Sexta-feira, 15 de Julho de 2011

Mais uma Ode, de Ricardo Reis

 

 

 

 

 

 

 

Só esta liberdade nos concedem

Os deuses: submetermo-nos

Ao seu domínio por vontade nossa.

Mais vale assim fazermos

Porque só na ilusão da liberdade

A liberdade existe.

 

Nem outro jeito os deuses, sobre quem

O eterno fado pesa,

Usam para seu calmo e possuído

Convencimento antigo

De que é divina e livre a sua vida.

 

Nós, imitando os deuses,

Tão pouco livres como eles no Olimpo,

Como quem pela areia

Ergue castelos para encher os olhos,

Ergamos nossa vida

E os deuses saberão agradecer-nos

O sermos tão como eles.

publicado por João Machado às 07:00
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Quinta-feira, 14 de Julho de 2011

Fazer Horas, por Pedro Tamen

 

 

 

 

 

 

Adelina: a bruma que era ontem

voa – não é já. Foi-se tão prestes

como o João das Índias. E foi lá

que um pêro se ficou – tão são,

tão nosso irmão.

 

Adelina: que é do candeeiro

que tu dizias fosco? A luz que deu

dá ora gosto. Por isso aqui te digo

que após a morte é um minuto grande

e outro umbigo.

 

E está-se, Adelina. Se como burro

dói, é vero, mas está-se.

Até que passe.

 

 

 

 

Este poema foi incluído em Poemas a Isto, de 1962. E fomos encontrá-lo no Retábulo das Matérias, editado pela Gótica em 2001, e que agrupa a poesia de Pedro Tamen, de1956 a 2001. Ao Pedro Tamen e à Gótica o nosso obrigado e os nossos cumprimentos.

publicado por João Machado às 07:00
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Quarta-feira, 13 de Julho de 2011

Epitáfio, de Políbio Gomes dos Santos

 

 

 


 

 

Menino, bem menino, fiz o meu balão

Papel de seda às cores...

- Tantas eram!

Ai, nunca mais as vi, nos olhos se perderam.

Quando a tarde morria o meu balão subiu

E tão direito ia, tão veloz correu

Que eu disse: "Vai tombar a Lua

E talvez queime o céu."

 

Anoiteceu.

E no horizonte o meu balão era uma rosa

Vermelha, não minha, aflitiva,

Murchando,

Poisando na água pantanosa

De além.

 

Ninguém o viu.

 

Ninguém colheu a angústia dum balão ardendo.

Somente a água verde rebrilhou acesa,

Clamorosa e podre,

Como nos incêndios de Veneza

E rãs, acreditando o mal mortal e seu

Foram fugindo, pela noite fria,

Do balão que ardeu.

 

Ó tu, quem sejas, o balão fui eu!

 

 

 

publicado por João Machado às 07:00
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Terça-feira, 12 de Julho de 2011

Sempre Galiza! – Ernesto Guerra da Cal: Ramalhete de Poemas Carnais, “In Memoriam” de Ricardo Carvalho Calero - III Desencontro

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

 

  

De Ernesto Guerra da Cal – para ler, reler e partilhar

 

os sete poemas de:

 

Ramalhete de Poemas Carnais

"In Memoriam" de Ricardo Carvalho Calero

 

 

[ dia 28/6 - I ESFINGE ]

 

[ dia   5/7 - II FADO CHORADO SOBRE UM AMOR PASSADO ]

 

hoje: III DESENCONTRO

 

 

 

I.M. Carvalho Calero/ G. da C.

 

III

DESENCONTRO

********************

    
   

No te quiero más castigo

   

que estés durmiendo con otro

   

y estés soñando conmigo”.

    

(Copla popular andaluza)

   
  

Os Olhos mutuamente

 

fechados e perdidos

   

cada um

   

no seu longínquo Olhar

   
  

Os Lábios mutuamente

 

colados e arredios

   

e cada um

   

entregue

   

a um alheio Beijar

   
  

Os Corpos enlaçados

 

e evadidos

   

cada um

   

para um ausente Lugar

   
  

E ambos os Corações

 

remotos e abstraídos

   

cada um

   

no seu independente Latejar

   
 

E a única Emoção presente:

   

o agoniante Esforço errante

   

da Imaginação

    

- a imaginar!

 
 

LONDRES

6 de Outubro

1990

      

 

 

 

[ dia 19/7 - IV EUCARISTIA SACRÍLEGA ]

 

 

publicado por Pedro Godinho às 10:00
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O Autor aos seus versos, de Bocage

 

 

 

 

 

 


 

 

 

 

Chorosos versos meus desentoados,

Sem arte, sem beleza, e sem brandura,

Urdidos pela mão da Desventura,

Pela baça Tristeza envenenados:

 

Vede a luz, não busqueis, desesperados,

No mudo esquecimento a sepultura;

Se os ditosos vos lerem sem ternura,

Ler-vos-ão com ternura os desgraçados:

 

Não vos inspire, ó versos, cobardia

Da sátira mordaz o furor louco,

Da maldizente voz a tirania:

 

Desculpa tendes, se valeis tão pouco;

Que não pode cantar com melodia

Um peito, de gemer cansado e rouco.

publicado por João Machado às 07:00
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Segunda-feira, 11 de Julho de 2011

Urgentemente, de Eugénio de Andrade

 

 

 

 

 

 

 

É urgente o amor.

