Sexta-feira, 4 de Fevereiro de 2011

Angola – 4 de Fevereiro de 1961 - por José Brandão

Na madrugada de 4 de Fevereiro, alguns grupos de angolanos sob a orientação de Neves Bendinha, Paiva Domingos da Silva, Domingos Manuel Mateus e Imperial Santana, dispondo de cerca de 200 homens empunhando catanas efectuam várias acções na cidade de Luanda. Um primeiro grupo começou por montar uma emboscada a uma patrulha da Polícia Móvel tendo eliminado os seus quatro ocupantes, capturaram-lhe as armas e tentaram tomar de assalto a Casa da Reclusão Militar com o principal objectivo libertar os presos políticos. Outros grupos, atacam simultaneamente, com armas artesanais a cadeia da PIDE no bairro de S. Paulo, a cadeia da 7ª esquadra da Polícia de Segurança Pública onde igualmente havia presos, e tentam ainda ocupar a emissora estatal de rádio «Emissora Oficial de Angola». Nos confrontos morrem quarenta assaltantes, seis polícias e um cabo do exército abatido junto da Casa da Reclusão.

O MPLA – Movimento Popular de Libertação de Angola, reclama o 4 de Fevereiro como o início da luta armada em Angola, embora na origem da rebelião, como seu inspirador, esteja o cónego Manuel Joaquim Mendes das Neves, mestiço, natural da vila do Golungo-Alto, missionário secular da arquidiocese de Luanda e que não está ligado a esse movimento.

Embora a guerra tenha começado com o assalto às prisões de Luanda, ela nunca assumiu as características de guerrilha urbana. O terreno em que se desenrolaram os combates foi o mato, onde os guerrilheiros procuraram tirar o melhor partido do meio, onde melhor se moviam e que melhor se adaptava às suas características.


Quando, em 4 de Fevereiro de 1961, se registaram os acontecimentos que marcaram o início da luta armada, já se encontravam em Angola, como unidades de reforço, quatro companhias de caçadores especiais.


Constituídas por pessoal cuidadosamente seleccionado e dispondo de enquadramento rico e altamente motivado, as unidades de caçadores especiais suportaram as difíceis condições dos primeiros meses de guerra.


A viagem para África começava muito antes do embarque. O processo que levava um jovem até Angola iniciava-se habitualmente logo após o final da instrução da especialidade. Para um atirador, e tanto fazia sê-lo de infantaria, cavalaria ou artilharia, após ser dado como pronto vinha a ordem de mobilização. O caso mais vulgar e típico era o de o militar pertencer a uma companhia e esta a um batalhão.


A ordem de mobilização originava a guia de marcha para a unidade mobilizadora. Aí se juntavam os militares vindos dos vários centros de instrução, os graduados e os comandantes. A companhia e o batalhão já tinham um número de código atribuído e, aos poucos, surgiam os especialistas diversos, os condutores, transmissões, enfermeiros e cozinheiros, de modo a que se preenchesse o quadro orgânico respectivo. Enquanto se formava a unidade, realizavam-se os exercícios de instrução - IAO, a instrução de aperfeiçoamento operacional -, com os conselhos sobre o que fazer em África para sobreviver. Recebiam-se as vacinas, o camuflado e, por fim, a unidade estava pronta.


O militar era um mobilizado, ia a casa, despedia-se da família, arranjava umas correspondentes para lhe escreverem, ou umas madrinhas de guerra, e voltava à unidade mobilizadora para daí iniciar verdadeiramente a viagem. Na estação, quase sempre de noite, o contingente embarcava num comboio especial em direcção a Lisboa, ao Cais da Rocha ou ao de Alcântara.


O navio que os iria levar estava atracado e as famílias apinhavam-se nas varandas da gare marítima com lenços de acenar, cartazes com o nome do militar, para chamar a atenção, e lágrimas da despedida. A tropa, vinda de vários pontos em quantidade suficiente para encher o navio, desfilava de novo, agora em continência perante um alto representante militar, com as senhoras do Movimento Nacional Feminino e da Cruz Vermelha a distribuírem lembranças e mais folhetos sobre o território de destino.


