Sábado, 21 de Maio de 2011

Aos leitores, aos visitantes, de Estrolábio, a propósito do mundo do trabalho na economia financeirizada e de uma sugestão que aqui deixamos para alguns dos actuais ou dos futuros ministros

Por Júlio Marques Mota

( leia os textos do Professor Mario Nuti aqui no estrolábio) e no seu blogue pessoal

Uma série de textos sobre o trabalho acabou (France Télécom, os suicídios da Télécom), que foi sobretudo um trabalho que se quis fazer como uma análise sobre as derivas de um sistema que, completamente à solta, a noção de absurdo total gerou, noção com que a presente peça pela nossa parte parte abruptamente se terminou por “incapacidade pessoal” de naqueles relatórios continuar. Nestes trabalhos, a peste aqui de forma brutal se registou, uma outra peste assim aqui também se lembrou, a peste com que a Europa nos anos 30 barbaramente se assolou , de que Albert Camus, um outro autor da nossa juventude, em A Peste muito dela nos falou. Analisámos in fine uma grande parte das taras de um sistema através da sua mola real -- o sistema produtivo, as condições técnicas de produção, as condições sociais de produção no sistema neoliberal, da economia financeirizada, na economia globalizada e no quarto operador mundial das telecomunicações. O espanto, mesmo para nós que isso procurávamos detectar, é a violência das situações que aí se foram analisar, é a violência das equivalências com o hoje e o aqui que nesse texto se foram encontrar, é a ligação com o clima que varre actualmente toda esta Europa e que os neoliberais estão a comandar ( já nem sei se o termo neoliberal será exacto expressar): as fusões dos anos 90 aí estão, a alavancagem com que a France Télécom se endividou, a reestruturação da dívida que o Estado pagou, a orquestração científica, assassina diremos nós, com que milhares de «despedimentos» consentidos se organizou, o método das avaliações das carreiras profissionais e das subidas na carreira que aí se instalou -- a lembrar e porque não as que foram criadas na Administração Pública portuguesa por mentes socialistas pensadas e por muitos outros também aplicadas, a passagem de serviço de interesse público a serviço de interesse privado ( as privatizações), onde o cliente passa a ser sobretudo o sujeito a quem se pode facturar mais do que a pessoa a quem serviço tem de se prestar, a precariedade como ferramenta de controlo : tem emprego? Então tem sorte, esteja calado. E por aqui passou também a repressão através da precarização absoluta e, deste ponto de vista, esta atinge uma dimensão e uma força que qualquer ditador dos anos 30 a 70 na Europa invejaria certamente. Deixa assim de ser necessária uma política de Estado, fortemente repressiva: esta nova arma agora e aqui estilizada, é mesmo muito mais eficiente e menos custosa para a classe dominante. E neste entre-tempos, se dívidas se estiveram a criar na grande empresa, Télécom ou mesmo a Nação, então alguém tem de as pagar (os trabalhadores necessariamente) e uma máquina para isso a tecnocracia irá montar: redução dos efectivos e volume de actividades a aumentar, num clima que a precariedade, a «calma», a paz podre social, para isso necessária, irá assegurar. Simples, portanto, mas até quando?

 

Fora do Estrolábio, dada a extensão dos muitos textos subjacentes ao trabalho que agora se terminou, ao meu ministro Mariano Gago os relatórios de tecnologia (mais de mil páginas) devo obrigatoriamente recomendar para que este se aperceba dos custos humanos posteriores que resultam das formações superficiais de que se pode pensar agora que ele é especialista e de que tanto tem andado a publicitar; é de resto ao meu ministro de tutela, a quem a Universidade de Bolonha muito reconhecida lhe deve estar pelas múltiplas fundações a acoplar, pela democraticidade a mitigar e por ser a expressão máxima da simplicidade no local onde esta simplicidade nunca se poderia instalar; ao ministro do Trabalho do governo actual, a leitura dos mesmos trabalhos devo sugerir para que assim lhe possa lembrar que, aos jovens do meu país, o mínimo de apoio e de consideração a estes lhes deve obrigatoriamente consentir, desempregados ou empregados no regime que nestes relatórios se prova existir, e ao ministro responssável pela Administração pública assim como ao ministro da Presidência -- ah, a estes, eu sinceramente recomendo que os mesmos trabalhos devam consultar e que, com inquéritos do tipo dos aqui utilizados e com a seriedade com que foram aplicados , se faça um levantamento do desagrado da função pública face às reformas da modernidade que um conjunto de tecnocratas nas catacumbas da OCDE possivelmente esteve a idealizar e que pacientemente os senhores ministros têm estado em Portugal a aplicar.

