5.3 – Ensaístas e críticos de outras nacionalidades: espanhóis (2), francês (1), alemão (1)
A partir de minhas atividades italianas, concentradas em Veneza, as mesmas se alargaram para outros países. Desses cuidarei aqui somente nos casos de presenças de seus autores na minha recolha de volumes com Dedicatórias autógrafas. Não é muito ampla esta recolha, pelo contrário é muito pequena, principalmente em proporção às minhas atividades reais na Espanha, na França e na Alemão, países de onde provêm os autores que mais abaixo passarei a tratar.
A minha ligação com a Espanha está quase sempre ligada à minha intensa vida portuguesa. Não somente por relações geográficas entre os dois países, mas igualmente por motivos culturais vários. Na Espanha, indo para Portugal, uma vez permaneci quase dois meses em Barcelona, hóspede na casa de meu caro amigo, o diplomata e escritor eternamente inédito, ótimo poeta, Luís Fernando Nazareth. Do poeta relembro um episódio muito especial: fora aberto pelo Suplemento Literário do Diário de Notícias, do Rio de Janeiro, um concurso de poesia versando sobre o tema “ Gavião”. Tendo eu resolvido a participar do concurso, consegui igualmente convencer o meu amigo diplomata a fazer o mesmo. Feito o meu poema e estando pronto a remetê-lo à destinação, me recordo que Luís Fernando ainda não me havia dado o seu, como prometerara. Então fui até a velha sede do Itamraty, ainda no Rio, e lá encontro o meu amigo. Então ele mostra o seu poema e pede que o leia e dele diga a minha opinião. Lido o texto aconselho que do mesmo seja cancelada uma estrofe, a última. Meu amigo não discute, corta a dita estrofe, e me entrega o seu poema finalizado. Resultado, ele vence o concurso e eu fico com o 2º. Prêmio. Logo em seguida, me vendo desconsolado, ele me diz, muito matreiro: “Tudo isso aconteceu porque você é melhor crítico que poeta...”
5.2 – Ensaístas, críticos, historiadores, memorialistas italianos
A partir de minha entrada na Universida italiana (os cursos de Língua Portuguesa, de Literatura Portuguesa e de Literatura Brasileira começam nas Universidades de Veneza e de Pádua no mesmo ano-acadêmico de 1962-63. Em Veneza tenho dois alunos, dos quais, um deles, Giampaolo Tonini, depois será professor titular de “Tradução do Português para o Italiano“, da Scuola di Traduttori e Interpreti, Universidade de Trieste; Prêmio Internacional Monselice para a tradução literária-1998, bem como ensaísta de grande atividade e sucesso. Em Pádua tenho 1 aluno no primeiro ano de meu magistério universitário italiano: Mario Mancini, depois brilhante filólogo romance, professor titular da correspondente cátedra na Universidade de Bolonha. Com o passar dos anos-acadêmicos, nas diversas Universidades nas quais mantive cursos (Pádua, sede de cátedra, Veneza e Pavia, em cursos suplementares), 52 estudantes de Língua Portuguesa e das Literaturas de Língua Portuguesa alcançam o titulo de Doutor, depois da apresentação e discussão de correspondentes teses.), a partir de minhas atividades universitárias na Itália começo igualmente a tomar contato e ativar relações com os escritores italianos particularmente dedicados ao ensaísmo crítico e à história literária. O “Incontro Internazionale delle Letterature Ispano-americane“, realizado em Genoa, de10 a12 de março de 1963, foi a primeira sede de encontros com os meus novos confrades italianos ( A delegação brasileira ao Encontro de Genoa era composta por Guimarães Rosa, Antônio Cândido e por mim). Porém, muito certamente, o momento central do alargamento de meus conhecimento da vida literária italiana se localiza no importante Congresso Internacional pelo VII Centenário do nascimento de Dante, Florença-Verona-Ravena, 20-27 de abril de 1965, no qual apresento, a pedido da direção do mesmo, as comunicações: “Dante in Portogallo” e “Dante in Brasile”. Depois da publicação nas Atas do Congresso dos textos destas investigações, passo a ser, por convite formal, membro da “Associazione internazionale di lingua e letteratura italiana.”
Em seguida a esses eventos passo a colaborar em jornais e revistas literárias da Itália, bem como em quase todas as revistas universitárias da minha ampla área de trabalho. Com os artigos que publico, versando sobre interrelações de autores e problemas da literatura italiana com aquelas do Brasil e de Portugal, bem como com dezenas de conferências realizadas em todo o país sobre as mesmas problemáticas, crio um largo sistema de conhecimento e relações com escritores italianos ligados ao ensaísmo literário, muitos dos quais integram o elenco que começo a analisar.
5.1 Ensaístas, críticos e historiadores portugueses
Os meus contatos mais diretos com os escritores portugueses que se dedicam em particular ao ensaio e à crítica começam com minha vida italiana a partir de 1963. Partindo dos centros universitários de minhas atividades novas, isto é, as Universidades de Veneza e de Pádua, alargo o campo de intercâmbio dos setores de Língua Portuguesa e de Literaturas Portuguesa e Brasileira das mesmas para diversas universidades de Portugal, principalmente aquelas nacionais de Lisboa, de Coimbra, do Porto, bem como as Católicas de Lisboa e de Braga. Para tal movimento a colaboração indispensável e preciosa é a do Instituto Camões, alargada a outras entidades culturais, como a Fundação Gulbenkian, de Lisboa. Depois da entrada de Portugal na Comunidade Européia, tais atividades tiveram uma ampliação definitiva através do Projeto Erasmus comunitário. Pude estabelecer através desses meios forte intercâmbio não só no plano pessoal, mas igualmente naquele dos contatos entre escritores e docentes portugueses e os estudantes da Universidade de Pádua, pois desde então (1964, ano triste para a história política do Brasil) eu então havia concentrado a minha atividade acadêmica na Universidade patavina. Assim nasceram muitos conhecimentos, alguns traduzidos nas dedicatórias que em seguida leremos juntos, mas igualmente com muitos outros escritores e docentes que aqui não estarão presentes diretamente, ainda que, certamente, vez em quando, recordados.
Começo a exposição dos volumes de ensaístas, críticos e historiadores portugueses com um dos maiores nomes do setor nas letras portuguesas, Óscar Lopes. Do grande professor da Universidade do Porto - Universidade com a qual sempre tive contatos através também de um outro seu docente, o estudioso da literatura brasileira, Arnaldo Saraiva -, de Óscar Lopes ficou memorável a visita por ele feita a Pádua a convite da nossa cátedra. Com a sua maestria nos estudos das matérias da literatura portuguesa, ele soube criar um sentido encontro com os jovens italianos dedicados ao conhecimento da mesma literatura. O conferencista Óscar Lopes, de grande capacidade didática na sua comunicação, se apóia no brilhante ensaísta e crítico que ele sempre foi. Qualidades essas que estão igualmente presentes no volume que ele me ofereceu na oportunidade de sua visita – Óscar Lopes, Álbum de família – Ensaios sobre Autores portugueses do Século XIX, capa de Delgado Coutinho, Editorial Caminho, Lisboa, 1984; volume que me traz a seguinte dedicatória:
“Ao Prof. Silvio Castro
grata recordação do
encontro em Pádua,
Abril 89
Óscar Lopes“
Parte V – Ensaístas, críticos de literatura e de arte, historiadores, artistas plásticos
Como inicio desta última Parte do meu trabalho de teorização da Dedicatória autógrafa de autores brasileiros, desejo claramente alargar um dos ítens já posposto a tal teorização, justamente aquela da colocação em saliência da auto-biografia do destinatário quando da consideração de tais dedicatórias. Mais do que nunca, ao fazer agora a análise dos volumes que logo seguem, me identifico e me rememoro profundamente com os mesmos e com os seus autores.
Passo por todas essas razões a considerar aqueles autores que enriquecem a minha coleção de dedicatórias igualmente porque sempre contribuiram e muito à minha dimensão intelectual e aos meus sentimentos afetivos. Dois nomes saliento de imediato nesse rol especial: Waldir Ribeiro do Val e José Roberto Teixeira Leite. De muito longe começam os nossos relacionamentos. De uma juventude vivida em anos muitos especiais para a história civil brasileira contemporânea, os anos da década de 1950. Naturalmente não citarei outros nomes de amigos que comigo comungam de um tal período, ao lado daqueles de José Roberto e Waldir, porque se o fizesse, eu cairia no perigo de apresentar um elenco quase tão longo como o catálogo telefônico de uma cidade inteira...
