enviado por Julio Marques Mota (daqui)
E.2. O aumento do stress e a insatisfação ao trabalho
A sobrecarga do trabalho é uma das principais causas para o aparecimento do stress no trabalho. Se a situação perdura e se, além do mais, está associada a uma falta de autonomia, representa então um dos principais factores de degradação da saúde no trabalho.
Nas entrevistas assim como nas perguntas abertas foram numerosos os assalariados que dizem estarem sujeitos a uma forte pressão que degrada a sua saúde. Os resultados do questionário são, a este título, esclarecedores e concordam largamente com o diagnóstico qualitativo.
Primeira constatação, a sobrecarga do trabalho tem um forte efeito sobre a satisfação no trabalho. Cerca de 65% dos assalariados que respondem dizem que lhes é pedido uma quantidade de trabalho excessiva e declaram-se igualmente insatisfeitos com a sua situação profissional tomada na sua globalidade.
Os assalariados que consideram que a sua carga de trabalho é excessiva são igualmente os que consideram que as suas condições de trabalho são geradoras de mal-estar .
Mais ainda, a sobrecarga de trabalho pode ter um impacto evidente no estado moral dos assalariados. Os assalariados em sobrecarga consideram assim estarem muito mais frequentemente expostos ao stress ou a um grande cansaço que os outros assalariados. Cerca de 53% dos trabalhadores que se sentem sobrecarregados dizem frequentemente terem muito stressados ou muito cansados contra apenas 18% dos assalariados com um volume de trabalho menos importante.
A manifestação da taylorização da produção em France Télécom perturba fortemente o estado de stress dos assalariados, nomeadamente devido à perda de autonomia que daí decorre (“Infantilizam-nos, eles não têm confiança em nós, não crêem em nós, estamos como crianças apanhadas em falta » ). Se, com toda a população considerada , 40% dos assalariados declaram ter estado fortemente stressados ou muito cansados durante os 12 últimos meses, é o caso de 54% dos assalariados com uma fraca autonomia (último quartil) e de 62% dos assalariados em situação trabalho tenso (Job Strain).
Na mesma ordem de ideias, constata-se que os assalariados que declaram a quantidade de trabalho excessiva tendem a ser afectados mais frequentemente por fragilidade psicológica. Se uma relação aparece claramente entre a sobrecarga do trabalho e a saúde moral e psíquica , esta última também tem consequências nefastas sobre a saúde física. Cerca de 49% dos assalariados que consideram que a sua carga de trabalho é excessiva dizem igualmente que o seu estado de saúde se degradou.
Esta degradação do estado de saúde sentida objectiva-se então na multiplicação das paragens de trabalho, quer elas sejam de curta ou de longa duração. O ressentimento não aparece assim como sendo um vago sentimento sem fundamento, enraíza-se, pelo contrário, na experiência diária das fraquezas e do malestar que se traduzem, por seu lado, numa retirada da actividade produtiva mais ou menos a longo prazo.
E.3. Um sentido do trabalho bem feito bem abalado
As condições de trabalho que acabam de ser descritas (sobrecarga de trabalho, pressão dos objectivos, etc.) têm igualmente uma outra consequência que é a de afectar o sentido do trabalho que efectivamente faz uma parte dos assalariados. Ora o sentido do trabalho é um dos suportes do empenhamento pelo trabalho e é um vector da construção da identidade dos indivíduos. A alteração do sentido do trabalho bem feito tem-se assim traduzido geralmente por uma perda de motivação pelo trabalho, ou mesmo por formas mais ou menos fortes de apatia face ao trabalho .
Além disso, um desvio importante entre os discursos da empresa e a prática dos assalariados é uma fonte de degradação do sentido do trabalho. É por exemplo o caso dos discursos centrados sobre a qualidade em France Télécom que são frequentemente vividos como um discurso de marketing que tem apenas pouca relação com o trabalho real.
