Debate-se muito o papel da arte na vida da sociedade. Será excessivo para uns, insuficiente para outros. Parece ser geralmente aceite que a arte surge a partir das questões da adaptação do homem à vida e ao ambiente que o envolve. As atitudes e realizações que hoje integra terão constituído, para o homem chamado primitivo, formas daquilo que designamos por magia.
Ernst Fischer em A Necessidade da Arte chamou a atenção para a importância de, hoje em dia, o produtor e o consumidor de arte tenderem a estar cada vez mais distantes. Assinala que o desenvolvimento do capitalismo fez com o mundo antigo se dissolvesse num turbilhão de microcosmos, dissolvendo as relações existentes entre o produtor e o consumidor, e arremessando todos os produtos para um mercado anónimo para serem vendidos e comprados. Recorda ainda a característica básica do capitalismo: torna tudoem mercadoria. E que, pela sua essência, não constitui uma força social declaradamente inclinada para a arte ou que promova a arte (capitalism is not essentially a social force that is well-disposed to art or that promotes art; tradução inglesa de Anna Rostock, ed. Penguin Books, pág. 51).
O estrolabio Carlos Loures, num escrito de 7 de Dezembro de 2010, A poesia? Para que serve a poesia? fez uma análise do pensamento de Fisher, e conclui pela necessidade da poesia (muito bem, a meu ver). Transcrevo, com a devida vénia, um parágrafo deste escrito:
Dirão, «mas então uma das funções da arte não é precisamente a de entreter, a de distrair? Antes da escrita, quem contava histórias nas cavernas ou as pintava na rocha, não correspondia, nesse esforço de recrear, aos artistas actuais? Sim, uma dos objectivos da arte será essa. Mas há um outro, mais importante – que é a de chamar a atenção para os problemas do ser humano e da humanidade – «abrir portas fechadas». Criar de acordo com o que o mercado pede é, como disse Fischer, «passar por portas abertas»: «A função da arte não é a de passar por portas abertas, mas é a de abrir as portas fechadas.
Hoje em dia, na nossa vida moderna, temos de suportar várias das consequências do crescimento económico desordenado (que muitas vezes acaba em depressão, como se está a assistir neste últimos anos), impulsionado pela força do capitalismo, e pela acumulação desregrada que a este preside. Um dos motores para abrir as portas fechadas é sem dúvida alargar a aceitação da arte em campos que lhe têm precisamente, fechado as portas. Vou referir um: o do urbanismo. Assiste-se hoje em dia (fala-se tanto disto, mas em vão!) ao crescimento desregrado das cidades, aumentando inconsideradamente os seus perímetros, invadindo terrenos (que digo? territórios!) que têm declaradamente outras aptidões, interferindo com o ambiente e os próprios ciclos vitais da natureza, gerando modos de vida desumanos, com formas de exploração hediondas. Para se pôr um travão a isso, há que levar a cabo uma multidão de medidas (alguns chamar-lhe-iam reformas), como por exemplo recuperar os centros históricos das cidades. O estrolabio José de Brito Guerreiro também já aqui dedicou algumas linhas a esta matéria, muito recentemente, em 15 de Maio último.
Basta percorrermos algumas cidades europeias (não serão todas claro) para constatarmos as grandes diferenças que existem, em relação às portuguesas, a começar por Lisboa e Porto. Também há diferenças entre as cidades portuguesas. Arrisco a opinião de um amador: julgo que Braga está melhor neste capítulo, assim como outras capitais de distrito. Mas deixo aqui o desafio, aos estrolabios e não só, que fazer neste campo? Vamos falar sobre os estrangulamentos que persistem.
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