Quarta-feira, 16 de Fevereiro de 2011

Neoliberalismo ou Democracia: O Debate Está Aberto - por Júlio Marques Mota -10

5. A União Europeia, essa, existe mesmo?

Moeda europeia, moeda virtual? Por Kostas Vergopoulos

LE MONDE | 05. 03. 10 | 13h15

A avidez força os capitalistas a reinvestir os seus lucros, a acumular capital, a criar empregos, a distribuir rendimentos. Ora, actualmente, fala-se demasiado de bónus, de paraísos fiscais, de pára-quedas dourados, de regulação: uma diversão, para não nos interrogarmos sobre a política económica dos Estados, que continua a estar centrada na recessão e na crise.

Existe no entanto algumas verdades acessíveis a todos, mesmo ao que são desprovidos de qualquer moral e de qualquer conhecimento económico. Primeiro, o salvamento dos bancos. Desde o Outono 2008, centenas de milhares de milhões foram levantados manter a rentabilidade dos sectores do dinheiro, do crédito e, necessariamente, da especulação, às custos da liquidez da economia, da produção, do emprego.

Os bancos restabeleceram as suas posições, mas os seus créditos à economia não deixaram de serem reduzidos para menos de 60%. A contracção da economia não foi reduzida, sim mas agravada: - 5 % na Alemanha, - 4% na zona euro, - 2,5% nos Estados Unidos, - 4,6% no Reino Unido. Durante o ano de 2008-2009, os défices públicos de 20 dos 27 países da União Europeia triplicaram, o que levou os Estados a serem acusados pelos bancos, no entanto os principais beneficiários desta operação.

Imoralidade, sem dúvida, mas sobretudo, que ineficiência! E que confusão: os anglo-saxónicos, as autoridades sabem bem que efectivamente os défices públicos não são a causa mas sim a consequência da recessão, enquanto os Europeus, de concerto com os conservadores americanos, os responsáveis continuam a estar convencidos do contrário: diabolizam os défices, continuando a estar dispostos para o mesmo gesto, se a necessidade se repetisse.

Seguidamente, o dinheiro posto à disposição dos bancos, sem o regresso do crédito, reforçou a liquidez especulativa e com a especulação não se hesita em voltar-se contra os seus próprios fornecedores. Atacam tudo e todos, incluindo a zona euro, sobretudo a partir do momento em que sabem que esta moeda é a única que se recusa em dotar-se de governança, de fundo de estabilização, de cláusula de salvaguarda. Aqui, o que dá o flanco à especulação não é a crise, mas sobretudo a sua gestão ineficiente e os defeitos de construção do euro desde o seu lançamento. Na Alemanha e nos Países Baixos, uma maioria das pessoas que foram sondadas deseja excluir da zona euro “os países porcos” (“os PIGS”, Portugal, Irlanda, Grécia, Espanha), mas desejam também que os seus próprios países deixam esta zona.

Mercados irresponsáveis

Por outras palavras, punir os países fracos da zona devido à sua fraqueza, isto não deixará de levar a retoma nestes países para as calendas gregas. Ao mesmo tempo, esta zona monetária é vista pelos seus membros poderosos, que se aproveitam dela, como um peso de que se devem aliviar. No entanto, 62,5% dos excedentes da Alemanha provêm desta zona, constituindo o contrário dos défices “dos países porcos ". Mais a Alemanha aperta os seus custos salariais e mais os seus excessos se produzem e se alargam às custas dos seus parceiros.

A política alemã, em vez de ser cooperativa com os seus parceiros, revela-se antagónica, o que mina a coesão da zona: os resultados dos países da zona já não convergem mais, pelo contrário, divergem em todos os sentidos. Os termos da troca melhoram para a Alemanha enquanto se degradam para os seus parceiros, o que implica transferências dos postos de emprego às expensas destes últimos. Estes parceiros, que se endividam para relançar as suas economias e limitar a sua degradação, são imediatamente expostos à crítica, ao ridículo, em nome do Pacto de Estabilidade e de Crescimento, que se revela ser com efeito o contrário do que diz o seu nome.