Os testemunhos são numerosos neste sentido:
“Não há nenhum sentido do trabalho e nem há valores morais. Devemos seguir os indicadores que muito frequentemente qualificam os processos e não a qualidade do trabalho bem feito. Estamos face aos clientes e tentamos assegurar e testemunhar-lhes o nosso profissionalismo e respeito como cliente enquanto que nós sabemos pertinentemente que no entender da Direcção o cliente é apenas uma factura a servir para enriquecer os accionistas. »
“Todos sabemos que o sentido do trabalho é muito frequentemente desprezado pelo predomínio do cálculo económico. Não se trabalha para satisfazer um cliente, ou para o satisfazer o bem comum, mas para gerar lucro e satisfazer os accionistas. Assim pode-se ser levado a trabalhar sobre projectos que visam optimizar a eficácia e por conseguinte a reduzir os efectivos enquanto que a disponibilização de efectivos acoplada a uma boa organização, é garantia de qualidade, de bem-estar e de sentido comum. »
“A demasiada carga gera serviço mal feitos. O objectivo de se alcançar metas pré-fixadas conduz também aos serviços de má qualidade, mal feitos o que também não é bom para o cliente (que no entanto está ao centro das preocupações). A mudança de responsabilidade sobre as funções não traz nenhuma promoção nem nenhum reconhecimento. O sentido actual do trabalho vai na direcção dos accionistas, ou seja que esta existência de situações de subefectivos traz uma insatisfação ao cliente porque o trabalho não pode ser feita de maneira satisfatória. »
Esta degradação sentida do estado de saúde objectiva-se na multiplicação das paragens de trabalho, quer sejam curtas ou longas. Este sentimento, esta percepção não aparece assim como uma vaga de sentimento sem fundamento, enraíza-se pelo contrário na experiência diária das fraquezas e do mal-estar que se traduz mais cedo ou mais tarde numa saída da actividade produtiva.
F. As insuficiências dos mecanismos do reconhecimento ao trabalho
Pequena Síntese
Uma insuficiência dos mecanismos do reconhecimento:
- Perspectivas de promoção e de progressão salarial insatisfatórias
- Uma opacidade das regras do jogo nas promoções
- Uma mecânica para a saída dos mais velhos
- Nos casos extremos, colocam-se os assalariados na (“prateleira”)
O reconhecimento do trabalho é uma dimensão fundamental na afirmação do em-si profissional e do seu valor no trabalho. Não se esgota contudo na questão da justa recompensa dos esforços realizados no trabalho, abrange também as profundas questões de identidade, pessoal e colectiva . Este reconhecimento coloca em jogo a representação do eu do próprio trabalhador e , de forma mais ampla, representa o lugar central que ocupa o trabalho na sua vida, do seu ser social. Também, o reconhecimento do trabalho é um potente redutor de risco psicossocial na empresa.
Simbólico e/ou financeiro, o reconhecimento é igualmente o vector de resistência dos assalariados às condições de trabalho que são as suas. O seu reconhecimento permite, entre outras coisas , responder duravelmente ao empenho e ao investimento que são pedidos pela sua empresa.
F.1- Uma forte insatisfação em matéria de reconhecimento
Todo indica que existe uma insuficiência dos mecanismos do reconhecimento no trabalho em France Télécom, tal é a insatisfação que os assalariados exprimem neste domínio. Os resultados do questionário são convincentes. Esta insatisfação em matéria de reconhecimento no trabalho não parece nova em France Télécom, mas esta foi seguramente reforçada pela aplicação dos diferentes planos de reestruturação da empresa.
Sob o ângulo das perspectivas de promoção, é uma insatisfação maciça que se exprime: 78,56% assalariados consideram que relativamente aos esforços que eles fornecem que as perspectivas de promoção que lhes são propostas são insatisfatórias, 44,41% de entre eles escolhem a modalidade extrema “ de acordo, de modo nenhum”, o que indica um profundo mal-estar em matéria de evolução no seio da empresa.
