Aos leitores de estrolábio, um texto aqui vos deixo.
Tal como o FMI organizou a queda da Argentina em 2001, está agora a caber a vez ao país berço da nossa democracia, a Grécia . Andam ladrões à solta, andam muitos criados ao serviço destes ladrões pelos bolsos de todos nós a sacar, andam polícias a demitirem-se das sua funções de zeladores da coisa pública para se transformarem em guardas públicos da coisa privada e assim os capitais continuam a fugir da Grécia até esta cair completamente exangue, mas há liberdade de capitais, claro! E até, pasme-se, o Financial Times vem protestar contra o facto de que "na sua "grande sabedoria ", a zona euro tenha decidido que as perdas dos credores do sector privado tenham que ser socializadas ... e o fardo final tenha de ser assumido pelos contribuintes dos países deficitários. " Liberdade de uns receberem, obrigação de outros pagarem, liberdade de uns se movimentarem, os capitais, obrigação de outros se fixarem, os contribuintes, é esta a liberdade da Eurolândia, são estas as características do seu reino por um incompetente dirigido que dá pelo nome de ser português.
Nada vai bem na zona euro. A Grécia está na berlinda um ano depois de ter sido salva pelo programa imaginado pelo FMI e pela Comissão Europeia. A Espanha está numa corda bamba e a Itália foi colocada sob vigilância pela Standard and Poor’s . Os deputados do CDU estão em rebelião contra Angela Merkel, que sofre derrota eleitoral após derrota eleitoral. O seu ministro das Finanças, que tinha agitado os mercados financeiros evocando publicamente um reescalonamento da dívida grega, acaba de mudar de opinião. Jean-Claude Trichet reage agressivamente contra Jean-Claude Juncker que defendia a hipótese “re-perfilar ” a dívida grega e o BCE ameaça mesmo vir a deixar de alimentar os bancos gregos. Um responsável deste país indica que, neste caso, seria necessário deixar a zona euro. Eis pois, aproximadamente, o estado das coisas que resultam da notável solidariedade europeia prometida por Angela Merkel e por Nicolas Sarkozy. Há então sérias razões para nos questionarmos.
Porque é que o défice grego não se reabsorve?
A Comissão prevê um défice de 9,5% do PIB em 2011 e de 9,3% em 2012 depois de 10,4% em 2010. Não é por falta de esforços pela parte do governo. De acordo com a última avaliação dos progressos conduzida pelo FMI datada de Março último, lê-se : “ A economia evoluiu como previsto, com uma baixa de 4,5% do PIB em 2010, uma taxa de inflação que continua a ser fraca, e com custos unitários do trabalho que começam a descer . Face a estes ventos contrários, as autoridades terminaram com um ajustamento orçamental de 5,75% em 2010. ” Explicação destes cálculos em aparência contraditórios: o governo apertou fortemente a tarraxa ( os 5,75%), mas a recessão é profunda (os -4,5%) e sem fim, precisamente, devido a este ajustamento precipitado. De repente, as receitas orçamentais reduzem-se e… o défice realmente não se reabsorve (- 9,5%).
O que fazer agora?
Para o FMI e para a Comissão, é necessário fazer mais e ainda melhor . “A Grécia progrediu em direcção dos seus objectivos [os que lhe foram impostos como condição do empréstimo], e as reformas orçamentais e estruturais necessárias são levadas a efeito gradualmente . Contudo, reformas essenciais devem ainda ser preparadas e levadas a prática para construir a massa crítica necessária à sustentabilidade orçamental e à retoma económica. ” Por outras palavras, é necessário ainda continuar a apertar a tarraxa ou o cinto, o que é equivalente. Mas se as medidas do ano passado prolongam a recessão e não permitem de modo nenhum reduzir o défice, como previsto pela Comissão, o que fará a Grécia num ano? Apertar ainda mais o cinto. Continua-se a aplicar um remédio que enfraquece ainda mais o doente já de si muito fraco.
Porque é que os Alemães quebraram o tabu da reestruturação de dívida?
Como o défice não se reabsorve e porque o governo grego não pode mais vir a contrair empréstimos nos mercados financeiros internacionais, é necessário que o FMI e a Europa continuem a conceder empréstimos. A Alemanha, sendo o primeiro mutuante dos fundos em questão, daí que uma surda inquietação comece a aparecer além-Reno (mas não em França onde, aparentemente, a opinião pública não se preocupa com o montante destes empréstimos). Uma reestruturação reduziria o montante dos empréstimos suplementares a realizar, o que aliviaria a pressão sobre Merkel.