É urgente um barco no mar.

 

É urgente destruir certas palavras,

ódio, solidão e crueldade,

alguns lamentos,

muitas espadas.

 

É urgente inventar alegria,

multiplicar os beijos, as searas,

é urgente descobrir rosas e rios

e manhãs claras.

 

Cai o silêncio nos ombros e a luz

impura, até doer.

É urgente o amor, é urgente

permanecer.

publicado por João Machado às 07:00
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Domingo, 10 de Julho de 2011

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, de Luís de Camões

 

 

 

 

 

 

 

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,

Muda-se o ser, muda-se a confiança;

Todo o mundo é composto de mudança,

Tomando sempre novas qualidades.

 

Continuamente vemos novidades,

Diferentes em tudo da esperança;

Do mal ficam as mágoas na lembrança,

E do bem, se algum houve, as saudades.

 

O tempo cobre o chão de verde manto

Que já coberto foi de neve fria,

E em mim converte em choro o doce canto.

 

E, afora este mudar-se cada dia,

Outra mudança faz de mor espanto:

Que não se muda já como soía.

publicado por João Machado às 07:00
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Quinta-feira, 7 de Julho de 2011

Papel amarrotado desse chá que tomaste, de Pedro Tamen

 

 

 

 

 

 

Papel amarrotado desse chá que tomaste

na tarde de qual dia, ou o copo de vidro

depressa transformado na total transparência,

não é que inexistente, mas de mínima espessura

sobre o cais deste porto onde ninguém aporta,

não o papel rasgado, não o desfeito em fogo,

incolor, inodoro, antraz ignoto, anuro,

coisa que sim, que é, mas já não o que foi,

vazia intensidade, inútil excrescência

da vida tilitante

                                   - eis o que tenho agora

quando o dia amanhece e cai no saco roto

da débil complacência com que já não me vejo.

 

Este poema incluiu Memória Indescritível, 2000. Ao Pedro Tamen e à Gótica, responsável pela edição em 2001 do Retábulo das Matérias, os cumprimentos e o obrigado de VerbArte.

publicado por João Machado às 07:00
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Quarta-feira, 6 de Julho de 2011

CHICAGO, de Carl Sandburg

 

 

 

 

 

 

(1878 - 1967)

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


   

 

 

     

 

 

 

     HOG Butcher for the World,
     Tool Maker, Stacker of Wheat,
     Player with Railroads and the Nation's Freight Handler;
     Stormy, husky, brawling,
     City of the Big Shoulders:

They tell me you are wicked and I believe them, for I
     have seen your painted women under the gas lamps
     luring the farm boys.
And they tell me you are crooked and I answer: Yes, it
     is true I have seen the gunman kill and go free to
     kill again.
And they tell me you are brutal and my reply is: On the
     faces of women and children I have seen the marks
     of wanton hunger.
And having answered so I turn once more to those who
     sneer at this my city, and I give them back the sneer
     and say to them:
Come and show me another city with lifted head singing
     so proud to be alive and coarse and strong and cunning.
Flinging magnetic curses amid the toil of piling job on
     job, here is a tall bold slugger set vivid against the
     little soft cities;

Fierce as a dog with tongue lapping for action, cunning
     as a savage pitted against the wilderness,
          Bareheaded,
          Shoveling,
          Wrecking,
          Planning,
          Building, breaking, rebuilding,
Under the smoke, dust all over his mouth, laughing with
     white teeth,
Under the terrible burden of destiny laughing as a young
     man laughs,
Laughing even as an ignorant fighter laughs who has
     never lost a battle,
Bragging and laughing that under his wrist is the pulse.
     and under his ribs the heart of the people,
               Laughing!
Laughing the stormy, husky, brawling laughter of
     Youth, half-naked, sweating, proud to be Hog
     Butcher, Tool Maker, Stacker of Wheat, Player with
     Railroads and Freight Handler to the Nation.

publicado por João Machado às 07:00
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Terça-feira, 5 de Julho de 2011

Sempre Galiza! – Ernesto Guerra da Cal: Ramalhete de Poemas Carnais, “In Memoriam” de Ricardo Carvalho Calero - II Fado Chorado Sobre Um Amor Passado

publica-se às 3ªs e 6ªs

coordenação Pedro Godinho

 

 

De Ernesto Guerra da Cal – para ler, reler e partilhar

 

os sete poemas de:

 

Ramalhete de Poemas Carnais

"In Memoriam" de Ricardo Carvalho Calero

 

 

dia 28/6 - I ESFINGE ]

 
hoje: II FADO CHORADO SOBRE UM AMOR PASSADO 

 

 

 

I.M. Carvalho Calero/ G. da C.

 

II

FADO

CHORADO

SOBRE UM AMOR

PASSADO

************

    
   

Las pisadas de arena que la ola

   

soñolienta y fatal borra en la playa”.

