Quarta-feira, 8 de Dezembro de 2010

Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (30), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (30)
  por Carlos Durão

(continuação)

Derradeiros anos

1987: constitui-se em Buenos Aires a Associaçom Civil “Amigos do Idioma Galego” (AIG), que edita o boletim ADIGAL (desde 1996, hoje http://www.adigal.org.ar/antec.htm).

1988: constitui-se a Associaçom Reintegracionista de Ordes (ARO), que publica ARO (entre 1988 e 1992) e o boletim O Mês (desde 1991); depois Associaçom Cultural Foucelhas, http://agal-gz.org/blogues/index.php/foucelhas/2010/01/31/a-associacom-reintegracionista-de-ordes-no-periodico-gralha.

1989: constitui-se o Clube Reintegracionista do Salnês (CRÊS).

Constitui-se em Madrid Renovação. Embaixada Galega da Cultura, que publica o boletim Renovação (hoje em http://www.agal-gz.org/modules.php?name=Downloads&d_op=viewdownload&cid=11) e edita obra de criação.

1990: cria-se a Sociedade Cultural Marcial Valadares, da Estrada, que publica Quarto Crescente (desde 1993), colabora com outros grupos reintegracionistas numa Coordenadora Reintegracionista, e com eles realiza o desdobrável Porque somos reintegracionistas?.

Constitui-se em Ourense o Grupo Reintegracionista Autónomo Meendinho, que publica o boletim cultural gratuito Gralha (1993/97, hoje em http://www.archive.org/details/gralha), depois (1998) transformado em Já!, e distribui autocolantes para os automóveis galegos com o código GZ (http://agal-gz.org/blogues/index.php/meendinho/).

Constitui-se em Compostela a Assembleia Reintegracionista Bonaval, que edita o boletim de língua Constantinopla (http://compostela.agal-gz.org, no 0, outono de 1993), destinado aos alunos de Filologia em Compostela, e colabora com o Instituto de Estudos Luso-Galaicos da AAG-P na brochura O livro vermelho do Reintegracionismo.

Cria-se em Vigo a Associaçom Reintegracionista V Irmandade.

Cria-se na Terra de Trasancos a Associaçom Reintegracionista Artábria, que publica Língua Nacional (desde 1995) e no 1998 passa a ser Fundaçom Artábria e edita um Boletim (http://www.artabria.net/).

Editam-se as publicações Povo Unido, da Assembleia do Povo Unido, A Treu, das Juntas Galegas pola Amnistia, Canha! (Crunha, desde 1994) da Assembleia da Mocidade Independentista, que no 1997 edita Terra Livre; e Abrente, vozeiro de Primeira Linha MLN (desde 1997, hoje em http://www.primeiralinha.org/: a não confundir com a agrupação cultural Abrente, de Riba d’Ávia).

Cria-se em Ourense o grupo A Gente da Barreira (que publica Eirozinho dos Cavaleiros desde 1994), e em Barcelona a Associaçom Cultural Aloia, que editam, com outros coletivos, uma História da Galiza em Banda Desenhada.

1994: o Grupo Meendinho publica o boletim Gralha (até ao 1997).

1996: constitui-se o Movimento de Defesa da Língua MDL (http://www.mdl-galiza.org), que publica Língua Nacional. Boletim de informaçom lingüística, e, no 1998, Em Movimento. Boletim do Movimento de Defesa da Língua.

Constitui-se a Assembleia Reintegracionista NH, que organiza uma Festa da Língua, alternativa do Dia das Letras Galegas, na Praça da Lenha de Ponte Vedra.

2000: a USC e o parlamento galego homenageiam Carvalho Calero com a publicação de Estudos dedicados a Ricardo Carvalho Calero, reunidos e editados por José Luis Rodríguez (2000).

Criam-se na Internet o Portal Galego da Língua (http://www.agal-gz.org/, depois http://www.pglingua.org/), o Fórum do PGL (http://www.agal-gz.org/foros/, depois http://www.pglingua.org/foros/), as listas Agal (http://br.groups.yahoo.com/group/agal/), Galiza (http://br.groups.yahoo.com/group/galiza/), Amizade (http://br.groups.yahoo.com/group/amizadegp/), Assembleia da Língua (http://br.groups.yahoo.com/group/assembleia-da-lingua/), AGLP (http://br.groups.yahoo.com/group/Academia-Galega-da-Lingua-Portuguesa/), dicionário eletrónico Estraviz (http://www.agal-gz.org/estraviz/), portal Lusografia (http://www.lusografia.org/), do MDL (http://www.mdl-galiza.org), blogues, etc., que tornam mais visível este movimento cívico além fronteiras.

Cria-se em Lugo a Associaçom Cultural Alto Minho (http://www.altominho.org/).

2001: Manifesto 15D pelo que se constitui a Assembleia da Língua. “Em 23 de Fevereiro de 2002 ficou constituída em Compostela a Assembleia da Língua, uma plataforma aberta de acção cultural e social em favor da língua.  A Assembleia da Língua é promovida por um numeroso grupo de pessoas e colectivos (entre eles, o Movimento Defesa da Língua, a Associaçom Galega da Língua e a Fundaçom Artábria) após o impulso do Manifesto unitário reintegracionista do 15 de Dezembro de 2001 (http://br.groups.yahoo.com/group/manifesto15D), com o intuito de coordenar esforços de pessoas e colectivos para activar socialmente uma ampla concepção galego-portuguesa da língua e da cultura” (Comunicado da Coordenadora, de 4 de março de 2002, assinado por Aurora Tasende Pombo, Celso Álvarez Cáccamo, Francesco Traficante Peláez, Irene Veiga Durão, José Ramom Pichel, Mário J. Herrero Valeiro, Maurício Castro, Suso Sanmartim e Vítor Meirinho).  Coletivos que assinaram o Manifesto 15D: A Gente da Barreira, A. C. Roaz, Agir, Arma-danças, Assembleia Nacional Antimilitarista (ANÁ), Assembleia Reintegracionista NH, Assembleia da Mocidade Independentista (AMI), Associaçom Cultural Alto Minho, Associaçom Cultural O Pedroso, Associaçom Cultural Reintegracionista Aquém Douro, Associaçom Galega da Língua (AGAL), Colectivo Rádio Rahim-sound system- Embaixada Galega Da Cultura, Fundaçom Artábria, Movimento de Defesa da Língua (MDL), Mulheres Nacionalistas Galegas, Nós-U.P., Primeira Linha, Sociedade Cultural Marcial Valadares, V Irmandade.

2002: começa a publicar-se a revista Novas da Galiza (com O Pasquim, http://www.novasgz.com/).

(continua)
publicado por estrolabio às 10:00
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Sábado, 30 de Outubro de 2010

Encerramento do dia dedicado a Ricardo Carvalho Calero

Comemorámos hoje o centenário do nascimento de Ricardo Carvalho Calero. (Ferrol, 1910 — Compostela, 1990). Quase desconhecido em Portugal, é uma figura cimeira da intelectualidade galega do século XX, escritor e filólogo. Foi na Universidade de Santiago de Compostela, o primeiro Catedrático de Língua e Literatura Galegas.


Principal teórico da corrente reintegracionista, ou seja, dos que defendem que o galego e o português se devem voltar a unir, pois são duas formas dialectais do mesmo idioma, como defenderam Carolina Michaëlis e Manuel Rodrigues Lapa, entre outros.  Porém, apesar da grande importância que a sua obra assumiu, sobretudo na última fase da sua vida, Carvalho Calero não teve nem tem em Portugal a ampla divulgação que se justificava pela importância que a sua obra assumiu na hermenêutica das origens do nosso idioma.


Dissemos que em Portugal o Professor Carvalho Calero não teve até agora a divulgação merecida. Pois na sua pátria tampouco a teve. Com a devida vénia, transcrevenos do Portal Galego da Língua uma entrevista com Alexandre Banhos que conhecemos já por um texto admirável aqui publicado há tempos - "Ou reintegracionistas ou imbecis (com humor amoroso)" e cuja publicação repetimos hoje. Eis a entrevista com Alexandre Banhos Campo.