Os fracos sempre são punidos devido à sua fraqueza e isto não somente pelos mercados irresponsáveis, mas sobretudo pelas autoridades supostas muito responsáveis, que nada mais fazem do que seguir e amplificar os efeitos da irresponsabilidade dos mercados. Se a zona euro ainda existe, ela nada mais faz que não seja o complicar todos os esforços de ajustamento dos seus membros em dificuldade. Mais do que imoralidade, é também terem a vista bem curta, é a ineficiência, o desperdício

Por último, os bancos franco-alemães detêm 60% das dívidas “dos países porcos”. Nunca se viu os credores a empurrarem os seus devedores para os braços dos especuladores e ainda muito menos para a situação de incumprimento. Geralmente, os primeiros fazem tudo o que é possível para permitir aos segundos que lhes reembolsem as suas dívidas. Se estes se revelam irresponsáveis, aqueles deveriam preocupar-se duas vezes mais. Os credores protegem-se ajudando os devedores a reencontrar a prosperidade, em vez de os empurrarem para a degradação. Decididamente, a ineficiência choca mais do que a própria imoralidade. É isto que o Prémio Nobel Paul Krugman chama “hubris”. No entanto, o euro merece ainda a aterragem e é ainda tempo para a fazer.

Kostas Vergopoulos, Monnaie européenne, monnaie virtuelle? Le Monde, 5 de Março de 2010.

Kostas Vergopoulos é o professor de Economia na Universidade Paris-VIII.

6. É urgente, é tempo de solidariedades, de acção, de mudança

Instaurer un mécanisme de stabilité financière est indispensable, par Pervenche Berès et Poul Nyrup Rasmussen

LE MONDE | 05. 03. 10 | 13h15

Criar um mecanismo de estabilidade financeira é indispensável

O debate em redor da dívida grega deve marcar uma etapa crítica nos anais da governança económica europeia. Ao ritmo em que vão as coisas, poderia tratar-se de uma ocasião falhada: em vez considerar que a necessidade faz lei para se exercer a solidariedade europeia e criar por último uma forma de governo económico, o Conselho e a Comissão encurralam o governo e o povo gregos contra a parede. Certos ideias sobre o laxismo grego oposto ao rigor alemão deixarão vestígios…

As hesitações em torno da criação de uma forma de empréstimo europeu fez já aparecer para alguns o Fundo Monetário Internacional (FMI) como prestamista de última instância, abalando assim os próprios fundamentos da União Económica e Monetária (UEM).

E quando nos viramos para a União Europeia, é o Banco Central Europeu (BCE) que parece impor-se como a instituição credível. Hoje, se o conjunto dos governos não assume as suas responsabilidades, o desequilíbrio que constatamos entre o pilar económico e o pilar monetário da UEM poderia ainda ser agravado para vantagem e proveito da união monetária.

A questão grega é europeia uma vez que esta marca o insucesso do Pacto de Estabilidade e Crescimento como instrumento de governança da zona euro. Com este pacto deixou-se que as divergências de produtividade crescessem entre os Estados-Membros, não se permitiu assim à zona euro que atingisse o seu crescimento potencial, não protegeu as economias que o aplicaram à letra (a Espanha), em nada evitou a situação grega e permitiu evitar um debate sobre as estratégias não cooperativas de certos membros da zona euro. A sua versão revista em 2005 devia reforçar o seu carácter preventivo e colocar a tónica sobre o critério da dívida…

A questão da sustentabilidade das finanças públicas é essencial e os Gregos devem pôr ordem neste domínio, demonstrar devem mostrar a sua responsabilidade. Mas o se passa hoje na Grécia é um verdadeiro ataque especulativo que diz respeito a toda a Europa. Assistimos à terceira fase do grande krach: depois do desencadeamento de uma crise de liquidez a 9 de Agosto de 2007, da queda de Lehman Brothers e de uma crise de solvabilidade do sistema bancário a 15 de Setembro de 2008, o 5 de Fevereiro marca o aparecimento de uma crise de solvabilidade de Estado. E é porque nem sempre colocámos os mercados financeiros no seu lugar que os especuladores podem hoje atacar a Grécia.