Quando nos interessamos pelos mecanismos de reconhecimento no trabalho em função da classificação dos assalariados, constata-se que as insuficiências destes estão a atingir toda a gente, inclusive os quadros. Numerosos são, no entanto, aqueles que aceitaram certos desafios profissionais implicando um volume de trabalho importante e que não obtêm, no final, a promoção esperada.
“Quando o meu posto de trabalho regrediu de quadro superior , em vez de me darem uma promoção fizeram-me sair. O comportamento deles é odioso . E no entanto tinha aceite dirigir uma plataforma de avarias . Era uma plataforma que funcionava mesmo ao domingo até às 23 horas e eu ia lá todos os dias. Durante um ano tive a meu cargo a gestão de toda uma equipa de 50 técnicos, que não estavam contentes de estar ali, e fiz horários que hoje considero impossíveis. »
Os resultados mostram a esse respeito que se os não quadros figuram entre os mais insatisfeitos em matéria de perspectivas de promoção e de salário, o mal-estar dos quadros neste domínio não deve ser minimizado : 32% de entre eles dizem não estarem de modo nenhum satisfeitos nem com as suas perspectivas de promoção e 26% nem com o seu salário.
Se nós adicionamos estes resultados com os que se dizem “sobretudo insatisfeitos”, uma maioria de quadros manifestam uma falta de reconhecimento ao trabalho.
Numerosos testemunhos enriquecem a constatação quantitativa sobre a insuficiência dos mecanismos do reconhecimento.
Algumas problemáticas ligadas às insuficiências do reconhecimento nas perguntas abertas
O reconhecimento irrisório
“Reconhecimento: nada em vista, nem mesmo uma esperança, nada, a não ser obrigações em atingir os objectivos todas as semanas sem compensações financeiras. Quando o objectivo é atingido, no melhor dos casos recebe-se 1 boné, 1 guarda-chuva, 1 caneta da publicidade ou qualquer outro objecto inútil. Há tempos, em reconhecimento pelos alcançar dos objectivos do ano que foram atingidos, cada agente recebeu da
Direcção-Geral de Paris, 1 jogo de 421 (3 dados),sim, leu bem, três dados.
Pedir o seu reconhecimento
“Reconhecimento: existe de uma certa maneira… se o reclama e insiste! O manager não parece valorizar a qualidade dos membros da sua equipa de maneira objectiva mas sobretudo quando um membro da equipa sob a sua responsabilidade lhe faz expressamente o pedido. Uma espécie de reconhecimento forçado, obtido à força, um reconhecimento atribuído por defeito para evitar ser irritado por incessantes novos pedidos. Não falo aqui de promoção (por exemplo de técnico a manager), mas sim de reconhecimento a experiência de um assalariado tal como previsto no seio do departamento. Por outro lado, a atribuição das partes variáveis e dos aumentos respondem a critérios que parecem discutíveis: tendo efectuado o mesmo trabalho, tão difícil e com resultados igualmente tão bons, não compreendo que um colega que ganha sensivelmente mais que eu tenha uma parte variável e um aumento superiores aos meus em x %, o que aumenta mais ainda a nossa diferença de remuneração em valor bruto”
As entrevistas individuais
“Reconhecimento: indiquei que o reconhecimento era para mim um motor. Aquando das entrevistas Individuais, os managers passam rapidamente sobre os pontos positivos e apoiam fortemente sobre os pontos a melhorar . De imediato, sentimo-nos diminuídos e maus no nosso trabalho. »
A ausência de promoção
“Trabalhei para Fraance Télécim durante 29 anos sem estar a cuidar das minhas dificuldades pessoais nem com o meu tempo pessoal, quase 10 horas por dia desde que houvesse serviço a fazer, devido à importância dos desafios e à falta de meios. Apesar disso, nenhum reconhecimento através de uma promoção , continuo a nível de classificação como sendo um principiante! »
A ausência de objectividade
O reconhecimento existe, mas não é necessariamente objectivo e nem sempre se apoia sobre os elementos efectivos. Até à data, não tenho nenhum elemento que me permita conhecer o nível onde me situo em função dos objectivos pedidos. Aquando das entrevistas individuais, devo exclusivamente apoiar-se nas palavras do meu manager relativamente aos objectivos atingidos ou não. Não tenho nenhum elemento para contra-argumentar se necessário sobre os meus resultados. Será isto normal? »
F.2. A opacidade das regras do jogo da promoção
A insatisfação forte em matéria de reconhecimento no trabalho encontra, em grande parte, a sua origem na opacidade das regras do jogo da promoção.
