3.ª Audiência Portuguesa do Tribunal Mundial sobre o Iraque
A Situação das Mulheres e das Crianças
no Iraque Ocupado
Lisboa, 26 Março 2011, 15h30
Associação 25 de Abril (Rua da Misericórdia, 95)
IRAQUE. 8 anos depois
Programa
Abertura da sessão
Apresentação do grupo de jurado
Intervenção inicial:
Iraque. 8 anos depois
, por Eduardo Maia Costa, jurista
Depoimento:
A situação das mulheres e das crianças no Iraque ocupado
, por
Haifa Zangana, escritora e activista iraquiana
Deliberação do grupo de jurados
Jurados
(membros confi
rmados)
Alípio de Freitas (professor)
Ana Benavente (ex-SE Educação, ex-deputada)
Ana Gaspar (professora, Sindicato Professores Grande Lisboa)
Diana Andringa (jornalista)
Eduarda Dionísio (professora)
Fernanda Mestrinho (jurista, jornalista, Ass. Port. de Mulheres Juristas)
Helena Carrilho (advogada, CGTP)
Isabel do Carmo (médica)
Isabel Lourenço (tradutora)
João Loff Barreto (advogado)
José Charters Monteiro (arquitecto)
José Gonçalves da Costa (juiz-conselheiro jubilado do STJ)
Jorge Figueiredo (economista)
Judite Almeida (professora, Sindicato Professores Norte)
Luanda Cozetti (cantora)
Margarida Vieira (Associação Abril)
Maria José Morgado (magistrada, Procuradora-Geral Adjunta)
Natacha Amaro (Movimento Democrático de Mulheres)
Regina Marques (Movimento Democrático de Mulheres
Extractos do depoimento de Haifa Zangana
Num passado recente as mulheres iraquianas eram das mais
emancipadas da região, com um elevado nível de educação e presentes em
todas as esferas da vida profissional, onde desempenharam um papel activo e
contribuíram para o progresso da sociedade. Hoje, estão empurradas para um
canto, apertadas entre o esforço de sobreviver à destruição provocada pela
guerra e as políticas feudais e sectárias (em nome da religião) promovidas pela
classe política instalada no poder desde 2003.
Um fenómeno novo no Iraque é o casamento temporário. Um homem
casa com uma mulher na presença de uma figura religiosa e especifica por
quanto tempo vai durar o casamento, podendo ir desde algumas horas até
muitos anos. É um contrato a termo, onde um homem paga a uma mulher um
pequeno dote. A maioria das mulheres que aceitam casamentos temporários
fazem-no apenas por necessidades materiais. Esta prática é vista como uma
forma de prostituição religiosa.
O deputado Mohamed al Dainy declarou, em 2007, que houve 190
queixas feitas por mulheres contra as forças de segurança e de defesa
iraquianas por agressões sexuais. Nenhum procedimento adequado foi
seguido para punir os agressores e evitar que tais crimes sejam repetidos. Este
número é apenas a ponta de um iceberg.
Um relatório da UNICEF de Abril 2008 indicou que 1 500 crianças
estavam sob custódia das forças oficiais iraquianas e dos EUA. Em
alguns casos, são mantidas presas no mesmo espaço dos adultos, expondo-as
a mais riscos de agressão e abuso. Relatórios dos meios de comunicação sobre
a prisão para crianças de Al Karkh revelam uma longa lista de maus tratos,
abusos e violações.
Testemunhos de tortura relatados pela AI ao longo de anos incluem
violação e ameaça de violação, espancamentos com cordas e mangueiras,
choques eléctricos, suspensão pelos membros, perfuração do corpo com
berbequins, asfixia com sacos e plástico, e quebra de membros
Os ocupantes culpam os “insurgentes” da morte de civis,
especialmente mulheres e crianças. Mas um estudo recente de
investigadores britânicos e suíços, com dados fornecidos pelo grupo de direitos
humanos Iraq Body Count, descobriu que, de Março 2003 a Março 2008, a
maior parte das mortes de mulheres e de crianças, entre os civis mortos por
certos tipos de armas, foi provocada pelas “forças da coligação”, em particular
por ataques aéreos das forças de ocupação.
Em 2006/7 crianças de Bagdad e dos arredores tinham de passar
sobre cadáveres no caminho para a escola. Viram corpos serem comidos
por cães vadios. Recolheres obrigatórios repentinos e explosões de violência
afectam as crianças, que têm de viver passando de um grande trauma para o
seguinte. Muitas crianças têm de suportar o abandono da casa, a separação
dos seus amigos e do meio que lhes é familiar para enfrentarem um futuro
incerto como ‘refugiados’ sem rendimentos ou apoio adequado.
Calcula-se que 43% dos iraquianos vivem numa pobreza abjecta. As
crianças são nestes casos postas a trabalhar em vez de irem à escola, outras
tornam-se pedintes nos locais públicos e nos mercados. Estas crianças
trabalham longas horas e não têm nenhuma protecção contra a exploração e
os abusos. Nenhuma protecção contra a exposição a doenças sociais como a
prostituição infantil e o uso de drogas. Este problema particular é
especialmente agudo para as crianças ‘refugiadas’ nos países vizinhos do
Iraque.
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