Enviado por Júlio Marques Mota
Nota
Assistimos a uma espécie de limpeza quanto ás responsabilidades a assumir perante à terrível situação das gerações actuais em situação de precariedade , colocando agora, inclusive, nas costas de cada jovem a responsabilidade de não encontrar emprego, limpeza esta levada a cabo pelos media, pelas instâncias universitárias, como o Director da Faculdade de Economia da Universidade Nova, por exemplo, ou pelos jornalistas que apelidam a juventude de geração parva. Muito haveria a dizer sobre o tema. Como primeiro de uma série de textos que colocaremos aos olhos atentes dos leitores de Estrolábio, aqui mostrámos como é que a imprensa francesa, neste caso o Le Monde, trata o mesmo tema.
Denunciámos com testemunhos de alunos à procura de emprego a selva em que o mercado de trabalho se transformou, com o silêncio de muita gente e a responsabilidade de muita mais. O neoliberalismo está de facto para durar e as nossas elites mostram que não sabem pensar para além desse mesmo modelo e, se assim é, a juventude face à crise actual terá a obrigação de perguntar quem é que afinal está a ser parvo..
Júlio Mota
Em França, a precariedade é um mal endémico na função pública. Os dois precedentes planos de regularização - o de 1996 e depois o plano de 2000 - que tinham permitido integrar entre 60.000 e 100.000, acabaram, finalmente por não ter mudado nada .
Em 2008, estes são 873 000 postos da administração do Estado, hospitais e as autarquias que eram ocupados por pessoas com contratos precários, ou seja, um pouco mais de 16,5% dos efectivos na função pública, num total de 5.200.000 agentes. Há dez anos, o seu número ascendia a 664.000. O fenómeno por conseguinte não deixou de ter estado sucessivamente a aumentar.
Questionado aquando de uma emissão televisiva em Janeiro de 2010, o presidente da República, Nicolas Sarkozy, tinha-se comprometido a apresentar propostas para tentar enfrentar esta situação.
Um ano depois, as negociações encetadas entre o ministro do orçamento, François Baroin, o secretário de Estado da pública, Georges Tron, e as organizações sindicais deveriam dar-se por concluídas entre o 23 de Fevereiro e o dia 7 de Março. O governo tenciona apresentar um projecto de lei na Primavera. De acordo com os sindicatos, para estes o seu objectivo é o de alargar as condições de acesso à integração dos pessoais não titulares e sobretudo, a montante, de limitar este tipo de contratos precários.
Mas, do lado dos empregadores públicos, o recurso aos contratos precários não é não somente uma solução de facilidade para “contornar” o estatuto da função pública ou de paliativo à escassez de candidatos sobre postos definidos. A fórmula é assim muito frequentemente utilizada para empregos específicos que não estão ocupados de acordo com a fileira clássica do recrutamento por concurso.
UMA VERDADEIRA “CALAMIDADE”
Os assistentes de educação, os professores e os investigadores substitutos fornecem assim o essencial dos não titulares da educação nacional. Para além dos membros dos gabinetes dos executivos locais, as autarquias locais empregam igualmente de modo maciço. São nomeadamente assistentes de apoio às situações de maternidade, pessoal de restauração, animadores desportivos e culturais.
O governo teria desejado instituir contratos de projectos para missões de duração definida, como nos sectores privados da cultura ou da informática. Mas defrontou-se com o veto dos sindicatos, que temem a generalização de uma prática que, de acordo com eles, faria apenas agravar “a calamidade” da precariedade.
A lei de 26 de Julho de 2005 criou, é certo, contratos de duração indeterminada (CDI), um estatuto atribuído aos agentes dos empregos qualificados de categoria A que acumularam seis anos de contrato de duração determinada (CDD). Mas, na ausência de dados precisos, esta fórmula, que o governo teria desejado estender aos empregos intermédios - de categoria B, ou mesmo de categoria C - continua a ser muito limitada. Referir-se-ia apenas de 20.000 a 30.000 agentes.
No preâmbulo à negociação com os sindicatos, o responsável pelo governo precisou que os postos permanentes deviam ser ocupados por funcionários recrutados como tais na sequência dos concursos. Mas também precisou logo de partida nas negociações os limites de um novo plano de integração. A discussão tem por conseguinte incidido sobre a abertura de exames específicos à titularização até em 2015 para os agentes em situação de CDI ou de CDD que estão nesta situação desde pelo menos há três ou cinco anos.
Para limitar o recurso aos contratos precários, os sindicatos desejam “ medidas vinculativas, ou mesmo sanções ", explica Jean-Marc Canon, secretário da União geral das federações de funcionários, afecto à CGT. Mais cuidadoso, o governo propõe-se “enquadrar” esta prática, nomeadamente, por querer definir mais precisamente as suas condições de utilização.
Por fim, as disposições sociais mais favoráveis seriam atribuídas aquando das rupturas de contrato. Ao contrário do sector privado, a função pública, que não contribui para o regime de seguro de desemprego não atribui com efeito nenhum prémio de indemnização no final do contrato.
Mesmo se reconhecem alguns progressos, os sindicatos continuam a terem muitas dúvidas. O governo recusa comprometer-se sobre um número mesmo que por aproximação, quanto às integrações e “regularizações”. O exercício seriam, e é verdade, evidentemente paradoxal depois do anúncio da supressão de mais de 100.000 empregos pela não substituição de um funcionário sobre dois que partem para a reforma.
Michel Delberghe, 873000 précaires dans la fonction publique, Le Monde, 22 d
e Fevereiro de 2011
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