Vamos partir de um princípio inquestionável. Os trabalhadores têm direito a fazer greve. Mas por definição têm um direito que os desempregados não têm.
A partir daqui temos à nossa frente imensas dúvidas sem respostas fáceis, muitas incongruências, muitos paradoxos. Desde logo porque os trabalhadores das empresas privadas, na prática, não têm direito à greve. A não ser como último argumento não há greves. Medo de perder o trabalho, enfrentar o descontentamento dos colegas que não fazem greve, prejudicar a laboração, em última análise medo de não haver vencimento ao fim do mês.
Ficamos reduzidos às empresas que têm grande impacto junto da vida social e laboral dos cidadãos. O caso dos transportes é exemplar. Param os transportes e temos logo as primeiras vítimas que são os utentes, os cidadãos que trabalham. A estes ninguém acode, e são os mais pobres de todos, os que sofrem, porque os outros que ganham melhor vão de transporte próprio.
Depois temos a questão, incompreensível, de haver centenas de milhares de cidadãos que não arranjam emprego, enquanto outros que já usufruem dessa benesse( nos tempos que correm ter um emprego com vencimento certo ao fim do mês é uma benesse) fazem greve para exigir mais dinheiro e melhores condições. E, na maior parte das vezes fazem greve com razão.
Há, pois, nesta equação algo que a torna irresolúvel.Quem já tem pede mais para si próprio e não para quem tem menos e, estes, por falta de meios não podem fazer ouvir a sua voz. E o que está no outro membro da equação é igualmente algo que não controlamos. A profunda injustiça de uma sociedade que cava cada vez mais um fosso entre as pessoas.
Se o que ganham os do topo não é conforme à situação da empresa (nos transportes o que temos são empresas falidas, como sabemos) e se permitem atribuirem-se a si próprios milionários vencimentos, quem é que tem coragem de apontar o dedo a quem, tendo vencimento, ganha, em comparação, uma miséria?
Estamos, pois, perante um poblema de ética, de justiça social e de moral. Se lá de cima vêm os exemplos que vêm, o que se pode esperar a quem falta vencimento e sobra mês? Estamos na selva, quem tem poder, dinheiro, voz, vai sempre ganhar mais, quem não tem nada disso, vai sempre viver pior.
Este sistema a continuar, como os textos do Professor Julio Marque Mota já abordaram, vai acabar em tumultos violentos senão mesmo em guerras, tal como resultaram as guerras mundiais de igual húmus social e politico. Ninguém está disposto a ganhar menos em troca, por exemplo, de trabalhar menos abrindo caminho a uma oportunidade para outros sem igual sorte.
Ora se quem tem meios exige mais os que não têm meios vão ter cada vez menos, a não ser que o bom senso volte.
Alguém acredita nisso? Voltar o bom senso por livre vontade?
E, os primeiros a darem o exemplo, têm que ser os que na sociedade civil, nada têm garantido, os que pagam os impostos que o Estado depois distribui injustamente e desperdiça a seu belo prazer. Os que para terem vencimento têm que manter empresas viáveis com o seu trabalho e dedicação,e que não podem esperar por "compensações" do estado, nem por negócios "finos" com a Caixa Geral de Depósitos. Esses são os únicos que possuem um crédito de ética e que podem exigir aos "confortados" o bom senso que vem faltando.
Se juntarmos a tudo isto uma economia que não cresce há uma década, não cria riqueza, então os que pedem mais estão, na prática, a tirar aos outros que não podem pedir nada. Ao contrário, se uma economia consegue criar riqueza, esse acréscimo pode ser mal distribuído mas chega a todos.
E, termino fazendo esta pergunta: já repararam que na CARRIS não há greves e que é a única empresa de transportes urbanos que dá lucros? Será que os gestores que lá estão merecem o que ganham? Dizem-me que o sucesso da empresa tem a ver com programas de médio prazo, envolvendo os trabalhadores, onde são fixados os objectivos e as pessoas ganham segundo o mérito! Quem não estará satisfeito com esta "performance" devem ser os sindicatos.
Alguma coisa será !
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