Entrevista com Alexandre Banhos

"há gente que nom quer esse monumento, que teme o formosíssimo bronze do busto de Carvalho Calero"

PGL - No vindouro 30 de outubro prevê-se inaugurar em Compostela umha estátua em homenagem a Carvalho Calero. O projeto, impulsionado pola Fundaçom Meendinho, está a topar entraves inesperados, e precisam-se com urgência mais de 10.000 euros. Alexandre Banhos, membro da Fundaçom, aclara-nos os porquês.

PGL: Quanto tempo leva a trabalhar a Meendinho para homenagear Carvalho Calero?

Alexandre Banhos: A Fundaçom Meendinho acordou em junho de 2009 apoiar difundir e participar, em todo tipo de iniciativas que ao longo de 2010 se realizarem para homenagear a esse galego exemplar. Membros do seu padroado têm participado em quanto ato tem sido convocado por organizações da Galiza em homenagem a Carvalho Calero, do qual se pode achar informaçom no PGL.

O de impulsionarmos o monumento parte de um clamor que existia na sociedade. Na Assembleia da AGAL e no seu Conselho, nos meses de março e abril de 2009 veu a tona o impulsionar no ano 2010 um monumento sobranceiro para Carvalho Calero, mas viu-se muito difícil concretizá-lo com sucesso.

Na ssembleia da Associação Pro-AGLP de fins de junho de 2009, de novo membros presentes voltárom a fazer a proposta de um monumento ao professor Ricardo Carvalho Calero em Compostela. Como no seio da AGAL, foi valorizado muito positivamente, e igualmente a maioria dos presentes achou que era um objetivo muito difícil de conseguir.

No mês de outubro do ano passado, em reuniom do padroado da Fundaçom, debateu-se se seríamos quem de impulsionar esse monumento, nom como algo da Fundaçom e sim como algo do melhor da Galiza —sem nos fecharmos a ninguém, sem pormos chatas a quem quiger colaborar—, fazendo algo que perdurar no tempo e falar positivamente às gerações futuras. Ali, depois de valorizar as dificuldades e possibilidades, decidiu-se levar o projeto para a frente.

Lançámos o concurso, do qual ficámos muito contentes com a resposta de umha notável representaçom de escultores da Galiza e Portugal, e seguimos os passos correspondentes. Assim, apresentámos o projeto a instituições, nomeadamente as universidades e entidades locais da Galiza que repetidamente reclamaram 2010 como Ano Carvalho Calero ou figeram protestos do mau trato que se dava a uma figura da sua importância, recebendo a iniciativa, muito boa acolhida.

Protótipo do monumento, ligeiramente diferente com a versom final

PGL: Que tipo de sacrifícios se têm realizado a fim de lograr o objetivo?

AB: A Fundaçom Meendinho é uma entidade séria a e a sua palavra é ouro, nom importam os sacrifícios que tenham de ser feitos —de todo tipo— para levar avante o projeto. Aliás, sabemos que a Galiza é um povo de bons e generosos que, quando acreditam nalgo, somam-se e pujam como o primeiro.

Além disso, a mim pessoalmente as tensões têm-me afetado à saúde, a nom poder dormir, e até a ser ingressado de urgências num estado de certa gravidade na primeira quinzena de setembro. Nom podo falar do que se passou com outros membros.

PGL: Que problemas está a haver para a instalação da estátua a Carvalho Calero?

AB: O Concelho de Compostela, que participou na seleçom da obra —agora mais reduzida de tamanho do que inicialmente estava nas bases do concurso— valora muito positivamente o projeto e sabe que o vai receber a cidade: umha obra do escultor José Molares, de grande qualidade, que esta vai valorizar a sua contorna e enriquecer o seu património, umha obra que está pensada para um lugar e para interagir com o público, para ser tocada.

O local escolhido inicialmente cumpre os requisitos ideais, e assim foi visto por todos. A obra, além disso, vai contribuir ao diálogo com o espaço de tal maneira que põe ainda mais em valor esse magnífico espaço que é a Alameda compostelana.

Mas há gente que nom quer esse monumento, que teme o formosíssimo bronze do busto de Carvalho Calero, como a Junta da Galiza, que através da Conselharia da Cultura negou qualquer apoio ou ajuda ao projeto.

Há pessoas de certo peso na Galiza que estám a tentar travar ajudas, e levando aos ouvidos de alguma gente umha imagem distorcida de Dom Ricardo, como se fosse uma espécie de demo com cornos. Infelizmente, gente ligada à filologia galega —muito escassa essa gente, confrontada com a maioria da filologia—, alguma até aluna do professor, primeiro catedrático da matéria na Universidade de Santiago, que nom gosta do projeto. Que problemas achárom com o busto? Eu, pessoalmente, nom alcanço a entendê-lo.

Todo isto influi, e desde o Concelho propõem um lugar alternativo perto da própria Alameda, que é excelente também, mas nom da qualidade do inicialmente proposto, nom é lugar para o busto ser tocado e sovado tal como exprime uma obra que nom vai deixar indiferente com a sua beleza. Da Fundaçom Meendinho estamos seguros de que o Concelho de Compostela, que apoia firmemente o projeto, entenderá a importância do monumento no lugar inicialmente previsto, e a sua projeçom cívica.

PGL: Existem, pois, pressões? Há interesses em ocultar qualquer tipo de homenagem a este ilustre galego?

AB: Eu ainda nom entendo por que a Real Academia Galega nom lhe dedicou o ano 2010, penso que poucas petições houvo mais numerosas e unânimes... acho que o comportamento ininteligível da instituiçom, além de nom falar muito bem dela, fala de que na Galiza há quem quer Carvalho Calero apagado. Eu nom entendo nem chego a perceber onde pode estar a causa.

Carvalho Calero era uma pessoa honesta e coerente, generosa e apartada de todo sectarismo, aberto a todos e amigo de todos, e sempre que fixo algo tivo um caráter integrador. Por mais voltas que lhe dou, nom percebo o porquê da nom colaboraçom entusiasta de muitas pessoas e instituições. A única explicaçom que podo achar e o vírus do sectarismo, tam freqüente entre nós e do qual o professor estava imaculadamente limpo.

PGL: Que opiniom merece à Meendinho a ocultaçom que está a haver por parte de instâncias oficiais o esquecimento, talvez deliberado, contra Carvalho Calero?

AB: Algo muito triste. Os povos têm que se orgulhar do melhor que produzem homens e cousas e factos, e nom fazê-lo só leva à desmemória, e a desmemória ao alzheimer social.

PGL: Voltando para a estátua, quando dinheiro resta para a poder finalizar?

AB: A Meendinho, quando começa o projeto é porque lhe saem todas as contas. Com o que nom contava era que compromissos firmes de instituições —que, aliás, elas próprias deveriam ser o motor deste tipo de iniciativas—, agora se convertam em águas de bacalhau, faltem à palavra ou ponham escusas de mau pagador. Porém, aguardamos contornar esse problemas com o entusiasmo de muitos e muitas e de outros que sabem do valor exemplar do projeto, que nom é da Meendinho, mas de todos e todas. Prefiro nom dar uma cifra se nom é completamente exata, mas ainda falta umha quantidade bem por cima dos dez mil euros.

PGL: O que podem fazer as pessoas interessadas em colaborar?

AB: As pessoas podem fazer um ingresso na conta da Meendinho.

Caixanova: 2080 0132 15 0040021179

(IBAN) ES25 2080 0132 1500 4002 1179

Recomendamos darem o nome mais o bilhete de identidade na transferência, pois em janeiro a Meendinho fará a sua declaraçom à Agência Tributária estatal, e mercê a isso as pessoas doantes terám direito a umha deduçom fiscal de 25% do achegado, conforme a Lei do Mecenato. Também temos um leilão de obras magníficas com preços muito baixos, ao qual ainda se irám integrando mais obras, e que acho de muito interesse.


