Sílvio Castro Um Novo Coração
Capítulo 1
Anna Rosa,
da te rifiorito
nuovo
il mio cuore
batte.
Toda a cura, toda Baden se transformaram em
coisas odiosas para mim. A maioria dos clientes do
nosso hotel, pelo que eu o soube, não estão aqui
pela primeira vez, muitos deles retornam pela
sétima, pela décima vez , e conforme o cálculo das
possibilidades acontecerá o mesmo também comigo.
Hermann Hesse
Cura da Terma de Baden
Esta Casa na qual cheguei depois de renovadas surpresas, mais do que um hospital, se trata de uma “Casa de Saúde”: grande, ampla, quase imensa. Mais do que um hospital, também se mostra como um absurdo hotel, ocupado sempre por doentes internados, mas circulantes nas salas salões corredores, até mesmo no bar de mais de sessenta lugares, no andar térreo, de vistas para o jardim.
No bar se convive como em qualquer bar de uma qualquer cidade, como coisa da vida comum: se bebe, come-se, joga-se baralho, se conversa com as visitas ou com os companheiros de cura, lá no fundo, no ângulo do salão organizado com poltronas e mesas, distante do balcão do bar. Quem não conversa pode estar lendo algum livro exposto na estante suspensa na parede lateral, livros não catalogados, como que oferecidos não só à leitura.
Vou contar-lhes detalhadamente desta “Casa de Saúde” vista sob ângulos diversos a partir da experiência da doença mortal. Me prometo de fazê-lo não com intenções técnicas e científicas, mas como uma expressão literária e por isso mesmo com maior adesão à realidade, porque somente a literatura pode figurar experiências sem janelas, como esta, a um só tempo conviviais com a idéia da morte e com uma total participação com a vida que deve ser preservada no seu ritmo maior de afirmações e consumo.
A “Casa de Saúde” é uma instituição particular, mas convencionada com o Estado. Os internados podem usufruir de três tipos de hospedagem: com quartos de três, duas ou uma cama, sendo aqueles de três camas isentos de qualquer pagamento fora do valor do convênio que cobre a cura; a escolha daqueles de 1 ou 2 hóspedes corresponde a pagamento à parte de uma quota adicional e diária, logicamente muito mais cara quanto aos quartos particulares, em verdade oferecidos em número reduzido e também por essa razão praticamente inacessíveis.
No comportamento dos internados, como é possivelmente óbvio já que de certo humano, circulam reações ligadas a estas três condições de hospedagem, quase como novas formas de classes sociais movidas por reações oníricas, nem sempre patológicas. Tudo expresso entre os extremos da resignação passiva e da auto-exaltação de um atribulado eu pessoal.
A população que tem acesso à “Casa de Saúde” é predominantemente italiana, mas com presença de muitos estrangeiros, em particular europeus dos diversos países da Comunidade.
O hospital que é esta “Casa de Saúde” mostra-se como um mundo que se cria em si mesmo. Parece o mundo comum, mas para o doente em recuperação ele aparece em mutações indefinidas, em configurações de novas expressões do mundo: isolado, em um primeiro momento; levemente atraente, quase logo depois; centralizante, mas igualmente rechaçante, em seguida. É como o viver num espaço sabido à maneira de todos os dias já vividos e numa realidade que, mais do que capaz de revelar-se enquanto tal, figura aquele eu que em verdade somos, mas que está sempre por detrás e irrevelado do eu que acreditamos ser.
(continua)
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