João Machado
Várias pessoas me remeteram separadamente o vídeo que acima coloquei, e que na realidade tem grande interesse. Lula da Silva, ao invés de muitos dos seus colegas governantes (julgo que não seria exagerado dizer: ao invés da grande maioria dos seus colegas governantes) defende o Wikileaks, e põe a questão: será que ao perseguir os seus responsáveis não se está a perseguir a liberdade de expressão? O presidente brasileiro cessante chama a atenção para o facto evidente de os responsáveis pelos escândalos revelados serem os autores das mensagens e não quem as trouxe ao conhecimento do público.
É óbvio que Lula, ao fazer aquelas afirmações sobre o Wikileaks, não conquistou muitas simpatias entre a classe política. E não vemos Tony Blair, Bill Clinton, muito menos Aznar ou Georges Bush, a fazer declarações semelhantes. E Mário Soares ou Freitas do Amaral? Ignoro se se pronunciaram sobre o assunto. Mas suspeito que também não terão concordado. Talvez o sentido das suas declarações variasse, conforme estivessem no poder ou na oposição. Também os agentes políticos (diplomatas, espiões, que também são agentes políticos, e de que maneira, assessores, etc.) não devem ter gostado de que lhes chamassem a atenção para o dever que têm de procurar ser mais rigorosos e empenhados no exercício das suas funções. Mas Lula ao pronunciar as suas declarações não foi com certeza ingénuo ou descuidado. Quem o observa percebe que não é uma coisa nem outra. Privilegiou a defesa da transparência e da democracia (não existe uma sem a outra) em vez de dar prioridade às vantagens pessoais que resultam de uma reforma tranquila, sem controvérsias.
José Carlos de Vasconcelos, na Visão de 6 de Janeiro de 2011, na sua coluna de opinião Portugal Comentário, sob o título O exemplo de Lula, faz um resumo do que foi a evolução de Brasil com Lula da Silva, e remata concluindo que as características pessoais de Lula, para além das suas opções políticas, contribuíram para o êxito dos seus governos. Êxito esse sem dúvida parcial, na medida em que o Brasil continua a ser um país de grandes contrastes. E Lula terá deixado grandes problemas por resolver, como a corrupção, o problema ambiental, a reforma agrária e, apesar de grandes melhorias, grande pobreza, com os seus fenómenos correlativos (crime violenta, número enorme de crianças e jovens desvalidos, doença). Contudo são inegáveis a melhoria de condições de vida de muitos, a maneira como o Brasil resistiu à crise financeira mantendo-se na via do progresso económico, e o papel cada vez mais importante que vem desempenhando na cena internacional. José Carlos de Vasconcelos realça a sabedoria, a experiência de vida, a visão política, o amor e fidelidade ao povo e outras qualidades que fizeram de Lula o líder mais indicado para dirigir o país, na sua opinião.
Sem dúvida que essas qualidades foram muito importantes para os sucessos dos governos de Lula, nacional e internacionalmente. Por mim acho que Lula poderia e deveria ter ido mais longe em vários sectores. Lula pertence a uma ala esquerda moderada (não terá sido sempre assim) que recusa as fracturas que são necessárias para corrigir as grandes disfunções sociais. José Carlos de Vasconcelos relembra que fez "pactos com Deus e com o Diabo" para garantir a estabilidade governativa. Mas pessoalmente acho que Lula, nascido no Pernambuco, emigrante dentro do Brasil, que engraxou sapatos, se tornou operário e sindicalista, com poucos estudos se lançou na política, se candidatou várias vezes à presidência do seu país (só foi eleito à quarta), é um caso raro num político que chegou tão longe. Porque manteve uma grande ligação com o seu povo, ao contrário dos que já acima referi (será que alguma vez a tiveram, essa ligação?), e de muitos outros. Dos políticos que conheço (dos que tenho uma ideia sobre as suas vidas e do que são como pessoas), por esse mundo, só talvez os cabo-verdianos Aristides Pereira e Pedro Pires tenham algumas parecenças com Lula da Silva. E Cabo Verde e o Brasil são tão diferentes. De qualquer modo, foram as qualidades pessoais de Lula da Silva que emergiram quando falou do Wikileaks. Julgo que isso deve ficar para a história.
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