Um forte sentimento de injustiça foi constatado, assente numa falta de clareza e de precisão das regras em vigor. Muitos assalariados duvidam mesmo da existência de regras e manifestam uma certa desconfiança para com o sistema relativo às promoções da empresa.
Ainda que o modelo anterior não seja precisamente caracterizado, o sentimento que prevalece é o de que as bases do reconhecimento eram anteriormente as mesmas para todos: eram fundadas sobre o mérito, o esforço, o tecnicismo e a aquisição de conhecimentos e estes indicadores davam lugar à concessão de prémios, de pontos ou de promoções. A reclassificação do início dos anos 1990 marca para numerosos assalariados questionados a introdução de uma forma de arbitrário em regras de evolução interna.
“De toda a maneira , não nos dizem nada, não se sabe muita coisa como se passam as coisas quanto à promoção e depois também sobre tudo o que é classificação. As pessoas que não aceitaram a reclassificação tiveram a carreira bloqueada . ”
“Não se tem nenhum reconhecimento. Estamos em vias de nos batermos porque eles nos pedem cada vez mais. Desde há 13 a 14 anos que estou ao mesmo índice e se for reclassificado é ainda pior. »
Este sentimento é tanto mais forte quanto a maioria dos assalariados encontrados entraram para a France Télécom ou para os PTT por via de concurso, que era igualmente o meio reconhecido de ascensão profissional. Desde a abertura dos capitais ao sector privado, o modo dos concursos foi suprimido para ser substituído por instrumentos de gestão sobretudo procedentes de práticas das empresas emanando do sector privado, como a entrevista anual, os prémios em função de se ter ou não ter alcançado os objectivos, um sistema de júri para subir na carreira, etc.
Para numerosos assalariados, os procedimentos de avaliação não lhes parecem relevantes para apreender o valor e empenho no seu trabalho, ou seja para julgar da sua qualidade e do seu empenho na empresa.
A falta de confiança, ou mesmo a desconfiança para com este dispositivo é, por conseguinte, relativamente importante. Provém não tanto do próprio procedimento mas sim da sua fraca eficácia aparente em matéria de atribuição de prémios e de promoção.
Resumidamente, o dispositivo aparece como inútil .
“O sistema de promoção na France Télécom é relativamente opaco. Há uma opacidade relativamente a isto, não se publicitam sequer as promoções. A entrevista de progresso, não acredito nisso desde há muito tempo, continuo a fazê-la mas isso, desde há seis ou sete anos que vou directo para a entrevista, enquanto que antes eu preparava-a mas agora, estou-me completamente nas lonas para ela. »
Na sua maior parte, as pessoas encontradas já não acreditam mais nada no sistema relativo às promoções porque a desconfiança existe face ao que sentem como arbitrário na concessão de promoções.
“As entrevistas de progresso, são uma aldrabice. O meu chefe é ele que a faz, assina. Mas bom, para mim, isto vai. Coloca lá expressões gentis, agradáveis. Na medida em que já não há mais concursos, promove-se quem se quer , onde se quer , quando se quer, então é necessário que a gente se dê bem com um quadro superior. Eles apelam para que haja candidaturas de modo a que tudo se passe bem com os sindicatos, mas é uma aldrabice. Não há mais a igualdade que havia antes , durante os concursos. Agora é para todos os níveis, fazem apenas o que querem.
