(Conclusão)
Certamente que, a esta distância e independentemente do reconhecimento colectivo
que levou a própria Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão[1] e a Câmara Municipal de Vila Real (na altura dirigidas respectivamente pelo Engº Pedro Alvellos e Eng.º Humberto Cardoso de Carvalho, que igualmente apoiavam a iniciativa), a usá-la como atracção turística[2], acabando por divulgar a sua imagem nos postais ilustrados e fotografias da Foto Marius e nos desdobráveis turísticos editados pela Comissão de Turismo[3], nãopodemos esquecer o trabalho extraordinário realizado na Rua Alexandre Herculano pela Dona Maria de Lurdes do Ninho e os desenhos, transpostos posteriormente para moldes de madeira, de António Lima. São de recordar também, na Rua Avelino Patena, Manuel Claro (Manuel da Silva Mota e Claro, 1940-), que fazia os desenhos em papel de cenário na oficina de modista da Casa das Madames; Eduardo Cândido Lopes da Silva (1927-2003), o Eduardo da Papelaria, na Rua Dr. Roque da Silveira (antiga Rua Direita)[4]; na Rua Tenente Manuel Maria Bessa Monteiro (antiga Rua do Carmo), as religiosas do Colégio Moderno de S. José; na Rua de Santa Marta, o trabalho da Dona Casimira (Casimira de Jesus Trindade, 1908-2008), colchoeira; na Rua da Misericórdia, Joaquim Barreiro dos Santos e a Dona Morgana das Dores Guerra; na Rua Isabel de Carvalho, as jovens e a responsável pelo Lar ‘Protecção às Raparigas’; e tantas outras pessoas, nas ruas já referidas e também na Rua Miguel Bombarda, onde actuavam dois grupos divididos pelo “Sinaleiro”, na Rua do Prado e Largo do Prado, Rua Sargento Pelotas, Rua do Corgo, Ponte de Santa Margarida, Rua da Guia, Rua da Boavista, Rua Cândido dos Reis, Largo Visconde de Almeida Garrett, Rua dos Combatentes da Grande Guerra (antiga Rua Central), Rua 31 de Janeiro, Travessa da Portela, Rua Nova, Rua Camilo Castelo Branco, Rua de S. Dinis (na Vila Velha) e também nas Ruas Dona Margarida Chaves, António de Azevedo, Teixeira de Sousa, Marechal Teixeira Rebelo (junto às Florinhas da Neve), Fonte Nova e ainda em algumas outras, embora não habitualmente participantes[5].
Infelizmente hoje não restam sinais desta manifestação artística que tanta gente trouxe a Vila Real[6]. Uma deficiente compreensão da sua importância turística, que aos olhos de alguns pareceu ter suplantado o aspecto religioso, e algum aproveitamento político[7] terão contribuído para que acabasse em 1967. As razões principais no entanto têm a ver com os seus protagonistas. Manuel Claro foi para o Porto frequentar a Escola de Belas Artes em 1962; o Padre Abel Teixeira Sobrinho cessou a responsabilidade na Paróquia de S. Pedro em 31 de Março de 1963[8]; o Ninho dos Pequeninos, “quartel-general” da Rua Alexandre Herculano, foi transformado em Instituto Maternal e a Dona Maria de Lurdes deixou de residir lá. A cidade cresceu e as alunas da Escola do Magistério distribuíram-se pelos novos bairros, descapitalizando de “mão-de-obra” as ruas onde se concentrava tão importante realização artística.[9]
[1] Para além da inclusão de imagens das passadeiras nos desdobráveis turísticos adiante referidos, a Comissão Regional de Turismo da Serra do Marão adquiriu em 1960 à Foto Marius 29 fotografias dos «tapetes floridos», com vista a futura divulgação e promoção do evento (Livro de Actas n.º 1 da Comissão Regional de Turismo, p. 95, reunião de 8 de Junho de 1960) e atribuiu um subsídio de 1.000$00, «com carácter de permanente», para as despesas com a execução das passadeiras na Paróquia de S. Pedro, dado ter sido reconhecido que «esta animação religiosa tem muito interesse turístico». (Livro de Actas n.º 2 da Comissão Regional de Turismo, pp. 53 v e 54, reunião de 16 de Maio de 1961).
