Domingo, 21 de Novembro de 2010

Boaventura de Sousa Santos no Estrolabio: Respirar é possível

Para governos "desalinhados" do continente e para as classes sociais que os levaram ao poder, as eleições no Brasil foram um sinal de esperança
As eleições no Brasil tiveram uma importância internacional inusitada. As razões diferem consoante a perspectiva geopolítica que se adote. Vistas da Europa, as eleições tiveram significado especial para os partidos de esquerda. A Europa vive uma grave crise, que ameaça liquidar o núcleo duro da sua identidade: o modelo social europeu e a social-democracia. Apesar de estarmos diante de realidades sociológicas distintas, o Brasil ergueu nos últimos oito anos a bandeira da social-democracia e reduziu significativamente a pobreza. Fê-lo reivindicando a especificidade do seu modelo, mas fundando-o na mesma ideia básica de combinar aumentos de produtividade econômica com aumentos de proteção social. Para os partidos que, na Europa, lutam pela reforma do modelo social, mas não por seu abandono, as eleições no Brasil vieram trazer um pouco mais de ar para respirar. No continente americano, as eleições no Brasil tiveram uma relevância sem precedentes. Duas perspectivas opostas se confrontaram. Para o governo dos EUA, o Brasil de Lula foi um parceiro relutante, desconcertante e, em última análise, não fiável.
 

Combinou uma política econômica aceitável (ainda que criticável por não ter continuado o processo das privatizações) com uma política externa hostil. Para os EUA, é hostil toda política externa que não se alinhe integralmente com as decisões de Washington. Tudo começou logo no início do primeiro mandato de Lula, quando este decidiu fornecer meio milhão de barris de petróleo à Venezuela de Hugo Chávez, que nesse momento enfrentava uma greve do setor petroleiro, depois de ter sobrevivido a um golpe em que os EUA estiveram envolvidos. Tal ato significou um tropeço enorme na política americana de isolar o governo Chávez. Os anos seguintes vieram confirmar a pulsão autonomista do governo Lula. O Brasil manifestou-se veementemente contra o bloqueio a Cuba; criou relações de confiança com governos eleitos, mas considerados hostis -Bolívia e Equador-, e defendeu-os de tentativas de golpes da direita, em 2008 e em 2010. O país também promoveu formas de integração regional, tanto no plano econômico como no político e militar, à revelia dos EUA, e, ousadia das ousadias, procurou relacionamento independente com o governo "terrorista" do Irã. Na década passada, a guerra no Oriente Médio fez com que os EUA "abandonassem" a América Latina. Estão hoje de volta, e as formas de intervenção são mais diversificadas do que antes. Dão mais importância ao financiamento de organizações sociais, ambientais e religiosas com agendas que as afastem dos governos hostis a derrotar, como acaba de ser documentado nos casos da Bolívia e do Equador. O objetivo é sempre o mesmo: promover governos totalmente alinhados. E as recompensas pelo alinhamento total são hoje maiores que antes. A obsessão de Serra com o narcotráfico na Bolívia (um ator secundaríssimo) era o sinal do desejo de alinhamento. A visita de Hillary Clinton e a confirmação, pouco antes das eleições, de um embaixador duro ("falcão"), Thomas Shannon, são sinais evidentes da estratégia
americana: um Brasil alinhado com Washington provocaria, como efeito dominó, a queda dos outros governos não alinhados do subcontinente. O projeto se mantém, mas, por agora, ficou adiado. A outra perspectiva sobre as eleições foi o reverso da anterior. Para os governos "desalinhados" do continente e para as classes e movimentos sociais que os levaram democraticamente ao poder, as eleições brasileiras foram um sinal de esperança: há espaço para política regional com algum grau de autonomia e para um novo tipo de nacionalismo, que aposta em mais redistribuição da riqueza coletiva.
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Segunda-feira, 1 de Novembro de 2010

Dilma Roussef, primeira mulher Presidente do Brasil

Sílvio Castro
A mulher brasileira conquistou o direito de voto, de eleger e de ser eleita, pelo Novo Código Eleitoral de 1932. Tratava-se de um dos mais revolucionários atos daquela primeira fase da geral institucionalização do País, completada com as livres eleições de 1933. Passaram-se, desta maneira, 78 anos para que o povo brasileiro elegesse pela primeira vez uma mulher como seu Presidente.

