Quinta-feira, 24 de Março de 2011

O velho livro (crónica de uma morte anunciada) - por Carlos Loures

 

 

Já aqui vos tenho falado da sensação de volúpia  com que pessoas pertencentes às gerações mais antigas, folheiam o livro, aspiram o odor da tinta, apreciam a textura e

a gramagem do papel…É uma relação afectiva, mas é geracional. As novas gerações estarão preparadas para acolher novos suportes de leitura. sem preconceitos - mas

é preciso que esses novos suportes existam. Tudo o que até hoje apareceu não substitui o livro impresso.  Umberto Eco afirma que o livro é uma daquelas invenções consolidadas que, como a roda, como a colher, como o machado, nunca serão substituídas.

 

  

Muitas vezes tem sido anunciada a morte do livro como hoje o conhecemos – lembro-me de uma dessas primeiras ameaças – Foi em 1988 que comprei o texto gravado de O Delfim, de José Cardoso Pires, lido pelo actor Luís Lucas (com a vantagem de poder ser apreciado por invisuais). Ainda tenho essa edição em quatro cassetes. O que não tenho é um leitor onde as cassetes possam ser lidas. Começaram depois a aparecer edições em cassetes de vídeo, primeiro no standard Beta e depois no VHS. Também já não tenho leitores nem para uma coisa nem para outra.  

 

 Agora é o Kindle, havendo autores americanos que, como Dan Brown, começaram a lançar as suas obras simultaneamente em versão impressa e em versão electrónica, no formato e-book. Até quando poderão estes novos «livros» ser consultados? As novas tecnologias vão destronando as menos novas e não aparece uma invenção consolidada, como diz Eco.

 

A verdade é que enquanto estas invenções se vão sucedendo e mutuamente neutralizando,

se tivermos conhecimentos de paleografia, podemos ler um incunábulo com quinhentos

anos ou um códice com mil. Não apareceu ainda invenção que destrone o velho livro. Lê-lo depende do nosso saber e não de qualquer equipamento que poderá ficar obsoleto um ano depois de ter aparecido no mercado.

 

No entanto, o livro electrónico parece estar a pegar – não irá destronar o livro impresso, mas pode criar uma linha de evolução paralela – desde que os computadores do futuro (que já não se chamarão assim) permitam ler a informação produzida hoje em dia.

 

 É um fenómeno a seguir com atenção.

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
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3 comentários:
De Anónimo a 24 de Março de 2011
Pensar-me agora na praia com bom tempo e a ler um livro... Mesmo neste formato... Que é coisa que ainda não tive nas mãos. Não aconteceria o que já me aconteceu que é ter que pôr de lado um livro que ando por ser muito pesado!
Também tenho reflectido muito sobre isto, gosto do livro enquanto objecto, a capa, o cheiro, a cor com que as péginas foi ficando quando já envelhecidas. Adoro bisbilhotar livros antigos, ver o tipo de letra, de paginação, nalguns casos comparar o que diziamem determinados assuntos com o que está na moda.

Por mim, o livro vai continuar.
De Augusta Clara a 24 de Março de 2011
Viva o livro impresso e estou com o Umberto Eco. Nada me move contra as novas tecnologias aplicadas à leitura, sobretudo as que a permitam a pessoas impedidas visualmente de ler, mas, para mim, nada vale a sensação e o prazer de ter um livro nas mãos. E gosto de os encostar ao peito. Qualquer coisa me passam por osmose.
De Luis Moreira a 24 de Março de 2011
Como diz a Carla, pingo no nariz, manta sobre as pernas afundanço no sofá e livro nas mãos...

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