[2] Entendimento e reconhecimento anterior à criação da Comissão de Turismo (1958). Refira-se, a título de exemplo, que a Foto Trasmontana, propriedade de César Fontes Torres e direcção técnica de Izildo de Sousa Santos, inaugurou o seu atelier fotográfico no Largo de São Pedro, n.os 1 a 5, com uma «longa reportagem», que expôs nos seus escaparates, da Procissão do Senhor aos Entrevados. (A Voz de Trás-os-Montes, Vila Real, 5 de Abril de 1951, p. 6)
[3] Região de Turismo da Serra do Marão ― Portugal, Julho de 1959, e Vila Real ― Portugal / Região de Turismo da Serra do Marão, Fevereiro de 1962.
O desdobrável de 1962, com maquete do Pintor António Cruz, foi premiado no concurso de desdobráveis realizado pelo SNI.
[4] «[...] sob a orientação do P.e Abel Sobrinho, com a colaboração dos mestres Limas, Nóbrega e Eduardo Silva.» (O Primeiro de Janeiro, Porto, 15 de Abril de 1959, p. 7)
[5] De que são exemplos a Rua do Jazigo e o Buraco Sagrado.
[6] Em 1962, numa altura em que já estavam envolvidos 20 arruamentos da cidade, o movimento de milhares de pessoas era comparado ao gerado pela Feira de Santo António. (O Primeiro de Janeiro, Porto, 8 de Maio de 1962, p. 1)
[7] No dia 6 de Maio de 1962, dia do Sagrado Viático, o ministro das Obras Públicas, Eng.º Arantes e Oliveira, deslocou-se a Vila Real para inaugurar o Novo Mercado Municipal e participar na homenagem ao Eng.º Humberto de Carvalho, que cessava funções depois de 8 anos de intenso trabalho como Presidente da Câmara Municipal. Antes de retirar, percorreu a cidade, admirando as passadeiras por onde passaria a procissão, com destaque para as do «bairro íngreme dos Ferreiros», atitude considerada pela imprensa como particularmente gentil, já que, até essa altura, os únicos políticos que tinham visitado o referido bairro foram António de Azevedo Castelo Branco e Afonso Costa. (O Vilarealense, Vila Real, 10 de Maio de 1962, p. 2)
Contrariamente à imagem positiva que a visita do ministro das Obras Públicas provocou na cidade, a construção das passadeiras para a visita do Presidente da República, em detrimento das que eram feitas habitualmente para o Sagrado Viático, que, tanto quanto sabemos, não se realizaram nesse ano (1965) na freguesia de São Pedro, foi muito mal interpretada por alguns dos principais responsáveis por aquele tipo de decorações.
[8] ARAÚJO, Arnaldo Taveira de, Memórias da Paróquia de S. Pedro de Vila Real – 1528-2000, Vila Real, 2001, pp. 32-34.
O Padre Abel Sobrinho só saiu de Vila Real na direcção da sua terra natal (Pereira, Mirandela), em 26 de Junho de 1963. (Crónica da Residência de Vila Real [da Ordem Franciscana], Julho de 1958 a 1998: 26 de Junho de 1963, p. 27)
[9] Este texto, agora numa versão revista e anotada, foi distribuído policopiado, como catálogo da Exposição ‘Passadeiras de Flores’ (Museu de Vila Real, 17 de Dezembro de 2002 a 31 de Janeiro de 2003), e publicado na página 4 do Suplemento ‘Ritmos’ do jornal Notícias de Vila Real, Vila Real, 23 de Abril de 2003.
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