Corria o ano de 1953 e eu acabava de entrar, depois de um longo exame vestibular, na Faculdade Nacional de Direito, da rua Moncorvo Filho, bem diante da Praça da República, lugares históricos do Rio de Janeiro. Depois da massa de reprovações dos exames preliminares para o curso de Direito, a minha turma era a menor entre todas as demais que haviam entrado na gloriosa Faculdade Nacional. Será por isso mesmo, mas igualmente por tantas outras razões, que eu, calouro, logo me confraternizei com os colegas mais velhos, frequentadores dos outros Anos. Especialmente com a turma que então cursava o 3° Ano, justamente aquela de José Roberto e Waldir, bem como de outros inesquecíveis amigos que eu aqui não posso citar pelas razões já ditas...
Desde então fomos adiante juntos. Os três, mais dedicados à literatura e às artes que aos estudos jurídicos. Mas no fundo não representávamos uma verdadeira contradição – coisa de certa forma reconhecida pelos nossos Mestres que jamais nos reprovaram nos nossos exames – isto porque não fazíamos outra coisa senão confirmar a tradição nacional que sempre viu nas faculdades de Direito centros formadores de escritores brasileiros...
Assim crescemos e fomos adiante. Por isso, passo a tratar diretamente dos nossos recíprocos relacionamentos. Começo com o poeta, ensaísta, biógrafo, editor Waldir Ribeiro do Val. Do poeta já cuidamos na seção correspondente; agora nos ocuparemos de outras suas facetas criadoras.
“Para Sílvio Castro,
com um abraço amigo
do seu admirador
Miécio Tati
Rio, 24.1 de 61“
PARTE IV – Ensaístas, críticos, historiadores, memorialistas
Começo esta nova Parte do meu estudo sobre as dedicatórias focalizando um exemplo de um gênero muito presente na produção literária moderna, mas que pouco aparece no rol das dedicatórias que recebi de meus confrades. Porém, tenho em mãos um exemplo muito especial do gênero que muitos consideram pouco compatível com a predominante estrutura psicológica do brasileiro, as memórias. Diante de livros como este de Octavio Mello Alvarenga todas as afirmações nessa direção não passam de uma reiterada forma de lugar-comum. O livro a que me refiro, memórias sofridas, por isso mesmo duras e chocantes em muitos de seus pontos, mas ao mesmo tempo frascinantes pela sinceridade e espontaneidade com que nascem, é: Rosário de Minas (memórias e sugestões), capa de Dan Palatnik, Lidador Editor, Rio de Janeiro, 2003. O autor me dedica o exemplar de seu livro claramente sofrido com as seguintes palavras:
“Ao caro Sílvio Castro
companheiro do Congresso de Crítica
Literária em Pernambuco, amigo
a quem admiro (e invejo também)
com o abraço afetuoso do
Octavio Mello Alvarenga
Rio, 22/set/2003“
Retornando ao ensaio direto, vamos encontrar outro livro de forte impacto, ligado a um momento muito difícil da história do Brasil contemporâneo: de Reinaldo Cabral, Literatura e Poder pós-64 (Algumas questões), Edições Opção, Rio de Janeiro, 1977, no qual o autor me envia o meu volume de sua denúncia com essas palavras fortes:
“Sílvio Castro
este pequeno manifesto
sobre o sombrio estado da
nossa literatura pós-64.
A discussão está aberta, (reaberta)
c/abraços
do rcabral
ABI, 12
/09_____
77“
O ensaio histórico de Geraldo Pieroni, A Inquisição e a lista dos cristãos-novos condenados a viver no Brasil, capa de Simone Villa-Boas, Bertrand Brasil, Rio de Janeiro, 2003, é outro livro de forte impacto sobre um dos problemas de grande importância para a história brasileira, aquele dos degredados portugueses para o Brasil do período colonial e, em correspondência, da questão muitas vezes esquecida do anti-semitismo no pensamento nacional. O autor me oferece o seu livro de convincente pesquisa e erudição com as seguintes palavras: “Para Prof. Silvio Castro com minha estima e agradecimento, Geraldo Pieroni Padova 09.12.2004“.
PARTE III – Ensaístas, críticos, historiadores
Ao começar esta nova Parte, retomo em mãos volumes para mim dedicados por outros escritores que encheram de emoções o meu início de atividades literárias. Começo por M. Cavalcanti Proença, o grande crítico e erudito que abordou diversos temas da literatura brasileira e muitos de seus autores mais salientes, em particular Castro Alves, Augusto dos Anjos e Guimarães Rosa. O Mestre Cavalcanti Proença foi igualmente uma das guias para a melhor compreensão da constante evolução da língua portuguesa no Brasil, contribuindo para isso com muitos trabalhos de marcada erudição. Dele tenho dois volumes com dedicatórias: M. Cavalcanti Proença, Augusto dos Anjos e outros ensaios, Livraria José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1959:
“A Silvio Castro,
muito cordialmente,
Proença
Rio – XII - 59“
O outro é um dos volumes da preciosa Coleção Nossos Clássicos: Mário de Andrade – Ficção, Nossos Clássicos vol. 50 (Org. de M. Cavalcanti Proença), Livraria AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1960:
“A Silvio Castro,
lembrança afetuosa
do
Proença
21- X – 60
Já que estamos tratando da histórica coleção da AGIR, continuemos com outros exemplos dela. Começo com uma edição de trechos da obra de um dos romancistas modernistas que mais interessam às minhas pesquisa literárias, apresentado por um dos grandes movimentadores da cena literária brasileira contemporânea: António de Alcântara Machado, Coleção Nossos Clássicos, vol. 57 (Organização de Francisco de Assis Barbosa), Livraria AGIR Editora, Rio de Janeiro, 1961, volume no qual o organizador me envia a seguinte dedicatória:
“Ao Sylvio Castro – es-
perando desta vez fi-
gurar no Anuario -
Chico Barbosa
Rio 1961“
O terceiro exemplo dos Nossos Clássicos vem de um dos ensaístas brasileiros dos anos 50 e 60 autor de uma obra de grande interesse, ainda que de número de publicações não muito alto. Trata-se de Herman Lima, teórico literário e bom comentador de textos. Assim acontece com o seu Domingos Olímpio (romance), Col. Nossos Clássicos, vol. 61 (Org. de Herman Lima), Livraria Agir Editora, Rio de Janeiro, 1961:
“Para Silvio Castro,
cordialmente,
seu am° e ad.or
Herman Lima
Rio
___
14
___
11
___
61 “
O último exemplar da bela Coleção que tenho em mãos vem da escritora Amália Costa que com ele e com seus trechos escolhidos nos leva a um outro plano literário, o do teatro: Martins Pena (Comédias), Col. Nossos Clássicos, vol. 56 (Org. de Amália Costa), Liv. AGIR Edit., Rio de Janeiro, 1961; volume que me traz a seguinte dedicatória da organizadora:
“Ao eminente crítico literário
Dr. Sílvio Castro,
homenagem da Autora.
Rio, 9-61
Amália Costa“
Ferreira Gullar e Haroldo de Campos são dois dos mais importantes nomes não somente da Geração de 56, mas igualmente de todo o movimento literário brasileiro contemporâneo. Além de poetas e teóricos da poesia, os dois possuem igualmente marcante obra ensaística e de crítica literária. Depois de tê-los apresentados com o destaque que merecem na parte referente aos poetas neste meu presente trabalho, agora o faço no plano do ensaio. Ferreira Gullar, como já afirmado em certo ponto acima, exercita uma efetiva atividade de crítico de arte. Como acontece com a sua obra em geral, também nesta angulação ele tem sabido contribuir ao melhor desenvolvimento do conceito de modernidade reinante na cultura brasileira contemporânea. Demonstração eficaz disto é o volume que dele tenho agora em mãos, Argumentação contra a morte da arte, 2ª. ed., capa de Ricardo Gosi, Editora Revan, Rio de Janeiro, 1993; no qual volume o autor me endereça a seguinte dedicatória:
“Para o Sílvio,
com o abraço
do amigo
Ferreira Gullar
1993”
Haroldo de Campos recobriu por longa parte de sua vida um lugar de relevo na vida cultural brasileira. Começando pela poesia, continuando pelas pesquisas vanguardistas, e continuando com estudos, ensaios e críticas, com as traduções de poesia, ele soube sempre apresentar-se como um fator de constante inovação. Do poeta já tratamos, agora consideramos outros ângulos do teórico maior do Movimento da Poesia Concreta. Começo com o volume de traduções de poemas de poetas dos séculos XII a XVII, obra realizada a quatro mãos com o seu irmão, o poeta e ensaísta Augusto de Campos, com o qual fez inúmeros trabalhos de reconhecida importância: No volume que logo apresentarei, os dois irmãos Campos focalizam diretamente do material indispensável os ângulos mais importantes segundo uma pessoal problemática da teoria da tradução, por ambos brilhantemente definida: Augusto e Haroldo de Campos, Traduzir & Trovar (poetas dos séculos XII a XVII), capa de Fayvel Hochmann, Edições Papirus (São Paulo), 1968; no qual volume Haroldo de Campos me faz a dedicatória que segue:
“Ao Amigo poeta –
professor Silvio Castro,
com o abraço do paulista-paulistano-
brasiliano-italiano (in cuore)
Haroldo de Campos
Venezia – luglio 97“
Haroldo de Campos não redescobriu ou revalorizou somente Sousândrade e seus geniais poemas, mas soube debruçar-se sobre outros autores que enriquecem a memória brasileira. Entre esses está José Elói Ottoni, O Livro de Jó, capa e desenhos de Orlando Marcucci, Estudo introdutório e fixação do texto por Haroldo de Campos, Edições Loyola, São Paulo, 1992: “Ao Sílvio Castro, esta reedição do esquecido e apreciável Elói Ottoni. Com a amizade do Haroldo de Campos SPaulo, 97“.
