(Continuação)
Michel Delobel, 7 Março de 2010 7
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IIGS: Prétexte ou réel danger pour les marchés ?
PIIGS: pretexto ou perigo real para os mercados ?
Há algumas semanas, aquando da contracção dos mercados logo a seguir ao discurso de Obama, evocámos a hipótese de um meio de pressão contra o governo americano pela parte dos bancos de negócios, opostos às medidas tomadas.
Seguiu-se uma nova vaga de desconfiança nos mercados com a questão da dívida da Grécia, rapidamente alargada ao que se chamou os PIIGS, Portugal, a Irlanda, a Itália, a Grécia e a Espanha.
A dívida dos estados europeus no centro da actualidade
Para além da significado pelo menos duvidoso desta denominação que é e pode ser muito reveladora do objectivo procurado (Pigs = Porcos), gostaria de me apoiar sobre o artigo de Gilles Caye de 11 de Fevereiro passado, e nomeadamente sobre a sua chamada de atenção muito importante para os princípios fundadores da zona euro e do pacto de estabilidade, nomeadamente um défice orçamental inferior à 3% do PIB anual, e uma dívida limitada à 60% deste mesmo PIB.
Se estes critérios voarem claramente em estilhaços com a crise, é nomeadamente sobre a dívida recorde da Grécia, que atinge actualmente 125% do PIB para um défice orçamental de aproximadamente 13% do PIB que se focalizaram, de repente, o mercado! Números que levaram certos analistas a anunciar que a Grécia estava à beira da falência.
Para além de números certamente inquietantes, e de uma situação que não poderá durar eternamente assim e que necessitará de medidas draconianas, estamos no direito de nos interrogar-mos porque é que estas apreensões chegam agora à mesa, e qual pode ser, de resto, o seu impacto real a prazo sobre e nos mercados financeiros.
E porquê um efeito nos mercados agora mesmo, enquanto a alerta já deu a 9 de Dezembro passado, alguns dias apenas depois do episódio Dubaï, com uma degradação da nota da Grécia pela agência de notação Fitch, seguida alguns dias depois por Standard and Poors e seguidamente Moody's, o que não impediu os mercados de fecharem o ano com uma força avassaladora.
A dívida exagerada da Grécia não terá, com efeito, ter sido criada de modo repentino, não atingiu estas proporções de forma imediata. Assim, em 2007, esta atingia já 97% do PIB, e ninguém na época parecia realmente incomodar-se com este nível.
Mas como se isto não fosse suficiente, e não tivesse feito baixar significativamente os mercados, eis que os analistas se puseram a evocar o caso dos famosos PIIGS, os maus alunos da zona euro. Se a Irlanda e a Itália também estão eles numa situação tão claramente delicada de um ponto da vista dívida (mas também já não é novo), o caso da Espanha é ligeiramente mais suspeito.
A dívida da Espanha é certo que quase duplicou desde 2007, mas deveria atingir apenas cerca de 66% do PIB no fim do ano, ou seja um nível muito inferior à média europeia, e muito distante do nível da dívida Grega em 2007 por exemplo, que não na altura não pareceu levantar problemas a ninguém.
Em 2008 de resto, a dívida da França, julgada por muitos como mais séria e mais segura que a Espanha, atingia já quase 70% do PIB, e deveria atingir quase 80% do PIB fim 2009, enquanto a da Alemanha é apenas ligeiramente inferior.
Esta “crise da dívida”, que fez mergulhar o euro e os mercados europeus de acções tem, por conseguinte, faz-nos levantar algumas interrogações.
Não seria muito simplesmente um osso duro de roer que encontraram os investidores para provocar uma pausa sã na evolução dos mercados e para permitir ao dólar reencontrar algumas cores face ao euro? Pode-se naturalmente considerar que uma dívida demasiado forte é um problema a prazo para a economia europeia, com uma pressão fiscal suplementar sobre os particulares e sobre as empresas que terminará por pesar sobre os lucros, justificando por conseguinte um certo recesso no euro e nos mercados acções, mas é também necessário notar que estes retrocessos aparecem loque mal se fale deles. Permite com efeito aos mercados de acções de acalmarem depois do forte salto registado desde Março de 2009, enquanto o euro tinha efectivamente necessidade de reencontrar alguns argumentos à baixa, face ao dólar.