Desde 2004, que ultrapasso os meus objectivos e nada, por fim lá irei ter um prémio excepcional de 400 ou 600 euros mas, bom, ao mesmo tempo, lembro que há mais de dez anos que nada. »
“Continuo a estar bloqueado no mesmo nível como agente das linhas. A minha promoção nunca a terei , mas agora eu estou-me nas tintas. O chefe guardava as promoções para os seus amigos. No entanto cheguei a fazer até 65 horas por semana durante certos períodos.
Recentemente o médico do trabalho disse-me que levantasse o pé e o meu médico de família deu-me baixa por mês e meio, no final de 2009. Fazia 3 sábados em 4 muitíssimas vezes. »
O carácter muito confidencial da concessão dos prémios reforça, por exemplo, a sensação de um tratamento diferenciado dos assalariados. A opacidade dos tratamentos individualizados em cada equipa é ainda agravado pela diversidade de tratamentos no plano territorial que faz de cada Direcção uma entidade governada pelas suas próprias regras ou em todo caso sentidas pelos trabalhadores como tal.
“ Os prémios são frequentemente dados por debaixo da mesa aquando de um frente-a-frente e dizem-nos para não dizer nada aos outros.
São ainda 106.000? Pois bem, haverá então 106000 tratamentos diferentes porque os chefes locais têm mais poder do que no sector privado. No sector privado, as regras são mais claras e mais rigorosas. Aqui ninguém reclama nada, ninguém tem nada. Certos empregados nem sequer conhecem sequer todas as regras sociais. Como os Recursos Humanos desapareceram e os managers transformaram-se em Recursos Humanos os tratamentos são claramente nitidamente mais discriminatórios que nunca. »
“Os chefes de Departamento são uns verdadeiros barões . As regras são muito diferentes região a região . Mesmo os chefes de Grupo criaram o seu próprio sistema de regras . É a selva. »
As promoções parecem sistematicamente que só vêm aumentar a ideia de falta de reconhecimento pelo trabalho e que às vezes resultam de uma relação de forças instaurada face à hierarquia.
“As pessoas que se empenham, e se investem pelo trabalho não são reconhecidas. Eu, eu tive a minha promoção batendo com o punho na mesa mas muitos não se atrevem sequer. Para além disso, sou coordenador técnico e pude ameaçar que não ajudava ninguém e eles sabiam que isto daria uma grande confusão. »
Algumas problemáticas ligadas às perspectivas de evolução segundo as perguntas abertas
Um futuro sem horizonte
“É absolutamente necessário que as condições melhoram pois, caso contrário, os dramas vão continuar. Já não é mesmo possível trabalhar em tais condições. A empresa faz tudo para que o pessoal se sinta na necessidade de se ir embora , se sinta levado a pedir a demissão. No entanto estamos todos muito ligados à empresa mas também ninguém mais o quer reconhecer. Tenho necessidade de perspectivas de evolução, noutro emprego, com um aumento de salário, com melhores condições de trabalho e por estas queremos apenas dizer , que tenho simplesmente necessidade de trabalhar em ambiente calmo, de forma honesta e com respeito. »
“Não há nenhuma perspectiva de evolução no meu serviço, nem aumento de salário válido em sinal de reconhecimento do meu trabalho. »
O constrangimento das mobilidades geográficas
“Não há mais perspectivas de evolução de carreira sem aceitar a mobilidade geográfica. Isto implica, por exemplo, ir de Auvergne para Lyon para poder passar nas promoções. Com 45 anos, eu que não desejo mudar de região, encontro-me sem nenhuma perspectiva lógica de carreira .