Para termos uma visão ampla do ensaísta Haroldo de Campos é indispensável a leitura de: O Arco-íris branco (Ensaios de literatura e cultura), capa de Sílvia Ribeiro, Editora Imago, São Paulo, 1997 – “Para Silvio Castro, esta lembrança de amizade, para festejar nosso reencontro em São Paulo em 3.09.97 Com o abraço do Haroldo de Campos“.
Termino este capítulo dedicado ao ensaísta Haroldo de Campos tomando nas minhas mãos um pequeno livro de grande beleza gráfica, volume que pode estar aqui, mas também poderia caber em qualquer das outras seções deste meu trabalho. Trata-se de um livrinho que junta poesia, tradução, ensaísmo, teoria literária, pintura, catálogo de arte, editoração: Il Paradiso, Aguilar/Haroldo de Campos, Subsdistrito Comercial de Arte, São Paulo, junho-julho 1989; no qual Haroldo de Campos me diz:
“Ao Silvio,
esta lembrança pictográfico –
poético – paradisíaca do
Haroldo de Campos
S Paulo
97“
PARTE II – Ensaístas, críticos e historiadores literários, historiadores gerais
O início da exposição de dedicatórias nesta Parte II eu a quero fazer focalizando os volumes de minha coleção correspondentes a escritores membros da Academia Brasileira, naturalmente incluindo neste rol aqueles acadêmicos já falecidos, como é o caso de Afrânio Coutinho, já largamente tratado na Parte I.
A Academia Brasileira de Letras é a sede mais significativa da vida literária brasileira, contando entre os seus componentes intelectuais que representam condignamente a mais alta inteligência nacional. Por isso mesmo, desde a sua fundação, a ABL passou a ser o mais importante instituição cultural do Brasil, ao mesmo tempo que representante natural de todas as outras.
Assim como já ficou demonstrado com a análise das dedicatórias que Afrânio Coutinho me endereçou, desde a minha juventude tive um grande contato com a ABL e com os seus membros. Desta experiência que se mantém sempre aberta e in progress já pude dar um primeiro testemunho com o meu volume A Academia Brasileira de Letras e Eu (Notas sobre um relacionamento), Rio de Janeiro, 2000.
Começo a minha exposição apresentando os volumes autografados dos acadêmicos atuais e dos quais possuo um ou mais volumes de seus ensaios. Eles são: Eduardo Portella, Tarcísio Padilha, Marcos Vinicios Villaça, Arnaldo Niskier, Ivan Junqueira, Carlos Nejar, Alberto da Costa e Silva.
PARTE I - Ensaístas, críticos e historiadores literários
Começamos aqui a última seção do nosso projeto. Certamente não será uma conclusão rápida, pois muitos são os nomes que dela participam, mais ainda se aos prosadores brasileiros deveremos juntar igualmente aqueles portugueses e italianos, não poucos, bem como alguns outros de diversas nacionalidades.
Começando com as dedicatórias dos ensaístas, críticos e historiadores brasileiros, logo poderemos compreender como era vasta a atividade do setor a partir da década dos anos 50, assim como continuará a ser naquelas imediatamente sucessivas. Da quantidade de dedicatórias feitas a um jovem literato que nos anos cinquenta apenas começava as suas atividades, bem como, pelas mesmas dedicatórias, a manifestação da multiplicidade de gêneros que caracterizam os volumes doados, talvez muitos se surpreenderão por uma razão ou por outra. Em verdade a atividade literária brasileira do meu começo de atividades culturais, isto mais ou menos a partir de 1953, quando inicio igualmente a minha dupla vida universitária - dupla no bom sentido!... - porque eu frequentava contemporaneamente duas universidades, a Estadual do Rio de Janeiro, na qual me ligava à Faculdade de Filosofia, e a Federal, na qual fazia o curso de bacharelado em Direito. Como todos podem constatar, era uma dupla, mas honesta, até mesmo recomendável vida...
Paralelamente aos meus estudos universitários, inicio igualmente e com intensidade a minha vida literária. O Rio de Janeiro dos anos 50 era, mais do que nunca, uma cidade efervescente. As suas atividades artístico-culturais eram quotidianas e múltiplas. Para um jovem entusiasta, como era o meu caso, tudo se mostrava como um ambiente mais que ideal. Assim, comecei a dar ênfase aos meus sonhos de participar da vida literária não somente na parte que me poderia competir enquanto autor, mas igualmente na comparticipação com toda a vida literária mesma. Isto porque eu jamais separara a minha consciência do valor da literatura enquanto tudo aquilo que se poderia referir à minha personalidade, daquela outra parte, a da prática coletiva de um mundo do qual eu mais intuía as dimensões do que verdadeiramente as soubesse conhecer em sua complexidade.
4.1 Romancistas, novelistas, contistas portugueses
Naturalmente, eu não poderia começar a tratar desta seção correspondente aos meus livros recebidos com dedicatórias autógrafas de prosador português senão com o nome de José Saramago. Romancista de imensos méritos, primeiro e até hoje único Prêmio Nobel para a Literatura recebido por um escritor de língua portuguesa, Saramago é um marco da história literária de todos os (oito) países que comungam da mesma expressão linguística do autor de Levantado do chão. À sua obra dedicamos muitos trabalhos escritos em Portugal, no Brasil, na Itália e na Suiça.
Em particular, neste último país publicamos um amplo perfil do autor, “L’invenzione della realtà e della storia – José Saramago”, in Profili Letterari, n° 5, Mendrisio (Suiça), 1994. Sobre a mesma obra debatemos em congressos internacionais, em particular aquele de Pádua, Veneza e Trieste:
“Convegno Internazionale su José Saramago (Premio Nobel per la letteratura, 1998), Università de Padova, Venezia e Trieste“, de 13 a 15 de maio de 1999. Nesta ocasião pronunciei uma conferência sobre o tema: “A Jangada de Pedra: dal fiume patrio al mare ilimitato”. Além disso, convidei diversas vezes Saramago à Universidade de Padova para contatar com os meus estudantes do setor de Português, a começar em maio de 1985, depois do grande sucesso internacional de seu magnífico romance, Memorial do Convento, ocasião que serviu ao escritor para apresentar a versão italiana do mesmo.
