Quinta-feira, 17 de Março de 2011

O pacto ibérico - por Carlos Loures

 

 

Quando, há 72 anos, em 17 de Março de 1939 foi assinado o Pacto Ibérico (também designado por Aliança Peninsular) a Guerra Civil, embora não tivesse terminado, estava no fim e era evidente que o os chamados «nacionalistas» iam sair vencedores. Em Novembro do ano anterior tinham derrotado  os republicanos na terrível batalha do Ebro e atravessando o rio, haviam caído sobre a Catalunha, rompendo a frente republicana em diversos pontos.

 

Em Setembro de 1938, as Brigadas Internacionais haviam saído de Espanha, e as tropas 

 

do general Juan Modesto, debilitadas e com graves problemas de manutenção e abastecimento, opuseram uma fraca resistência à horda fascista. Intensificando-se os bombardeamentos sobre o porto, a ofensiva sobre a Catalunha chegou ao fim com as tropas de Franco a entrar em Barcelona. Em 21 de Fevereiro a orgulhosa capital do Condado assistiu a um humilhante desfile da vitória franquista.

 

Quando, no dia 17 de Março de 1939, Francisco Franco e António de Oliveira Salazar apuseram as suas assinaturas no documento, Madrid ainda resistia heroicamente, como último reduto. Mas no dia 28 do mesmo mês os nacionalistas entrariam na cidade, acabando praticamente com o conflito.

 

No dia 1 de Abril a guerra terminaria. Acima podemos ver a ordem de serviços de Francisco Franco, dando o conflito como encerrado.

  

 

 

Desde que em Julho de 1936 o exército de África, às ordens de Franco, invadira Espanha para derrubar o regime republicano, Salazar, que receava que um regime comunista se instalasse no estado vizinho optara, tão abertamente quanto possível, pelo apoio à “Cruzada” franquista. 

  

 

Embora nunca fosse oficialmente reconhecido, tropas portuguesas intervieram no conflito – eram os voluntários  dos Viriatos. Este nome foi dado ao grupo de voluntários portugueses do tércio da Legião Portuguesa que participaram na Guerra Civil de Espanha (1936-1939). O Major Jorge Botelho Moniz, um dos militares da revolução de 28 de Maio - criador, em 1930, do Rádio Clube Português e amigo pessoal de Salazar -  organizou um corpo de milícias portuguesas, os "Viriatos", para intervir ao lado dos franquistas. Salazar não aprovou formalmente, mas deixou a ideia concretizar-se.  Segundo números nunca oficializados esses voluntários ascenderam a 20 mil homens. Destacaram-se alguns  pilotos aviadores portugueses que integraram as forças nacionalistas espanholas, como por exemplo José  Adriano  Pequito Rebelo, José Caetano R. Sepúlveda Veloso e Simão Aranha. Também por Viriatos ficaram conhecidos os elementos de uma missão militar de observação portuguesa em Espanha, enviada pelo governo de Lisboa durante a Guerra Civil, dividida numa secção de Assistência e numa de Observação. Nesta missão, foram enviados pilotos como Flores de Barros, Morais Calda, Luís Filipe Craveiro Lopes de Sousa, Francisco Levi Vieira Cardoso Dias e Faro e António Henriques da Cunha. Na foto acima, vemos a partida de "Viriatos" para Espanha.

 

Outras ajudas foram prestadas – a entrada de armamento pelos portos portugueses, a cedência da antena do  Rádio Clube Português aos rebeldes fascistas, que emitiam diariamente para Espanha. Um pormenor que relaciono com o RCP, pois terá sido Botelho Moniz a emitir a ordem – os benfiquistas eram comummente designados, na imprensa e na rádio, por “vermelhos”.  O major terá proibido essa designação, substituindo-a pela de “encarnados”, pois vermelhos (rojos) era o que a propaganda chamava aos republicanos. Lamentavelmente, os actuais dirigentes do clube não recuperaram a primitiva e legítima designação e até mesmo na Benfica TV se usa a ridícula e pífia designação de “encarnados”.

 

Em que consistia o Pacto Ibérico?

 

Os dois países reconheciam mutuamente as respectivas fronteiras, estabeleciam relações de amizade e comprometiam-se a efectuar consultas diversas entre si, com vista a uma acção concertada no conflito global que já se adivinhava e que eclodiria dentro de meses. A Grã-Bretanha, a potência tutelar de Portugal, pôs a sua diplomacia ao serviço desta aproximação entre os dois regimes ditatoriais – preocupada com o expansionismo germânico e italiano, preocupavam o governo britânico que interpretou o Pacto como uma derivação positiva. Os governos das democracias ocidentais tiveram um comportamento estranho e lamentável – a democracia sempre foi sacrificada a interesses pontuais. As democracias e a própria União Soviética – basta lembrar outro pacto – o germano-soviético, assinado em 23 de Agosto de 1939.

 

O clausulado da aliança peninsular de 1939 foi objectivado em protocolo adicional, datado de 29 de Julho de 1940, instituindo a obrigatoriedade de consultas mútuas entre os dois Estados signatários. Portugal, apesar da germanofilia de muitos dos dirigentes salazaristas, manteve uma posição de não-beligerância ao longo da Segunda Guerra Mundial.  O mesmo fez Espanha, embora a gratidão de Franco para com Hitler tivesse sido expressa no envio da Divisão Azul - a 250. Einheit spanischer Freiwilliger da Wehrmacht. A Divisão Azul foi uma unidade de voluntários espanhóis que serviu a partir de 1941 (e oficialmente até 1943) no lado alemão durante a Segunda Guerra Mundial, principalmente na frente oriental contra a União Soviética. Composta por cerca de 46 mil homens, sofreu baixas importantes – cinco mil mortos e oito mil feridos.

 

Alguns portugueses (Viriatos) foram integrados na Divisão Azul.

 

 

publicado por Carlos Loures às 12:00
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1 comentário:
De Luis Moreira a 17 de Março de 2011
Serviço público sobre um período ainda tão mal conhecido por tanta gente.

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