
coordenação Pedro Godinho
«O homem põe tanto do seu carácter e da sua individualidade nas invenções da cozinha, como nas da arte.»
Eça de Queiroz
Um povo, a sua cultura, é também o que cozinha e come, e como o faz.
Depois do caldo, trazemo-vos a simplicidade do Polvo à feira (também chamado de polvo à galega por quem não é da terra); da feira porque sempre presente em feiras e romarias da Galiza.
POLVO À FEIRA (ou À GALEGA)
ingredientes
1 polvo grande
3 dentes de alho
Azeite a gosto
1 colher de sopa de pimentão doce
Sal
1 cálice de aguardente
preparação
Lavar bem o polvo e dar-lhe uns bons golpes. Escaldar o polvo três vezes em água a ferver e,depois, cozê-lo numa panela coberta durante cerca de 1 hora (ou 30 minutos numa panela de pressão) até estar tenro. Deitar a aguardente e esperar uns minutos. Tirar o polvo da panela, cortá-lo em pedaços e envolvê-lo numa mistura de azeite, pimentão, alhos picados e sal. Deixar repousar e servir, quente ou frio, com pão ou batatas cozidas na água do polvo.

De Manuel a 4 de Março de 2011
Che fome me dás!
De Castro a 7 de Março de 2011
Como não...
Esse falso peixe há de comê-lo.
Para o Castro, que fico sem saber se quer comer o cefalópode por gostar do petisco ou para fazer desaparecer o "falso peixe", um naco de prosa, sal e pimenta q.b., do padre António Vieira sobre o "traidor do mar":
« Mas já que estamos nas covas do mar, antes que saiamos delas, temos lá o irmão polvo, contra o qual têm as suas queixas, e grandes, não menos que S. Basílio e Santo Ambrósio. O polvo com aquele capelo na cabeça, parece um monge; com aqueles raios estendidos, parece uma estrela; com aquele não ter osso nem espinha, parece a mesma brandura, a mesma mansidão. E debaixo desta aparência tão modesta, ou desta hipocrisia tão santa, testemunham constantemente os dois grandes Doutores da Igreja latina e grega, que o dito polvo é o maior traidor do mar. Consiste esta traição do polvo primeiramente em se vestir ou pintar das mesmas cores de todas aquelas cores a que está pegado. As cores, que no camaleão são gala, no polvo são malícia; as figuras, que em Proteu são fábula, no polvo são verdade e artifício. Se está nos limos, faz-se verde; se está na areia, faz-se branco; se está no lodo, faz-se pardo; e se está em alguma pedra, como mais ordinariamente costuma estar, faz-se da cor da mesma pedra. E daqui que sucede? Sucede que o outro peixe, inocente da traição, vai passando desacautelado, e o salteador, que está de emboscada dentro do seu próprio engano, lança-lhe os braços de repente, e fá-lo prisioneiro. Fizera mais Judas? Não fizera mais; porque nem fez tanto. Judas abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o polvo é o que abraça e mais o que prende. Judas com os braços fez o sinal, e o polvo dos próprios braços faz as cordas. Judas é verdade que foi traidor, mas com lanternas diante; traçou a traição às escuras, mas executou-a muito às claras. O polvo, escurecendo-se a si, tira a vista aos outros, e a primeira traição e roubo que faz é à luz, para que não distinga as cores. Vê, peixe aleivoso e vil, qual é a tua maldade, pois Judas em tua comparação já é menos traidor! »
À lagareiro, em Matozinhos, é um pitéu de se lhe tirar o chapéu e, depois desta leitura passo-o a comer sem hesitar. afinal tem o mesmo fim que dá aos outros mais pequenos...
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