Segunda-feira, 4 de Abril de 2011

Crise na Europa, Crise na Irlanda, parte III - Marc Roche, Les banquiers responsables de la crise de retour aux manettes, Le Monde, 9.03.11


Uma pequena nota de Júlio Marques Mota

 

Dois pequenos textos de antologia, onde de antologia é também a simples referência ao golf. Estarão Portugal e a Irlanda, no fundo da crise,  a serem concorrentes uns contra os outros, a serem competitivos, a favor afinal daqueles que colocaram ambos os países na miséria: os senhores e  as familías de quem se passeia pelo mundo para jogar gofe e praticamente sem pagar impostos. Estes não são aqueles que trabalham seguramente. E é tudo

 

Coimbra, 2 de Abril de 2011-04-02

 

Júlio Marques Mota

Os banqueiros responsáveis da crise estão de regresso aos comandos

Marc Roche, Le Monde

 

Há  nomes praticamente desconhecidos do grande público que recentemente têm ocupado em evidência na esfera financeira. Três nomes que, para muitos, não dizem nada, mas que simbolizam a filosofia de uma profissão que não  nada aprendido e todavia tudo compreendido : banqueiro por um dia, banqueiro para todos os dias, para sempre. Para a vida, para a morte! Que seja dito!

 

Comecemos pelo francês do lote referido. Jean-Pierre Mustier deve assumir a  21 de Março as suas novas funções de director das actividades de finança e investimento do estabelecimento italiano UniCredit, “para poder levar e desenvolver  certas convicções ". Este personagem enigmático era o chefe na  Société Generale , do trader louco Jérôme Kerviel. Tinha-se  demitido em 2009.

 

O segundo protagonista é o americano Bill Winters, membro da comissão oficial britânica responsável pela reforma bancária. Este antigo banqueiro de negócios acaba de associar-se  a dois  peso bem pesados  da vida dos negócios, o raider Lorde Rothschild e o industrial do luxo Johann Rupert, para criarem um fundo de investimento. Winters tinha sido um dos animadores da equipa de JP Morgan, que em 1994-1997 tivesse inventado os CDS crédito default swaps, estes produtos financeiros altamente tóxicos que contribuíram para a explosão do planeta financeiro .

 

Por último, há o caso de Alan Schwartz, o último patrão  de Bear Stearns, o banco de negócios falido com os  créditos imobiliários tóxicos, cuja   queda em 2007 tinha sido o sinal premonitório da tormenta que veio a seguir. Depois da  sua saída ignominiosa , o banqueiro de Nova Iorque  tinha assumido a direcção de um hedge fund, Guggenheim Partners. Este fundo anunciou na semana passada a criação de um departamento de trading que utiliza os seus capitais próprios , uma actividade muito arriscada e altamente especulativa doravante proibida aos bancos.

 

Os banqueiros arrastados pela crise de 2008-2009 estão pois   volta, como se nada se tivesse passado, e entram pela porta da frente. E a lista é longa, muito longa, ao ler diariamente as páginas da imprensa financeira. O caso mais escandaloso continua ainda a ser o de Antigone Loudiadis, a banqueira de Goldman Sachs que ajudou a Grécia a maquilhar  as suas contas para lhe permitir  entrar no euro. Este serviço  valeu-lhe  ser promovida à cabeça da companhia de seguros da casa Goldman Sachs!

 

Convenhamos, para qualquer lado que se  olhe, ficamos com a cabeça à roda. Agora com um ar de quem está arrependido , Jean-Pierre Mustier  terá estudado afincadamente durante o seu interlúdio londrino de ano e meio  as biografias de Alan Greenspan, antigo director do FED, a Reserva Federal Americana, e de Henry Paulson, o secretário do Tesouro entre 2006 e 2008.

 

Na esfera dos flagelos, faz-se melhor. Greenspan passa para um dos grandes responsáveis da derrota pela sua política de dinheiro barato  e pela sua recusa de uma  regulação sobre os produtos derivados. Quanto a Paulson, que foi presidente de Goldman Sachs entre 1999 e 2006, não  parou de estar sempre a defender os interesses do seu antigo empregador, Goldman Sachs.

 

O descalabro  financeiro  viu milhões de famílias perderem as suas casas , empregos, pensões de reforma. Com algumas excepções apenas , reencontra-se hoje os mesmos chefes à frente  das grandes instituições financeiras. Nenhum dirigente da banca foi punido  , mesmo nos casos de fraude provada sobre os créditos hipotecários. Neste tipo de negócios complexos, as provas são difíceis de reunir, e a incompetência não é um crime: este é o discurso  oficial para justificar este laxismo judicial.

 

Enquanto que o contribuinte que salvou o sistema bancário deve apertar-se e bem o seu cinto, a hora é de novo  para a concessão em toda a impunidade de bónus mirabolantes, à Wall Street como na City de Londres. Em Bruxelas e em Washington, os lobby bancários castraram os projectos de regulação, levando mesmo a gritos de meter medo só pela  ideia de um reforço das normas prudenciais de capital. Com o desprezo mais descarado  pelo civismo mais elementar, as zonas off-shore ajudam as multinacionais como as grandes  fortunas a dedicarem-se  à evasão fiscal legal. Para escapar ao imposto assim como ao regulador britânicos, os hedges funds londrinos terão  encontrado a sua nova terra prometido, Malta, para especular em toda a calma do mundo.

 

A profissão bancária não vê sequer em que é que terá  falhado em termos de honra ou de moral, explica-nos o consultor londrino Amin Rajan, especialista em  liderança na condução de  empresas. “Os meios financeiros tiveram êxito em  fazer passar a mensagem que a crise é da responsabilidade  do sistema, dos reguladores, dos bancos centrais, dos accionistas, ou mesmo das famílias, resumidamente, das vigarices  dos outros. “ Na leitura bem particular que têm os banqueiros da deontologia, reconhecer as suas faltas seria uma confissão de fraqueza ou de culpabilidade.

