Da lavadeira de D. Dinis à Maria de José Afonso, passando pela Luísa de António Gedeão e pela Engomadeira de Almada Negreiros, prestámos aqui uma homenagem ao que tem sido até aos nossos dias o sacrifício, a secundarização, a escravização das mulheres. Se actualmente a lei consagra a plena igualdade de direitos, a luta pelo total e efectivo respeito por essa lei, ainda não terminou. Simone de Beauvoir disse: «É pelo trabalho que a mulher tem conseguido diminuir a distância que a separava do homem; somente o trabalho lhe poderá garantir uma independência concreta». Hoje, Dia Internacional dos Trabalhadores, saudamos especialmente as trabalhadoras!
D. Dinis (1261-1325)
Levantou-s, a velida
Levantou-s´a velida,
levantou-s´alva
e vai lavar camisas
em no alto,
vai-las lavar alva.
Levantou –s´a louçana,
levantou-s´alva,
e vai lavar delgadas
em no alto,
vai-las lavar alto.
Vai lavar camisas,
levantou-s´alva,
o vento lhas desvia
em no alto,
vai-las lavar alva.
E vai lavar delgadas,
levantou-s´alva,
o vento lhas levava
em no alto,
vai-las lavar alva.
O vento lhas desvia,
levantou-s´alva,
meteu-s´alva em ira
em no alto,
vai-las lavar alva.
O vento lhas levava,
levantou-s´alva,
meteu-s´alva em sanha
em no alto
vai-las lavar alva.
António Gedeão (1906 – 1997)
Calçada do Carriche
Luísa sobe,
sobe a calçada,
sobe e não pode
que vai cansada.
Sobe, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe
sobe a calçada.
Saiu de casa
de madrugada;
regressa a casa
é já noite fechada.
Na mão grosseira,
de pele queimada,
leva a lancheira
desengonçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Luísa é nova,
desenxovalhada,
tem perna gorda,
bem torneada.
Ferve-lhe o sangue
de afogueada;
saltam-lhe os peitos
na caminhada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Passam magalas,
rapaziada,
palpam-lhe as coxas,
não dá por nada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Chegou a casa
não disse nada.
Pegou na filha,
deu-lhe a mamada;
bebeu da sopa
numa golada;
lavou a loiça,
varreu a escada;
deu jeito à casa
desarranjada;
coseu a roupa
já remendada;
despiu-se à pressa,
desinteressada;
caiu na cama
de uma assentada;
chegou o homem,
viu-a deitada;
serviu-se dela,
não deu por nada.
Anda, Luísa.
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Na manhã débil,
sem alvorada,
salta da cama,
desembestada;
puxa da filha,
dá-lhe a mamada;
veste-se à pressa,
desengonçada;
anda, ciranda,
desaustinada;
range o soalho
a cada passada;
salta para a rua,
corre açodada,
galga o passeio,
desce a calçada,
desce a calçada,
chega à oficina
à hora marcada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga;
toca a sineta
na hora aprazada,
corre à cantina,
volta à toada,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga,
puxa que puxa,
larga que larga.
Regressa a casa
é já noite fechada.
Luísa arqueja
pela calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
Anda, Luísa,
Luísa, sobe,
sobe que sobe,
sobe a calçada.
(Teatro do Mundo, 1956)
(quadro de Almada Negreiros)
José Afonso canta "Maria", acompanhado à viola por Rui Pato:
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