Nesse convite ao romancista estava incluída igualmente a presença de sua primeira esposa, a romancista Isabel da Nóbrega. O casal já apresentava os primeiros dados de uma não distante separação. Durante o nosso encontro paduano, sentindo o quase isolamento da romancista, dediquei particular atenção à significativa escritora. De Isabel da Nóbrega recebi então um exemplar de seu romance Viver com os outros, 5ª. ed., Livr. Bertrand editora, Lisboa, 1984; no qual ela me escreveu a seguinte dedicatória:
$$
“Para o
Professor Silvio Castro,
agradecendo a maneira
calorosa como nos recebeu
em Pádua,
com muita simpatia e
admiração,
Isabel das Nóbrega
- 1985 -“
Diretamente de José Saramago tenho somente um seu volume, um exemplar com dedicatória de um dos melhores romances do nosso Prêmio Nobel em Literatura, O Ano da morte de Ricardo Reis, 4ª ed., Editorial Caminho, Lisboa, 1984, no qual exemplar ele me comunica:
“A Sílvio Castro
esta história fantasmal
e poética, num país poético
e fantasmal –
com a muita estima
e admiração do
José Saramago
Maio 85“
PARTE III – Romancistas, novelistas, contistas, cronistas
Diogo Mainardi, famoso no Brasil pelas suas atuações na principal rede do sistema nacional de televisão, é um dos mais ativos nomes do novo romance brasileiro. Residente estável em Veneza, como acontece igualmente comigo, Mainardi já possui uma ampla obra narrativa publicada, obra esta de fortes características expressionistas, mas ao mesmo tempo de insólita capacidade de síntese expressiva. Dele tenho os volumes: Malthus, uma novela, capa de Carlos Matuk, Companhia das Letras, São Paulo, 1989 ; “A Silvio Castro, no nosso primeiro encontro “ai sportivi” Diogo Mainardi“; Arquipélago, romance, capa de Carlos Matuk, Companhia da Letras, São Paulo, 1992:
“Ao amigo itinerante
Diogo Mainardi”
O romancista paulista João Silvério é o autor de uma prosa de ficção que vasculha nos tempos e se alarga sempre, numa linguagem exuberante, de fortes conteúdos narrativos. Assim acontece com os dois romances do escritor, com dedicatórias: O livro do avesso, capa de Carlos Clémen, editora Ars Poetica, São Paulo, 1992 – “Para o Sílvio Castro, esse meu avesso passado a limpo. Abraço e admiração do João Silvério Trevisan SP / 93”, e aquele outro romance, possivelmente a sua obra-prima, Ana em Veneza, capa de Carlos Clémen, foto de Christiano Junior, desenho da Parte I de Tom Maia, Editora Best Seller, São Paulo, 1994; com a seguinte dedicatória autógrafa:
“ Ao Sílvio,
o resultado de
uma viagem que
termina em Veneza.
Abraço e gratidão,
J S Trevisan
São Paulo, 25/ 02/95“
No romancista gaúcho, José Clemente Pozenato, docente universitário e ensaísta, encontramos uma outra linha do romance brasileiro moderno, aquela próxima da ficção ligada ao “policial”, reinterpretando a máxima teórica que afirma ser todo tipo de romance uma forma narrativa derivada ou devedora do dito “romance policial”. Diga-se de passagem que tal gênero foi sempre pouco cultivado no Brasil, o que dá a determinados romances de Pozenato uma fisionomia de forte novidade. Neste espírito está o seu grande sucesso também de público, O Caso do Martelo, capa de Leonardo Menna Barreto Gomes, 4ª. ed., Mercado Aberto, Porto Alegre, 1991, no qual o romancista me diz:
“Para Silvio Castro,
no dia da vitória do
Juventude contra o Vitória,
com belo papo (somos “papos”,
não?”) sobre futebol,
José Clemente Pozenato
Caxias do Sul, 24/8/97“
Esta feliz linha da narrativa de Pozenato continua com um outro seu best-seller, o romance ligado a fato realmente acontecido, O Caso do Loteamento Cladestino, 4ª. ed., ilustração de José Flávio Teixeira, Edições FTD, São Paulo, 1994:
“Para Sílvio Castro,
estas cenas de
uma Caxias “multicultural”,
com o abraço amigo do
José Clemente Pozenato
24/8/97”
Com os romances de Pozenato, Caxias do Sul entra definitivamente no mapa literário brasileiro, tudo devido também à variedade de técnicas dos mesmos. Assim, o romancista policial se faz narrador da memória e da história coletiva em A Cocanha, capa de Marco Cena sobre “Descrição da Coconha” (gravura pintada a mão, 1606), Mercado Aberto, Porto Alegre, 2000: no qual o autor me dedica com as seguintes palavras – “Para o amigo Silvio Castro a homenagem do José Clemente Pozenato Caxias do Sul, 31/07/2001”.
Adolfo Boos Júnior é um outro significativo representante da nova prosa-de-ficção brasileira. O seu romance que tenho em mãos, com dedicatória, é um ótimo exemplo como um autor moderno pode usar a matéria histórica sem necessariamente cair nas características do romance histórico. O romance é Um largo, sete memórias (e mais uma, coletiva, inquisitorial, contraditória e, muitas vezes, peratubadora), capa de Éthel Jane Scliar, Editora da Univ. Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1997, no qual o Autor me diz: “ Para Silvio Castro cordialmente Boos 25.11.97.”
Uma surpreendente estréia no romance foi a de Nilma Gonçalves Lacerda, com Manual de tapeçaria, ,2ª. ed. revista pela autora, capa de bordado de Antônia Zulma Diniz, Ângela, Marilu, Martha e Sávio Dumont, sobre desenho de Demóstenes Vargas, foto de Rui Faquini, Revan Editora, Rio de Janeiro, 2001, que me traz a seguinte dedicatória:
“ Para Sílvio
professor de tanto tempo,
amigo desde o início,
com amizade e admiração,
Nilma “
Um capitulo muito particular e importante da moderna prosa narrativa brasileira é o conto. Os contistas sempre ocuparam uma posição saliente no quadro geral da literatura nacional. Basta pensar no mestre do gênero que foi Machado de Assis, não somente importante para a história curta no Brasil, mas de importância igualmente reconhecida no plano internacional, no mesmo nível de Checov e Maupassant. Porém, com a renovação da linguagem narrativa começada por Adelino Magalhães, autor de contos os mais exemplares, surgiu, a partir do início da segunda metade do século XX um grande grupo de criadores no gênero. Começando por Guimarães Rosa e prosseguindo por muitos outros nomes. A posterior geração de contistas brasileiros continua uma tal tradição. Dentre esses autores, tenho em mãos, com correspondentes dedicatórias, livros de contos de Caio Porfírio Carneiro, Roberto Reis, Luiza Lobo, Jorge Viveiros de Castro, Geraldo Edson de Andrade, Salim Miguel, Guido Wilmar Sassi. De Guido Wilmar Sassi, Amigo velho, 2ª. ed. revista, capa de Mário Rőhnelt, Editora Movimento, Porto Alegre, 1981: “Ao Prof. Dott. Sílvio Castro Guido Wilmar Sassi nov. - 81“.
De Salim Miguel, igualmente editor da revista Ficção, o volume Velhice e outros contos, 2ª. ed. revista, capa de Vicente M. da Silva com desenho de Edgar Koetz, edição Fundação Catarinense de Cultura, Florianópolis, 1981: “Ao Sílvio Castro, com o abraço do Salim Miguel, Florianópolis, 81“.
De Geraldo Edson de Andrade, O dia em que Tyrone Power esteve em Natal, capa de Fernando Casás, Editora Retour, Rio de Janeiro, 1983: “Para Silvio Castro, com o meu apreço e admiração Geraldo Edson de Andrade Rio, set. 85“.
De Jorge Viveiros de Castro, De todas as únicas maneiras, capa de Tatiana de Lamare, Diadorim Editora, Rio de Janeiro, 1993: “p/ Silvio (quase parente); estas primeiras letras. 1 abraço, Jorge“.
De Luiza Lobo, Vôo livre, capa de Luiz Falcão, Ediora Cátedra, Rio de Janeiro, 1982: “Para Silvio Castro da Autora Rio 13.9.82“.
De Roberto Reis, A dor da bruxa – e outras fábulas, capa de José Lima, Edit. Cátedra, Rio de Janeiro, 1972:
“Para Silvio Castro,
esperando que ao final
da travessia por estas
“fábulas estórias, em
dolorosa viagem, se
depare com a bruxa “–
Com a lembrança
do
Roberto Reis
Rio, set. / 72“.
De Caio Porfírio Carneiro é o volume de contos, O Casarão, capa de Luz e Silva, Edit. do Escritor, São Paulo 1974; que me traz a seguinte dedicatória autógrafa:
“Ao amigo
Silvio Castro,
a homenagem e
o abraço do
Caio Porfírio Carneiro
S. P. 8/11/76“
Do mesmo autor é o romance, em edição italiana, Sale verde della terra (tit. orig., O Sal da Terra), versão italiana de P. Giuseppe Valsania, i.l.a. Palma Renzo Manzzone editore, Palermo, 1971: “Ao amigo Silvio Castro, com a homenagem do Caio Porfírio Carneiro”.
De Santa Catarina parte o romancista Miro Morais, com a sua narrativa, próxima do tipo policial, mas alargada à analise existencial, Cândido assassino,FCC Edições, Florianópolis, 1983: com a seguinte dedicatória: “Ao Dr. Silvio Castro o meu grande abraço amigo Miro 2/1983”.