O monumento vai ser inaugurado no dia 30 de outubro às onze horas, e no ato vai estar o melhorinho da Galiza e das suas instituições. Vai ser um momento muito lindo para todos e todas. Além disso, nesse mesmo dia cumpre-se 90º aniversário da revista Nós, o qual ainda faz mais importante a data. A Fundaçom Meendinho e o Concelho de Compostela vamos convidar todo o mundo ao ato, sem sectarismos, pois nós queremos que esse monumento seja de todos e todas e as palavras vam estar abertas para todas as instituições que se orgulhem com o projeto.
publicado por Carlos Loures às 23:55
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Ricardo Carvalho Calero

Professor Ricardo Carvalho Calero


(Ferrol, 1910 - Compostela, 1990)

*Texto redigido polo Grupo de Língua da Fundaçom Artábria

PGL – Portal Galego da Língua

http://www.agal-gz.org/modules.php?name=Sections&op=viewarticle&artid=5



Ricardo Carvalho Calero nasce a 30 de Outubro de 1910 na rua de S. Francisco, na casa nº 51 e no bairro máis antigo de Ferrol, assi reconhecido polo nome de Ferrol-Velho.

Seus pais eram Maria Dolores Calero Beltrám e Gabriel Ricardo Carvalho Naia. Ricardo é o mais velho de seis irmaos, dos quais dous morrem na infáncia.

Despois dos primeiros estudos numha escola da rua Madalena, estuda no Colégio "Sagrado Coraçom de Jesus", que dirige o escritor Manuel Comelhas Coimbra, autor da obra dramática Pilara ou grandezas dos humildes, com quem inicia os seus estudos de latim, e prepara por livre os seus estudos de Bacharelato.

De mui pequeno, assiste às sessons de teatro e tamém de cinema que se celebravam no Teatro Jofre, ao mesmo tempo que começa a ler romances, teatro e a fazer os seus primeiros escritos: poemas, alguns já em galego, que publica na revista "Maruxa".

Nos seus primeiros trabalhos, Carvalho Calero contava com o estímulo do socialista e galeguista Jaime Quintanilha, personalidade notável da vida cultural e social ferrolana e galega daqueles tempos.

Em 1926, aos dezasseis anos, termina o Bacharelato e matricula-se na universidade compostelana no daquela 1º ano do curso de Filosofia e Letras e preparatório de Direito. Desde os primeiros momentos relaciona-se com os estudantes do Seminário de Estudos Galegos: Filgueira Valverde, Sebastiám Gonçález, Ramom Martínez Lôpez...

Som anos dumha grande actividade intelectual e política, em plena ditadura militar de Primo de Rivera. Participa dos movimentos de resistência estudantil, combinando a oposiçom política com a promoçom cultural, chegando a ser presidente da Federaçom Universitária Escolar (F.U.E ), entidade sindical-escolar.

Nom quer dizer isto que a vida intelectual nom tivesse importáncia. Estavam mui ligadas, precisamente, digamos, a oposiçom política e a promoçom cultural, de maneira que os estudantes líamos entom os poetas da "Generación del 27", que eram os que estavam na moda, os grandes poetas: Salinas, Guillén, Lorca e Alberti. Todos os mais considerávamo-los já de segunda orde.

É a época tamém da criaçom, do funcionamento da "Federación Universitaria Escolar": «Lembro as cargas da Guarda Civil dacavalo no campo de Dom Mendo, que ocupava o espaço que hoje é campus universitário, diante dos colégios maiores ». (Em Conversas en Compostela con Carvalho Calero, Fernán Vello, Pillado Mayor, Sotelo Blanco, 1986).

Em 1928, publica o seu primeiro livro de versos Trinitarias, que recolhe poemas escritos dos 14 aos 16 anos, todos em espanhol, e o texto dumha conferência «En torno a las ideas comunistas de Platón».

A etapa universitária de Carvalho Calero ficou marcada pola sua incorporaçom ao Seminário de Estudos Galegos (S.E.G), o que supom a consolidaçom do seu compromisso pola cultura galega, já manifesto durante a sua adolescência.

O ferrolano ingressou no S.E.G. em Abril de 1927 com a leitura duns poemas. Nele, ademais de membro das secçons de "História da Literatura" e de "Ciências Sociais, Jurídicas e Económicas", chegou a exercer como Secretário Geral.

O Seminário de Estudos Galegos será o organismo catalisador do ambiente intelectual da época, local de reunions continuamentefreqüentado pola gente do Grupo «Nós»: Vicente Risco, Daniel Castelao, Otero Pedraio, Lôpez Cuevilhas. Estes serám para o pessoal do Seminário um grupo de referência constante.

Destes tempos, do convívio com as gentes do Seminário, de «Nós», guardou sempre D.Ricardo um especial afecto e grandes saudades.

Em 1931 termina os seus estudos de Direito com um brilhante expediente académico. Publica na editora «Nós», de Ángelo Casal, o seu primeiro poemário em galego: Vieiros.

Neste mesmo ano é cofundador do Partido Galeguista e, posteriormente, membro, junto de Daniel Castelao, Alexandre Bóveda, Lugris Freire, Paz Andrade e Tobio Fernández, dum «Conselho Assessor» do mesmo.

Intervém em muitos actos e elabora juntamente com Luís Tobio o primeiro Anteprojecto de Estatuto de Autonomia para Galiza, de concepçom federalista, que se iniciava assim: «A Galiza é un Estado libre drento da República Federal Española (art. 1º)».

Em 1933, tem de abandonar Compostela, e ingressa por concurso como funcionário no Concelho de Ferrol. Casa com Mª Inácia Ramos, natural do Concelho de Baleira.

O labor literário destes anos cristaliza no livro de poemas O siléncio axionllado (1934), nas colaboraçons em jornais e revistas epocais, e na escrita de duas obras dramáticas: O fillo e Isabel, esta última acabada despois da guerra. Estas peças, pensadas para ser publicadas pola editora Nós, continuam a linha iniciada em 19 polas Irmandades da Fala, e interrompida pola ditadura de Primo de Rivera, com que o nacionalismo queria demonstrar que o galego era umha língua apta para todos os usos e funçons, para todas as classes sociais, e nom um dialecto exclusivo de marinheiros e labregos.

Em Janeiro de 1936 termina Filosofia e Letras, que estudara por livre. Neste mesmo ano, e apesar de constantes obstáculos, vai calhar com éxito o labor do Partido Galeguista a prol do reconhecimento nacional da Galiza nas Cortes da República, mediante a consecuçom em Referendo dum Estatuto de Autonomia.

A 28 de Junho de 1936, aprova-se por umha folgada maioria do povo galego o Plebiscito de Estatuto de Autonomia da Galiza. Porém, poucos dias despois, a 18 de Julho produze-se a sublevaçom militar, instigada da direita reaccionária, contra o novo governo progressista da Frente Popular (que derrotara à direita em eleiçons a inícios de ano), e contra a legalidade republicana vigente. Isto vai conduzir cara um enfrentamento armado entre os valedores da República e os alçados, que acabariam vencendo. Nas suas costas está provocar a guerra e umha feroz repressom, que causariam inúmeras mortes. Deste modo infeliz, impujo-se pola força das armas e do terror um regime ditatorial de matriz fascista durante quatro decadas: a longa noite de pedra.

O Estatuto Galego nom chegará a concretizar-se até 1980; despois da morte do ditador, a reforma política da ditadura e a restauraçom borbónica. Isto é, convertendo o quadro republicano e federal de 36 no que trabalhárom as pessoas do Partido Galeguista, num impensável quadro político monárquico...

