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Numa das suas recentes crónicas no “Público”Vasco Pulido Valente afirmava que talvez desde Costa Cabral nunca um político foi tão detestado quanto José Sócrates.
Porque Costa Cabral foi um governante autoritário, chefe de clientelas e novo-ricodo liberalismo – os seus adversários setembristas e afins podiam ser mais suaves quanto aos métodos de governação, no resto não eram muito diferentes – , mas quetentou pôr ordem num país caótico – nomeadamente do ponto de vista administrativo e fiscal – e levar a cabo um programa modernizador. Uma convergência das oposições – a “Coalizão” – de carácter populista, faria com que só a Regeneração viesse a concretizar esse programa anos mais tarde, dentro dos condicionalismos existentes de atraso estrutural do Portugal oitocentista.
Será que é o que se está a passar actualmente com José Sócrates? Estará ele a ser impedido de realizar a política, se não necessária, pelo menos possível na actual conjuntura, por uma coligação negativa das várias oposições e pela incompreensão de vastos estratosda população?
Tentando responder a esta interrogação seja-me permitido abordar – sumariamente - vários aspectos que são: 1 - o contexto internacional; 2 – o contexto nacional; 3 - a conjuntura actual.
1 - o contexto internacional
A partir dos finais da década de 70 entrou-se num novo ciclo do sistema capitalista, para o qual contribuíram factores como o choque petrolífero
e a inerente dependência dessa fonte de energia. Visando manter mais-valias que assim se viam reduzidas, sectores económicos e os seus prolongamentos políticos iniciariam o processo de desmantelamento do modelo keynesiano de Estado-providência, adubado pelo sangue das duas guerras mundiais. Desmantelamento que hoje atinge a sua máxima expressão.
Aquilo a que se chama mundialização ou globalização é a continuação desse processo, e poderemos atédizer – parafraseando o velho Vladimir – o seu estádio superior, num mundo onde se assistiu ao fim dos impérios coloniais e, consequentemente, se abriram novos mercados, se renovaram formas
de dominar os países mais pobres e se afirmou a hegemonia militar e económica do Estados Unidos. Tudo isto em simultâneo com uma verdadeira revolução técnico-tecnológica na informação e na comunicação, com o fracasso do comunismo no Leste europeu, e a progressiva integração na ordem dominante das expressões ideológicas e sociais do movimento operário nascido da industrialização. Impuseram-se, na sequência disso, políticas, agora em crise, ao serviço do capital financeiro e especulativo, e um modo de produção tendo o hiperconsumismo, tornado religião universal, como motor do crescimento.
Surgem, por estas razões, novas clivagens e fontes de desigualdade que contribuem para enfraquecer as bases de sustentação das democracias, na medida em que o poder político é, recentemente, transferido para entidades não legitimadas, como são os mercados, ao mesmo tempo que, no plano dos valores, se banaliza o relativismo ético nas relações sociais, se destroem os laços de convivialidade humana, além de se desagregarem formas de organização social necessárias à integração e à cooperação.
Dito de forma sucinta, e porventura mais explícita, generalizou-se um estilo “hoobesiano” de vida em sociedade que conduz à supremacia do mais forte, do menos escrupuloso, do mais corrupto, pois o objectivo das economias não é o bem comum e o projecto de vida dos cidadãos reduz-se ao consumir à outrance. Mesmo que isto implique, quanto ao meio ambiente e à Natureza, o desregulamento, e se ponha até em causa a sobrevivência das próximas gerações.
A ideia de construção europeia, velha e generosa aspiração de coexistência entre nações que outrora se digladiaram, não escaparia a tais dinâmicas anti-humanistas e, por isso, a União Europeia é hoje uma espécie de sociedade anónima gerida pelos países mais poderosos que actuam em função dos interesses dominantes na economia e na finança. União desunida, cada vez mais à beira da implosão.
(Continua)
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