continuação daqui
A France Télécom, exemplo do modelo social ainda hoje de referência, exemplo do modelo neo-liberal, por excelência. II PARTE
Título específico do capítulo ou seja desta segunda parte
Nesta viagem, agora a saír do hall de entrada,um primeiro cartaz bem visível para os visitantes de estrolábio, uma assinatura, a de Remy L. Ei-lo.
Remy L: estou farto, é demais
Mathieu Magnaudeix
Rémy L., empregado de France- Télécom-Orange de 57 anos de idade que se suicidou na terça-feira de manhã em frente do seu antigo lugar de trabalho em Mérignac (Gironde), deixou um vestígio do seu calvário . Em Setembro de 2009, enquanto que a empresa era um grande tema nos meios de comunicação social por causa de uma série de suicídios, este quadro técnico, de France -Télécom, pai de quatro crianças, tinha enviado uma carta de seis páginas assinadas à direcção do grupo France-Télécom-Orange. Mediapart obteve este documento, colocado, disponível desde quarta-feira no nosso sítio Frenchleaks verificou-se a sua autenticidade.
Nesta “carta aberta” ao seu “empregador e ao seu accionista principal” (o Estado), Rémy L. elabora uma longa acusação contra a situação criada às pessoas como ele, os funcionários de mais de 50, anos mal-amados pelas reestruturações contínuas e pelas “mobilidade(S) impostas”. Na altura, na qualidade de quadro em missão, mas sem afectação precisa, Rémy L. encadeia as missões de que vê nenhuma utilidade “Estava então num estado de desespero total, confirma um colega. As missões que lhe confiavam não tinham nada a ver com as suas competências e com o que gostava de fazer, a prevenção em matéria de segurança e de condições de trabalho.” O seu sindicato, o CFDT, tinha intervindo várias vezes para assinalar o seu caso à direcção. Sem resultado.
Solicitada esta quarta-feira por Mediapart, a direcção do grupo confirma que recebeu esta carta pelos correios a 18 de Setembro de 2009. Alguns dias antes , uma jovem empregada de France Télécom tinha-se suicidado atirando-se da janela do seu escritório em Paris“ A carta era dirigido ao presidente do Comité Nacional de Higiene e Segurança, o director das relações sociais Laurent Zylberberg”, confirma um porta-voz. De acordo com a France- Telecom-Orange, a carta foi transmitida seguidamente a Brigitte Dumont, na Direcção de Recursos Humanos, então encarregada de seguir os casos mais delicados, cujo nome escrito à mão consta com efeito da carta. “Um sinal de alarme se acendeu e Brigitte Dumont transmitiu esta carta a vários responsáveis locais”, afirma o porta-voz. Depois, Rémy L. permaneceu, no entanto, sem missão definida durante um ano.
Foi apenas em Outubro de 2010 que a nova direcção (Stéphane Richard, nomeada em Março de 2010) confiou a Rémy L. um posto que lhe convinha: “de prevenção”, responsável pelas condições de trabalho; o sucessor de Didier Lombard tinha decidido reforçar o enquadramento em recursos humanos sobre o terreno.
“Mas desde o início do ano, que se sentia cada vez mais desiludido neste posto”, conta um colega. “Tinha escrito um email no mês de Fevereiro a respeito de uma situação pessoal, e tinha incluído este email como garante das condições de trabalho na France Telecom, onde havia coisas que se passavam que deveriam ter sido abolidas desde o novo contrato social, explicava esta quarta-feira sobre BFMTV a responsável regional do CFDT, Françoise Borde . Este mail foi enviado à direcção no mês de Fevereiro e não houve resposta.”
O CHSCT vai abrir na quinta-feira um inquérito sobre o suicídio de Rémy L. A carta de Setembro de 2009 será uma das peças “importantes”, confirma a direcção da França Telecom, que já iniciou investigações internas. Foi igualmente aberto um inquérito judicial.
O tom deste correio, redigido num período sombrio, é imediatamente premonitório. “Continuam todos, empregador, Estado accionista e instância de decisão, sindicatos, assalariados, a ignorar as verdadeiras causas profundas: daqui a dez anos estaremos ainda a tratar deste mesmo assunto…. enfim não… uma certa categoria do pessoal terá desaparecido por ter partido para a reforma ou por se ter suicidado: e o problema será assim resolvido, finalmente!”