A sediçom surpreendeu Carvalho em Madrid apresentando-se a concurso para catedrático de liceu. Cá coincide com a delegaçom galega, Castelao à cabeça, que ia apresentar ante as Cortes espanholas os resultados oficiais do recente referendo estatutário.

Estar em Madrid supom a sua salvaçom, pois esta fica em maos da República até os dias finais da guerra (1939), enquanto na nossa terra, o bando alçado (“nacional”), consegue em pouco tempo impor-se ao longo do país, iniciando umha brutal repressom e extermínio físico de todas aquelas pessoas fiéis à República, progressistas, democratas; enfim, membros, simpatizantes ou partidárias da coligaçom triunfante da Frente Popular, como o fôrom a gente do Partido Galeguista.



É assi que se efectivou na Galiza umha matança selectiva do máis lúzido do país, da intelectualidade dirigente, provocando um enorme terror entre a populaçom e o que motivou, nom só umha ruptura geracional nas fileiras do galeguismo, mais tamém grande medo nas famílias -estigmatizadas pola barbárie (que ainda hoje se percebe, ao ser transmitida de geraçom em geraçom), a serem reprimidas por qualquer atitude identificativa com o país e contra do regime.

Deste modo cruel, o imenso esforço de reconstruçom nacional do que Ricardo Carvalho Calero foi protagonista activo, iniciado na década de 20 polas Irmandades da Fala e continuado nos anos 30 polo Partido Galeguista; e que tinha como ponto fulcral e culminante a consecuçom do Estatuto de Autonomia para a naçom galega (a basca e a catalá conseguiram-no com anteriodade), ficou fanado, cortado dum modo brutal, polo golpe militar e a ditadura fascista.

Carvalho, umha vez em Madrid, incorpora-se como miliciano ao exército republicano, participando na defensa da capital do Estado, sendo despois elevado a Oficial e deslocado com o Governo da República à cidade mediterránea de Valência, e máis tarde para o Exército da Andaluzia, onde foi detido.

Em 1939, terminada a guerra é julgado e condenado (tendo primeiramente umha condenaçom polo fiscal à cadeia perpétua, por ser oficial do exército republicano e separatista, membro do Partido Galeguista), a 12 anos e um dia de prisom maior, ficando no cárcere até o ano 41, em que regressa a Ferrol em liberdade controlada, dedicando-se ao ensino privado, pois o privam de poder colegiar-se.

Os amargos recordos desses anos ficárom imortalizados no seu romance Scórpio e na obra poética.

Nos anos de posguerra o labor literário vai ser muito intenso: escreve três obras dramáticas: A sombra de Orfeo, A Árbore e Farsa das Zocas. Inicia-se como romancista com A Gente da Barreira e Os señores da Pena, na linha do Otero Pedraio, que recria e recupera o passado recente procurando a explicaçom da nossa sociedade. A seguir estas crónicas do passado virám as do mundo da sua infáncia: O Lar de Clara, As Pitas baixo a Chúvia, Os Tumbos e A Cegoña. Tamém começam as colaboraçons no jornal «La Noche» sob o pseudónimo de Fernando Cadaval.

Anos despois, em 1950, deslocará-se para trabalhar em Lugo onde exercerá como professor e director do Colégio Fingoi. Aqui desenvolve a sua paixom polo teatro adquirida na infáncia –encenaçom de obras de teatro galego, estreia da sua peça A Farsa das Zocas, e tamém, sobretodo, umha actividade pedagógica importantíssima (a máis importante do país).

Em 1950 funda-se a Editorial Galáxia e desde os primeiros momentos colabora estreitamente neste projecto, estando presente na reuniom fundacional.

Em 1951 publica A Gente da Barreira, primeiro romance publicado em galego na posguerra, e primeiro prémio da Editora “Bibliófilos Gallegos” no ano anterior. Em 1954, doutora-se em Madrid com a tese «Aportaciones fundamentales a la literatura gallega contemporánea».

Em 17 de Maio de 1958 ingressa na “Academia Gallega” com o discurso «Contribuiçom ao estudo das fontes literárias de Rosalia».

O labor criativo destes anos em Fingoi calha em três poemários: Anjo de Terra (1950), Poemas pendurados dun cabelo (1952) e Saltério de Fingoi (1961); porém, a obra máis importante desta época luguesa, fruto de muitos anos de trabalho de investigaçom é a monumental História da Literatura Galega Contemporánea, obra básica e basilar da crítica literária galega, publicada em 1.963.

Em 1964-65 deixa a direcçom do Colégio "Fingoi" e incorpora-se como professor interino de Língua e Literatura Galegas na Universidade de Compostela. No ano seguinte ganha a vaga de adjunto no Liceu Feminino "Rosalia de Castro", tamém em Compostela.

Em 1966 aparece a primeira ediçom da sua Gramática elemental del gallego común, que supujo na cultura galega um acontecimento de enorme transcendência.

Em 1971, publica: A Sombra de Orfeu, Farsa das Zocas, A Árbore e Auto do Prisioneiro.

Em 1972 consegue por concurso a primeira Cátedra de Língüística e Literatura Galega na Universidade de Compostela (única universidade daquela), facto fundamental para a dignificaçom e divulgaçom da nossa língua e cultura, à vez que escola dos seus primeiros ensinantes.

Com a morte em 1977 do presidente da "Real Academia Gallega", Sebastiám Martinez Risco, muitos organismos e instituiçons do país proponhem Carvalho como a pessoa óptima para ocupar esta vaga, mais tal nom aceita (tamém nom era um candidato bem visto pola oficialidade).

Nestes anos começa a recopilaçom da sua obra ensaística espalhada por revistas e jornais: Sobre língua e literatura galega (1971); Estudos Rosalianos: aspectos da vida e obra de Rosalia de Castro (1979); e Libros e Autores Galegos I (1979).

Em 1979 fai parte da Comissom Lingüística da Junta Pré-Autonómica, que elabora umhas Normas Ortográficas do Idioma Galego. Aqui manifestou-se a divisom, máis ou menos equilibrada, entre as duas tendências normalizadoras que historicamente, desde o Rexurdimento, venhem disputando a questom da normalizaçom da língua: a "Reintegracionista" e a anti-reintegracionista ou "Isolacionista". As normas que daí saírom admitiam, desse modo, um certo número de soluçons duplas, que o tempo deveria dirimir, dando prevalência a umha sobre outra. Feito este labor, Carvalho demite-se, e a comissom dissolveu-se.

O ferrolano começa a ser um elemento molesto para o novo poder na Junta da Galiza pola sua firme atitude em favor do reencontro da família lingüística galego-portuguesa. Isto é, pola manutençom da identidade do galego no seu tronco originário frente à tendência isolacionista, que propugna a separaçom do galego da sua história, a mutilaçom e ocultamento do passado e, portanto, seu passaporte de futuro.

Carvalho Calero, abandeirado e máximo defensor da tendência reintegracionista, nom fazia com isto máis do que seguir a linha traçada polo nacionalismo histórico, que foi sempre reintegracionista, de Murguia e as «Irmandades da Fala», até o «Partido Galeguista», do que ele fijo parte. Na década de 70, naturalmente, o reintegracionismo era tamém partilhado polo nacionalismo e polos sectores máis comprometidos com a nossa cultura.



O golpe de comando deu-se em 1982 aquando as "Normas Ortográficas do Idioma Galego", feitas por consenso em 79, som anuladas, numha escura manobra (instigada da Alianza Popular no Governo autonómico, e o máis incrível, apoiada por alguns dos antigos seguidores e colaboradores de Carvalho Calero, entregues ao novo poder oficial), e som aprovadas, mediante Decreto impositivo ("Decreto Filgueira"), as ainda vigentes Normas Ortográficas e Morfolóxicas do Idioma Galego (ILG-RAG).

Normas que consagram o isolamento do galego e do português, e a satelizaçom –castelhanizaçom– do nosso idioma, que passa a depender da forma, modelo e critérios aplicados para o espanhol, nom apenas na grafia.

