Terça-feira, 26 de Abril de 2011

DEDICATÓRIAS – Livros dedicados por prosadores portugueses, italianos,franceses (1) e romenos (1) / 4, por Sílvio Castro

 


 

       

4.1             Romancistas, novelistas, contistas portugueses

 

                   Naturalmente, eu não poderia começar a tratar desta seção correspondente aos meus livros recebidos com dedicatórias autógrafas de prosador português senão com o nome de José Saramago. Romancista de imensos méritos, primeiro e até hoje único Prêmio Nobel para a Literatura recebido por um escritor de língua portuguesa, Saramago é um marco da história literária de todos os (oito) países que comungam da mesma expressão linguística do autor de Levantado do chão. À sua obra dedicamos muitos trabalhos escritos em Portugal, no Brasil, na Itália e na Suiça.

 

Em particular, neste último país publicamos um amplo perfil do autor, “L’invenzione della realtà e della storia – José Saramago”, in Profili Letterari, n° 5, Mendrisio (Suiça), 1994. Sobre a mesma obra debatemos em congressos internacionais, em particular aquele de Pádua, Veneza e Trieste:

 

“Convegno Internazionale su José Saramago (Premio Nobel per la letteratura, 1998), Università de Padova, Venezia e Trieste“, de 13 a 15 de maio de 1999. Nesta ocasião pronunciei uma conferência sobre o tema: “A Jangada de Pedra: dal fiume patrio al mare ilimitato”. Além disso, convidei diversas vezes Saramago à Universidade de Padova para contatar com os meus estudantes do setor de Português, a começar em maio de 1985, depois do grande sucesso internacional de seu magnífico romance, Memorial do Convento, ocasião que serviu ao escritor para apresentar a versão italiana do mesmo.                                                                                                                                                                            

 

Nesse convite ao romancista estava incluída igualmente a presença de sua primeira esposa, a romancista Isabel da Nóbrega. O casal já apresentava os primeiros dados de uma não distante separação. Durante o nosso encontro paduano, sentindo o quase isolamento da romancista, dediquei particular atenção à significativa escritora. De Isabel da Nóbrega recebi então um exemplar de seu romance Viver com os outros, 5ª. ed., Livr. Bertrand editora, Lisboa, 1984; no qual ela me escreveu a seguinte dedicatória:

$$

                                                        “Para o

Professor Silvio Castro,

agradecendo a maneira

calorosa como nos recebeu

em Pádua,

com muita simpatia e

admiração,

 

Isabel das Nóbrega

 

-   1985   -“

 

Diretamente de José Saramago tenho somente um seu volume, um exemplar com dedicatória de um dos melhores romances do nosso Prêmio Nobel em Literatura, O Ano da morte de Ricardo Reis, 4ª ed., Editorial Caminho, Lisboa, 1984, no qual exemplar ele me comunica:

 

                                                        “A Sílvio Castro

esta história fantasmal

e poética, num país poético

e fantasmal –

com a muita estima

e admiração do

 

José Saramago

 

Maio  85“

 

                  

Já tomamos amplos contatos com o Manuel Alegre poeta; agora vamos a ele como um dos mais expressivos romancistas modernos de Portugal. Na prosa-de-ficção de Alegre pulsa o mesmo espírito de participação social que está nos em muitos dos seus poemas. Porém, agora a denúncia das injustiças é mais direta; a necessidade de recriar todo um ambiente novo é constante. Principalmente porque em geral esses romances nascem da consciência de um exilado. Física e espacialmente. De Manuel Alegre ficcniosta tenho na minha coleção de dedicatórias o volume de um seus mais representativos produtos narrativos, Rafael, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 2004; que me traz a seguinte mensagem:

 

                                                        “Para Sílvio Castro,

com a consideração

intelectual e o abraço do

 

Manuel Alegre“

 

