Aos visitantes do estrolábio
Depois de ter lido as declarações do Ministro finlandês das Finanças, Jyrki Katainen, que passamos a reproduzir : “ se fizermos o nosso trabalho como deve ser com Portugal, o risco com a Espanha tornar-se-á ainda menor”, lembrei-me de um texto escrito para o estrolábio sobre a Europa em 2013 igual à de 2011. Ao apresentar o referido texto aos meus alunos, pedi-lhes publicamente desculpa por um ou outro apontamento político que saía da esfera estritamente académica, mas o texto tinha sido concebido para um blog e eu não estava disponível para academicamente o censurar. Foi assim. Não imaginava, depois, que o senhor ministro finlandês validava, com as afirmações acima, o rigor cientifico do texto citado e ai, não só anulava a razão para o meu pedido de desculpas como invertia a situação: o texto pecava como ser politicamente limitado, por não ir ao fundo político da questão. Declarações como as do ministro acima nada têm a ver com a democracia, com o respeito pela soberania dos povos. Têm a ver com o quê?
Depois de ter lido o comunicado do Eurogrupo e dos ministros de Ecofina onde claramente se mostra que as Instituições Europeias viram as costas à democracia ou fazem dela apenas um espantalho para os pardais verem, sublinho pequenos excertos desse comunicado:
“deverão (…) chegar a um acordo entre partidos garantindo que um programa de ajustamento pode ser adoptado em meados de Maio e aplicado rapidamente a seguir às eleições”. Então eleições para quê, se o programa político é imposto antes.
“ um ajustamento orçamental ambicioso deve restaurar a sustentabilidade orçamental”
“Reformas que estimulem o crescimento e a competitividade através da superação da rigidez nos mercados de produtos e do mercado de trabalho”
“Isto deve incluir um ambicioso programa de privatizações” como na Grécia, talvez. Pelos vistos quer-se também cá, quer-se Portugal à venda e possivelmente em saldo, dada a urgência e a escassez de recursos..
Depois de ler tudo isto, fui ler Pacheco Pereira, intelectual que muito prezo, excepto quanto às questões da guerra contra o Iraque ou do seu apoio explícito à destruição do ensino secundário em Portugal, operado pelo governo de Sócrates sob a batuta de Maria de Lurdes Rodrigues, e esse artigo tinha como título: Vergonha.
Pensava que Pacheco Pereira se ia envergonhar deste espectáculo que as Instituições Europeias estavam a dar e a impor a toda a Europa. Mas não, Pacheco Pereira, também ele passava ao lado do fundamental da crise e, para nós, esta crise e a forma como as Instituições Europeias lidam com ela, mostra-nos os ministros mais como altos funcionários de um qualquer Governo estabelecido pelas grandes instituições financeiras privadas do que ministros saídos de governos democraticamente eleitos. Disso, eu sinto vergonha. Mas afinal, de vergonha falamos, mas não falamos da mesma coisa.
Depois de ter lido Pacheco Pereira, proponho aos leitores de Estrolábio um documento que se posiciona exactamente no centro das questões fundamentais da crise e das vias para dela sair. Fala-nos da crise da Europa, da crise do seu modelo, da crise das suas Instituições, que assim nos leva a considerar que é a própria democracia que se pode sentir ameaçada. Um documento de Dominique Plihon, dos Economistas Aterrados, já participante na Iniciativa Ciclo Integrado de Cinema, Debates e Colóquios na FEUC, e normalmente um dos conselheiros da referida iniciativa. Um texto sobre a necessidade da reestruturação das dívidas soberanas a apresentar segunda e terça-feira, no estrolábio.
Coimbra 10 de Abril de 2011.
Júlio Marques Mota
PS: ler documento de Dominique Plihon (23 horas de hoje)
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