Carvalho, que nom renegou da sua postura, viu-se relegado e marginalizado do poder, mesmo sendo desprezado e caluniado, até institucionalmente!, polo novo establishment, o que foi umha experiência sumamente dolorosa. Porém Carvalho soubo demonstrar a sua elevada estatura moral e a sua admirável ética e dignidade como pessoa, pois nunca devolveu as ofensas, e sempre que respondia era com fina ironia e benévolo humorismo.

Em 1980 reforma-se, abandona a docência, mais a sua actividade criativa multiplica-se, cultivando todos os géneros: poesia, romance, teatro, ensaio, ... A partir deste ano recolhe em livros a maior parte da sua produçom como crítico: Problemas da Língua Galega (1981); Livros e Autores Galegos II (1982); Da Fala e da Escrita (1983); Letras Galegas (1984); Escritos sobre Castelao (1989); Estudos e Ensaios sobre Literatura Galega (1989); Do Galego e da Galiza (1990). Continua a sua produçom poética: Pretérito Imperfeito (1980); Futuro Condicional (1982); Cantigas de Amigo e Outros Poemas (1986); Reticências... (1990). Revisa e reedita toda a obra dramática e narrativa: Teatro Completo (1982); A Gente da Barreira e Outras Histórias (1982), Narrativa Completa (1984).



Em 1984 recusa o convite feito polo seu antigo companheiro do Seminário de Estudos Galegos, Filgueira Valverde, instalado na oficialidade, para fazer parte do recém criado «Conselho da Cultura Galega».

Em 1987 publica Scórpio, considerado por boa parte da crítica o melhor romance escrito em galego.

Afastado e marginalizado do poder, recebe contínuas homenages das amizades, do alunado e de admiradores. Cabe destacar os actos na sua honra feitos pola «Sociedade Cultural Medúlio» na sua terra, assi como da «Agrupaçom Cultural O Facho»; a «Associaçom Alexandre Bóveda» ou a «Associaçom Sócio-Pedagógica Galega» (A.S-P.G), entre outras. Ademais, é figura central em numerosos congressos sobre a nossa cultura, língua e literatura.

É nomeado membro ordinário da «Academia das Ciências de Lisboa», e membro de honra da «Associaçom Galega da Língua» (A.Ga.L) –a instituiçom que máis devoçom professou por Dom Ricardo–, da «Associaçom de Escritores em Língua Galega» (A.E.L.G.), e tamém das «Irmandades da Fala», por ser um trabalhador constante em defensa do nosso idioma.

A 7 de Janeiro de 1990, acode à sua cidade natal, onde é nomeado Filho Predilecto de Ferrol. Morre pouco despois, em Compostela, onde morava, a 25 de Março de 90. Concluía assi «umha vida densa e austera, dedicada a trabalhar por Galiza e a sua cultura», como acertadamente a definiu a sua filha Maria Vitória.

Nesse mesmo ano, o Concelho de Ferrol, a iniciativa da Sociedade Cultural Medúlio, institui o Certame Anual de Narrativa e de Investigaçom Lingüísitico-Literária Carvalho Calero, o único de muitos que se celebram no país que admite liberdade normativa às pessoas concorrentes. Tendo assi entre os seus ganhadores a ferventes seguidores da doutrina cultural reintegracionista que Carvalho abandeirou, como seu grande amigo, Martinho Monteiro Santalha.

Em 1996, em acordo plenário, o Parlamento da Galiza nomeia-o por unanimidade Filho Ilustre da Galiza, ao mesmo tempo que instala a sua imensa Biblioteca pessoal num local do próprio Parlamento.

Em 2000, com motivo do décimo aniversário da sua morte, a iniciativa da Fundaçom Artábria, diversas instituiçons solicitam que se lhe dedique o Dia das Letras de 2001, por considerar o ferrolano Carvalho Calero umha das figuras máis importantes da cultura galega.

Bibliografia de referência:

- Grupo de Língua da Fundaçom Artábria; Conhecermos Carvalho Calero. Umha vida polo galego e a Galiza. Fundaçom Artábria, 2000.

- Blanco, Carme; Conversas con Carvalho Calero, Galáxia, 1989.

- Fernám Velho, M.A., Pilhado Maior, F.; Conversas en Compostela con Carvalho Calero, Sotelo Blanco, 1986.

- Monteiro Santalha, Martinho; Carvalho Calero e a sua obra, Laiovento, 1993.

- Palharés, Pilar, Tato Fontainha, Laura; Ricardo Carvalho Calero. A dignidade persoal, Concelho de Ferrol, 1994.

- Salinas Portugal, Francisco; Voz e Siléncio (entrevista com R. Carvalho Calero), Ed. do Cúmio, 1991.

- VV.AA.; «Ricardo Carvalho Calero, a razom da esperanza», A Nosa Cultura nº 13, eds A Nosa Terra, 1991, juntamente com o vídeo «Ricardo Carvalho Calero; a posibilidade de rectificar a história
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Terça-feira, 26 de Outubro de 2010

Sempre Galiza! - Higino Martins sobre "Cantares Galegos"

coordenação de Pedro Godinho


[Transcrito do PGL Portal Galego da Língua (http://www.pglingua.org/)]


Entrevista com o coordenador da edição em português de Cantares Galegos, o professor Higino Martins, galego afincado na diáspora argentina

Celso Alvarez Cáccamo


http://www.pglingua.org/index.php?option=com_content&view=article&id=2850:higino-martins-la-esperanca-ao-editar-rosalia-baseia-se-na-conviccao-de-que-tem-poder-para-mudar-a-consciencia-nacional-galegar&catid=6:entrevistas&Itemid=71


Higino Martins: «A esperança, ao editar Rosalía, baseia-se na convicção de que tem poder para mudar a consciência nacional galega»

PGL - O professor Higino Martins realiza mais uma achega à literatura galega e à nossa história. A edição segundo o Acordo Ortográfico de 1990 dos Cantares Galegos, de Rosalía de Castro constitui uma das publicações mais destacadas da Galiza neste 2010, sobretudo a nível internacional.

O Portal Galego da Língua contactou-o para conhecer o que oferece o interior deste clássico readaptado, e as considerações de uma das cabeças que engendrou tão importante e complicado encargo, que agora vê a luz graças a Edições da Galiza (em colaboração com a AGLP) que se pode comprar na loja Imperdível.

PGL: Como foi recebida esta nova edição de Cantares Galegos?

Higino Martins: Morando em Buenos Aires, onde não há distribuição, não estou em condições de o valorizar. Através da Rede e dos correios, os ecos parecem positivos. Ao cabo, em mim o maior peso tem-no a convicção da potência da obra de Rosalía.

PGL: Qual o objetivo desta nova edição do clássico de Rosalía?

A esperança, ao editar Rosalía, baseia-se na convicção de que tem poder para mudar a consciência nacional galega. É a única figura de talhe universal da literatura galega moderna, de um nível difícil de abranger antes de sumir-se nela, talvez pelo mito enervante que a rodeia, amiúde manipulado pelos renuentes da identidade.

PGL: Desde onde se está mostrando mais interesse nesta edição dos Cantares Galegos?


HM: Distinguiria dous campos, os dous com diversos graus de dificuldade na promoção. No internacional, nomeadamente os países de língua portuguesa, a termos históricos os frutos vão ser fulminantes. O valor simbólico da Galiza para eles é fulcral, prioritário. Solucionar a questão galega e fundacional para o seu futuro. Aí só há questões técnicas de distribuição editorial e a necessidade da nossa mínima perseverância.

O campo galego tem problemática similar, mas dificuldades maiores. A distribuição tem em contra enormes obstáculos, os recursos do estado espanhol, contra os quais só quadra opor uma resistência heroica. Parece tarefa de Sísifo, mas podemos ter confiança. Há forças não muito visíveis a colaborar. A semente sempre é pequena e na terra invisível; ao cabo chega a produzir grandes árvores.

