Já o tenho dito várias vezes. E volto a dizê-lo neste dia, chamado Dia Mundial da Poesia que em nada mexe comigo. Eu não sei o que é a poesia, penso que ninguém sabe verdadeiramente o que é a poesia e duvido muito de quem diz que sabe. No entanto, penso que a poesia é um sentimento, mas não um sentimento banal. Parece-me um sentimento muito subtil, quase mágico, provavelmente de uma neuronalidade muito delicada, uma espécie de musicalidade, uma essencialidade rítmica e harmoniosa que pode existir dentro de nós e nos permite, quando permite, a mais nobre e sublime expressão da realidade das coisas e da vida.
Gosto muito de poesia, gosto de tentar fazer poesia, julgo ter a sorte de sentir a poesia mas não me sinto poeta nem “letrado”em poesia. Aquilo que digo é fruto do que sinto e não propriamente do que sei, que é muito pouco. Muitas vezes digo para comigo, mas que chachada esta, que valor tem eu estar aqui a perder tempo com este jogo de palavras, quando há tantas coisas úteis para fazer! E sinto que é a altura de beber um copo de bom tinto, a minha droga sublime. Porque cada vez mais me enjoa a poesia, a poesia que por aí nasce e por aí se cria. Cada vez mais gosto muito de poucas coisas.
Penso que, muitas vezes, o que andamos para aqui a fazer não tem nada a ver com poesia, com verdadeira poesia. O sentimento poético e o sentimento artístico são sentimentos que, como todos os sentimentos nobres, enriquecem os nossos processos de humanização, criam grandes afinidades com a consciência, aproximam-nos de todos os mecanismos de identificação com a verdade, afinam todas as emoções e sentimentos, ajudam-nos no caminho do equilíbrio e da harmonia, mas são sentimentos de rara e difícil conquista.
A poesia e a beleza são sentimentos gémeos, e esta identidade gemelar, sendo uma realidade, poucas vezes se encontra. E para que exista, elas não podem viver separadas. Se estamos frente a uma realidade concreta, e nos identificamos com ela como objecto da realidade quotidiana, então convivemos com ela, dentro dos horizontes sempre limitados de uma realidade, sem preocupações de dimensão universal. Nestas circunstâncias, muito facilmente se pode passar ao lado da beleza, ainda que ela lá esteja, e muito mais ao lado da poesia, se não formos capazes de sentir o seu perfume.
Se o que temos na frente, ainda que representativo de uma natureza real, passa além da realidade concreta, levada pela mão da poesia, isto é, ultrapassa a fronteira para além da qual o homem se atreve a pôr o pé na sua dimensão universal, então não convivemos com ela, mas contemplámo-la e vivêmo-la como arte, e, logicamente, como manifestação de beleza.
A poesia e a beleza, quer queiramos quer não, residem na maior ou menor capacidade que o homem tem de se projectar para fora dos horizontes da sua vida banal, rompendo a órbita para além da qual emerge o profundo valor estético da poesia, poesia que tem de percorrer transversalmente qualquer forma de expressão artística, seja o poema, sua matriz natural, seja a pintura, seja a música, seja a própria vida, porque qualquer forma de expressão artística só é arte, se contiver dentro de si a essência poética.
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