Terça-feira, 15 de Fevereiro de 2011

Do que falamos quando falamos do Norte – por Carlos Loures

 

Esta canção interpretada pelo Rui Reininho, Isabel Silvestre e os GNR´é bonita, mas peca, quanto a mim, por ser falaciosa. Buscando na informação que sobre o tema disponho, não existe uma pronúncia do Norte – são várias as formas dialectais que coexistem no espaço que, de forma vaga, podemos considerar o Norte. Socorrendo-me do saber de Lindley Cintra e Celso Furtado, diria que na área geralmente considerada «Norte» há, além do galego ocidental e do galego oriental, a norte do rio Minho os seguintes dialectos: transmontano, alto-minhoto, baixo-minhoto, duriense e beirão. Em conceitos de «Norte» mais ambiciosos, que incluem as regiões de Aveiro, Viseu, Coimbra e Guarda, a coisa complica-se ainda mais. Pronúncias ou acentos, muito diferentes uns dos outros. Por isso digo que a canção é falaciosa – veicula uma intenção política em detrimento da verdade científica. Não é de pronúncia que a canção nos quer falar.

 

Vamos lá tentar analisar no que consiste o Norte.  Quando no título pergunto do que falamos quando falamos do Norte, não estou a fazer uma pergunta retórica, daquelas que já trazem apensa a resposta. Nada disso. Gostava mesmo de saber se o paradigma do Norte é subjectivo e para uns significa uma coisa e para outros outra ou se, pelo contrário, existe uma ideia concreta, fundamentada histórico-geograficamente. Económica e socialmente, também. A queixa mais generalizada que se escuta principalmente no Porto é a de que o centralismo lisboeta sufoca a sociedade nortenha, gastando-se no Sul, particularmente na capital, a riqueza criada pelo trabalho das gentes do Norte. Creio que a verdade estatística contraria esta ideia, mas também não me parece importante exibir aqui números.

 

Também acho que o centralismo é um mal e, tenho-o dito muitas vezes, o conceito de capital é arcaico e tem mais ver com as monarquias e as respectivas cortes do que com um estado moderno. Os ministérios, por exemplo, deveriam situar-se onde a sua presença fosse mais útil e justificável. A centralização dos serviços em Lisboa é, quanto a mim, perniciosa (principalmente para os lisboetas). Somos um país pequeno. Porém, a Holanda (Países Baixos), que é territorialmente bastante mais pequena, tendo, como nós, a capital na maior cidade, tem noutras, nomeadamente na Haia, importantes centros de poder.

 

A regionalização poderá mitigar alguns dos problemas e, sobretudo, apaziguar as queixas – mas não irá criar novos centralismos? Multiplicar cargos, dar azo a uma maior corrupção? Sabendo o que sei e como funciona a classe política, diria que sim. E o exemplo da Madeira não ajuda nada a levar a água ao moinho dos que defendem a regionalização.

 

Coloco aqui uma primeira questão – o velho municipalismo, dada a grande proximidade entre governantes e governados, não daria uma melhor resposta aos anseios de independência e de garantia de que tudo o que a um concelho diga respeito, é decidido pela população desse mesmo concelho? Alexandre Herculano, defendeu a criação de uma estrutura social assente no poder municipal. Contra esta ideia de Herculano, o escritor portuense Júlio Dinis opinou que o municipalismo iria multiplicar os caciques. Esta é, pois, uma questão que vem de longe.

 

Já no século XIX a discussão entre centralistas e descentralistas foi aceso. Nos períodos de descentralização (governos de Passos Manuel, Rodrigues Sampaio e Luciano de Castro), a corrupção não diminuiu antes pelo contrário, com o endividamento a subir de forma descontrolada. O caciquismo aumentou. Nos períodos de maior centralização (Costa Cabral, António Augusto de Aguiar, João Franco), a corrupção diminuiu, mas o mal estar entre governo e populações aumentou. Mal estar que hoje se sente de forma aguda.

 

Gostava que discutíssemos esta questão sem preconceitos, picardias ou regionalismos exacerbados. Que acham?

publicado por Carlos Loures às 12:00
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