Segunda-feira, 18 de Abril de 2011

GRITO NEGRO, de José Craveirinha

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

José Craveirinha (1922-2003), poeta moçambicano, recebeu o Prémio Pessoa em 1991.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Eu sou carvão!

E tu arrancas-me brutalmente do chão

e fazes-me tua mina, patrão.

 

Eu sou carvão!

E tu acendes-me, patrão,

para te servir eternamente como força motriz

mas eternamente não, patrão.

 

Eu sou carvão

e tenho que arder sim;

queimar tudo com a força da minha combustão.

 

Eu sou carvão;

tenho que arder na exploração

arder até às cinzas da maldição

arder vivo como alcatrão, meu irmão,

até não ser mais a tua mina, patrão.

 

Eu sou carvão

tenho que arder

queimar tudo com o fogo da minha combustão.

 

Sim!

Eu sou o teu carvão, patrão.

publicado por João Machado às 10:00
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