Os meus futuros empregos sobre esta região estarão na gestão sobre plataforma ou na unidade técnica sem aumento de salário. Onde, pode então haver qualquer motivação? »
A mobilidade como diminuição até zero “do capital reconhecimento”
“Hoje, não vejo nenhuma perspectiva de evolução. A última foi há 7 anos. A mobilidade que no entanto é sinónima de evolução profissional em todas as empresas, vivo-a, em France Télécom, como uma diminuição sistemática até zero mesmo do capital de reconhecimento. Bónus e aumentos em baixa e a seguir a mobilidade e não há aumento de salário a acompanhar a mobilidade. »
O não reconhecimento das competências
“Desde há vários anos, tenho o sentimento de nunca mais pode ter a menor perspectiva de evolução: não há mais aumento de salário, não há mais promoção possível. É desmotivador . Além disso, embora a minha hierarquia esteja consciente sobre as minhas capacidades e sobre a minha competência e sobre o meu empenho , decide atribuir o mesmo aumento a todos. A sua visão é que todos devem estar na mesma grelha de salários, e tudo isto independentemente do nível de estudos de cada um , da sua experiência, do seu empenho no trabalho. É extremamente desmotivador. »
Será que existe a gestão de carreira?
Trata-se de uma gestão de piões, de números e sobretudo não se trata de competências. É uma gestão de mobilidade e não uma gestão de pessoas. É péssimo não ter nenhum futuro profissional numa tão bonita empresa, apesar de entrevistas individuais, onde os objectivos são ultrapassados e as competências reconhecidas por escrito. Mas, depois, não há nenhum retorno nem em termos de aumento de salário nem em termos de abertura de postos. Certas hierarquias funcionam com a cabeça no cliente e não com a real competência das pessoas. Mesmo aceitando a mobilidade , reencontramo-nos sem nenhuma perspectiva de evolução. »
É importante ter em conta que a acumulação das decepções para a obtenção de uma promoção tem efeitos negativos sobre o ambiente de trabalho. Por um lado, as relações de confiança para com a linha hierárquica são fragilizadas, e por outro lado, tudo isto cria em certos serviços muita crispação entre colegas, em especial, quando, a posto de trabalho igual igual estão se está a fazer corresponder graus diferentes sem que verdadeiramente haja uma explicação pela parte dos responsáveis.
Estes desfasamentos entre graus e posto de trabalho sentem-se nomeadamente aquando dos períodos de reorganização . As pessoas atingidas pelo encerramento do seu serviço e/ou do seu posto de trabalho e que devem procurar um novo posto, lamentam a falta de acompanhamento de carreira. A entrevista anual que tem nomeadamente por papel estabelecer um acompanhamento da carreira do assalariado não desempenha, como se viu , o papel e que dela se esperava.
“ Desde que se mude de serviço , reparte-se então do zero e é necessário de novo voltar a provar as suas capacidades, as suas competências, as entrevistas de progressos são só música para fazer passar a pomada . »
F.3. Um dedo apontado sobre os mais velhos
No âmbito da aplicação dos planos de redução maciça dos efectivos em France Télécom, a política de gestão de idades que foi posta em prática é particularmente desfavorável para os mais antigos .
Esta gestão das idades desenha a curva seguinte:
1. Até aos 45 anos, os assalariados efectuam a sua carreira profissional de acordo com regras tradicionais de evolução no seio de uma organização;
2. Dos 45 aos 55 anos, são considerados como pessoas seniores e entram numa zona de turbulências profissionais onde a impressão que domina é que a sua empresa tudo procura fazer para que se vão embora ;
3. Chegados à idade dos 55 anos, se conseguirem manter o seu emprego , os assalariados entram numa zona de apatia profissional.
Os testemunhos são numerosos dos assalariados que falam da sua entrada numa zona de turbulência a partir de 45 anos e da vontade da sua empresa em fazer com que partam. As pessoas ditas seniores evocam também de maneira quase sistemática a ausência de perspectivas que lhes são oferecidas. Dedo apontado que convida a mudar a expressão do século XIX , “inútil ao mundo”, para falar de assalariados que se sentem considerados enquadrado na expressão “inútil à France Télécom”.