 

No entanto, é necessário convir, os bancos, de que  ninguém pode passar sem eles, não se deevem colocar todos no  mesmo saco, e alguns preenchem mesmo  as funções normais de financiamento da economia.
O cardeal o arcebispo Westminster, Vincent Nichols, não disse outra coisa ao falar  para os banqueiros : “A vossa missão consiste antes de mais nada em servir o interesse do público. “ Esta exortação  não deveria ser gravada no frontispício à entrada do Hotel   Guildhall, o hotel dos homens da  City?

 

Marc Roche, Les banquiers responsables de la crise de retour aux manettes, Le Monde, 9.03.11


2.Da Irlanda com carinho, uma carta

 

Um pequeno conselho amigável a Portugal
Domingo, 27 de Março de 2011

 

Caro Portugal:

 

Daqui lhe escrevo, da Irlanda. Eu sei que não nos conhecemos muito bem, embora eu tenha ouvido que alguns dos nossos promotores estão muito tristes com o facto de vocês estarem a ultrapassar a recessão.

 

Eles poderão ficar assim por uns tempos. Em todo o caso, não pretendo intrometer-me na sua vida mas tenho lido os jornais e causa-me impressão pensar que tenho de lhe escrever para lhe dar um pequeno conselho quanto à situação em que se encontra e quanto ao que ainda está para vir.

 

Porque, e com alguma ironia amarga, qual é a diferença entre Portugal e a Irlanda na presente situação? Cinco letras e seis meses.

 

Em todo o caso, reparo agora que Portugal está sob pressão para aceitar um resgate financeiro de urgência mas os vossos políticos estão a insistir que estão fortemente determinados a não o quererem. Para o fazerem, só por cima dos seus cadáveres. Diz-me a experiência que isto significa que

 

Portugal estará brevemente a querer um resgate financeiro, provavelmente a um domingo. Deixe-me primeiramente dar-lhe uma pista quanto às nuances da língua inglesa.

 

Dado que o inglês é a sua segunda língua, Portugal pode estar a pensar que as palavras bailout (resgate) e aid (ajuda) implicam que Portugal irá ter a ajuda dos nossos irmãos europeus para começar a sair das suas dificuldades actuais. Mas o inglês é a nossa primeira língua e foi isso que nós pensámos ser o significado de bailout e o de aid. Mas permita-me que o avise: não só este “resgate” – quando ele vos for inevitavelmente imposto – não livrará Portugal dos problemas actuais como também, na prática, os irá prolongar durante as futuras gerações.

 

Por tudo isto, o que esperam de si, Portugal, é que se mostre grato. Se quiser saber qual é o termo português adequado para traduzir o termo inglês bailout, sugiro-lhe que pegue no seu dicionário de Inglês-Português e procure palavras como: moneylending (empréstimos em dinheiro), usury (usura), subprime mortgage (hipotecas subprime), rip-off (roubo). Isto dar-lhe-á uma tradução mais exacta daquilo que lhe vai acontecer.

 

Fico, também, a saber que você, Portugal, vai mudar de governo dentro de dois meses. Vai desculpar-me pelo facto de eu-me permitir esboçar um certo sorriso quanto à mudança em questão. Não deixe de aplicar uma boa camada de tinta por cima das fendas da sua economia. E não deixe, também, de apreciar o cheiro dessa tinta fresca por algum tempo.

 

Nós, aqui, também arranjámos um novo governo – o que foi uma agradável manobra de diversão durante algumas semanas. O que você vai verificar é que o novo governo irá surgir no meio de uma certa euforia popular. O novo governo, entretanto, terá já feito todo o género de promessas durante a campanha eleitoral quanto a dar cabo dos detentores de títulos e por aí fora, e a União Europeia irá sorrir condescendentemente perante toda essa conversa fiada.

 

Então, quando o seu governo tomar posse, ele irá mostrar-se à Europa e dará algumas indicações. Você até poderá vencer alguns jogos de futebol com os vossos principais adversários, quaisquer que eles sejam, e pode até conseguir ser visitado por dignatários estrangeiros, como o Papa ou outros. Sentir-se-á uma atmosfera positiva, por algum tempo, enquanto todos se refugiam numa certa ilusão.
E usufrua de tudo isso, Portugal, enquanto puder. Porque a realidade estará de novo à espreita, para se intrometer outra vez na sua vida, quando a diversão se desvanecer. O contraponto de tudo isto é que o preço de um jogo de golfe se tornou aqui mutio competitivo. Oxalá o mesmo aconteça aí. Esperamos vê-lo, Portugal, então.

Com a amizade da

 

Irlanda

 

The Independent on Sunday

publicado por Luis Moreira às 20:00
link | favorito

.Páginas

Página inicial
Editorial

.Carta aberta de Júlio Marques Mota aos líderes parlamentares

Carta aberta

.Dia de Lisboa - 24 horas inteiramente dedicadas à cidade de Lisboa

Dia de Lisboa

.Contacte-nos

estrolabio(at)gmail.com

.últ. comentários

Transcrevi este artigo n'A Viagem dos Argonautas, ...
Sou natural duma aldeia muito perto de sta Maria d...
tudo treta...nem cristovao,nem europeu nenhum desc...
Boa tarde Marcos CruzQuantos números foram editado...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Eles são um conjunto sofisticado e irrestrito de h...
Esse grupo de gurus cibernéticos ajudou minha famí...

.Livros


sugestão: revista arqa #84/85

.arquivos

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

.links