No muito variado cenário da moderna literatura brasileira, como já afirmado nesta série, a crônica ocupa uma posição muito particular. Isto devido às linhas autônomas assumidas pelo gênero, modificando a antiga retórica do setor para assumir toda uma nova e brilhante veste. Dentre os grandes cronistas modernos do Brasil, Sérgio Porto ocupa uma posição muito especial, seja quando o ortônimo Sérgio Porto se apresenta ao seu grande público, seja quando o mesmo vem substituído pelo hererônimo felicíssimo, Stanislaw Ponte Preta, pródigo de humour e de ironia. De Stanilaw Ponte Preta é o popularíssimo volume de crônicas, Primo Altamirando e Elas,capa e vinhetas de Jaguar, Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1962, com a seguinte dedicatória:
“Para o
Silvio Castro
Atenciosamente
Stanislaw
Rio /62”
Fernando Sabino é outro grande nome da crônica literária brasileira, porém muito diverso de Sérgio Porto e, mais ainda, do sarcástico Stanislaw Ponte Preta. A crônica de Fernando Sabino, mantendo a linha de expressão que vai além do real, sem o falsificar, própria do gênero muito brasileiro, mostra aos nossos olhos essa mesma realidade como se fosse nossa. Além de atento observador da realidade nacional, Sabino é um intelectual cosmopolita. Assim o vemos nas famosas páginas de A Cidade Vazia – crônicas de Nova Iorque, 3ª. ed., capa de Renato Vianna, Editora do Autor, Rio de Janeiro, 1961; das quais tenho um volume com a seguinte dedicatória:
“Ao Silvio Castro,
cordial homenagem do
Fernando Sabino
8/61“
Concluo esta parte do meu trabalho com dois livros partidos de Brasília. O primeiro deles é o livro de crõnicas muito especial de Zita de Andrade Lima, Pássaros embriagados, Thesaurus Editora, Brasília, 1997, que me traz a seguinte dedicatória:
Ao professor Silvio Castro,
brasiliano que leva a
cultura e o povo do Brasil
para a terra de Dante,
cordialmente,
Zita de Andrade Lima
Brasl, set.,97”
O outro volume é a seleção de crônicas e contos (mais uma vez juntando muito coerentemente os dois gêneros literários) de 4 organizadores: Jacinto, Nilce Coutinho, Ronaldo Cagiano, Claudia Barbosa, O Prazer da leitura, capa e ilustrações de Eduardo Coutinho, Thesaurus Editora, Brasília, 1997. Um dos organizadores do volume, Ronaldo Cagiano, me o oferece com a dedicatória:
“Ao mestre
Silvio Castro,
com o afetuoso abraço
do
R. Cagiano
20 – Set.97”
PARTE II – Romancistas, novelistas, contistas
O aparecimento de Nelida Piñon foi uma revolução para o moderno romance brasileiro, bem como para a mais diretamente questão da escritura literária feminina. Depois da reveladora presença de Clarice Lispector, que contribuira em maneira essencial para a renovação do gênero narrativa, agora a autora de A Casa da Paixão chegava com novas e substanciais contribuições. Sempre acompanhei a carreira literária de Nelida, os seus constantes livros e a sua brilhante atividade como intelectual da modernidade. Assim, dei a mais merecida ênfase ao evento que viu Nelida Piñon feita o primeiro presidente-mulher da Academia Brasileira de Letras, duplicando assim o anterior evento histórico que vira eleita a primeira escritora, Rachel de Queirós (cf. S. Castro, “Nelida Piñon, a primeira“, JL-Jornal de Letras, Lisboa, 29-01-19970). Na parte da análise-crítica, possivelmente, foi meu o primeiro artigo-crítico sobre o seu romance de estréia, num texto publicado no suplemento literário do Jornal do Comércio, do Rio, o mesmo da coluna fixa de crítica literária de Eduardo Portella, isto no domingo de 20-03-1961. Desse Guia-Mapa de Gabriel Arcanjo, capa de Eddie Moyna, Edições G. R. D., Rio de Janeiro, 1961, tenho a seguinte dedicatória da autora-amiga querida:
“Ao meu querido Silvio,
amizade muito querida de forma dupla.
Da
Nelida
Rio, 13/fev./61“
Depois susseguiram-se os muitos romances e livros de contos. Desses tenho em mãos os volumes:Madeira feita cruz, capa de Ivan Carneiro, Edições G. R. D., Rio de Janeiro, 1963, no qual leio, “Ao meu querido Silvio, a amizade e o carinho de sempre Nelida Rio 1965“; Do romance Fundador, um dos marcos maiores de sua obra, a dedicatória me diz:
“Silvio querido,
êste FUNDADOR – resumo
de minha alma – para você sempre tão próximo
de mim,
da sua
Nelida“
Do magnífico volume de contos, Tempo das Frutas, capa de Luís Jasmin, José Álvaro editor, Rio de Janeiro, 1966, conservo a seguinte dedicatória sempre amiga: “Ao Silvio querido, a amizade e o cari- nho de sempre de sua Nelida 17-9-66“.
De outro marcante romance da brilhante carreira literária de Nelida Piñon, Tebas do meu coração, capa de Bea Feitler, José Olympio Editor, Rio de Janeiro, 1974, tenho a seguinte dedicatória:
“Ao meu querido Sílvio,
o carinho e a ami-
zade muito antiga
da sua
Nelida Piñon
Rio, 4 - 07 - 74“
Em A Doce canção de Caetana, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1987, está a dedicatória: “Ao querido Silvio Castro, sempre amigo, aqui seguem este Caetana e seus funâmbulos e o abraço saudoso de Nelida Piñon Rio, 25-8-95“
Muito frequente é o caso de romancistas igualmente poetas, realizando-se desta maneira o alargamento de um processo de exaltação da força da linguagem que esses escritores dão aos seus correspondentes processos de linguagem. Comigo tenho agora quatro exemplos de poetas que alargam as próprias expressões na prosa criadora: Antônio Olinto, Carlos Nejar, Walmir Ayala e Domício Proença Filho. Já encontramos todos os quatro na anterior etapa dos poetas; agora os veremos em outras vestes.
Antônio Olinto sempre se fizera conhecer e estimar pelos seus livros de poemas, assim como com aqueles de crítica literária. Porém, em 1969, surge um novo, inédito Antônio Olinto. Neste ano, quando publica o seu famoso romance A Casa da Água, nascia para a moderna literatura brasileira um novo grande romancista. Este primeiro romance teve logo várias edições e foi traduzido em diversas línguas, renovando em forma insólita a temática “África“ na prosa-de-ficção de língua portuguesa. Outros romances escreveu em seguida Olinto. Desses tenho em mãos: Copacabana, Editora Lisa, São Paulo, 1975: “ Para Sylvio e Anna Rosa, neste encontro londrino, com o abraço amigo do Antonio Olinto Londres, 19 ‘ 6 ‘1981”;
O Rei de Keto, desenho de capa e ilustrações de Caribé, Edit. Nórdica, Rio de Janeiro, 1980: “Para Silvio e Anna Rosa, este rei que inventei; e curti ao longo de uma vivência africana, com o abraço do Antonio Olinto Londres, 12 – 6 - 85“; Sangue na Floresta, Nórdica, Rio de Janeiro, 1992: “Para Silvio e Anna Rosa, este meu romance da paixão pela Amazônia - com a amizade constante do Antonio Olinto, Rio - 5-9-1999“.
