Enviado por Júlio Marques Mota
DE VIRGINIE ROBERT
Façam com que os grandes bancos e os millonários paguem! » é o que prende a população de Nova Iorque, hoje nas ruas.
A Wall Street, os bancos têm ainda contas a pagar
Virginie Robert
Façam com que os grandes bancos e os milionários paguem! » Os nova-iorquinos encolerizados juraram invadir as ruas do bairro de Wall Street, hoje. As diversas associações e sindicatos que apelaram à manifestação esperam a presença de vários milhares de participantes. Estão em cólera contra os bancos - que estão na origem da crise financeira e que foram salvos pelos contribuintes, ganham e acumulam mil milhões de dólares em isenções e benefícios e continuam a distribuir bónus indecentes. Os manifestantes criticam fortemente o presidente da câmara municipal de Nova Iorque, que prepara cortes drásticos no orçamento da cidade e a quem eles acusam de conceder isenções de impostos e subvenções de todas as espécies para os gestores de fundos especulativos e para os estabelecimentos bancários. Estas vantagens, somam ou significam , de acordo com “a coligação do 12 de Maio”, como é chamado a este movimento, um presente de um milhar de milhões de dólares para as gentes de Wall Street.
Enquanto que no resto do país, se diaboliza sem estados de alma a praça financeira, este tipo de ressentimento aqui, em Nova Iorque, exprime-se mais raramente, ou pelo menos em termos públicos . E tudo isto, porque a cidade inteira beneficia das riquezas de Wall Street. Graças aos banqueiros, os restaurantes não se esvaziam, as vendas de obras de arte atingem recordes, os preços das casas não descem como aconteceu noutros lados. Diz-se que um emprego criado em Wall Street gera quatro outros mais. O presidente da câmara municipal e os políticos locais protegem este distrito e tratam-no de modo um pouco à parte, considerando que é um motor potente da economia local e que não se é avaro em doações de todos os tipos.
Numa cidade que perdeu 150.000 empregos com a crise, onde 19.000 habitações foram confiscadas com as execuções imobiliárias e onde o défice orçamental se afunda , o sentimento dos que não fazem parte de Wall Street é de que os bancos tiveram a vida fácil. Neil Barofsky, o antigo controlador geral do TARP, responsável pelo fundo de 700 mil milhões de dólares que serviu para salvar os bancos, saiu da sua reserva no momento de deixar as suas funções, no fim de Março. Num longo editorial publicado no “New York Times”, fez uma crítica em regra contra o Tesouro, incapaz, de acordo com a sua opinião, de proteger as pessoas da rua, preferindo salvar os bancos, que acumulam de novo lucros gigantescos em vez dos pequenos proprietários. O sentimento de injustiça, expresso “pela coligação do 12 de Maio”, é ainda mais forte quando os tribunais começam a ter dificuldades em limpar o sector financeiro. Quando Charles Ferguson recebeu o Óscar, em Fevereiro passado, pelo seu documentário sobre a crise financeira “Inside Job ”, tinha sublinhado (sob grandes e prolongados aplausos) que três anos depois, nenhum banqueiro tinha sido levado à barra dos tribunais. O contraste é severo quando comparado com a crise “de Savings & Loans” em 1992, que tinha conduzido a 839 condenações.
Os processos judiciais até hoje mais visível não estão com efeito directamente ligados à crise. Houve a condenação de Bernard Madoff. Houve o processo de Raj Rajaratnam, fundador do fundo Galleon, condenado ontem por delito de iniciados . Mas o único processo penal em relação directa com a crise, o dos antigos gerentes de um fundo especulativo de Bear Stearns, Ralph Cioffi e Matthew Tannin, saldou-se por um veredicto simples: falta de provas. Parece que os bancos estrangeiros foram alvos mais cómodos, mais simples de atingir: HSBC por branqueamento de dinheiro e
Deutsche Bank por ter concedido créditos imobiliários sem qualquer discernimento mas que eram, contudo, garantidos por Federal Housing Agency...
O fundador de Countrywide, Angelo Mozilo, que simboliza por si só a ganância dos agentes que concediam créditos imobiliários saiu-se com uma multa de 22,5 milhões de dólares depois de uma queixa no plano civil à Securities and Exchange Commission (SEC). Depois disso e até agora , nunca mais voltou a ser incomodado sobre o assunto. É certo que Goldman Sachs foi incomodado pela SEC e aceitou pagar uma multa recorde de 550 milhões de dólares por ter dissimulado aos investidores o papel do fundo especulativo, um hedge fund, de John Paulson na selecção dos activos imobiliários do produto estruturado comercializado depois por Abacus. Mas isto sem que Goldman Sachs tenha reconhecido a sua culpabilidade. Um longo trabalho do “New York Times”, publicado a 14 de Abril, explica esta situação pela passividade dos poderes públicos, devida por um lado á falta de empenho dos reguladores e, por outro lado, à falta de recursos humanos para trabalharem nestas áreas .
Isto poderia ser mudado, em parte, graças à pressão do legislador. Carl Levin, o presidente de um Comité de inquérito do Senado, que elaborou uma acusação severa contra Goldman Sachs e Deutsche Bank no seu relatório “Anatomia de um desastre financeiro”, publicado em meados de Abril.
Pediu à SEC e ao departamento da Justiça que verificassem se não haveria matéria para os levar a tribunal sob a acusação de falso testemunho. “Goldman induziu os seus clientes em erro e enganou o Congresso”, afirmou. Pelo seu lado, a União Europeia lançou dois inquéritos antitrust sobre os grandes bancos, tendo em linha de mira as práticas no mercado sobre os famosos CDS (“crédito default swaps”).
O escândalo das execuções imobiliárias, feitas à pressa e às vezes envolvendo a utilização de assinaturas electrónicas ( consentidas ou não consentidas) , também chegou aos bancos. Em Abril, três reguladores impuseram-lhes mesmo alterassem as suas práticas nestas matérias. Por toda a parte no país, os procuradores gerais instauram regras para melhor enquadrarem a concessão de créditos. E espera-se agora as sanções financeiras - a ficarem situadas entre 5 e 20 mil milhões de dólares.
Prova que o perigo é real, os bancos aumentam fortemente as suas provisões na casa dos milhares de milhões de dólares para as suas despesas judiciais. Só Goldman é reduziu e em cerca de 21% as suas provisões para despesas judiciais no primeiro trimestre, ou seja de 2,4 mil milhões de dólares, e na altura em que um dos reguladores a CFTC, acabava de lançar um inquérito sobre os seus serviços como câmara de compensação. O torniquete aperta-se a medida que novas estruturas começam a entrar em acção. Preet Bharara, o procurador federal para o distrito do sul de New York, criou em Março de 2010 o gabinete de fraudes civis para conseguir mais meios e orientar-se para as fraudes financeiras, em especial sobre os créditos imobiliários. É ele que acaba de atacar Deutsche Bank. O seu gabinete trabalha em concertação com o Financial Fraud Enforcement Task Force criado sob impulsão de Barack Obama, e que agrupa várias agências federais e age tanto sobre as questões do campo penal como do campo civil. Mas se o presidente americano, na noite da morte de Ben Laden, pôde declarar “justiça foi feita”, a esperança de que venha a acontecer o mesmo com as gentes de Wall, Street continua a ser uma realidade para o povo americano..
Virginie Robert , Wall Street, les banques ont encore des comptes à rendre, Les Echos, 12.05.11
Virginie Robert é correspondente de “Les Ecos” em Nova Iorque
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