PGL: Quanto tempo levou a adaptação?



HM: Difícil responder brevemente. A computar o precedente da edição da Caixa Ourense de 1986, seriam trinta anos. Ora bem, as mudanças da atual são a sequela do Acordo de ’90. Logo quadra dizer que se precipitaram, fulminantes, desde o momento em que a AGLP decidiu editar os clássicos começando por Cantares. Foram meses, o tempo de enviar os textos quase ao voo do teclado, cruzar opiniões e polir as provas.

PGL: Que pautas seguiu para as atualizações ou modificações da escrita Rosalia aos tempos de hoje?

Começaram sendo ortográficas e continuaram pela peneira léxica. O patamar de 1986 ficava aí, com critérios semelhantes ao da proposta da AGAL na altura. Mas nos últimos anos notei que a minha proposta reintegracionista do ano ’77, ao iniciar em Buenos Aires os cursos de galego, lúcida e aqui eficaz, globalmente não atingia resultados suficientes. Na Terra não chegava perante a magnitude de meios do estado. O recuar do número de falantes a meu ver robora a premente necessidade de reforçar duas notas: o orgulho profundo da identidade e, a par, o nível científico da língua a usar.

É preciso que o instrumento a opor à língua imperial seja de parelha dimensão. No caso do galego-português, como no do catalão, a única via de salvação é romper o feitiço do nome da língua. Do nome da língua e da prática culta correspondente. Os obstáculos internos na alma dos galegos pode rastejar-se mesmo em Pondal, tão orgulhoso em aparência e tão dubitativo na correspondência.

Sei que a pergunta quer resposta concreta. Ponho o modelo de coexistência de alemão e bávaro. Reservo os rasgos dialetais para textos de tom local ou folclórico. Mesmo aí tento atenuar a imagem gráfica diferente, com regras ad hoc: comĩ em vez de comim. Tal qual faz o português reivindico nesses casos ũa.

No caso presente, procurou-se brindar o clássico galego ao conjunto do grande domínio linguístico. Logo as regras são as da língua geral, para centos de milhões. Aí mesmo reivindico todos os rasgos dialetais recebidos pela norma portuguesa (dous, cousa, etc.), que são testemunhos longes da espera de que fomos objeto sem cairmos na conta.

PGL: Que dificuldades técnicas apresenta adaptar um texto galego clássico a uma norma em construção como é a do português da Galiza?

HM: Não maiores que as do estudo da história da língua. Os falares galegos são os restos maravilhosos da língua comum, têm a vantagem de ser um tesouro que venceu o túnel do tempo. A fantasia de viajar no tempo nas nossas mãos.

Nessas circunstâncias, o processo é similar ao do norueguês, do checo ou do hebreu. Certo que ainda sem os recursos do estado, pelo que cumpre opor a resistência heroica, que muitas vezes compromete o pão.

PGL: Como se consegue esse equilíbrio entre respeito pela tradição mais ao texto e a modernidade?

HM: O equilíbrio é resultado natural da busca. Com paciência sempre aparece a solução. Aliás, a língua popular costuma ser mais constante do que a cultivada nos níveis cultos, sempre mais flutuante. Plauto, arcaico, é mais próximo do vulgar que os escritores da idade de prata.

PGL: Sendo poesia, quais os problemas de respeitar os ritmos, fonotática, prosódia do texto e a habilidade rosaliana para a pauta musical da poesia?

HG: Deve respeitar-se a obra, a autora e a par ter a máxima fidelidade ao génio da língua. Não tanto nos Cantares, vindos da lírica popular, quanto em Folhas Novas, mais dependente da poesia escrita espanhola, às vezes em Rosalía há sinalefas do castelhano. Cumpre focá-lo com cautela.

A medida e os ritmos acentuais são invioláveis. A competência musical de Rosalía –a meu ver ainda pouco conhecida– é pasmosa. Isabel Rei revelou-me dados biográficos que a mostram como virtuosa em vários instrumentos. É no campo léxico onde ousei embrenhar-me. Às vezes foi preciso traduzir, já em 1986. Eis sabrosassiriguelas mudadas em soborosas ameixas do poema 5, verso 172. Enfim, dar resposta cabal seria repetir grande parte das notas da edição.

PGL: Que procedimento seguiu para o tratamento da etnografia, o folclore e especialmente a toponímia, nas notas de rodapé?

HM: As de rodapé procuram ajudar uma leitura fluida e inteligível dos leitores de língua oficial portuguesa, se breves. As finais são mais desenvolvidas. Mas não fui consequente. Há notas de rodapé algo extensas, quase sempre da autoria de Ângelo Brea. Suponho que algo inconscientemente deixei para as finais a métrica, as considerações sobre o fundo psicológico ou social, e quase todas as notas etimológicas ou etnográficas de cariz novidoso.

PGL: Contou com muitas colaborações desinteressadas neste trabalho? Que motivações moviam estas pessoas?

HM: Com Ernesto Vasques Souza compartilhamos as linhas gerais da edição. Devo destacar o contributo de Ângelo Brea, que preparara uma edição do livro e que a brindou generosamente; dela tirei ideias agudas e apontamentos de história, geografia e etnografia, geralmente incluídos nas notas de rodapé. E lembro as mensagens, muitas, cruzadas com Carlos Durão, Fernando Vasques Corredoira e Crisanto Veiguela Martins, que assumiram as revisões dos textos. Sem eles a edição não teria saído.

Falar em motivações é psicologia facílima neste caso. Carlos também anda longe e a saudade explica muito. Quanto aos outros... antes falei na necessária resistência heroica dos que moram no estado. Só como bons e generosos se compreende comprometerem às vezes o pão, num meio misteriosamente rígido, permeado de ares de mudança, mas ainda cheio de pétreas durezas seculares.

PGL: Como viu a colaboração por Internet com corretores na Galiza, Londres, um editor técnico em Valhadolid e um editor-impressor em Barcelona?

HM: Facílima. Pela idade ainda estou pasmo pela súbita abertura do horizonte que produziu a informática. Que parte tem estar eu na diáspora mais distante? Pois diria que serviu a libertar-me de ligaduras que me travariam estando no vórtice. A distância abriu a consciência da identidade a cada um dos galegos que a cobraram. A mim deu-me uma torre de marfim donde enxergar o passado.

PGL: Cantares Galegos e o Sempre em Galiza são dous livros basilares na identidade e a literatura do país. Agora ambos estão na ortografia comum e disponíveis para todo o nosso universo linguístico. É de esperar que se continue este processo de adaptação de clássicos?

É de aguardar. Creio que acontecerá. Não acontecer seria perder o destino. Não só cabe ter esperança; pressente-se o processo como inadiável, e também como grato, como uma tarefa aprazível que convoca. O dos clássicos, ou “clássicos”, tem algo. Esta será a prova do seu valor. Rosalia é génio universal e aspiro a ver edições dignas de Folhas Novas e, apesar de tradução, também de Nas Ribas do Sar. Salva-se muito de Curros. E pouco de Pondal, confesso, inda que me enforquem e apesar de compartilhar o pendor para os celtas.

Chega tarde o labor? Boa pergunta. Nunca é tarde se o corpo ainda alenta. Na história os tempos são diversos dos humanos individuais. Na mocidade sempre imaginamos chegar a ver os frutos procurados. Mas a história acelera. As prioridades? Tudo é prioritário. Aqui e sempre o paradoxo é guia. O corpo vive se todas as funções trabalham a par. Mas não há lugar para desesperos; lembremos a semente. Desesperar não, trabalhar como se todo dependesse só de nós. O que não façamos nós ninguém no-lo fará.

PGL: Que questões de respeito se suscitam ao intervir numa obra tão simbólica como a de Rosalia?