Concluindo quanto aos volumes de Antônio Olinto que conservo com dedicatória, a edição inglesa de A Casa da Água, inicialmente publicada em 1970: Antônio Olinto, The Water House, trad. de Dorothy Heapy, Panafrica Library, Londres, 1982; com a seguinte dedicatória:
“Para
Silvio e Anna Rosa,
aí vai o menino do
sonho novo –
com meu abraço
Antonio Olinto
Londres – 18-3-82”
Os romances de Carlos Nejar projetam no plano surreal a grande liberdade de falas que exercita nos seus poemas. Ainda que inteiramente coerente com a natureza da prosa, agora as suas páginas e as suas estórias atingem o real através de uma como transfiguração do mesmo real. De Nejar tenho em mãos, com dedicatórias autógrafas os volumes: Um certo Jaques Netan, capa: bico de pena de Iberê Camargo, com arte final da capa de Silvia Heleno Colombero, edição Grupo Aché, Guarulhos (SP), 1991; com a seguinte dedicatória:
“Para o estimado amigo
e admirável escritor
Prof. Sílvio Castro
este primeiro romance,
na forma original
(depois teve a edição
um pouco mais ampliada
da Record, 1991) – com a
lembrança fraterna do
Carlos Nejar
“Paiol da Aurora” –
Guaraparí, 22/8/99“
O Túnel Perfeito, capa de Ana Luísa Escorel, ed. Relume Dumará, Rio de Janeiro, 1994: “Para o escritor e Amigo Sílvio Castro – com a homenagem fraterna do Carlos Nejar, “Paio da Aurora” – 22.8.99”; Carlos Nejar, Carta aos loucos, Record, Rio de Janeiro, 1998; em que me diz: “Para os amigos, Prof.a Ana Rosa e ao escritor Sílvio Castro – com admiração fiel - o abraço do Carlos Nejar. “Paiol da Aurora” – 22/8/99“
Walmir Ayala conserva na sua prosa-de-ficção a linha da constante romântica que caracteriza a sua produção lírica. Nascem assim as estórias mais reais numa linguagem de constante encantamento. Dele tenho em mãos dois volumes com dedicatórias: À Beira do Corpo, 2ª. ed., capa de Jane Maia, Editora Nórdica, Rio de Janeiro, 1979: “Para Sílvio Castro lembrança do Walmir Ayala Rio 11-9-80” Walmir Ayala, A Nova Terra, Record, Rio de Janeiro, 1980; com a dedicatória que segue: “Ao Silvio Castro com amizade do Walmir Rio 21.3.80”
Domício Proença Filho, como romancista, alcançou grande sucesso e projeção, não somente nacional, com um seu romance parafrástico do D. Casmurro, de Machado de Assis. A versatilidade da escritura de Domício encontra igualmente amplo campo de expressão no seu livro, Breves estórias de Vera Cruz das Almas, Fractal Editora, Rio de Janeiro, 1991, do qual tenho um exemplar que me traz a seguinte dedicatória: “Ao Sílvio, com o abraço carregado da amizade do Domício Rio, 02/02/92“.
Concluída a apresentação de livros de poetas, logo em seguida pude verificar que, por razões puramente de excesso de volumes nas minhas estantes, muitos escondidos em segunda fila, deixei de catalogar muitos deles presentes, mas escondidos. Tenho grande receio que o mesmo acontecerá quanto aos prosadores, com os quais começo agora a tratar. No momento em que pude verificar esses meus acidentes de trabalho, logo me acudiu que outra circunstância me impedia de dar uma relação completa das dedicatórias que recebi e mantenho afetuosamente em meu poder. Isto é, me acudiu que muitos livros de autores brasileiros contemporâneos autografados, eu praticamente os perdi quando, na transferência de minha vida do Rio para Veneza, deixei em minha casa carioca centenas de volumes, isso ainda que tenha trazido na viagem intercontinental algumas outras centenas deles. Os que ali ficavam, eu tinha a certeza que um dia os teria de novo na minha posse. Mas, o tempo passou, e os muitos volumes voaram... Porém, uma coisa me interessa em declarar publicamente e por escrito: livro a mim dedicado nunca foi vendido às livrarias dos usados!
Chegado a tais conclusões, começo a tratar de um novo capítulo duma minha possível auto- biografia inesperada, mas encontrada na revelação das dedicatórias. Um novo capítulo que será tão amplo como o primeiro, o da Poesia. E que, como este, revelará ângulos fascinantes, para mim, de tantos encontros com meus amigos e colegas escritores. Começo.
Antes de tudo devo esclarecer o método que emprego para a presente exposição. Sendo a prosa campo fertilícissimo de gêneros literários, me vejo obrigado a expor as minhas dedicatórias sempre sob o conceito de Prosa. Porém, neste largo conceito, na impossibilidade factual de dividir tal repertório estritamente pelos diversos gêneros, ao contrário de quanto ao início eu pensara em fazer, simplifico a questão. Desta maneira, não farei uma exposição subordinada, por exemplo, ao conceito de prosa-de-ficção dissociado daquele de uma prosa que se exprime através da crônica ou da forma teatral. E ainda, no conceito de prosa-de-ficção – conceito que em verdade pode ser atualmente muito contestado, em favor de um outro mais direto e geral, “narrativa” -, eu não separo aqui os diversos gêneros romance, novela, conto. Para os autores que os praticam todos, junto igualmente todos eles, declarando, como é óbvio, o respectivo gênero. Para concluir: na exposição dos livros de Prosa naturalmente tomo em consideração aquele outro espaço de grande dimensão, como se poderá verificar com as citações que logo chegarão, do Ensaio, da Crítica, da História, das Memórias.
Em uma outra oportunidade, quando certamente chegarei a dar configuração definitiva, e possivelmente sob a forma de um volume, a esta minha aventura analítica, então procurarei colocar numa ordem igualmente definitiva todos os dados e conceituações que aqui ainda vão em forma discutível.
Dito e havido, podemos começar.
E começo com uma oferta muito especial. Trata-se de um autor que já figura estavelmente no quadro que define a literatura brasileira moderna: Adelino de Magalhães. O grande ficcionista fluminense, pioneiro da mais revolucionária prosa-narrativa brasileira do século XX, aquele que abre as estradas para os grandes narradores – romancistas e contistas – do Modernismo, aquele que antes de 1922 já havia desvendado os mistérios de uma escritura absolutamente inovadora, eu ainda o conheço ativo no início de minhas atividades literárias na Cidade Maravilhosa. Então, naqueles vivos anos da década de 50, eu muitas vezes o via descer, com o fascinante bondinho, de sua casa no bairro alto de Santa Teresa e dirigir-se com seu porte longilíneo, firme, na direção da Livraria São José, no centro da cidade. Ali em tantas oportunidades o encontrei e timidamente dele me aproximei. Porém, a minha timidez logo achou um equilíbrio na humaníssima gentileza que caracterizava o grande escritor.
Quando depois de partido para a Itália, retorno pela primeira ao Brasil, em 1965, passando como sempre pela Livraria São José, recebo das mãos de meu caro amigo, o livreiro Carlos Ribeiro, um elegantíssimo volume, a mim endereçado. Tratava-se de uma edição de luxo, encardenada, feita em papel bíblia: Adelino Magalhães, Obra Completa – organizada com a assistência do autor - (estudo crítico de Eugênio Gomes; reportagem biográfica, cronologia e bibliografia de Xavier Placer; posfácios críticos de Murilo Araújo e Andrade Muricy), Editora Aguilar, Rio de Janeiro, 1963. Na página de rosto do volume, Adelino de Magalhães me fazia a seguinte dedicatória autógrafa:
“A Sílvio Castro, com
muita simpatia of
31 – Ag. - 1965“
Ao entregar-me o volume, o incansável Carlos Ribeiro me dizia , em voz comovida: “É uma grande honra, uma oferta como essa“.
Alguns anos depois eu seria presenteado com uma outra edição Aguilar. A mesma elegância, a mesma riqueza gráfica, a mesma nobreza de apresentação. Tratava-se de: Josué Montello, Romance e Novelas, 3 vv., ( Vol. I, com uma magnífica introdução do mesmo Josué Montello, “Confissões de um romancista“, seguida por uma “Cronologia de Josué Montello“, de Yvonne Montello; Vol. III, “Bibliografia geral de Josué Montello“), Editora Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1986.
