Domingo, 20 de Março de 2011

Uma pequena nota neste Dia Mundial da Poesia. Texto e ilustração de Adão Cruz

 

 

 

 

 

 

 

 


 

Já o tenho dito várias vezes. E volto a dizê-lo neste dia, chamado Dia Mundial da Poesia que em nada mexe comigo. Eu não sei o que é a poesia, penso que ninguém sabe verdadeiramente o que é a poesia e duvido muito de quem diz que sabe. No entanto, penso que a poesia é um sentimento, mas não um sentimento banal. Parece-me um sentimento muito subtil, quase mágico, provavelmente de uma neuronalidade muito delicada, uma espécie de musicalidade, uma essencialidade rítmica e harmoniosa que pode existir dentro de nós e nos permite, quando permite, a mais nobre e sublime expressão da realidade das coisas e da vida.

 

Gosto muito de poesia, gosto de tentar fazer poesia, julgo ter a sorte de sentir a poesia mas não me sinto poeta nem “letrado”em poesia. Aquilo que digo é fruto do que sinto e não propriamente do que sei, que é muito pouco. Muitas vezes digo para comigo, mas que chachada esta, que valor tem eu estar aqui a perder tempo com este jogo de palavras, quando há tantas coisas úteis para fazer! E sinto que é a altura de beber um copo de bom tinto, a minha droga sublime. Porque cada vez mais me enjoa a poesia, a poesia que por aí nasce e por aí se cria. Cada vez mais gosto muito de poucas coisas.

 

Penso que, muitas vezes, o que andamos para aqui a fazer não tem nada a ver com poesia, com verdadeira poesia. O sentimento poético e o sentimento artístico são sentimentos que, como todos os sentimentos nobres, enriquecem os nossos processos de humanização, criam grandes afinidades com a consciência, aproximam-nos de todos os mecanismos de identificação com a verdade, afinam todas as emoções e sentimentos, ajudam-nos no caminho do equilíbrio e da harmonia, mas são sentimentos de rara e difícil conquista.

 

A poesia e a beleza são sentimentos gémeos, e esta identidade gemelar, sendo uma realidade, poucas vezes se encontra. E para que exista, elas não podem viver separadas. Se estamos frente a uma realidade concreta, e nos identificamos com ela como objecto da realidade quotidiana, então convivemos com ela, dentro dos horizontes sempre limitados de uma realidade, sem preocupações de dimensão universal. Nestas circunstâncias, muito facilmente se pode passar ao lado da beleza, ainda que ela lá esteja, e muito mais ao lado da poesia, se não formos capazes de sentir o seu perfume.

 

Se o que temos na frente, ainda que representativo de uma natureza real, passa além da realidade concreta, levada pela mão da poesia, isto é, ultrapassa a fronteira para além da qual o homem se atreve a pôr o pé na sua dimensão universal, então não convivemos com ela, mas contemplámo-la e vivêmo-la como arte, e, logicamente, como manifestação de beleza.

 

A poesia e a beleza, quer queiramos quer não, residem na maior ou menor capacidade que o homem tem de se projectar para fora dos horizontes da sua vida banal, rompendo a órbita para além da qual emerge o profundo valor estético da poesia, poesia que tem de percorrer transversalmente qualquer forma de expressão artística, seja o poema, sua matriz natural, seja a pintura, seja a música, seja a própria vida, porque qualquer forma de expressão artística só é arte, se contiver dentro de si a essência poética. 

 

publicado por João Machado às 15:00
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3 comentários:
De Carlos Loures a 20 de Março de 2011
Digamos que temos duas maneiras diferentes de definir a poesia - penso que a tua está mais dentro dos cânones. Esta minha concepção da arte poética que me levou, enquanto crítico de poesia a cometer excessos de que me vim a arrepender (ousei classificar a bela poesia de José Régio como «lírica de sacristia», e outras enormidades do género), vem de longe. A idade moderou a maneira de dizer as coisas, mas mantém-se a minha convicção de que a poesia ou está ligada aos problemas dos homens ou não serve para nada. Nada do que dizes é merecedor dos meus velhos anátemas - até posso concordar com tudo o que dizes. De facto, não existe uma definição de poesia que seja universalmente aceite. É um bom texto o teu, Adão. A Augusta Clara diz que somos casmurros - mas não acho, temos é convicções e isso não é condenável. Vamos continuando este diálogo, Adão. Um abraço.
De Luis Moreira a 20 de Março de 2011
Se um poema não corresponder a um sentimento elevado, a uma redenção que nos faz estar mais póximo do próximo e, se isso, não é veículado por uma forma bela de comunicar, eu não creio que seja poesia. É fácil fazer jogos de palavras sem que para isso seja necessário sofrer a solidão pessoal, a solidariedade que não se encontra, a compreensão do mundo que não se oferece aos outros. Sem esses objectivos a arte pode até ser encantatória, mas não é arte.
De Inês Aguiar a 21 de Março de 2011

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