Va Pensiero, o famoso “coro dos escravos hebreus” da ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi, está de tal forma enraizado na cultura popular que dificilmente se encontrará quem não o conheça e não o tenha trauteado em algum momento, ainda que possa desconhecer o seu autor e o contexto no qual nasceu.
Nabucco foi a terceira ópera de Verdi e diz a lenda que poderia nunca ter existido. Enquanto este compunha a sua segunda ópera, Un Giorno di Regno, a mulher de Verdi faleceu. O compositor conseguiu terminar a obra com grande sacrifício, mas esta acabaria por revelar-se um enorme fracasso. Desesperado, Verdi decidiu abandonar a composição, e só a custo Bartolomeo Merelli, empresário do Teatro alla Scala, de Milão, conseguiu convencê-lo a compor uma nova obra, Nabucco, a partir de um libreto de Temistocle Solera. Diz a lenda que foram os versos de Va pensiero, inspirados no Salmo 137, que ajudaram Verdi a recuperar a fé na sua música e que o animaram a escrever Nabucco, a qual, ao contrário da sua predecessora, foi um enorme êxito desde a sua estreia.
A acção de Nabucco acompanha a luta dos hebreus, derrotados frente ao rei Nabucodonosor, da Babilónia (que destruiu Jerusalém e o seu Templo), e condenados a um período de cativeiro e exílio.
Escrita e estreada durante a ocupação de Itália (os austríacos controlavam o norte, os Bourbons governavam Napóles, e a Igreja controlava Roma e o Estados papais), Nabucco estabelecia uma analogia clara entre o desejo de liberdade do povo hebreu e o sentimento patriótico dos italianos. A obra tornou-se rapidamente um instrumento político, aproveitado pelo Risorgimento, o movimento político que aspirava à unificação do Estado italiano.
Com versos como “Oh mia patria si bella e perduta!” (Oh, minha pátria, tão bela e perdida!), Va pensiero ganhou rapidamente a dimensão de um hino. Hoje, perdido já esse contexto de época, continua a ser a bela expressão musical de uma aspiração que tem movido grandes conjuntos ao longo da história da Humanidade: a da liberdade e autodeterminação.
Com o Coro e Orquestra do Teatro alla Scala de Milão, dirigidos pelo maestro Riccardo Muti, encerramos a primeira série do “Bel Canto”, a rubrica na qual, ao longo dos últimos meses, procurámos apresentar-vos alguns dos melhores cantores de sempre. Retomaremos esta rubrica futuramente e nessa segunda série comprometemo-nos a trazer os grandes nomes do canto lírico que ainda não passaram por esta rubrica e sem a qual ela ficará incompleta. Esperamos que tenham gostado e que regressem connosco para a segunda série.
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