Oriundo de uma família angolana. Guilherme Santa Graça Espírito Santo nasceu em
Lisboa em 30 de Agosto de 1919. Em 1927 a família fixou-se em Luanda.
Adolescente, começou a jogar futebol na filial do Sport Lisboa e Benfica. Diz Espírito Santo; “Sou benfiquista desde os três anos. Havia na altura uns maços de tabaco com as figuras dos jogadores da época. Eu gostava especialmente do Vítor Silva e
foi a partir dessa altura que fiquei a torcer pelo clube”. De notar que Vítor Silva era uma lenda daqueles anos 30. Estreara-se em 1928 e durante oito anos foi a grande estrela do Benfica, brilhando também na selecção, pela qual jogou 19 vezes.
Inventou um passe acrobático – o «salto de peixe» que surpreendia adversários e encantava os adeptos. Foi o primeiro jogador português a ser contratado por dinheiro, pois foi do CIF para o Benfica. A opinião pública e a imprensa especularam sobre o assunto. De certo modo era considerado indigno um atleta sair de um clube para outro «por dinheiro». Bons tempos!
Pois Guilherme Espírito Santo foi substituir Vítor Silva que, apenas com 26 anos,
se despediu do futebol – Estava-se em 1936 – Vítor fazia a sua festa de despedida, Guilherme, estreava-se, com 17 anos e depressa passou a ser um elemento vital
no eixo do ataque benfiquista.
«O cavalheirismo das suas atitudes foi faceta evidenciada logo no começo da sua carreira e mantida pelo tempo adiante, com uma dignidade que era motivo de orgulho para os seus amigos e admiradores», disse António Ribeiro dos Reis (1896-1961), futebolista, treinador, seleccionador nacional, jornalista, oficial do Exército, um desportista de elevada qualidade. Jogou até 1950. Foi seis vezes campeão nacional (1936/37; 1937/38; 1941/42; 1942/43; 1944/45 e 1949/50) e venceu
quatro taças de Portugal (1939/40;19427/43; 1943/44 e 1948/49). Em 285 jogos oficiais, marcou 199 golos.
No grande rival do Benfica, o Sporting Clube de Portugal, brilhava outro angolano, um grande amigo de Guilherme – Fernando Peyroteo. O Fernando, que além de grande jogador era um homem de grande carácter, a propósito do despique que entre ambos existia e das inevitáveis comparações feitas por adeptos e jornalistas – deu assim a sua opinião: «O Guilherme sempre foi melhor jogador de futebol do que eu: mais técnica, mais jogo. Menos prático, menos golos, etc.? Sim, também é verdade. mas mais jogador». Quando comparamos esta humildade com as declarações das estrelas actuais – um diz que quer ser o melhor jogador do mundo! – não podemos deixar de pensar que o mundo do futebol foi tocado por Midas – o ouro e o marketing sobrepuseram-se ao espírito desportivo e ao fair play.
Mas, sobre o nosso Guilherme, nem tudo está dito.. Ouçamo-lo: “Estava num treino e a determinada altura a bola saiu do campo, fui a correr apanhá-la e sem dar por isso saltei uma barreira de salto em altura. Estava a 1,70 metros e ninguém tinha conseguido fazê-lo”. Ficou tudo de boca aberta – foi convidado a praticar atletismo e, em 1940, veio a bater o recorde nacional, com 1,88 metros, só ultrapassado vinte anos mais tarde. Foi ainda campeão nacional de salto em comprimento e triplo-salto (com 6,89 e 14,015, respectivamente, ambos em 1938. “Deve ter sido porque em Angola fui mordido por um macaco”, diz é a explicação bem-humorada de Espírito Santo para esta sua inesperada competência.
A «Pérola negra», foi como os jornalistas lhe chamaram. Sobre a cor da pele, conta Guilherme: “Naquele tempo, existiam alguns preconceitos por causa dos jogadores de cor. Um dia, em 1947, num hotel da Madeira, queriam colocar-me num anexo por ser negro. Os jogadores do Benfica disseram que para onde eu fosse eles também iam. E acabámos todos no anexo”.
Infelizmente o racismo não foi erradicado. Cavalheiros no futebol como o foram Peyroteo, Pinga ou Guilherme Espírito Santo, é que não abundam. Espírito Santo, o mais velho dos jogadores de futebol do Benfica ainda vivo, cumulado com todas as honras e dignidades que o clube tem para oferecer, seria um bom exemplo para os jovens craques – ambiciosos, como é natural e até saudável, mas muitas vezes patetas e vaidosos, como é indesejável e ridículo.
Mas ricos, incensados pelos adeptos e pelos jornalistas, eles não precisam de exemplos - vão continuar a ser estúpidos e ricos (com as honrosas e felizes excepções. claro).
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