Josué Montello que, além de um grande romancista, foi igualmente um elegante ensaísta, representou sempre uma presença especial na minha vida literária. Com ele tive oportunidade de trocar idéias e opiniões por longos anos. Ele fez parte, juntamente com Afrânio Coutinho, Adonias Filho e Emanuel de Moraes Filho da banca do meu concurso de Livre-docente em Literatura Brasileira, na Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1976). Josué Montello sempre me demonstrou uma grande e compensadora amizade. A sua dedicatória, na página de rosto do Vol. I de seus Romances e Novelas, assim diz:
“Ao meu caro Silvio Castro, a
quem muito devo como compreensão de minha obra,
esta afetuosa lembrança do seu velho
admirador
Do mesmo Josué Montello tenho um volume de uma sua edição anterior, aquela do grande romance que são Os tambores de São Luís, capa e ilustrações de Poty, José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1975, com a dedicatória na qual o autor me declara, com a sua elegante caligrafia miúda:
“Ao Silvio Castro, lembrança sempre
amiga de seu admirador e
colega
Josué Montello
1976”
Agora vou tratar de Jorge Amado. O romancista baiano foi desde a minha juventude uma presença junto a mim. O gráu de participação de Jorge com os jovens escritores foi sempre uma sua característica marcante. Por isso mesmo, ele me dá grande visibilidade cultural quando me indica à UBE da Guanabara, entidade que estava preparando o grande encontro de escritores brasileiros no Rio de Janeiro em 1960, para ser o enviado da mesma UBE ao Sul do Brasil, com a missão de encontrar os governadores dos 4 Estados sulistas e reinvidicar junto a eles ajudas para a participação das respectivas representações estaduais no grande evento carioca. A mesma predisposição o leva a aceitar meu convite para representar o Anuário da Literatura Brasileira na Bahia e para escrever o texto das atividades baianas relativas a 1960 para o número do ALB-61 sob o pseudônino de Daniel de Oliveira. Assim como para participar, com conferências e encontros com os estudantes, nas minhas atividades da Universidade de Padova. Quando esta lhe concedeu o título de Doctor Honoris Causa, em Letras, no ano de 1962, ele me demonstrou grande apreço e gratidão. No ano da saída da tradução italiana de meu romance Memoriale del Paradiso, em 1991, Jorge Amado escreveu um profundo artigo analítico, publicado na Bahia e no Rio de Janeiro. Porém, ainda que eu tenha sempre escrito sobre todas as fases da obra narrativa de Jorge Amado, desde os romances de grande empenho ideológico, até aqueles outros de uma nova predisposição à valorização da retórica inovadora da prosa narrativa brasileira moderna, mas sempre atento aos problemas sociais, tenho em mãos somente um de seus romances, mas numa versão italiana, o já clássico Jubiabá, (2ª. ed. na col. Nuovi Coralli, 1981), trad. ital. de Dario Puccini ed Elio Califano, Ed. Einaudi, Turim, 1981. Jorge escreve como dedicatória do volume:
“Para
Anna Rosa e
Silvio,
amigos queridos,
o abraço do velho
Jorge Amado
Udine, jan., 1984“
Tenho, entretanto e para confirmar como esses episódios se confundam com as peripécias de nossas respectivas vidas, do meu grande amigo e companheiro dois outro livros traduzidos para outras línguas – um é o inaugural O País do Carnaval, em tradução francesa, o mesmo livro que revelara, em 1931, um jovem e brilhante romancista baiano ao Brasil, revelação devida ao pionerismo editorial do poeta Augusto Frederico Schmidt, que logo depois saberá descobrir um outro grande nome do romance brasileiro, Graciliano Ramos; o outro é o precioso livro, esse já de memórias, Navegação de Cabotagem, em tradução italiana. No primeiro volume, Jorge Amado, Le Pays du Carnaval, trad. de Alice Raillard, ed. Gallimard, Paris, 1990, tenho a seguinte dedicatória:
“Para Silvio Castro,
este velho livro,
com um abraço de
seu velho amigo
Paris 1990 junho”
Em Jorge Amado, Navigazione di Cabotaggio (Appunti per un libro di memorie che non scriverò mais, trad, de Iruba Bajini, ed. Garzanti, Milão, 1994, ele me diz:
“Para Sílvio Castro,
querido amigo,
escritor de minha
admiração,
afetuosamente
1995 Dezembro”
Naturalmente nos vem imediatamente o impulso de associar Zélia Gattai quando tratamos de Jorge Amado. Assim como eles sempre estiveram juntos na vida, assim a recordação da obra da esposa do romancista nos acode. Da valiosa obra memorialística de Zélia Gattai, bem como de suas experiências narrativas, tenho testemunhos em mãos. Começandopelo essencial Anarquistas, graças a Deus, Círculo de Leitores, Lisboa, 1983; com a seguinte dedicatória: “Para Silvio de Castro estes Anarquistas, graças a Deus, com o abraço amigo da Zélia Lisboa, janeiro de 1984”. Na página de rosto de um outro seu livro de memórias, Jardim de Inverno, 5ª. ed., Editora Record, Rio de Janeiro, 1989, leio a seguinte dedicatória: “Para Silvio Castro, com a velha amizade da Zélia Gattai Bari, 22 de maio 1990”. E ainda o romance Crônica de uma Namorada, 3ª. ed., Editora Record, Rio de Janeiro, 1995: “Para Ana Rosa e Sylvio Castro, o velho carinho e um beijo da Zélia Gattai Pádova, 9 de maio de1996”.
A mesma intensidade das minhas relações de amizade com Jorge Amado, as tenho igualmente com outro grande nome da moderna literatura brasileira, Guimarães Rosa, apenas num espaço de tempo mais curto, pela morte prematura do grande autor de Saganara. O momento mais intenso desses relacionamentos, nós o temos nos anos 1961 e 1962, quando exercito uma minha colaboração com o Departamento Cultural do Itamaraty, no Ministério dos Negócios Estrangeiros ainda estabelecido no Rio. O Embaixador Guimarães Rosa dirigia então o Departamento das Fronteiras, ficando o seu escritório muito próximo do meu. Assim, nos momentos de pausa de nossos respectivos trabalhos, Guimarães Rosa me telefonava para um habitual bate-papo. Então principalmente ele falava, o que me era conveniente, porque recebia assim preciosas informações e recordações do grande escritor. Mais tarde, quando Guimarães Rosa teve em mãos um exemplar do meu primeiro romance, Raiz Antiga, ele não se cansava de demonstrar a grande admiração literária que sentia pela parte do Epílogo do meu texto. Com Guimarães Rosa na presidência, e mais Antônio Cândido, em 1963 completei com minha participação a delegação oficial do Brasil ao Encontro Internacional das Literaturas Latino-americanas, em Genoa. Do grande romancista me ocupei em diversas oportunidades, em livros, em jornais e em revistas literárias, dada a importância que sempre identifiquei na sua obra revolucionária. Dele tenho em mãos: Corpo de Baile, novelas, capa de Poty, 2ª. ed., José Olympio Editora, Rio de Janeiro, 1960, com a seguinte dedicatória:
“Para
Silvio Castro,
com a melhor simpatia
e cordial aprêço,
Guimarães Rosa
Rio, 28.XI.60”
Adonias Filho, como sempre tenho o prazer de repetir, foi o primeiro contáto do adolescente Sílvio Castro com os grandes nomes da literatura brasileira. Foi numa tarde de dia de semana, quando meu pai chegou à nossa casa de Vila Isabel acompanhado pelo seu companheiro da redação de A Vanguarda, o também escritor, crítico famoso, Adonias Filho. Na companhia, vinha também o amigo de Adonias, Eustáquio Duarte, escritor e cientista, um dos mais eruditos brasileiros da época, hoje praticamente esquecido. A partir de então, gozei sempre da amizade do autor de Memórias de Lázaro, e dela me servi para compreender melhor o ambiente literário, não só aquele do Rio de Janeiro. Com o passar do tempo, o romance de Adonias Filho fez-se um dos mais altos produtos da literatura brasileira moderna. Dele tenho em mão três volumes: Corpo Vivo, Editora Civilização Brasileira, Rio de Janeiro, 1962; O Forte, Edit. Civ. Brasileira, Rio de Janeiro, 1965; As Velhas, Civ. Brasileira, Rio de Janeiro, 1975. Com o volume de Corpo Vivo, Adonias Filho me gratifica com a seguinte dedicatória autógrafa:
“ A Silvio Castro,
com o bom abraço
de seu amigo,
Adonias
. junho 1962”
No volume do denso romance O Forte, ele me comunica:
“ a Sílvio Castro,
com o velho abraço do
seu amigo e companheiro,
Adonias Filho
Gb. out.1965”
Finalmente, com as estranhas histórias de As Velhas ele me renova a sua amizade:
“As Velhas para
Silvio Castro, com
aquele abraço antigo do seu
seu amigo e companheiro,
Adonias Filho
Rio. agosto,
1975”
(continuação)
7.3 Poetas de outras nacionalidades
Abro este último e significativo grupo de dedicatórias com um nome de grande Ressonância internacional, o do poeta e romancista guatemaltelense, Miguel Angel Asturias, Prêmio Nobel de Literatura – 1967. Dois anos antes do Prêmio, Asturias, então residente temporariamente na Itália, publica o volume de poesia, Sonetos de Italia, do qual o estudioso das literatura hispano-americanas, Giuseppe Bellini, professor das Universidades de Veneza e depois daquela de Milão, preparou uma edição reduzida e muito íntima, os “Sonetos de Veneza“. Durante uma visita do poeta à Universidade veneziana recebi um dos exemplares da edição reduzida, exemplar que traz a dedicatória do poeta e do organizador da edição:
“Con los saludos de
M. A. Asturias
y de
Giuseppe Bellini“.