“ Ao nível do trabalho, até ao ano passado, não tive problema. Este ano, a situação faz-me já sentir que tenho um pé fora, um pé dentro, o que não é agradável, é uma situação nova … Há um problema contra as pessoas mais velhas em France Télécom. Houve um plano de 1996 para 2006 de partidas em regime de pré-reforma, (os CFC ou dispositivos em pré-reforma) e desde 2006, tenta-se tratar diferentemente as pessoas mais velhas. As pessoas partiam entre 55 e 59 anos com um prémio de saída e 70% do salário. Era um dispositivo para diminuir os efectivos de France Télécom, mas tinha pelo menos a qualidades de ser limitado, bem preciso. Desde 2007, são bem diferentes : os prémios, “a promoção como chapelada”… Fazem-nos perceber que se não nos vamos embora, não se terá mais nenhuma promoção… »
Os resultados dos inquéritos mostram bem esta impressão que se tem também com centenas de entrevistas efectuadas. Mais os assalariados avançam na idade e maior é a sua insatisfação em matéria de falta de reconhecimento que cresce fortemente com a idade.
É interessante verificar que a insatisfação das pessoas seniores centra-se essencialmente sobre a sua ausência de perspectivas de futuro e muito menos sobre a insatisfação salarial. Esta insatisfação é quase que equivalente nos mais jovens e nos mais velhos.
F.5. “O afastamento”, uma forma extrema de gestão das carreiras, uma forma geradora de traumatismos
Se a prática de “ arrumar na prateleira“ é um fenómeno difícil de avaliar no seio de France Télécom, a problemática foi posta e com alguma frequência no decorrer das entrevistas (testemunhos directos ou indirectos) para ser tratada neste relatório. Se os casos levantados permanecem certamente marginais face à centena de milhares de assalariados que tem a empresa, o facto de se ter encontrado, com base na amostra à 1% da das entrevistas, mostra que deve contudo haver um número significativo.
No âmbito deste relatório, não se trata de reconstruir a cadeia causal das responsabilidades, partilhadas ou não entre os assalariados e a France Télécom, que levou a tais extremismos. Em contrapartida, é imperativo assinalar que esta prática é geradora de grande sofrimento para os assalariados que a sofrem.
F.5.a. Um perfil tipo: o técnico de 55 anos posto na prateleira nos anos 2000
Um perfil modal distingue-se no conjunto dos “ postos na prateleira”. Trata-se de uma população relativamente idosa (quinquagenários) que geralmente terá entrada em France Télécom entre o final dos anos 70 e o início dos anos 80 (que foi um período de recrutamento maciço na empresa). Contudo, os quadragenários (principalmente os quadros sob contrato ) testemunham também fenómenos de emparedamento, de colocaação na prateleira, “placardisation” ou de bloqueio de carreira globalmente similares. As mulheres parecem um pouco mais atingidas por estas situações de “arrumar na prateleira” que os homens. Todos os assalariados escutados se caracterizavam por uma relação com o trabalho passado ou presente de muito mal-estar . A grande maioria dos assalariados está ou esteve com depressão. Na sua maior parte, a depressão foi diagnosticada medicamente. Numerosos de entre eles, esteve de atestado médico, em pelo menos uma vez por causa destas perturbações depressivas no decorrer dos últimos 4 anos. Todos declaram “compreender” os colegas que se suicidaram.
A colocação na prateleira , como porta de entrada para a desqualificação
A desqualificação atinge tanto os técnicos como os trabalhadores qualificados como os quadros. Do ponto de vista das suas carreiras, os “emparedados” reencontram-se tipicamente colocados nos serviços comerciais, a ocupar postos em plataforma de chamadas. Noutros casos, reencontram-se a fazer pequenas tarefas subalternos (triagem de correio, fotocópias). Ou ainda, eles passaram a ficar totalmente isolados em sítios onde são os únicos empregados, sem nenhum contacto social na empresa, excepto por telefone ou pelo serviço de mensagens electrónicas.
A desqualificação é fonte de incompreensão, de cólera, seguidamente de vergonha e de mal-estar para o conjunto dos que passaram pela experiência.