HM: Escrúpulos muitos, mas o decoro académico já não é meu cuidado. Aqui –e suponho que aí também– há muita burocracia e olhar de esguelha, pouca segurança nas opiniões sinceras. Pus por juiz à mesma Rosalia. Creio sinceramente que ela subscreveria os critérios assumidos, que são os que explicitou.

PGL: Por que uma pola de tojo como portada?

HM: Não sei, não a desenhei. Suponho que é emblema da Terra, a simbolizar algo a par útil, rude, pungente, de formosura perdurável. Como todo símbolo é inefável, ao invés do signo que é discreto. Provavelmente é um símbolo verdadeiro, objeto cheio de conteúdos profundos, difíceis de definir.

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Próximo sábado, dia 30 de Outubro

Edição especial de Sempre Galiza! dedicada ao centenário do

Professor Ricardo Carvalho Calero
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Quinta-feira, 3 de Junho de 2010

Ou reintegracionistas ou imbecis (com humor amoroso)

Do Portal Galego da Língua, transcrevemos, com a devida vénia, este excelente texto de

 Alexandre Banhos Campo:


O título semelha um pouco forte, pois parece dizer-se que, quem não se afirmar reintegracionista, é parvo, e isso não é assim, e, além disso, refere-se ao momento mais ou menos contemporâneo que vivemos nos nossos dias.

Quando os nossos devanceiros galeguistas do século XIX, os recuperadores da nossa língua como algo que começava a deixar de ser "socializadamente" simples língua ágrafa, se põem a fazer obra, não se podia aguardar deles outra cousa senão usarem o modelo castelhano, como escreve algures Fernando V. Corredoira “Em meados do século XIX renasce para a literatura uma língua socialmente estigmatizada, funcionalmente minorada, banida das instituições oficiais e hostilizada pelo Estado. Popular e realmente falada, a língua galega começará a ser posta ao serviço dum movimento cultural e político que irá perfilando uma vocação que (com cautela, porém) poderíamos chamar nacional...Como previsível, o recurso ao modelo ortográfico castelhano foi inevitável. O ágrafo galego passou a escrever-se conforme a feição gráfica da língua oficial e única língua verdadeira — tal como ortografada desde finais do século XVIII. Este modelo tinha no mínimo duas vantagens invencíveis: era tecnicamente prestadio e era o único conhecido, o único aliás que podia conhecer-se”.

Que no século XVIII o Padre Sarmiento escrevesse: “la lengua portuguesa pura no es otra que la extensión de la gallega” (“Sobre el origen de la lengua gallega”, 1755, em Opúsculos Lingüísticos Gallegos del s. XVIII, J.L. Pensado, Editorial Galaxia, 1974, pág. 30), ou que o seu colega de ordem e sabedoria o Padre Feijó afirmasse: “el idioma Lusitano, y el Gallego son uno mismo” (Theatro Critico Universal, tomo I, discurso 14, 1726), isso nada mudara pois não fazia parte do conhecimento “socializado”.


Pensai que o imenso acervo cultural medieval do português na Galiza era absolutamente desconhecido e só começou a desvendar-se nos últimos anos do século XIX e nos primeiros do XX. E o acesso ao galego de Portugal ou português de Portugal (e do Brasil), tão-pouco era nada doado, estavam a muitos megaparsec dos magníficos tempos presentes da internet, nos quais temos milhões de livros, e de todo tipo de documentos à distância dum clique na nossa língua, “libertada” de ferretes e taxas alfandegárias espanholas.

Nessa difícil situação dos primórdios, elaborou-se um discurso galeguista coerente com a realidade da língua e que foi o seguido a pé feito pola imensa maioria dos nossos vultos. Essa ideologia da língua foi magnificamente exprimida polo homem da Rosália de Castro, o impagável Murguia, no seu discurso dos Jogos Florais de Tui do ano 1891, no qual com rotundidade se afirma o da língua galega ser a mesma de Portugal e o Brasil, e que nunca poderemos pagar-lhes o serviço de a terem cuidado e enobrecido.

O grande vulto do galeguismo nacionalista Afonso Daniel R, Castelão, numa carta ao historiador espanholista Sánchez Albornoz, em que indica que o seu apelido é Castelão (Castelão = Castellano) com o til, diz: “Deseo, además, que el gallego se acerque y confunda com el português”

Para todo o galeguismo de pré-guerra o galego era português como o português era galego, ou nas formosas palavras de A. Vilar Ponte “Quanto mais galego é o galego mais português é”

Isso para o galeguismo era pura tautologia, que o universal analfabetismo na própria língua – de que não se libertava ninguém –, e a escolarização na escola espanhola impossibilitavam na prática, porém o rumo e ritmo reintegrador era firme e imparável, e cada dia avançava graus.

Mas passados e moldados todos – fascistas e antifascistas – na longa ditadura franquista, foi esmorecendo o velho legado da afirmação da unidade da língua portuguesa, da Galiza, o Brasil, Portugal e demais estados lusófonos. Unidade sim, mas com a diversidade interna própria como corresponde a línguas internacionais e multicontinentais.

O martelo franquista golpeando o galeguismo sobre a bigorna do controle, fez esmorecer em grande medida a transmissão entre as gerações do pensamento galeguista.

Os modelos “comunistas” de oposição converteram o Estado no quadro da luita de classes, e o povo – que por antonomásia é uma estrutura de classes com jogos de elites e de lideranças, e que como tal estava no mundo – foi reduzido a um imaginário de camadas populares, e a língua pois que ia ser “a língua proletária do meu povo”. Sintagma este que além da sua verdade muito mais confunde e com funestas consequências.

Desde a recuperação da democracia neste estado espanhol onde todo ficara atado e bem atado – em palavras do ditador –, desenvolveu-se um processo acelerado – unido à urbanização – de substituição linguística. A substituição vai firmemente colada à afirmação radical da língua “regional” (estatização).

Isso, além doutras questões, funciona como um instrumento muito útil do sucesso da substituição, e mais, quando setores bem importantes e numerosos do galeguismo acabam por assumi-los. Se a isso anexamos o controle ferrenho pola ideologia estatalista da universidade e da socialização na população na escola, o quadro que nos fica é bem cinzento.

Caros leitores, as línguas e as culturas são como as fragas, ecossistemas, neste caso ecossistemas sociais e culturais.

Quando nos achamos com uma fraga grande, esta tem uma grande inércia interna ecológica. Que nela sejam cortadas e toradas algumas árvores, o efeito real nela é nulo, e ainda que se introduza alguma espécie alheia, a inércia da imensidade dessa fraga faz com que os seus efeitos sejam imperceptíveis.

Porém, quanto menor for o espaço do ecossistema, qualquer tipo de intervenção nele, tem efeitos muito determinantes: se alguém cortar árvores e se puser a torá-las para fazer lenha ou tábuas, o efeito logo se percebe. Quanto menor é o espaço, mais sensível é às intervenções e mais dificuldade tem esse sistema para garantir a sua sustentabilidade.

Se tirando árvores se produzem efeitos nas fragas pequenas, não me diredes os que se vão produzir, se nesse espaço inserimos espécimes e sistemas alheios. Lembrai de novo que em biologia, quanto menor é um sistema ecológico, mais sensível é às intervenções que nele ocorrerem

O português da Galiza, comummente conhecido por galego, para grande fortuna nossa, faz parte duma fraga cultural e linguística pluricontinental com grande inércia ecológica interna. Mas à nossa volta o estado criou grandes auto-estradas e TGVs, modificaram as correntes de água vivificadoras, cortaram muitas árvores, introduziram espécies grandemente invasivas, e têm contratado um bom número de bem pagos e bem mantidos defensores da estatalização — quer dizer, do afastamento –. Com tudo isso afastaram-nos da fraga de que fazíamos parte, e engataram (ligaram) a nossa fraga a uma fraga cultural e linguística chamada polos nomes de castelhano e espanhol (bom, a nossa também e chamada por dous nomes português e galego e isso não deveria significar mais para nós e o nosso ecossistema, do que espanhol e castelhano significa para essoutro ecossistema).