    

JORGE LUÍS BORGES

  
 

Pelo teu corpo

 

de limão maduro

 

desço

 

seguro

 

ao fundo

 

do mais fundo

 

rincão

 

do meu adorabundo coração

 

Que

 

ainda contigo agora

 

na saudosa desora

 

do passado

 

chora

 

a fio

 

como um rio

 

pelo jasmim errado

 

cuja doce e equívoca fragrância

 

amargando está em mim

 

inveterado

 

a tal

 

astral

 

distância

 
 

ESTORIL

Janeiro

1989

 

 

[ dia 12/7 - III DESENCONTRO ]

 

 

publicado por Pedro Godinho às 10:00
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Ida sem volta, de Mário-Henrique Leiria

 

 

 

 

 

 

 

Acordar na cidade logo de manhã

e esperar a noite com exactidão

no encontrar do último comboio

que parte conciso para outro dia

sair na estação que é central

de outra cidade já a anoitecer

onde talvez seja o lugar habitual

do vendedor ambulante das sortes

quase grandes

no caminho designadamente antecipado

pelo voo dos pássaros migradores

que agora mesmo se vão de partida

para outra cidade de amanhecer definitivo

e depois da viagem sempre conhecida

da porta em porta na cidade

adormecer ao aviso da madrugada

e esperar o sinal propício indicado

pelo caminho persistente dos peixes

a subir o rio exaustivamente nele

acordar na noite da noite na cidade

até chegar o momento muito matinal

de partir no primeiro comboio efectivo

da manhã de outra cidade a entardecer

 

 

 

Este poema integra a obra Contos do Gin-Tonic, de Mário-Henrique Leiria. Reproduzimo-lo a partir da 6.ª edição, da Editorial Estampa. Pedimos a compreensão da da editora, assim como a dos herdeiros do autor. A ambos enviamos os nossos cumprimentos.

publicado por João Machado às 07:00
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Domingo, 3 de Julho de 2011

Ciclo Conferências "A Poesia e a Liberdade" - Poesia e Política, pelo Doutor Manuel Frias Martins. Amanhã, em Lisboa.

 

 

DIVULGAÇÃO

CULTURAL

 

 

 

 

 

 

 

______________________________________________________

4 Site | www.apescritores.pt | * info@apescritores.pt    

( Tel | (+ 351) 21 39718 99

6  Fax | (+ 351) 21 397 23 41

+ Morada | Rua de S. Domingos à Lapa, 17

                   1200-832 Lisboa, Portugal

 

 

 

publicado por João Machado às 09:30
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Tormento do Ideal, de Antero de Quental

 

 

 

 

Fui buscar este poema aos Sonetos Completos de Antero Quental  (1842 - 1891), da Biblioteca Ulisseia de Autores Portugueses, edição de 2002. À Editora Ulisseia e a Ana Maria Almeida Martins, autora da magnífica introdução que acompanha a obra, VerbArte apresenta os seus melhores cumprimentos.

 

 

 

 

Conheci a Beleza que não morre

E fiquei triste. Como quem da serra

Mais alta que haja, olhando aos pés a terra

E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

 

Minguar, fundir-se sob a luz que jorre;

Assim eu vi o mundo e o que ele encerra

Perder a cor, bem como a nuvem que erra

Ao pôr do sol e sobre o mar discorre.

 

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,

Tropeço, em sombras, na matéria dura,

E encontro a imperfeição de quanto existe.

 

Recebi o baptismo dos poetas,

E assentado entre as formas incompletas

Para sempre fiquei pálido e triste. 

publicado por João Machado às 07:00
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Sábado, 2 de Julho de 2011

ROSTO DE NINGUÉM, por Paxiano

 

 

 

 

 

 

Sou apenas a lágrima de ninguém

caída

Que em dia de nevoeiro

foi vertida

e pelo rio recolhida.

Ou o resto duma tela pintada

quadro de vida

Sombra de mim

Sonhada.

Sou o princípio e o fim... de nada

Obra inacabada

Que há-de ser pó... e semente

Sou um produto de gente

Aquilo que o mundo fez

E deixou germinar...

Para sempre

Cresceu com o tempo

À chuva e ao vento

Deu  frutos

Em terra de ninguém

Carregado de versos e sonhos

Lavados com lágrimas de alguém

publicado por João Machado às 07:00
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Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

MISTÉRIO DO SER, por Paxiano

 

 

 

 

 

 

 

Fazemos parte desse mistério

sonhado

Fazemos parte da bruma

que criámos

Levantamos depois este véu

Há sombra dum sol brilhante

que nasceu

 

 

Somos um pouco sol e sombra

Dum sorriso meio louco

meio sério

Somos o resto da poeira

solta

Que assenta quase louca

No restolho deste mistério

 

 

Somos pedra da estátua feita

Escopro duro dos seus traços

Somos o busto já erguido

Nem perfeito nem definido

No meio de todos embaraços

 

Somos parte desse mistério

Sorriso meio louco, meio sério

publicado por João Machado às 07:00
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