Mas uma vez mais, este problema não é novo para os profissionais do mercado, e podemo-nos interrogar em que medida este problema não está, pelo menos em parte já integrado pelos mercados enquanto o impacte global nos resultados das empresas poderia não ser tão importante como isso, tanto quanto o problema continua a ser relativamente limitado a alguns países como a Grécia. O risco principal reside certamente num fenómeno de propagação ao conjunto dos outros países.
Resumidamente, se a dívida de muitos dos países europeus (mas não de um só, muito longe disso) é um problema que não se pode tomar de forma ligeira e afastá-lo com a palma da mão, é forçoso constatar que este existe no timing e a forma como as coisas foram apresentadas com elementos preocupantes, e que poderia muito bem tratar-se somente de pretextos para provocar algumas eliminações nos mercados, estes riscos não sendo também novos e sem dúvida globalmente já integrado nas cotações.
E não evocarei voluntariamente o processo Goldman Sachs, suspeito de ter ajudar a Grécia a embelezar as suas contas e de ter especulado em seguida sobre a sua ruína financeira.
Quanto ao impacto no euro, poder-se-á relativizá-lo igualmente olhando para o lado da dívida dos Estados Unidos, que se têm mostrado bem discretos estes últimos tempos. Um endividamento que atinge “apenas” cerca de 65% do PIB (para um défice público da ordem de 11%), o que é, mesmo assim, um nível equivalente ao da Espanha, tão criticado nestes últimos tempos, e sobretudo em valor absoluto dos montantes que não têm nada a ver com os da Grécia ou da Espanha. Há que moderar por conseguinte o recente recuo do euro.
Mas, de facto, porquê centrarmo-nos sobre a dívida dos estados em relação ao PIB? É realmente sensato não será um pouco redutor?
Que importância atribuir ao rácio dívida/ PIB?
Longe de nós a ideia de querer minimizar este rácio, considerado pelo Pacto de Estabilidade europeu como um dos critérios principais “de convergência” entre os Estados.
Mas que significa comparar a dívida de um Estado em relação ao PIB anual? A dívida de Estado representa o que deve o Estado. Quanto ao PIB, corresponde ao rendimento gerado pelo país.
Poder-se-iam fazer algumas breves comparações com o empréstimo imobiliário de qualquer pessoa que o deve reembolsar ao seu banqueiro, e os rendimentos anuais dessa mesma pessoa.
Ainda que esta comparação tenha os seus limites, sabendo que o PIB não corresponde aos rendimentos do Estado, mas aos rendimentos do país, sublinhar-se-á que não é porque os rendimentos anuais de alguém sejam inferiores ao montante da sua dívida que este alguém deve ser declarado em situação de falência.
O mais importante é sim o custo do endividamento que esse sim poderá então ser colocado em relação com os rendimentos.
É do mesmo modo com a dívida dos Estados, para os quais parece-me bem mais interessante centrarmo-nos sobre o peso desta dívida relativamente às receitas.
É o que se propõe abaixo:
Se é claro que a Grécia está particularmente mal colocada (e justifica sem dúvida que seja bem referenciada), notara-se que a Índia ou o Brasil não estão melhor colocados, ainda que o seu crescimento não seja obviamente o mesmo que o da Grécia e permita, por conseguinte, relativizar o peso das suas dívidas respectivas.
Quanto ao custo para a França, é necessário vir bem mais abaixa no quadro, em volta dos 6%, enquanto para a Espanha, é-se mal mais perto dos 3%…
Porquê então, terem-na integrado nos famosos PIIGS se não é para tentar trazer um pouco mais de importância ao dossier que não tivesse feito talvez levado os mercados tão profundamente? Notar-se-á e em todo caso que o ataque pasmódico da recente baixa dos mercados europeus de acções interveio precisamente na mesma altura que o mercado espanhol se afundava, a 4 e 5 de Fevereiro…
Terminarei por último com uma última consideração, a saber, quem é que é são os detentores da dívida destes famosos estados em dificuldades. É um parâmetro que é certamente bem mais difícil de saber que os outros.
Mas não penso também que se possa comparar um país cuja dívida é detida essencialmente pelos seus cidadãos ou países aliados, e um país cuja dívida é detida maioritariamente por actores estrangeiros.
Com efeito, neste segundo caso, os riscos de cessão dos títulos de dívida, e da moeda que lhes está associada, são bem mais importantes no caso de uma situação de desconfiança para com as capacidades do Estado de fazer face à sua dívida.
(Continua)
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