Segunda-feira, 7 de Março de 2011

Pinga – um grande jogador e um grande exemplo – por Carlos Loures

 

 

 

Muitos dos mais famosos jogadores de futebol são jovens oriundos de famílias modestas. Frequentemente, a fama sobe-lhes à cabeça, o assédio dos jornalistas, a intensa exposição mediática a que eles e a família ficam expostos, é algo com que não conseguem lidar pacificamente. Nesse aspecto, aquele que foi este ano considerado o melhor jogador do mundo, Messi - sendo um grande jogador, não se deixa ofuscar pelo brilho da própria imagem.

 

E, naturalmente, lembro grandes jogadores portugueses como Pepe, Pinga, Peyroteo, Matateu, Eusébio… Todos eles modestos, pessoas simples. Todos eles geniais jogadores.

 

 

Dir-se-á – eram outros tempos. É verdade. De Pepe e de Pinga nem sequer existem registos filmados (disponíveis, pelo menos) que nos permitam avaliar o virtuosismo que se diz eles terem exibido. Mas

eram ídolos, e nesses anos trinta o futebol era já um desporto de massas. Num país onde se dizia nada acontecer, o campeonato de futebol, a Volta a Portugal, com o Nicolau e o Trindade digladiando-se,

eram acontecimentos importantes.

 

Artur de Sousa Pinga, de quem vou hoje falar, era madeirense. Nasceu no Funchal em 30 de Setembro

 de 1909, tendo falecido no Porto em 12 de Julho de 1963. Celebrou-se, portanto, recentemente o seu centenário. Não nasci a tempo de o ver jogar, mas lembro-me dos elogios que meu pai, benfiquista ferrenho, lhe fazia. Cândido de Oliveira, um grande democrata e uma das grandes figuras do futebol nacional, considerou-o, em artigo publicado em Abril de 1945 no jornal «A Bola» «talvez o maior talento

 do nosso futebol, um jogador fulgurantíssimo, verdadeiramente genial».

 

Estreara-se no Marítimo, vindo para o Futebol Clube do Porto na época de 1930/31. Jogava a interior esquerdo e, possuía uma característica que, nos nossos dias é ainda mais valorizada do que o era então – a polivalência – atacava e defendia, dominava a bola com mestria, fintava e, esquerdino, disparava remates de uma força e de uma pontaria letais. O chamado jogador completo.

 

Na «Stadium», na época de 31/32, após uma robusta vitória por 3-0 contra o Benfica, elogiava-se a sua capacidade de drible, o rigor do passe e da intercepção. Salientava-se a sua correcção, nunca cometendo violência sobre o adversário. Aliava, dizia-se nesse artigo, «a mestria técnica, à maneira mais elegante de jogar».

 

Nos dezasseis anos em que jogou, Pinga foi o indiscutível «patrão» da equipa. Quando no Natal de 1933, o Porto venceu a selecção de Budapeste por 7-4 e, oito dias depois, ganhou ao First de Viena por 3-0, a Europa do futebol não poupou elogios à equipa portista, onde Pinga brilhava como um diamante. Com Valdemar Mota e com Acácio Mesquita, Pinga, o maestro, fez tal exibição, que o trio ficou conhecido como os «três diabos do meio-dia» (meio-dia porque o jogo se realizou a essa hora).

 

Foi campeão de Portugal, sempre pelo FCP, nos anos de 1934/35, 1938/39 e 1939/40. Na época de 1935/36, foi o melhor marcador do campeonato. Em 1937 ganhava 1500 escudos mensais – um ordenado considerado fabuloso para a época – mas que nada, quando comparado com os milhões que hoje os ídolos recebem.

 

Em Julho de 1946, no Estádio do Lima, realizou-se a sua festa de despedida. Grandes jogadores do Benfica, do Sporting, do Belenenses – Azevedo, Cardoso e Feliciano; Amaro, Francisco Ferreira e Serafim; Espírito Santo, Alberto Gomes, Peyroteo, José Pedro e João Cruz, associaram-se à homenagem, constituindo uma selecção dos «melhores de Portugal» que defrontou o Porto. A emoção foi enorme,  entre o público, entre os colegas de equipa, entre os adversários. Um grande jogador e um cavalheiro. Um exemplo para os craques de hoje.

 

 

 

 

 

Fotografia da equipa do FCP, campeã em 1939/40. Pinga está ao centro, com o joelho ligado devido a uma operação ao menisco.

 

 

publicado por Carlos Loures às 22:00
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8 comentários:
De Luis Moreira a 7 de Março de 2011
Aida hoje quando o FCP vem jogar a Belem deposita um grande ramo de flores na pequena estátua do jogador que existe à entrada do estádio...
De Carlos Loures a 8 de Março de 2011
Estás a confundir com o Pepe. Dele falarei também.
De Luis Moreira a 8 de Março de 2011
Pois estou, bem me parecia que o Pepe não jogou no FCP.
De cecilia a 8 de Março de 2011
Olá Carlos Loures? Lembra-se de mim? Cecília Barreira
De Carlos Loures a 8 de Março de 2011
Claro que me lembro, Cecília Barreira - como tem passado? Não quer colaborar connosco? - uma rubrica sobre História, conduzida por uma Professora, por uma Historiadora como a Cecília, enriqueceria muito o nosso blogue.

Dê-me notícias suas para

estrolabio(at)gmail.com

Receba um grande abraço.
De cecilia a 9 de Março de 2011
Carlos: o problema é o tempo. A vida de professor é aulas e aulas e reuniões e reuniões que não acabam nunca. Tou muito no face book pq tenho um portátil. E já tenho acesso à vossa página. Prefiro ir comentando por aqui e por acolá. Eu de futebol não percebo nada. Só sei que o Sporting está uma desgraça...
Bj
Cecília barreira
De Carlos Loures a 9 de Março de 2011
Não estava a convidá-la a falar de futebol; seria um desperdício usar o seu saber nessa matéria. Quanto às redes sociais - jamais! jamais! - não frequento. O notável livro que publicou na Colibri e no Círculo (sobre a vida das mulheres no princípio do século XX), tendo o seu acordo e o do Fernando - daria uma excelente série para o Estrolabio. E não teria trabalho, pois está feito. Quanto ao Sporting, se é sportinguista, acredite que as coisas vão melhorar. Vermelho que sou, não desejo mal aos vizinhos. Um beijinho, Cecília Barreira.
De Anónimo a 9 de Março de 2011
Carlos, obrigada pelos desejos de melhorias ao meu sporting. quanto ao resto vou falar com o Fernando Mão de Ferro.

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