Orfeu é um personagem de um mito descrito de maneiras diferentes por poetas e vulgarizado em muitas lendas. Destaca-se como o músico por excelência, o que acalma as tempestades, encanta os animais, os homens e os deuses. Graças a esta magia da música, consegue obter dos deuses a libertação da sua esposa Eurídice, morta por uma serpente, quando fugia das tentativas sedutoras de Aristéo. Orfeu não consegue cumprir a condição imposta – a de não se voltar para trás e olhar Euridice, o que provoca o desaparecimento desta. Inconsolável, acaba os seus dias afastado das mulheres cujo amor desdenhava.
Orfeu é considerado o sedutor em todos os níveis do cosmo e do psiquismo. Há quem o veja como o símbolo do lutador que não é capaz de derrotar definitivamente o mal e que morre ele próprio vítima da sua própria insuficiência. Num plano mais superior representará a prossecução de um ideal que não se chega a atingir porque na verdade não se renunciou à vaidade e desejos vários. Assim, simbolizaria a falta de força da alma. Orfeu não consegue escapar à contradição entre as suas aspirações de atingir o sublime e a banalidade da vida e acaba por morrer não tendo tido a coragem de fazer uma escolha.
Esta história foi tema da ópera mais antiga registada, a de Euridice, de Jacopo Peri ( 1561-1633), compositor e cantor italiano do período de transição entre os estilos renascentista e barroco, e que é frequentemente considerado o inventor da ópera, com Dafne (cerca de 1597), e também a primeira ópera que sobreviveu até aos nossos dias, Euridice (1600).
Poucos anos mais tarde, este tema voltou a ser inspiração de uma outra ópera “L'Orfeo”, composta por Claudio Monteverdi sobre libreto de Alessandro Striggio.
Christoph Willibald Gluck (1714 -1787), compositor musical alemão, é visto como um dos compositores mais importantes da ópera da Era Clássica, e recordado particularmente pela ópera, Orfeu e Euridice. Gluck e seu libretista, Calzabigi, transformaram essa lenda na base de uma obra que almejava mais do que servir apenas de entretenimento, pretendendo ser um novo ideal operático. Gluck procurou reformular a encenação da ópera com uma visionária e consistente união de música, poesia e dança.
Esta obra, com sua música de irresistível e transcendente beleza, ajudou a expandir a ideia da potencial teatral de uma ópera. Mozart e Wagner encontram-se entre os sucessores de Gluck que admitiram abertamente suas influências.
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