 

 

E, last but not least, ao meu actual primeiro-ministro de hoje, licenciado de um fim-de-semana e de uma Universidade qualquer, que sendo privada quase poderia também ser uma de quase todas elas, que se viu depois obrigado a fechar, face à denúncia pública, ou a um outro possível primeiro-ministro de amanhã e de licenciatura e mentalidade bem equivalente, eu relembro que um país sem cultura é um país sem liberdade e que um país sem liberdade é necessariamente um país oprimido, e que um país oprimido é, nesse contexto, um país sem devir e que um país sem devir é um país que a força da juventude está por isso mesmo se está forçosamente a querer destruir. E o seu modelo, a sua política, é na verdade o que tem estado a querer produzir, ou seja, a querer “produzir” uma juventude que esteja de costas voltadas para o saber, uma juventude a perder até a apetência ou mesmo a capacidade de aprender. Futuros indiferenciados diplomados, futuramente não empregáveis, é que penso vir a acontecer. É o que a sua política tem feito sobre a juventude quando e a tempo , o que esta precisava era de sólidas formações técnicas, entendidas estas no sentido amplo do termo, não de generalidades que nas Universidades de fim-de-semana se podem aprender; o que esta juventude precisava também era de ser apoiada e bem apoiada no seu desejo que, por enquanto, ainda tem de querer transformar o mundo, de modo a que a vida lhes confira sentido e, com este, sejam eles a conferir sentido ao mundo que consciente ou inconscientemente todos nós lhe desorganizámos com a desregulação por nós admitida. Com o seu trabalho de precarização da sociedade portuguesa, continuação de trabalho anterior de outros, como Durão Barroso e Cavaco Silva, é já claro que são os pilares da Democracia que começam a ficar abalados e por estes pilares entendemos: direito a uma política séria na saúde publica e para todos, direito à pensão de reforma condigna, direito à velhice com respeito, direito à educação e formação necessária para uma adequada inserção profissional, direito ao trabalho, ao emprego, direito à cultura. Curiosamente, através das múltiplas desprotecções que, às gerações mais novas, o seu Executivo têm vindo a criar, tem-se estado então silenciosamente a destruir a capacidade de criação de futuro às gerações que se nos seguem, do futuro deles e do nosso também, afinal, e estas se o souberem e puderem serão elas que a si ou a quem a si se seguirá, irão talvez as contas apresentar. E de violentas não as estamos a desejar.

 

Uma primeira série de textos sobre as condições de trabalho agora se acabou. Amanhã, dir-se-á que uma outra série sobre o mesmo tema se iniciou, com o mesmo pano de fundo, os suicídios dos trabalhadores, com o mesmo pano de fundo, as condições de trabalho na economia globalizada, as condições da economia financeirizada, num espaço e num regime onde o neoliberalismo, pela linha da força e da repressão do Partido Único aí foi implantado e bem conservado: a China. As consequências de um lado e do outro são equivalentes, são de tal forma semelhantes e de tal modo que nos cabe a todos nós interrogarmo-nos então do seu porquê.

 

A série sobre o trabalho na economia globalizada, na economia financeirizada será concluída com um terceiro caderno acerca de uma nova invenção que o neoliberalismo criou, as cidades eternamente jovens, e estas são-no através da utilização de um estranho «elixir» que a produção de massa, na quantidade máxima e ao custo mínimo, veio agora a exigir e para a qual houve países e governos com legislação adequada que a tudo isso estiveram prontos a consentir.

E agora, finalmente, para os visitantes de Estrolábio, a concluír, lembro que querer compreender o que se passa e porque se passa, é aprender a saber resistir e que saber resistir é aprender a saber novas situações criar, E só assim, creio, é que novas capacidades de entender se poderão a forjar. E só assim, creio também, e com tudo isto, é que um outro futuro que não aquele que os neoliberais nos destinam , seremos capazes de poder pois alcançar. E é esta dialéctica do conhecimento e da história que nos nossos textos aqui vos propomos.

 

 

 

Coimbra, 15 de Maio de 2011.

 

 

publicado por Luis Moreira às 23:00
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