Por Carlos Mesquita
A pressão mediática de demonização do regime líbio é poderosa mas tem influência limitada sobre Kadhafi, nem será essa a intenção, pois o ocidente sabe que ele viveu muitos anos como pária. A campanha destina-se a alinhavar a tentação da invasão militar.
No artigo aqui publicado de Miguel Urbano Rodrigues, ele dizia ser militarmente desnecessária uma intervenção militar da NATO porque o regime líbio aparentemente agoniza, o busílis é o aparentemente. Pelas notícias trabalhadas que bombardeiam o ocidente aparenta isso um dia, para a realidade parecer no dia seguinte o inverso como é próprio das guerras civis. Vender a pele antes de matar o urso é uma tentação, como a da intervenção militar externa.
Ao contrário do sucedido na Tunísia e no Egipto onde revoltas populares derrubaram os símbolos do poder (por enquanto só isso), na Líbia não bastou a revolta nem as deserções com armas e o armamento de civis, para afastar as figuras do regime, não resultou. As forças revoltosas não têm capacidade militar operacional para derrotar Kadhafi de imediato, a anunciada ofensiva sobre Tripoli parou para pensar pois há um poder bélico intacto e poderoso a opor-se-lhes, e que ainda não actuou em força.
A intervenção militar estrangeira na Líbia é uma opção em estudo no Pentágono e na NATO, e se não podem invadir já o país como gostariam, devido às repercussões no mundo árabe e não só, podem rearmar e treinar os rebeldes com o apoio dos conselheiros militares habituais. Mas há quem queira iniciar a intervenção militar com a imposição de uma zona de exclusão aérea.
A guerra civil está num impasse, se era incerto um período pós-Kadhafi devido às tensões entre os grupos rivais da oposição, é certo, que não é para já o fim do regime na totalidade do território.
O leste líbio, cujas contradições étnico politicas, propicia um espaço de actuação dos serviços secretos ocidentais, e a instalação da Al-Qaeda, está a servir para desestabilizar o oeste líbio sob o domínio governamental.
Hordas de civis armados sem qualquer enquadramento ou experiência militar são lançados a partir de Benghasi. Têm sido úteis à oposição para manter a guerra civil num grau de relativa baixa intensidade. O poder militar governamental, sob uma campanha mediática internacional de estar a matar o povo, tudo fará para poupar os civis voluntariosos que foram convencidos de que derrubar Kadhafi era fácil e rápido.
Notícias de conquistas e reconquistas de posições e cidades, falsas ou verdadeiras vão ser o dia a dia enquanto o tempo passa e o impasse perdura – falta saber a que parte convém essa indefinição.
Pode ser que Kadhafi tenha meios para intensificar a guerra, projectando-a com a força aérea ao longo da estrada que vai até Benghasi e liga toda a zona costeira de maior interesse estratégico. Mas para além das tácticas militares, devido à cobertura mediática no terreno, a estratégia política mandará ter contenção. Uma situação sem solução a curto/médio prazo pode abrir condições para negociações, o que ainda é cedo para começar a desenhar-se.
Para as forças rebeldes, a instabilidade política de Kadhafi, isolado internacionalmente, sob a ameaça de uma intervenção estrangeira, devia ser tempo de se organizarem, armarem, e quando preparados ir à conquista da Tripolitânia, mas partem quase do zero. Nestas condições, uma ofensiva contra as tropas governamentais, o mais certo é ser um desastre.
Uns e outros, no breve prazo apenas procuram consolidar posições a oeste e a este da Líbia, numa divisão que para ser alterada causará um número enorme de vitimas.
Por outro lado, armar os grupos opositores a Kadhafi é tarefa fácil mas com resultados arriscados, a exemplo do Afeganistão. As armas ficam longe de qualquer controle, entregues a conjuntos com interesses distintos, incluindo forças islâmicas para quem o ocidente é o maior inimigo, como a Al-Qaeda.
Para a comunidade internacional, (leia-se; aquela que quer o derrube de Kadhafi a qualquer custo) a situação não é mais favorável. Sabem que as sanções no curto prazo são pouco mais que inúteis, que as ameaças não demovem o regime, e que não dispõem de um mandato legal da ONU para intervirem directamente no conflito. Após a guerra do Golfo isso não obstou a que Blair e Busch com o apoio francês tenham imposto duas zonas de exclusão aérea no Iraque.
Dos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, a Rússia já disse não a qualquer intervenção militar ou criação de zonas de exclusão aérea, que é a mesma coisa. Dos membros da NATO, a Turquia fez o mesmo.
Enquanto Obama mandou preparar “todo o leque de opções” o ministro francês da Defesa Alain Juppé e o britânico dos Negócios Estrangeiros William Hague (o tal que “viu” Kadhafi a caminho da Venezuela) defendem a intervenção militar. São a mesma coligação que sem aprovação da ONU impôs as zonas de exclusão aérea no Iraque, antes da invasão em 2003.
Será que a história se vai repetir?
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