“Dá-se conta, era um quadro , e o que me foi dado para fazer , era a triagem do correio! Pedia trabalho clandestinamente aos meus colegas para os aliviar. Tudo isto me fazia aguentar mas, na verdade, eu não fazia grande coisa. E, depois, depois de algum tempo , é mais fácil de suportar pedir sempre coisas aos seus colegas. Depois, apetecia-me subir em pelas paredes … sentia-me muito mal estar a ser pago e nada fazer.»
“Sou colocada num local onde não há ninguém. Não vejo nenhum colega. Tenho uma chamada do meu chefe todos os três meses. É um bom sujeito, gosto dele. No início, ainda me davam algum trabalho, agora não há mesmo mais nada, não me dizem nada. »
F.5.c. A ausência de trabalho como fonte de traumatismo
Estes episódios mais ou menos longos “ de colocação na prateleira”, de uma espécie de vaguear pelo trabalho têm gerado geralmente traumatismos naqueles com quem falámos. Depressão, perturbações somáticas, as paragens de trabalho repetidas, prescritas pelos médicos da medicina do trabalho são frequentes.
F.5.d- Depois de “ colocados na prateleira ”, o universo do trabalho tornou-se um universo pesado de ansiedade
A experiência de “ colocado na prateleira” provocou uma mudança de relacionamento com o trabalho : os “ colocados na prateleira” mantêm não apenas uma relação de infelizes mas, mais ainda, ficam ansiosos face a tudo o que tenha a ver com o mundo do trabalho . O medo e a desconfiança tornam-se componentes muito importantes da sua relação para com o trabalho, pois insinuam-se no seio dos espaços e em qualquer momento em que uma decisão relativa ao trabalho se é levado a fazer, o que pode acontecer face a si mesmos ou em frente de interlocutores. Por exemplo: alguns têm medo de aceitar a atestado médico com paragem de serviço proposto pelo médico dado o medo de eventuais represálias.
“
Eu tenho medo de que se tiver que parar, não me deixem voltar”
“Tenho medo de ir à entrevista pessoal, vai ser uma prova muito dura, eles vão-me ainda fazer por compreender que é necessário que eu vá embora…mas eu quero trabalhar”
Este medo manifesta-se também no próprio facto de falarem dos seus medos aos seus colegas. Esta desconfiança generalizada gera fenómenos de isolamento, de fecho sobre si-mesmos.
F.5.e. Da angústia à espiral infernal: o desenvolvimento de fenómenos de
“contágio da peste ”
Do mesmo maneira, observaram-se fenómenos de sentimento “ de peste”: o medo que venha a ser colocado na prateleira seja um fenómeno contagioso manifesto em numerosos assalariados, o que se traduz pelo medo “ de ser contaminado” “pelos emparedados” devido ao simples facto de serem amigos ou visitas uns dos outros. Por outras palavras , é o medo dos colegas que a solidariedade para com “os emparedados ” se volte contra eles, e que os “problemas”acabem por lhes chegar também como por efeito de contaminação. Estes elementos confirmam a tese de Christophe Dejours sobre a banalização do mal (cf. C. Dejours, Souffrance en France ).
“Bem, vai fazer 2 anos que não tenho posto de trabalho , que estou em missão como dizem. Então ocasionalmente volto para o local e para ter acesso à internet e para ver os anúncios, combino com os meus colegas de modo a que eles me emprestem o seu PC… Mas bom, sinto bem que toda esta situação os incomoda. E sabe, em qualquer parte eu compreendo-os, vejo há X. B. , Há já 6 anos que ela vagueia na empresa sem missão, sem trabalho destinado, sem nada! Ela, ela, espera-se todos os dias que salte pela janela. (…) Quando me cruzo com ela , lá me arranjo para não falar com ela. A última vez que lhe falei , pendurou-se simplesmente ao meu casaco! Não, francamente, não queria tornar-me como ela.… Ora estou bem , ora estou em depressão severa desde há nove meses, há por aí tantos colegas como ela, a tornarem-se párias”. .
Fim
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