Para os dirigentes europeus que não deixaram de clamar o seu voluntarismo em moralizar os mercados, é chegado o momento de agir.

Os ministros das finanças da zona euro não podem forçar a Grécia sem estar a ajudarem. E o que foi para os Estados fora da zona deve ser possível para os países no seu seio. A ideia de que um país da zona euro não possa beneficiar do mesmo tipo de ajuda assenta sobre a ideia que um Estado que pertence à zona euro não tem mais necessidade de ser protegido da pressão dos mercados sobre a sua balança dos pagamentos. Mas o ataque do qual a Grécia está a ser vítima através da intervenção das agências de notação de crédito e dos mercados restabelece esta exposição especulativa.

Propomos, com base no artigo 122 do tratado de Lisboa, a criação de um mecanismo de estabilidade financeira gerido pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) afim de poder ajudar os Estados-Membros da zona vítimas de ataques especulativos. Esta seria a primeira etapa para a construção de um mercado europeu da dívida soberana que permitiria à zona euro ser um espaço tão atractivo para os capitais estrangeiros à procura de investimentos como o mercado americano.

Seguidamente, não pode ser exigido ao povo grego que faça esforços consideráveis, ao mesmo tempo que Goldman Sachs continua a vender tranquilamente CDS (crédito default swaps) na Europa, onde nenhuma transparência existe dado que se trata de actores unicamente sob a autoridade dos Estados Unidos.

A situação actual exige acções imediatas: a proibição das vendas a descoberto, em especial dos CDS, e a possibilidade para a futura autoridade europeia de supervisão dos mercados financeiros de tomar este tipo de decisão. Esta proibição deve acompanhar-se da abertura de um inquérito sobre os conflitos de interesse do banco de investimento Goldman Sachs. Na qualidade de autoridade da concorrência, a Comissão tem na mão os poderes para agir. Até hoje, só a Reserva Federal americana (FED) anunciou no Congresso americano querer estudar esta questão.

A França é culpada do estado das suas finanças públicas, largamente ligado à presentes fiscais feitos de maneira inconsiderada pelo actual governo.

A coligação no poder na Alemanha é culpada de pensar que poderia prosperar sozinha com uma estratégia de exportação enquanto que os seus parceiros estariam doentes. A União Económica e Monetária não sobreviverá a tais egoísmos.

Pervenche Berès é Presidente da Comissão do Emprego e das Questões Sociais do Parlamento Europeu;

Poul Nyrup Rasmussen é Presidente do Partido Socialista europeu, ex-

primeiro ministro da Dinamarca (1993-2001).

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por Luis Moreira às 21:40
link | favorito

.Páginas

Página inicial
Editorial

.Carta aberta de Júlio Marques Mota aos líderes parlamentares

Carta aberta

.Dia de Lisboa - 24 horas inteiramente dedicadas à cidade de Lisboa

Dia de Lisboa

.Contacte-nos

estrolabio(at)gmail.com

.últ. comentários

Transcrevi este artigo n'A Viagem dos Argonautas, ...
Sou natural duma aldeia muito perto de sta Maria d...
tudo treta...nem cristovao,nem europeu nenhum desc...
Boa tarde Marcos CruzQuantos números foram editado...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Conheci hackers profissionais além da imaginação h...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Esses grupos de CYBER GURUS ajudaram minha família...
Eles são um conjunto sofisticado e irrestrito de h...
Esse grupo de gurus cibernéticos ajudou minha famí...

.Livros


sugestão: revista arqa #84/85

.arquivos

. Setembro 2011

. Agosto 2011

. Julho 2011

. Junho 2011

. Maio 2011

. Abril 2011

. Março 2011

. Fevereiro 2011

. Janeiro 2011

. Dezembro 2010

. Novembro 2010

. Outubro 2010

. Setembro 2010

. Agosto 2010

. Julho 2010

. Junho 2010

. Maio 2010

.links