“Esta situação é endémica devido ao facto de nada ser feeito para lhe fazer face: o suicídio permanece como a SOLUÇÃO!”, escreve ainda em maiúsculas ao fim do seu correio.
Na terça-feira, logo que conhecido o seu falecimento , responsáveis de vários sindicatos tinham muito rapidamente estabelecido uma relação entre este acto desesperado e espectacular e as condições de trabalho de Rémy L. Com esta carta, compreende-se melhor porquê. A sua carta, escrita de um tom vivo, esclarece e com a força de exemplos detalhados os disfuncionamentos internos da empresa e o clima social que nela existe e tenta explicar porque é que os assalariados de France Télécom Orange se suicidam. A carta pode sem encarada como querendo ser um verdadeiro e desesperado sinal de alarme.
“Colocado no lixo”
Este correio confirma primeiro que tudo o sofrimento que Rémy L. tinha tido nestes últimos anos em France-Télécom . Antigo “agente das linhas” tornado quadro, Rémy L. afirma ter sido vítima de “perseguição sofrida” desde há uma dezena de anos (trabalhava então na região de Dordogne), depois “de ter estado no lixo”. «Tinha sido fragilizado por uma década de sofrimento, nomeadamente, os quatro ou cinco últimos anos tinham sido muito difíceis”, testemunha um assalariado de Bordéus..
Rémy L. é um destes funcionários de mais de 50 anos a quem “as mobilidades” foram impostas: estes funcionários eram o alvo principal das reestruturações efectuadas sob a direcção de Didier Lombard, Presidente até em Março de 2010. Em conformidade com os objectivos da direcção, a hierarquia convidava-o regularmente a deixar a empresa ou a querer a sua reclassificação noutros serviços .
É “a população atingida pelos suicídios”, analisa Rémy L. “aí eu encontro muita frustração neste contexto: quadros privados do seu poder: não são mais nada! Mas os que são abandonados e obrigados a fazer face ao malogro diário, esses estão muito mal! Estão preocupados com a qualidade da sua prestação, tornada impossível, sem via de saída!”“Estou aí, neste segmento ”, analisa Remy L, lúcido. “Rátio de gestão da situação nacional: estou farto, é demais.” Quando escreve esta carta, Rémy L. não tem posto de trabalho definido. “Pois é, estou em missão: esta qual é?
Ninguém mo diz, quais são as regras?”
Conta as suas tentativas de repartir, de recomeçar, noutro lugar, no grupo ou na função pública territorial, a ausência de resposta, o absurdo das situações: “solicito,, encontro, só há apenas dois, … o recrutamento é anulado por uma célula de pilotagem territorial do emprego! Porque não: mas tenho esta informação porque a procurei com insistência e não há explicações dadas! (...) Abrem-se as portas e descobrem-se toneladas de não ditos : o duche é duro! Ao lado de tudo isto solicita ir para a função pública territorial: (...) uma avaliação das competências afirma que somos super! (...) Solicitei várias vezes sem nenhuma consequência favorável e descubro fortuitamente aquando de uma confrontação com as instâncias de decisão do Conselho geral que a minha candidatura no entanto até aí vista como muito interessante, não foi transmitida por decisão de FT.”
Uma situação kafkaquiana que um grande número de empregados do grupo tem vivido.
Mas nesta carta, Rémy L. (alguém “muito simpa”, “não suportava a injustiça”, de acordo com o dizer dos seus colegas) não fala apenas de si próprio . Tenta pelo contrário analisar muito analiticamente as causas da crise social e o que empurra alguns dos seus colegas para o suicídio.