Chegava o momento do embarque. Subiam-se as escadas e arrumava-se a bagagem junto ao beliche armado nos porões, transformados em casernas. Depois, voltava-se ao convés, lutava-se por um lugar na amurada ou trepava-se aos mastros, para os últimos acenos.

A passagem do equador fornecia o pretexto para uma cerimónia da praxe e, entretanto, aproximava-se a chegada, que, quase sempre de manhã, era o tempo da curiosidade de África, o tempo de refazer as malas e do desembarque.


Seguiam-se os dois anos da comissão.

 

Começava a guerra e com ela a morte, os feridos e os estropiados.

A partir do momento em que um militar português era ferido ou morto num ponto perdido do mapa de África, desencadeava-se longo processo, que se iniciava ao pé dos seus companheiros e terminava junto da família.
Os mortos em combate, nos primeiros anos da guerra, eram enterrados nos cemitérios organizados pelas unidades militares nas localidades onde tinham as suas bases. Alguns foram mesmo enterrados na floresta, nos locais onde morreram, por não ser possível transportar os seus corpos até às sedes das unidades.


Não se transportavam mortos em helicópteros, pois os poucos que havia podiam ser necessários para evacuar feridos. Quanto ao transporte dos corpos para a Metrópole, nos primeiros anos, ele devia ser pago pelos familiares, situação que foi mais tarde alterada.


Na Metrópole, a família era informada da morte por telegrama, sendo-lhe comunicada a forma de tratar dos assuntos a partir desse momento, enquanto na unidade do morto era obrigatório fazer o arrolamento dos seus pertences individuais, a fim de os enviar à família, e preencher um relatório sumário com as circunstâncias da morte.

Nas Colónias europeias, nunca deixou de haver movimentos de oposição e resistência à presença das potências coloniais.
A organização da resistência ao domínio colonial, revestindo aspectos pacifistas, como na Índia, ou apoiando-se na formação de grupos armados e clandestinos, em conjunto com outras acções violentas, teve sempre em vista a reivindicação fundamental do direito à autodeterminação e à independência. Os países europeus não encararam da mesma forma os movimentos nacionalistas, embora em geral tenham oferecido resistência às ideias independentistas. Mas a generalização da utilização da guerrilha por parte destes movimentos, pondo em causa as técnicas militares clássicas, depressa conduziu à procura de soluções de compromisso, após mais ou menos longos conflitos.

Antes de 1961, existiu também aquilo que se pode designar por «nacionalismo dos colonos», que expressava o sentimento dos portugueses residentes ou nascidos em Angola de se autonomizarem de Portugal. Este sentimento expressou-se com maior nitidez entre os colonos de categoria social mais elevada, que chegaram a colocar hipóteses de secessão com a Metrópole, tendo atingido ponto alto entre 15 de Março e 15 de Abril de 1961, os trinta dias que Salazar demorou a decidir – «Para Angola, em força».


Durante esse mês, estes brancos não se coibiram de censurar Salazar diante de estupefactos jornalistas idos da Metrópole, queixando-se de que «de Portugal, nem uma palavra».

 


São estes mesmos brancos que tratam da sua própria defesa, criando uma organização de voluntários que ocupa o vazio de poder militar motivado pela ausência de efectivos das Forças Armadas.

 

Os acontecimentos de 4 de Fevereiro de 1961 em Luanda trouxeram uma nova realidade que abalou o Mundo.

 


O desenvolvimento da luta armada alterou por completo a situação, separando as águas e abrindo novas esperanças aos povos em luta.

 

Embora longe ver realizados os seus objectivos de uma vida melhor, o povo de Angola não pode deixar de celebrar o 4 de Fevereiro como uma data de orgulho nacional.

publicado por Carlos Loures às 19:00

editado por Luis Moreira às 17:51
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