                   De outras tendências, mas sempre mostrando-se como um produto de alta modernidade, se apresenta determinada narrativa de Mário Cláudio, igualmente poeta, ensaísta e dramaturgo. Dois livros seu tenho comigo e ambos se servem aparentemente de elementos próprios de uma biografia ou de um ensaio de matéria artística, mas em verdade se destinam ao processamento de um produto da mais moderna forma narrativa. Os volumes são: Guilhermina, capa de Armando Alves, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Lisboa, 1986; com matéria direta da biografia da violoncelista portuguesa Guilhermina Suggia. O volume me traz a seguinte dedicatória autógrafa:

 

 

                                                        “Para Sílvio Castro,

festejando um                        

                                                        encontro inesque

                                                        cível e uma amizade iniciada,

                                                        com um abraço forte

                                                                  do

 

                                                                           Mário Cláudio

 

                                                                  Porto, out.86”

 

O outro volume de Mário Cláudio segue mais ou menos a linha observada em Guilhermina, mas agora o autor, ao tratar de matéria especificamente ligada ao mundo das artes visuais, parte do ensaísmo para chegar, belas soluções, à narrativa: Amadeo, versão italiana de Rita Desti, com prefácio de Luciana Stegagno Picchio, Feltrinelli, Milão, 1988, que me traz a seguinte dedicatória: “A Sílvio Castro     con amicizia    do   Mário Cláudio   Roma, 20-6-88“.

 

                   Outro tipo de narrativa, aqui exemplificada com o sábio uso da matéria da infência, é aquela da romancista Lídia Jorge, e o exemplo é o seu volume A Instrumentalina, Publicações Dom Quixote, Lisboa, 1992, que me contempla com a seguinte dedicatória:

 

                                                        “Para Sílvio Castro, guardando o seus

livros, a sua companhia e a

partilha de seus planos, para os

quais faço os melhores augúrios,

fica esta ficção magrinha

e o abraço da

 

Lídia Jorge

 

Veneza, 26/Janeiro/93“

 

                   Outro significativo ficcionista do cenário literário do Portugal mais moderno é Armando Silva Carvalho. Dele tenho em mãos dois romances exemplares para a melhor relação entre a matéria história e o tratamento narrativo da obra literária, Portuguex (Romance esquizo-histórico), edição DiABRIL, Lisboa, 1977, no qual leio a seguinte dedicatória “Ao amigo   Silvio Castro   com um abraço   de encontro do    Armando Silva Carvalho“, e A vingança de Maria de Noronha, capa de Ricardo Passos,  Edição Vega, Lisboa, 1988, com a dedicatória que me diz:

 

                                                        “Para o Sílvio Castro

com um abraço

afetuoso

- via Garrett

do

 

Armando Silva Carvalho“

 

                   Carlos Loures, entre os mais atuantes escritores portugueses contemporâneos, se apresenta como um autor de grandes recursos de linguagem e de alto conceito do fazer literário. Isto tanto na poesia, como já observado anteriormente, como na prosa-de-ficção. No romance, Loures enfrenta a realidade presente mesmo quando cuida daquela do passado. Assim se comporta, em especial, num dos seus mais realizados textos, a história e estória que conformam o romance A sinfonia da morte, Âncora editora, Lisboa, Lisboa, 2007. Este romance me permitiu o alargamento de minhas análises sobre o uso da matéria histórica no romance moderno (cf. S. Castro, “História, romance, história“, in Revista da Associação Portuguesa dos Editores, Lisboa, dezembro de 2008). Carlos Loures, ao ofercer-me um exemplar do seu romance, escreve na dedicatória:

 

                                                                  “Para o

escritor e grande

amigo

Sílvio Castro,

com um forte e

afectuoso abraço

do

Carlos Loures

 

Junho de 2008“

 

                   Fernando Correia da Silva ocupa no movimentado quadro do romance português contemporâneo um lugar de amplo realce. Cultor da linguagem narrativa, mas romancista de direta participação para com a vida do país, ele consegue de matéria aparentemente demasiado presente a todos recuperar os sentidos mais profundos e desconhecidos contidos na mesma. Assim é em Querença, capa de Mário Vaz, Editoria Notícias, Lisboa, 1996, do qual tenho um exemplar com a seguinte dedicatória do autor:

 

                                                                  “Para Sílvio Castro,

a querença e a

amizade do

 

Fernando Correia da Silva

 

Lisboa, 30/05/97“

 

                   Concluo este significativo elenco de autores portugueses contemporâneos com um livro de um dos contistas mais expressivos e criadores de Portugal, o também linguista, crítico e docente universitário de grande fama nacional, Fernando Venâncio. Os seus contos são histórias servidas com grande vivacidade, humorismo e profunda ironia. Tduo isso de encontro com a realidade captada pelo autor. Assim acontece também com Um selvagem ao piano, capa de Antonio Cabeça, Peregrinação Editora, Cacilhas, 1987. No exemplar que me ofereceu, o autor assim escreve na dedicatória:

 

                                                        “fernando venâncio

 

oferece a

Sílvio Castro

este

 

UM  SELVAGEM

 

                                                           AO   PIANO

 

                                                        e outros contos

 

                                                         com uma amizade

                                                        longínqua, mas nunca

                                                                  esquecida.

 

                                                        Hamburgo, 9-9-93

 

                                                                  F.  Venâncio“

 

 

 

 

 

4.2             Romancistas, novelistas, contistas italianos

 

 

As minhas relações com os narradores são mais frequentes e numerosas de quanto não digam as dedicatórias que passarei a expor logo em seguida. Verdadeiramente, esse meu relacionamento com escritores italianos muitas vezes se fazem através da correspondência entre nós, agora via e.mail, a predominante, porém antes do uso sistemático do computador por cartas. Através de uma correspondência que naturamente oferece mais intensidade, além de quantidade de comunicações, de quanto não faça aquela por via informática, correspondência epistolar que me deixa documentada as minhas ligações com personagens da moderna literatura italiana.                                                                                         

 

O primeiro desses grandes ficcionistas foi Ignazio Silone (pseudônimo do escritor e homem político Secondo Tranquili, 1900-1978). Depois de haver escrito para O Globo, do Rio de Janeiro, um artigo sobre o seu excepcional L’avventura di un povero cristiano, de 1968, a pungente história existencial do papa Celestino V, eu escrevi uma carta a Silone, com cópia do meu artigo, carta da qual tive imediata resposta. Um outro grande escritor italiano com o qual mantive uma correspondência foi Italo Calvino (1923-1985), por longo tempo responsável editorial da Einaudi, de Turim.                                                                                                                                                                                             

 

Mais do que sobre os seus romances e contos, dos quais tratei em vários escritos, em diversos tempos, a nossa correspondência aborda uma troca de idéias e sugestões sobre edições de autores brasileiros e portugueses para a Einaudi. Entre esses autores estavam Adonias Filho, que então começava alcançar grande repercussão na Alemanha, principalmente depois da tradução do romance Corpo Vivo, bem como dos livros de poemas de Carlos Drummond de Andrade, até então ainda não traduzido na Itália.

 

                   Diversos são os narradores italianos dos quais tenho a documentação autógrafa de livros a mim doados. O mais diretamente conhecido por mim, entre esses escritores, é o veneziano Paolo Barbaro (pseudônimo do engenheiro Ennio Gallo), narrador estilisticamente notável e de grande capacidade denotativa da realidade que lhe serve para a realização de seus muitos livros. Realidade que gira, muito habitualmente, em redor da multiplicidade existente na unidade que se chama Veneza. De Paolo Barbaro tenho em mãos dois livros com dedicatórias: o primeiro deles é o romance Una sola terra, Marsilio Editore, Veneza, 1990:

 

                                                        “Silvio e Anna Rosa

 

                                                                  31.3.90

 

                                                        Amici cari,

                                                                           vi sono gratissimo

 

                                                                           vostro        Ennio – Paolo”,

 

O outro volume é um livro de contos, estranhas histórias-estórias, Ultime isole, Marsilio Editore, Veneza, 1992, no qual o autor veneziano escreve em dedicatória:

 

