Em tempo de crise isto deveria ser uma boa notícia: o barril de petróleo que desceu para 32 dólares (23 euros) em Dezembro de 2008 acaba agora de ultrapassar os 60 dólares. É certo, o automobilista deveria ver o seu poder de compra prejudicado mas, em princípio, se o petróleo aumenta, não é porque a crise já ficou para trás de nós ? Que a China e os Estados Unidos, façam mentir as suas estatísticas que nada mais fazem do que reflectir o passado, e que se tenham posto a fazer funcionar as fábricas? Que os consumidores começaram a comprar? Que as empresas começaram a contratar?
É pena, não é nada disso. A procura está mal. Pela primeira vez desde 1945, o consumo mundial de electricidade deverá mesmo diminuir este ano. Em todos os portos do mundo, os petroleiros completamente cheios, quase até rachar, esperam mesmo que os preços subam ainda mais para entregar os seus milhões de toneladas das quais não sabem mais que fazer. Então, porque o preço do petróleo duplicou em tão poucos meses? Em grande parte porque, nas salas de mercado, os traders se põem a especular sobre o ouro negro. Como ao início do ano 2008 quando os preços das matérias primas tinham atingido níveis recorde, devido em grande parte à especulação.
Longe de ser anedótica, a evolução do preço do petróleo reflecte o estado de espírito dos meios financeiros. Ajudados pelos Estados, os bancos têm o sentimento de que, para elas, o pior da crise já passou. Tudo deve voltar a ser como dantes. Reconstituir as margens é mesmo um necessidade absoluta. E assumir, de novo, os riscos. Pouco importa que o G20 de Londres tenha considerado, em Abril, que “os principais falhas da regulação e dos controlos do sector financeiro desempenharam um papel essencial na crise”. Pouco importa que Jean-Pierre Jouyet, presidente da Autoridade dos mercados financeiros, tenha denunciado no Le Monde do 26 de Maio, o facto que “ uma parte muito substancial dos mercados financeiros, , não é, de facto , realmente controlada ou opera com toda a opacidade”.
Mais discretos que ontem mas, também, igualmente determinados, os operadores continuam com as suas práticas opacas. Exemplo: não se passa um mês sem que um banco ou uma Bolsa não anuncie “uma plataforma alternativa”, uma Bolsa de um novo tipo cujo princípio é trabalhar ao abrigo dos olhares. O nome em inglês é mais explícito: os Anglo-saxónicos falam “de associações no escuro, dark pools”. Tudo está dito. Gostou de subprimes, de Crédito Default Swaps e outros produtos titularisados nos quais, com o vosso conhecimento, o vosso banqueiro vos colocou uma parte das vossas economias? Amanhã, irá adorar Xetra Midpoint, Smartpool, Chi-X-Delta et NeuroDark.
Para além da opacidade, a ambição é outro factor que desencadeia a crise. Aí também, tudo muda para que nada mude. É verdade, a parte variável das remunerações tem-se reduzido ligeiramente mas nos Estados Unidos, a parte fixa, esta, vai aumentar de 50% a 100%, de acordo com os bancos. Como o explicou no jornal Les Echos em 25 de Maio, Kenneth Lewis, Director Geral de Bank of América, um dos mais grandes bancos do país que deve a sua salvação do estado de falência aos 45 mil milhões de dólares injectados pelo Estado, o seu objectivo é o de reembolsar o mais rapidamente possível esta ajuda financeira do Estado.
Não somente porque o banco paga juros, mas sobretudo porque “em seguida poderemos outra vez remunerar normalmente os quadros dirigentes do banco e todos aquele que geram o volume de negócios”. Qual será a sua primeira decisão depois de ter reembolsado o Tesouro? “Reavaliar o nosso sistema de remunerações e restabelecer os bónus.”
Por muito chocante que isto possa parecer para a quase totalidade da população mundial, Kenneth Lewis diz em voz alta o que os seus colegas pensam em voz baixa . Ganhar milhões de dólares ou euros, trabalhando na finança, é “normal”. Nenhuma questão, nenhuma cedência a fazer, quanto a isso.
Como é que se chegou aqui? Uma parte da resposta lê-se num pequeno ensaio apaixonante, ao mesmo tempo filosófico e económico, que acaba de publicar Charles-Henri Filippi. L’Argent sans maitre” (éd. Descartes e Co, 96 pg.), este antigo colaborador de Laurent Fabius, que esteve até muito recentemente à frente da sucursal francesa de HSBC, explica como, ao longo dos séculos, o dinheiro, que era um meio de emancipação, se tornou uma religião. Sobretudo, demonstra como é que a ambição , “estimulante individual”, se transformou, ela, num verdadeiro “sistema de governança” e “o fundamento institucionalizado de um enriquecimento sem causa real e sem qualquer limite sério ”.
Estamos num momento charneira da crise. As medidas de urgência (o apoio financeiro de urgência para a recuperação dos bancos, os planos de relançamento da economia) foram tomados. Falta o essencial: restabelecer uma confiança duradoura nos aforradores. Em Londres, o G20 fixou algumas linhas directoras, mas nem regulou o desequilíbrio essencial da finança mundial (entre a China e os Estados Unidos) nem tomou nenhuma medida vinculativa para regular os mercados financeiros .
Entretanto, os Europeus dividem-se sobre esta questão e, de momento, ninguém pensa verdadeiramente aumentar substancialmente a taxa marginal de imposição fiscal sobre o rendimento, única medida susceptível de criar uma espécie de rendimento máximo. Em toda a lógica, os que têm o poder de se enriquecer fazem-no, de novo sem ficar à espera. Com o risco de precipitar a crise seguinte.
Frederic Lemaitre, La prochaine crise économique a déjà commencé, Le Monde, 29 de Maio de 2009.
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