neste tsunami tecnológico e opulentamente vaidoso a primazia do espírito, do caráter e dos sentimentos deixarão de fazer sentido e a natureza humana será agredida de uma forma cada vez mais obscena.
O que será enfim perene?
A cultura e a arte sobreviverão como restos de um continente perdido porque são a expressão libertadora do mais secreto intimismo. Estas serão manifestações de eternidade visto que têm perdurado através dos séculos como refúgio espiritual de todas as paixões e tragédias humanas. Por tudo quanto de inovador passa nada substituirá a arte porque só ela nos concede a verdadeira noção de grandeza da vida e do seu mistério.
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