                                                                  “Venezia, 7.2.92

Ad Annarosa e Silvio

con l’affettuosa amicizia

 

di  Ennio - Paolo“

 

                   Antonio Tabucchi, como Paolo Barbaro, é um autor italiano contemporâneo muito traduzido e em diversas línguas, associando desta maneira o grande sucesso que gozam no próprio país com aquele outro, nos países que hospedam as muitas traduções de meus dois autores. Tabucchi, professor universitário de Literatua portuguesa, de certa forma, representa uma renovação para a prosa-de-ficção italiana; isto porque soube criar um estilo narrativo e um mundo ficcional recolhido das muitas da lições tomada do moderno romance português. Além disso, grande especialista que é da poesia de Fernando Pessoa, ele sabe enriquecer o seu texto com o vago mistério que sempre ronda aquele pessoano, poema ou prosa que seja. Assim acontece com o volume que tenho em mãos diretamente chegado de Tabucchi, La testa perduta di Damasceno Monteiro, Feltrinelli editore, Milão, 1997; no qual o narrador me diz:

 

                                                                  “para Sílvio Castro

com um abraço

 

Antonio Tabucchi

 

8.97“

 

                   Maurizia Rossella, de quem já tratamos na seção dedicada aos livros de poesia, é também uma válida romancista e contista. Dela tenho em mãos o volume de contos, Il gusto del particolare, Nuovo Rinascimento Edizioni, Veneza, 1994, acompanhado da seguinte dedicatória:

 

                                                                  “Per Silvio Castro

                                                                  dei bei momenti

                                                                  di amicizia e cultura,

 

                                                                           Maurizia Rossella

 

                                                                                     Pd  5 agosto94”

 

                   Do veneziano Ernesto Sfriso, igualmente poeta, tenho o volume de teatro, Processo a Lorenzo da Ponte, Veneta editrice, Conselve (PD), 1993, que me traz a dedicatória nestes termos: “Al caro amico, poeta, scrittore,   Silvio Castro che conosco da   quando portava i pantaloni   corti, ma che ammiro per la sua costante ricerca di cose      belle, che sa descrivere con    le finnezze del suo canto,     Ernesto Sfriso    26.5.99“

 

 

 

 

 

 

4.3             Contista francês e dramaturga romena

 

 

A presente seção de análise de volumes a mim dedicados pelos diversos Autores alarga um pouco a geografia de meu tridente “pátrio”, Brasil, Portugal e Itália, indo na direção da França e da Romania.

 

                   A minha relação com a prosa-de-ficção francesa contemporânea, por predominantes razões de meus trabalhos especializados, é bastante reduzida. Porém, apoiando-me nos meus contatos universitários, com correspondentes participações diretamente pessoais com a vida cultural da França, me mantenho sempre em bom relacionamento com a mesma produção.                                                                        

 

Tenho entretanto entre os meus livros dedicados uma cara presença francesa, que depois será encontrada também na seção dedicada aos ensaístas e críticos, a do romancista e contista Willi Archer, estudioso em particular da obra de J.J.Rousseau. Dele tenho em mãos o volume Contes du graveur – Aux manières noires, ed. Mezzotinto, Paris, 2008. Tratam-se de páginas de ficção que têm muito da tradição setecentista do conto filosófico, mas nos quais predominam as melhores razões da modernidade do autor. O volume me traz a seguinte dedicatória:

 

                                                                  “pour Silvio Castro e Annarosa Scrittori

avec l’amitiè de

 

Willi Acher“

 

                   Da escritora e professora universitária, romena de nascimento e italiana de adoção, Nicoletta H. C. Loffredo,  tenho comigo um comédia, Detto tra noi (Commedia brillante in un atto e tre scene), Edizioni Expo-Art Center, Nápoles, 1982; com a seguinte dedicatória:

 

                                                                  “Al prof. Silvio Castro

in omaggio alla sua

apertura verso l’invenzione

formale,

Con stima

 

Nicoletta Hristodorescu C. Loffredo

 

15. 1.83”

 

publicado por João Machado às 21:00

editado por Luis Moreira às 21:38
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