Sábado, 23 de Abril de 2011

Os livros do século XX que devem ser salvos, por Raúl Iturra

 

 

 

Nem dez nem catorze, todos livros são uma aventura que devia ser salva. Quem me precedeu nesta crítica, dividiu por países. Parte da minha costela de Adão é da América Latina e para esse Continente me endereço. De entre os que escolhi, porque são tantos, apareceu-me primeiro Pablo Neruda, sobre quem tenho escrito uma história sintética neste simpático sítio de debate, Estrolabio. De todos eles, a grande novidade, os poemas escritos entre 1919-1920, reunidos num livro de 231 páginas, intitulado Cuadernos de Temuco, sítio ao Sul do Chile, onde foi criado pelo seu pai e a sua mamadre, como denominava a segunda mulher do seu pai; a primeira tinha falecido quando ele era pequeno. A novidade de Pablo Neruda neste livro, escrito em vários jornais, revistas, livros de outros, é a sua indefinição ideológica e poética. Tanto escreve sobre religiosidade, como as seguir passa aos campesinos e as suas mãos feridas pelo trabalho, outros de amor adolescente em Yo te soñé una tarde, o esse cansaço eterno que mostra de morar em Temuco, uma aldeia em que chuva não parava de cair, como en El deseo de irse, para passar ao romance no seu Primavera en la noche. De los 20 poemas, alguns são escritos en Chillán, outros en Santiago, apontando para o homem que viria a ser um dia prémio Nobel de Literatura. Los Cuadernos de Temuco apontam para a mão que escreve Canto General de Chile, un prelúdio al Pablo Neruda Eterno, esse que a sua directora de Liceo pergunta-lhe com arrogância ao ler uno destes poemas: de donde lo copiaste? Era Gabriela Mistral…

 

 

Una notável poetisa que soube escrever Los Sonetos de la Muerte, em 1914, que aparecem na sua compilação de poemas de 1922, intitulado Desolación. Versos que mostra a dor da sua vida, como Tala de 1934. A sua obra poética está compilada em livros que ela nunca escreveu, apenas aceitou a organização da sua obra entre esses dois antes mencionados e, a seguir, Ternura, 1924, Lagar de 1954, Poemas de Chile, 1967 e outros.

 

Gabriela Mistral, cuja vida narrei, neste sítio de debate, era antes de poeta, era uma excelente professora e diplomata. A sua diplomacia aparecia na sua obra, que ela lia ao público en todos os países em que representou a Chile. Especialmente o seu livro Lecturas para mujeres, de 1923, uma lição do que devia ser entendida por todos os seres humanos por sentir que as mulheres, especialmente as mais pobre e sem filhos, era de segunda categoria. A sua obra toda reflecte solidão e sentimentos maternais profundos, como amores frustrados, referidos por mim em outra página, como o suicídio do seu grande amor Romélio Ureta, homem fino que ela amava profundamente e passou a ser a base da sua poesia, como as mulheres do Chile e o país inteiro, no seu conjunto de poemas Recados. Chile era um país desconhecido, Gabriela ainda mais, mas a compilação, impressão e divulgação da sua poesia, mataram a visão pueril dela ser apenas uma maestra de escola. Gabriela Mistral, buscava nada menos que "o sentido da existência" em sua obra, de acordo com Cuneo. O legado de Mistral que esteve 50 anos no poder de sua amiga e inventariante, a norte-americana Doris Dana e, em seguida, de sua sobrinha, Doris Atkinson. E ainda há muito a aguardar….

 

Como o caso de Isabel Allende, que não apenas sabe escrever, essa escrita com comas, toda a seguir sem parar, em seus quase 20 livros publicados, entre 1988, La Casa de los Espíritus e o mais recente, La isla bajo el Mar, acabamos por não saber qual de todos eles é o que se deve salvar. Desde o seu romance de 1988 que lhe dera de imediato fama Universal, passou aos livros resultado de investigação prévia, como Retrato em Sépia, e Inés del alma mia. Todos os seus livros devem ser salvados, especialmente o primeiro, e que narra a vida de uma família de imensa riqueza e influencia política, onde as relações entre homem e mulher estão estruturadas pelas classes sociais de pertença, acabando o arrogante pai da protagonista Blanca, ser punido pela sua arrogância, amor à política de ultra direita e perde a sua família toda com o seu machismo de homem latino-americano.

 

Finalmente, nem é preciso dizer, que Cem Anos de Solidão de Gabriel García Márquez, é o livro que narra sem parar e sem concessões, trezentos anos de vida de uma família que se bate em todas as guerras de Colômbia e, sem deixar respirar ao leitor, não há diálogo, é uma narrativa de 1967 que apenas as vírgulas e as aspas, deixam respirar ao leitor.

 

Há também Mário Vargas Llosa, especialmente La Tía Júlia y el escribidor e o escritor quechua, autor de El mundo és ancho y ajeno, Ciro Alegría.

 

Eis a minha escolha. O leitor tem a palavra

publicado por João Machado às 14:00
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