O que é uma reestruturação?
Incumprimento, reescalonamento, diminuição de dívida, etc. são diversos meios para reduzir uma dívida. Como um país não pode ser colocado na prisão, pode decidir de maneira unilateral não reembolsar a totalidade da sua dívida pública. É ilegal mas é um facto de príncipe. Os seus credores têm poucos recursos de oposição e a sua melhor opção é, em geral, negociar o que irão perder - “ haircut ” como se diz deliciosamente em inglês ou a tesourada como se diz em bom português. Que isto assuma a forma de pagamentos diferidos, uma baixa da taxa de juro ou uma redução directa da soma devida, há incumprimento desde que os termos iniciais sejam unilateralmente alterados. Certos responsáveis políticos falaram de reescalonamento “ voluntário e bem organizado”. É uma pura ficção. Os credores, e há dezenas dos milhares ou mesmo muito mais, nunca serão voluntários e alguns batem-se com energia negociando de forma muito dura e recorrendo aos tribunais. De repente, o procedimento é desordenado, longo e complicado.
Que pensam os mercados financeiros?
A opinião geral, mas não unânime, é a de que a Grécia não escapará a uma reestruturação. Os mercados são habituados a estes acontecimentos e preparam-se. Uma parte dos bancos e os investidores que detinham a dívida grega desfizeram-se dela , frequentemente a sofrerem perdas moderadas; agora estão posicionados para ganharem dinheiro quando isso se produzir. Outros quiseram evitar perdas a revender e estão agora inquietos. Ninguém duvida que estes mantêm a angústia dos governos de modo a que o contribuinte os venha salvar da sua aposta. Ganham-se hábitos.
Porque é que a França se opõe a uma reestruturação?
Segundo a linguagem oficial afirma a Europa não é a América Latina, a solidariedade não é uma palavra vã e o remédio corre o risco de ser pior que o mal porque existe um risco de contágio. O contágio é possível, com efeito. Resta uma outra interpretação, perfeitamente hipotética. Os bancos franceses (e alemães) parecem deter uma parte da dívida grega e poderiam vir a ter grandes prejuízos . Se estes bancos estão menos sólidos do que o que se pensa , poderiam ficar ainda mais seriamente destabilizados , e ainda mais se houvesse contágio. Mas a informação sobre estas questões não está disponível, pode-se apenas imaginar o pior.
Porque é que o BCE é violentamente contra uma reestruturação?
O BCE está em dificuldades e por muito tempo, sobre esta questão . Às advertências sucedem as ameaças. Como toda gente, o BCE teme o contágio. Este também avisou que o sistema bancário grego se desmoronaria, o que é possível, mas não seria dramático. Com efeito, se o governo reduz a sua dívida, digamos, de 50% do PIB e que deve então situar-se sobre a linha de água , ou seja (nacionalizar ) o sistema bancário por um custo de aproximadamente 20% do PIB, o ganho fica então de 30% do PIB, uma bela operação financeira.
As angústias do BCE podem estar num outro lugar. Desde Maio de 2010, sob uma pressão intensa dos governos, comprou muitos títulos das diferentes dívidas públicas. Cuidadoso, aplicou um haircut da ordem de 20% mas os incumprimentos em série deixá-lo-iam com perdas muito substanciais. Certamente seria recapitalizado pelos governos, mas o Banco Central Europeu teme uma perda vertiginosa do seu prestígio, já colocado em maus lençóis pelas suas compras não muito voluntárias de dívidas, e mais geralmente, por um aumento do cepticismo no que diz respeito à moeda única. As suas advertências soam como um sinal de pânico, dando a ideia de que terá com o dedo imprudentemente accionado uma engrenagem que não controla.
Quem decide ?
A Grécia é um país soberano e é ela que decidirá. Desde o início da crise, os seus parceiros europeus ditam-lhe o caminho a seguir e esta aceita estas injunções na esperança evidente de vir a ser ajudada, ainda que as ajudas não sejam dons, é necessário recordá-lo, mas sim empréstimos que aumentam a sua dívida. Como todos os outros, o governo grego pesa os prós e os contras das suas opções. Uma declaração de incumprimento dar-lhe- -ia para respirar um momento e permitir-lhe-ia aliviar a pressão sobre a sua população. Mas a decisão poderia tornar-se inevitável se os Gregos acelerassem o movimento, de momento lento, de retirada de fundos dos bancos, informados que estes estão pelo BCE que o sistema bancário pode desmoronar. O voluntarismo político quebra-se frequentemente contra o rochedo da dura realidade
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