O cinquentenário da morte do poeta e romancista suiço-francês, Blaise Cendrars, além do valor intríseco da sua obra literária, da importância de sua ação na história dos modernismos internacionais, do fascínio sempre provocado por ele no imaginário de diversos ambientes literários, nos permite igualmente de considerá-lo em relação ao Brasil e ao Modernismo brasileiro.
Frédéric Louis Sauser (em arte, Blaise Cendrars) nasceu em 1 de setembro de 1887 em La Chaux-de-Fonds (Neuchatel) e morreu em Paris aos 21 de janeiro de 1961. Pelas muitas viagens que realizou na sua vida mereceu o epíteto de “giramundo”, isso também porque essas viagens já tem início na sua infância, quando se encontra em Nápóles, aonde frequenta uma escola internacional. Em 1904 parte para a Rússia, mais justamente em São Pedroburgo, alí permanecendo até 1907. Durante esses três anos vive como aprendista da famosa empresa fabricante de relógios, M. Leuba, e tem oportunidade de assistir na cidade de Pedro, o Grandem o histórico “domingo vermelho” e a revolução russa de 1905.
Retorna à sua cidade natal em 1907 e se dedica a uma intensa preparação literária e cultural. No mês de abril de 1911 retorna em Rússia e dali parte para Nova Iorque para reencontrar sua futura mulher, Féla Poznanska.
A partir de 1912 passa a chamar-se Blaise Cendrars, e neste mesmo ano escreve o seu primeiro grande poema, Páscoa em Nova Iorque. Neste mesmo 1912 retorna a Paris onde conhece Apollinaire, Robert e Sônia Delaunay, frequentando com assiduidade Modigliani, que o retrata em 11 oportunidades. Dentro do espírito geral das vanguardas novecentistas, Cendrars dá grande importância a uma intensa interrelação das artes, o que igualmente condiz com a sua natural predisposição de auto-afirmação constante, que o caracterizará sempre. Daí a sua frequentação de poetas e artistas como Soutine, Chagall, Léger, Cocteau, Max Jacob, Arthur Cravan. Mantém principalmente estreita relação com Apollinaire, com o qual sonha vários projetos, jamais realizados, entre os quais aquele de uma revista de literatura e arte que já tinha um nome, Zones. Porém esses são momentos de grande criatividade para o poeta Cendrars. Em 1913 sai publicado em Paris o seu poema mais famoso, Prosa da Transiberiana, ilustrado por Sônia Delaunay e dito o “primeiro livro simultâneo”, segundo a linguagem da vanguarda expressionista.
Partecipa desde o início, como voluntário, na Guerra de 14-18, a mesma que leva Apollinaire à morte. Cendrars tem melhor sorte: depois da perda da mão direita no front, em setembro de 1915, reentra convalescente a Paris, alargando sempre os seus contactos, agora com o conhecimento de Picabia, Sattie e Braque. Neste mesmo período se naturaliza francês e aprende a escrever com a mão esquerda.
Depois da frustrada experiência cinematográfica de 1921, em Roma, se recupera com a sua descoberta do Brasil, que ele intensificará de tal maneira a fazê-la transformar-se na sua “Utopia”.
Intenso e frequente se faz o relacionamento de Cendrars com o Brasil e com os Modernistas brasileiros, principalmente a partir de sua amizade com Oswald de Andrade. Será este que propiciará as viagens de Cendrars a São Paulo. Apoiando-se no messianismo de Eduardo Prado e sua família, Oswald de Andrade conduz Cendrars a integrar-se na revolução do Movimento Modernista de 1922. Isto permite um intercâmbio de grande interesse para as duas partes: para Oswald e Tarsila do Amaral (que também retratou o poeta), uma mais intensa e profunda participação com os nomes da vanguarda internacional próximo a Cendrars, e a este o conhecimento de um movimento e de um país novo que virá enriquecer a sua estrutura poética. Depois de todos esses encontros, será possível reconhecer na obra de Cendrars um possível “modernista brasileiro”.
O poeta suiço-francês faz do Brasil e da sua literatura um sistema formativo que lhe permitirá principalmente de desenvolver uma nova escritura narrativa. Os romances de Cendrars a partir de então apresentam grandes afinidades com as invenções narrativas modernistas de um Oswald de Andrade, de Memórias Sentimentais de Joâo Miramar, e de um Mário de Andrade, em Macunaíma. Mas igualmente a poesia cendrariana se aproximará fortemente daquela do primeiro Modernismo, principalmente do primeiro Carlos Drummond de Andrade. Já no Congresso Internacional “Brésil: L’Utopiland de Blaise Cendrars”, realizado em agosto de 1997, em São Paulo, pela Universidade de São Paulo (USP), tais interrelações foram assinaladas tanto por estudiosos brasileiros, como por acadêmicos franceses, entre o quais podemos citar: Adalberto de Oliveira Sousa (Universidade Estadual de Maringá), “A poesia brasileira de Blaise Cendrars”; Jean Bessièrre (Université Paris III – Sorbonne Nouvelle): “Cendrars et le Brésil: lectures rétrospectives e prospectives de la réference brésilienne dans l’ouvre de Blaise Cendrars”; Jacqueline Bernard (Université Standhal):; “Brésil, Blaise, braise: une déclinaison créatrice”; Michel Autrand (Université Paris IV – Sorbonne): “Deux français en utopie:Claudel et Cendrars au Brésil”; Mirella Vieira Lima (Universidade da Bahia): “Do vasto mundo inteiro: Cendrars et Drummond”; Colette Astier (Université Paris X – Nanterre): “Le Brésil dans le Lotissement du ciel”.
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