Assim tornaram a nossa ¬fraga num apêndice pequenecho colada à deles, e declararam-na “de especial proteção constitucional”. Isso como em qualquer outro ecossistema significa que a viabilidade é muito limitada – (o da proteção na natureza dá pavor e no nosso ecossistema social também).

Temos um ecossistema, o nosso, “protegido” do seu natural e próprio, bem cingido como regional, e firmemente paralelo e muito bem colado ao ecossistema dos 300 não sei que milhões e, isso sim, “sabei ademais, que o nosso é só “entre nós”.

Se falássemos depois disso da sustentabilidade do nosso ecossistema cultural e linguístico na Galiza, poderíamos com a ajuda da matemática estabelecer e quantificar distintas variáveis e as suas influências e taxonomizar o nosso ecossistema como de escassa viabilidade matemática, nessas condições.

Mas a cousa não fica por aqui, andam por cima, alguns do ecossistema esse ao qual foi colado o nosso – bem isolado e regionalizado – falando de imposições sistémicas e ecológicas, dum jeito que é um insulto à inteligência de quem pudesse sequer discutir tão grande couve mental, é-vos o mesmo que a verdadeira história que a seguir vou contar-vos.

Uma boa amiga minha tinha uma pata que punha uns ovos de que muito gostava, quando esta lhe morreu, numa quarta-feira foi a Valença à feira para comprar outra. Ali havia um vendedor com um só pato, e o vendedor dixo-lhe, bem, tenho-lhe este pato. E a amiga, de profissão professora e de muito bom expediente, diz, mas eu queria uma pata porque gosto muito dos seus ovos. O vendedor diz: não há problema, senhora, este pato é duma nova espécie fruto da engenharia genética, além de pato põe ovos de pata e até se reproduz por patogênese. Ela, ante tal maravilha, levou o pato e passaram os meses e os anos e o tal pato nunca um ovo pôs, e amiga dizia: imos discutir isso de se é certo o que o vendedor lhe dixera ou se a enganara ou se enganara, ou se se passava alguma cousa no comportamento do parrulo que ela não soubera tratar. Essa discussão com a minha amiga era um insulto óbvio a inteligência.

Pois assim é isso da imposição, um insulto à nossa inteligência, mas há quem de tão movido que tem os sistemas do seu ecossistema que tente discuti-lo sem ver que isso não é mais do que uma burla e trato dele como se fosse um verdadeiro parvo ou enfermo mental.

No ano passado realizei um curso de linguagem administrativa da Secretaria-geral de Política linguística, apreendia-nos uma beleza licenciada de Filologia Galega pola Universidade de Compostela que andava na casa dos trinta anos.

O futuro de conjuntivo, isso é algo já decaído em galego, o infinitivo conjugado, bom, isso está aí, mas não é recomendável dado que já está em desuso, a linguagem administrativa.... pois paralela do espanhol que é em definitivo o modelo da linguagem do ecossistema regional estatalizado. ¬

A professora andava muito zangada com a política de Feijóo sobre a língua, concretamente da modificação (entre outras cousas, um roubo do trabalho aos galegos e galegas) do artigo 35º do Decreto legislativo 1/2008; ela dizia: é injusto que se nos modifique a nós, e aos catalães e bascos não, isso é injusto, se é legal para nós também deveria ser para eles, nesse caso, se fosse aplicado a todos, eu calaria (sic)

A professora não era do PP, era votante Bloco. Um dia comentava-lhe que o nome da sua matéria quando foi de estabelece-la na universidade, era o de galego-português e ela não acreditava, e dizia de galego e português (como o galego se havia de poder chamar galegoportuguês!).

A sua aspiração era a de obter uma vaga de normalizadora nalguma instituição pública.

Eu pensava: mas que se passou em filologia da Universidade de Compostela para esta matéria vir cair nas mãos de estoas? Diz Tzun Tzu n'A Arte da Guerra, que as batalhas que melhor se ganham são aquelas em que o inimigo abandona antes da batalha, ou dito doutro jeito, que as batalhas que antes se perdem são aquelas onde se renuncia a combater.

O reintegracionismo – tendo a razão e a ciência do seu lado – renunciou à batalha séria em Filologia-Compostela (afortunadamente não todo o País é assim). Agora isso está em mãos de estoas e a mais dum reintegrata o de ser estoa até se lhe pega (naturalmente, estas apreciações subjetivas e descerebradas minhas não vão por ninguém e peço desculpa a quem se puder incomodar, salvo que seja ou se considere um estoa).

Dessa faculdade sai quanto normalizador nos invade, com essa praga imbecil do galego regional e sendo a desculpa para alguns caminharem contentes por nada.

Tranquilos todos e todas, quando eu for o Presidente da Galiza— por que não? – o primeiro que vou colocar é uma Secretaria-Geral de Política Linguística para a proteção da igualdade do castelhano e o galego e em cada estabelecimento ou instituição pública um normalizador supervisor de todo o que for feito em castelhano, desde traduções até saraus para terem bem cobertos os direitos; e aos de galego daria umas boas férias, que Deus sabe que as têm já bem ganhas.

Como percebo que estas minhas estórias podem ter despistado algum leitor, voltemos ao do cabeçalho e ao corolário a que temos que chegar.

Um amigo meu, acho que visitante nalgum congresso da AGAL (III), Cesareo Monici, corso ele, e com quem partilhei alguns jantares e muitos gostosos momentos, dizia-me: “Na Córsega falamos italiano, o italiano per se, o toscano; mas estes franceses querem que chamemos ao italiano corso, e que o modelo do nosso corso seja o da langue d'oil chamada franciano; bom, francês segundo o Estado”. Dizia-me: “estão-nos regionalizando, esmagando, banindo, substituindo o nosso ecossistema cultural italiano (balizando-nos muito bem balizados como diria o bom amigo Elias Torres) polo francês. Porém, eu quero ficar polo menos com a dignidade, não agir como um parvo e não aceitar o seu jogo. Jogo que é neste caso a coroa1 do modelo de substituição linguística que nos imponhem. São corso, mas não vão conseguir que me comporte como imbecil.”

Outro amigo de congressos da AGAL, o sempre muito solidário com a Galiza e das pessoas mais informadas do mundo sobre esta terra nossa, como é de geral conhecimento dos reintegracionistas, o Lluís Muntaner, dizia-me um dia: “Alexandre perdoa-me que che diga isto, mas queria comentá-lo contigo. Sou como sabes, muito admirador da vossa terra e cultura, gosto da Lusofonia, amo a cidade do Porto tanto como tu ou o nosso comum amigo José Chão de Lamas. Admiro a fina inteligência que caracteriza aos galegos e galegas, sodes os melhores fazendo o jogo bonito, mas sempre que se tenta meter um gole agides como parvos, melhor dito como imbecis, vós que tendes a vantagem de ter uma língua internacional renunciades a ela de jeito majoritário. O que fazem convosco, e o jeito de como muitos galegos e galegas colaboram nisso é de imbecis e não chego a entender como pode ser isso.”

O reintegracionismo é hoje a afirmação clara de qual é o ecossistema nosso. Mesmo uma instituição como a UNESCO no-lo recordou no seu último relatório sobre as línguas ameaçadas – e acabava o relatório da UNESCO – vocês saberão se o aproveitam ou não o de serem língua internacional— isso é com vocês.

Os reintegracionistas estamos conscientes da difícil situação em que vivemos e padecemos, mas o que não vão conseguir connosco, e que além disso – de passarmo-las putas –, o nosso comportamento seja o de imbecis que engolem mós de moinho como a minha amiga a do pato. Há que polo menos termo-nos respeito, como galegos e galegas e como pessoas inteligentes. Isso é o nosso melhor processo normalizador.


in Portal Galego da Língua, 31/05/2010

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