Elimina as explicações que são demasiado simplistas do seu ponto de vista como “a gestão pelo terror”. Em contrapartida, com a ajuda de exemplos regionais (Périgueux, Agen, Bordéus, etc.) ou de situações que viveu, explica que “a gestão nunca não foi tida em conta como factor de sucesso”.“A base (...) nunca é escutada , não é reconhecida! não é apoiada!”, diz. “Forma-se à pressa, a todo a pressão, e de maneira inadaptada: ninguém se incomoda. Depois, enviam-nos para o trabalho, sem avaliação quente, sem acompanhamento e sem avaliação a frio. Assim, isto ou vai ou racha (cela marche ou celá casse) : não há nenjhuma protecção, não há nenhum apoio: é uma máquina a fabricar desequilibrados, e, depois, basta agitar ligeiramente.”
Depois, critica duramente “os grandes diplomados que (...) (têm) esquecida a gestão de recursos humanos: não correm o risco de pensar porque isso é terra desconhecida para eles próprios!”.
Tendo exercido alguns anos antes funções ligadas à prevenção, Rémy L. insiste com precisão sobre o mal-estar dos técnicos entrados há já várias décadas nos PTT, entregues a eles-mesmos no grande lago das reestruturações, sobretudo no último período, sob a presidência de Didier Lombard: “A população que se sente mal é principalmente a que saiu da técnica, analisa. (...) Encontra-se posta em comparação com outros cujos cursos não sofreram nenhuma ruptura tão recentemente. A sua culpabilidade é evidente e ela não tem nada a dizer: esta sai da formação… apropriada, de eficácia medida… não, ela é simplesmente culpada de querer a mudança! (...) Tendo realizando campanhas de dupla escuta sobre plataformas de acolhimento cliente, a minha constatação é a de que existe pessoas em situação de forte risco: elas vêem que não estão à altura dos colegas colocados em comparação, elas não esperam mais nenhum apoio, não esperam mais nada. Têm consciência que nenhuma posição de apoio dos seus responsáveis é possível. são entregues como pasto aos clientes.”
Finalmente, Rémy L. elabora estabelece um veredicto implacável:
“Em conclusão e como causa profunda (dos suicídios, nota da redacção de Mediapart):
Indigência na gestão dos recursos humanos desde que se trata de decidir sobre o que é humano, por falta de compreensão e de respeito humano, por medo das acções a lançar ou das responsabilidades a tomar! Os quadros superiores (...) compreenderam que mais vale viver o dia a dia, comer do bolo enquanto houver prato à frente! Os restantes, são uns pobre diabos que só servem para lhes atrapalhar a carreira. Vive-se, recebe-se as remunerações e esquece-se a cobardia havida na gestão dos recursos humanos! Cobardia, indigência, ausência de responsabilidade na gestão.»
Um ano e meio depois de ter escrito estas linhas em forma de alerta , Rémy L. pôs fim aos seus dias diante do local onde há três anos ainda aí trabalhava . Na quarta-feira, os seus colegas fortemente comovidos renderam-lhe uma homenagem em Mérignac e em Bordéus.
Mathieu Magnaudeix, Rémy L., le suicidé de France Télécom: «Je suis de trop», Mediapart, 27 de Abril de 2011.
Comentário de Luis Moreira
Antes de gerir empresas também passei por funções de executante. Corria o ano de 1975, as empresas de celulose nacionais foram nacionalizadas e, eu era então, adjunto do director financeiro de uma empresa participada.Na reestruturação então levada a cabo foram despedidos muitos trabalhadores. Na altura propuseram-me ficar na empresa a ganhar o vencimento mas não me asseguravam a função.
A tentação, naqueles tempos turbulentos era grande para aceitar, mas tive o bom senso de ir pedir opinião, ao Dr Vitor Wengourvios de quem ouvira falar por andar, como eu, à volta do MES. Deu-me um dos melhores conselhos que alguma vez recebi. Disse-me, ele, "olhe, você recebe o vencimento mas por pouco tempo, porque logo que possível, eles põem-lhe uma vassoura nas mãos e mandam-no limpar a casa de banho, você não aceita e vai para a rua por recusa íligitima de ordem porque não tem função, tem que fazer o que lhe mandam. Mesmo que vá para tribunal, só daqui a dez anos é que tem a decisão. Receba e indemnização e venha-se embora". Lembro-me bem dele me dizer: "dinheiro na mão, e então assine, antes não!"
Como se vê já há 35 anos era assim, como é descrito no texto, que se tratavam os trabalhadores.
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