Dilma Roussef, nascida em Belo Horizonte (Minas Gerais), no dia 14 de dezembro de 1947, economista, viveu os anos de sua juventude como ativista de extrema-esquerda, chegando à guerrilha urbana contra a ditadura militar que investiu o Brasil no período 1964-1985. A jovem Dilma vem aprisionada pelos militares, torturada, passando três anos nos cárceres da ditadura.

Filha de um advogado e empresário búlgaro e de uma professora primária brasileira, sendo assim filha de um imigrante e partecipante de uma 2ª. geração de novos brasileiros, tudo isso como um exemplo de rápida e alta integração de descendentes de imigrantes na vida política brasileira, como igualmente acontece nos USA com o Presidente Barack Obama, a futura presidente do Brasil teve uma infância burguesa e tranquila em seio à classe média da capital mineira.

Retornando o País à sua natural estabilidade democrática em 1985, Dilma se transfere a Porto Alegre, Rio Grande do Sul, onde conclui os seus estudos de economia e partecipa da vida política estadual, integrando-se na política trabalhista do governador Leonel Brizola.

Em 2002, com a eleição de Luís Lula Inácio da Silva para o seu primeiro mandato de Presidente do Brasil, a ativa economista mineira, já então militante e dirigente do Partido do Trabalhador, o mesmo de seu Presidente, vem nomeada por Lula para o cargo de Ministro da Energia. Neste encargo ela revela particulares qualidades administrativas e forte caráter dirigencial.

Três anos depois, em 2005, quando Lula, em plena início das atividades de seu 2º. Mandato presidencial vê e consegue superar o escândalo conhecido por “mensalão“ (compra nos bastidores de deputados para chegar à aprovação de leis), escândalo que envolveu todo o Partido do Trabalhador e custou o cargo de Chefe da Casa Civil a José Dirceu, homem forte do PT e natural candidato à sucessão de Lula, o Presidente chama a ex-guerrilheira para sucedê-lo. Começa então, na qualidade de titular da Casa Civil da Presidência da República a definitiva ascenção de Dilma Roussef na vida política nacional.

Porém, quando Lula a apresenta como candidata à sucessão presidencial, a história de uma ex-guerrilheira choca grande parte da opinião política brasileira, choque esse alimentado pela media mais ativa do País. Sua participação em juventude aos movimentos de guerrilha, as prisões por ela sofridas longamente, as torturas correspondentes porque então passara, tudo isso fazia da candidata algo de inédito na perspectiva eleitoral brasileira. Porém, ao lado dessas experiências pouco comuns a um candidato à Presidência do País, o grande empenho pela liberdade por ela sempre demonstrado atraía fortemente.

A passagem para o segundo turno das eleições, foram principalmente uma
demonstração do eleitorado brasileiro de todas essas hesitações. Hesitações superadas com as eleições deste já agora histórico 31 de outubro de 2010, quando a primeira mulher brasileira vem eleita Presidente da República com 55,7 milhões de votos, enquanto o seu adversário, José Serra recebia 43,7 milhões. Dilma então aumenta a sua diferença de votos quanto a Serra, passando dos 8 milhões do primeiro turno ao 12 do turno decisivo. E tudo isso apesar da maior abstenção eleitoral dos últimos pleitos, abstenção que atinge os 20% dos votos.

No seu primeiro pronunciamento público, feito logo após o conhecimento oficial de sua eleição, Dilma soube definir em vários pontos a sua forte personalidade política, prospectando o quando deseja realizar em seu governo que nasce em um momento muito especial da história brasileira, momento que vê o Brasil do lulismo elevar-se como uma da novas potências mundiais. Neste seu brilhante primeiro pronunciamente ao povo brasileiro ela já soube exprimir o quanto do novo espírito socialista guie a liderança do País e isso em tantos pontos significativos, dentre os quais destacamos o seguinte ponto em que o novo Presidente declara:

“(… …) faremos todos os esforços pela melhoria da qualidade do gasto público, pela simplificação dos serviços públicos. Mas recusamos as visões de ajustes que recaem sobre os programas sociais, os serviços essenciais à população e os necessários investimentos.”

A eleição de Dilma Roussef acrescenta mais um degrau à crescente escada de progressão para a modernidade também política que o Brasil está sabendo revelar nesses nossos não fáceis tempos.
publicado por Carlos Loures às 21:00
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