Segunda-feira, 2 de Maio de 2011

Virginia Woolf - a mulher e a escritora - Augusta Clara

 

Augusta Clara  Virginia Woolf - a mulher e a escritora

 

Virginia Woolf (1882-1941) nasceu no seio duma família inglesa da pequena aristocracia vitoriana. Quando o seu pai, Sir Leslie Stephan, filósofo erudito e uma figura tutelar algo despótica, faleceu a família mudou-se para a área londrina de Bloomsbury onde, mais tarde, haveria de formar-se o grupo com esse nome, constituído maioritariamente por elementos trazidos de Cambridge pelo seu irmão Thoby a que se juntariam os economistas Lynton Strachey e John Maynard Keynes, os escritores E.M. Foster e T.S. Eliot, os pintores Roger Fry e Duncan Grant e outros, entre os quais o próprio Leonard Woolf, historiador, com quem Virginia viria a casar-se. O círculo de Bloomsbury pretendia uma mudança na vida cultural inglesa conciliando "arte e moral", "tradição e verdade".  

 

A acidentada vida familiar de Virginia Woolf ganhou alguma estabilidade, aos 30 anos, após o casamento, embora as crises depressivas que frequentemente a atormentavam não tivessem desaparecido. Ela e o seu marido compraram uma pequena impressora e constituiram uma editora. Mas era de escrever que Virginia gostava.

 

Ainda criança Virginia Woolf tinha manifestado a vontade de ser escritora. Apesar dos condicionalismos da época relativamente à educação e à vida intelectual das mulheres, a biblioteca do seu pai tinha-lhe sido franqueada sem quaisquer restrições. De inteligência brilhante, sabia-se uma privilegiada. Tinha consciência de como à generalidade das mulheres do seu tempo estava impedido o desenvolviemento intelectual e o acesso à cultura. As veementes intervenções que teve contra esse estado de coisas granjeram-lhe reacções adversas.

 

No livro Um quarto que seja seu, constituído por duas prelecções feitas nas universidades femininas de Newham e Girton, em Cambridge, Virginia aborda o problema da sujeição da capacidade intelectual das mulheres da sua época e da falta de condições quer financeiras quer de autonomia para poderem expressar essa capacidade. Porém, o conteúdo destas conferências nada teve de panfletário. Para abordar o tema central, ela desenvolveu a sua argumentação com fineza de raciocínio e de espírito. O conhecimento da vida, da literatura e da História estão bem patentes nestas páginas e, certamente, deliciaram quem a ouviu. Fiquemos nós, agora aqui, com algumas linhas delas extraídas: 

 

Ao longo de todos estes séculos as mulheres têm servido de espelhos, dotados do poder mágico e maravilhoso de reflectirem a figura do homem com o dobro do tamanho normal. (...) O Czar e o Kaiser nunca teriam usado coroa, nem as perderiam. Qualquer que seja a sua utilização nas sociedades civilizadas, os espelhos são a mola essencial de todo o acto violento e heróico. (...) Este o motivo porque tanto Napoleão como Mussolini insistem com tanta ênfase na inferioridade da mulher, pois se não fossem inferiores eles deixariam de engrandecer. (...) a inquietação que sentem, ante a crítica delas; é impossível que, ao dizer-lhes que este livro é mau, este quadro é fraco ou qualquer outra coisa, deixem de ofender e irritar muito mais do que se fosse um homem a fazer uma crítica idêntica. (...) Como conseguirá pronunciar opiniões, civilizar selvagens, escrever livros, preparar-se e discursar em banquetes, a não ser que ao pequeno almoço e ao jantar lhe reste a possibilidade  de se olhar ao espelho e de se ver pelo menos com o dobro da estatura?

 

Mas asseguro-vos que esta amostra pouco diz da totalidade desse Um quarto que seja seu, um inteligente livro de ensaios sobre o problema "A Mulher e a Ficção".

 

Virgínia Woolf foi principalmente romancista. Contudo, alguns dos seus contos revelam-nos bem o modo como soube captar a vida duma maneira muito própria. Apresentá-los-emos aqui durante esta semana.

 

Aos 59 anos, com toda a lucidez, atormentada pela constante depressão em que mergulhava, encheu de pedras os bolsos do casaco e deixou-se ir nas águas do ri Ouse escrevendo uma carta ao marido onde explicava porque tomara aquela decisão: Tenho a certeza de que vou enlouquecer outra vez. E sinto-me incapaz de enfrentar de novo um desses terríveis períodos. Começo a ouvir vozes e não consigo concentrar-me (...). Se alguém pudesse salvar-me serias tu (...). Não posso destruir a tua vida por mais tempo.

 

Na única entrevista de que há registo sonoro, dada por Virginia Woolf à BBC em 29 de Abril de 1937, ela põe a tónica na importância das palavras, que existem sobretudo na nossa mente, por muitos dicionários de que possamos dispor. Daí que, por vezes, nos seja tão difícil encontrar a palavra exacta para expressar uma ideia ou exprimir um sentimento. Escutemo-la, pois.

 

Livros de Virginia Woolf publicados em Portugal:

 

  • Um Quarto que Seja Seu, Vega
  • Os Três Guinéus, Vega
  • A Casa Assombrada, Relógio d'Água
  • Diário, Vols. I e II, Bertrand Editora
  • Os Contos de Virginia Woolf, Relógio d'Água
  • O Quarto de Jacob, Cotovia
  • Orlando, Livros do Brasil
  • As Ondas, Col. Mil Folhas, Público
  • Rumo ao Farol, Edições Afrontamento
  • Entre os Actos, Cotovia
  • Os Anos, Moraes
  • Mrs. Dolloway, Livros do Brasil
  • A Festa de Mrs. Dolloway, Cotovia
  • Flush, Edições Afrontamento

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Augusta Clara às 19:00
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