O poeta angolano, Fernando Costa Andrade, eu o conheci num congresso internacional sobre a literatura africana realizado em Roma no ano de 2002. O poeta então me ofereceu dois de seus livros de poesia: Poesia com armas, 3ª. ed., União dos Escritores A|ngolanos-Liv. Sá da Costa Editora, Lisboa, 1977: “Ao Professor Silvio Castro com a estima e considera;’ao do F. Costa Andrade Roma, 16. X. 02“, e No Velho ninguém toca, União dos Escritores Angolanos-Liv. Sá da Costa Editora, Lisboa, 1979: “Ao Professor Silvio Castro com a estima e admiração do F. Costa Andrade Roma, 16.x.02“.
O Encontro Internacional de Poesia – 2001, realizado em Santiago de Compostela, o 2° da manifestação anual criada e promovida pela UNESCO, me deu a oportunidade de muitos encontros e vários conhecimentos de amizade com poetas das mais diversas proveniências e línguas. Entre esses, alguns me deixaram a lembrança de livros de poesia com dedicatórias, por exemplo, o poeta galego Xavier Seone, a catalã Susanna Rafart, o esloveno Marko Kravos. De Xavier Seone tenho o volume de poemas, Presencias – A saudade do corredor do fundo, Editoria Galaxia, Vigo, 1986, que me traz a seguinte dedicatória:
“A Silvio Castro,
em lembrança do
nosso encontro em
Compostela. Com
Todo afecto,
Xavier Seoane
A Corunha - 25-III-01”
A muito gentil Susanna Rafart, poeta de variadas qualidades artísticas, me dedicou três de seus magníficos livros de poesia: Olis sobre paper, Ed. Poesia 3i4, 1996, com as palavras: “A Silvio, cordialmente Susanna Rafart Compostela 26 mars 2001“-; Reflexi de la llum, Ed. Columna, Barcelona, 1999: “Para Silvio con un abrazo Susanna Rafart“- e o terceiro volume: Jardins D’Amor Advers, Editorial Moll, Mallorca, 2000:
“A Mi amigo Silvio
Castro, aahora que ya
no nos sigue la
lluvia
Susanna Rafart
mars 01“.
O poeta esloveno, Marko Kravos, me ofereceu seu livro de poemas em tradução italiana, Il Ricchiamo del cuculo, Campanotto Editore, Udine, 1994; e seguido da seguinte dedicatória:
“A Silvio Castro
Perché rimanga una
traccia nel ricordo del
pelegrinagio poetico
a Santiago de Compostela
25/III/2001“
Um outro poeta esloveno, Filibert Benedetič, incetivador do Teatro Esloveno em: Trieste, me ofereceu com dedicatória em língua eslovena o seu livro de poemas, RAZPOKE, de 1966.
Concluo esta particular seção de meus livros com dedicatória com um volume muito especial, a Antologia dos Poetas Húngaros, organizado pelo grande divulgador das literaturas portuguesa e brasileira na Hungria, o estudioso, poeta e tradutor Zoltán Rózsa. A Antologia, em singela edição do Organizador, contou com valiosas contribuições de tradutores como: Teresa Balté, Fiama Hasse Pais Brandão, Yvette K. Centerno, José Gomes Ferreira, Egito Gonçalves, Zoltán Rózsa, Pedro Tamen, António Torrado. Com ela me fica também a lembrança de um seminário por mim realizado na Universidade de Budapeste em 1982:
“Para Silvio Castro
com a simpatia e o abraço
de
Zoltán Rózsa
Budapeste, 10.10.82“
7.1- Poetas portugueses
Antes da minha para a Itália em novembro de 1962, viagem que permite logo depois meu primeiro contáto direto com Portugal, eu tivera alguns conhecimentos com poetas portugueses no Brasil, em particular no Rio de Janeiro. Dentre esses poetas, cumpre recordar dois nomes históricos da literatura portuguesa moderna, Adolfo Casais Monteiro e Jorge de Senna, ambos refugiados da opressão do regime salazarista. Jorge de Senna, depois de algum tempo de atividades entre Rio e São Paulo, se deslocou para os USA. O presencista Adolfo Casais Monteiro em continuidade de seu precioso trabalho se fixa principalmente no Rio de Janeiro. Ambos mantiveram por anos importantes funções culturais em entidades brasileiras. Os meus contactos com Jorge de Senna foram mais circunstanciais; aqueles com Adolfo Casais Monteiro tiveram mais consistência. Recordo dele o nosso encontro, com vivas discursões plenárias no I Congresso Brasileiro de Teoria e História Literária, Recife, 1960. Ali eu, jovem estudioso e professor de literatura com apenas 28 anos de idade, apresentei uma comunicação subordinada àqueles que já então eram meus princípios dominantes para a prática da crítica literária, isto é, uma consciência lógica e exata da análise, contra qualquer manifestação de impressionismo crítico. A minha comunicação no Congresso de Recife tinha o título: “Conceituação e nomenclatura em crítica literária“.
A partir da minha primeira viagem em Portugal, em 1963, passei a ter um maior e mais amplo contáto com os escritores portugueses, em particular com os poetas. Desses encontros agora tomo em mãos muitos do momentos passados em diálogo com poetas de todas as idades.
Começo a minha exposição a partir dos termos históricos que caracterizam os diversos autores. Da grande Sophia de Mello Breyner Andresen um seu volume de ´poemas me recorda o nosso que fugaz diálogo. Trata-se do volume Ilhas, Texto Editora, Porto, 1989: “Ao Sílvio, em lembrança de um encontro que não chegou a ser (adiado) “assinatura não decifrável”, Porto, verão 89“.
Outro nome histórico da minha coleção é o de Eugênio de Andrade, conhecido pessoalmente numa circunstância muito especial, a festa anual da poesia promovida pela UNESCO, na oportunidade em 2001, em Santiago de Compostela. Eugênio de Andrade ali representava, juntamente com os poetas Rosa Alice Branco e Casimiro de Brito, o Portugal; enquanto eu me encontrava em representação do Brasil. Então o grande poeta me dedicou o seu volume de poemas, Obscuro Domínio, 8ª.ed., Editora Fundação Eugênio de Andrade, Porto, 2000. O grande poeta me fez a seguinte dedicatória:
“A Silvio Castro,
afetuosamente,
Eugénio de Andrade
Santiago, 22.3.01“
3.3 Geração de 56 (Parte III)
Já consideramos na Parte II dessa longa mas, por tantas razões, reveladora análise da Geração de 56, a poesia do mineiro, feito depois por uma intensa vida, brasilense – como certamente foi regra para os primeiros e reveladores anos da existência de Brasília – Anderson Braga Horta. Agora, e por um certa razão de ritmo expositivo deste trabalho, englobaremos num quadro único os poetas brasilenses que entram na história do meu rico rol de dedicatórias autógrafas. Naturalmente, os poetas de Brasília, pela excepcionalidade da vivência pioneira de cada um deles, sendo todos titulares de precedentes experiências de grande maturidade, ao começar aquela da Nova Capital, logo tendem a agregar-se e a criar grupo. Os escritores ensinam assim, de certa maneira, a toda a vida cultural da cidade em formação como demonstrar presente não somente uma revolucionária arquitetura e processo urbanístico, mas igualmente a sociedade civil. Um dos testumunhos mais vivos desta tendência encontra-se na antologia de poemas de 35 poetas participantes do magnífico volume Caliandra – Poesia em Brasília, André Quicé Editor, Brasília, 1995. O meu particular contacto com os poetas pioneiros, eu o devo a um evento especial: em 1962 foi aberto um concurso para proclamar o Primeiro Príncipe da Poesia de Brasília.
Foi nomeada pelo órgão competente do INL uma comissão nacional composta por Manuel Bandeira, Waldir Ribeiro do Val e por mim. A comissão diante das obras apresentadas decidiu pela concessão do título a Joanyr de Oliveira, proclamado Primeiro Príncipe entre os poetas de Brasília. Não tendo sido possível a deslocação para a Capital de Manuel Bandeira e de Waldir Ribeiro do Val, viajei para Brasília com a finalidade de proclamar o poeta vencedor. Foi este o meu primeiro contacto direto com a comunidade literária brasilense em clara formação. Dentre os poetas de Brasília, além do já tratado Anderson Braga Horta, tenho comigo volumes dedicados de Joanyr de Oliveira, Wilson Pereira, Fernando Mendes Viana, José Jerônimo Rivera. De Joanir de Oliveira constam dois volumes de poemas: Luta a(r)mada, ed. S.S. Printing & Graphic Design, California-USA, 1992: “E ao Sílvio Castro, poeta e amigo a quem devo minha premiação em poesia (1962), com o meu abraço - Joanyr de Oliveira Brasília, 16.9.97“; e Pluricanto (Trinta anos de poesia), Anta Editora, Brasília, 1996. De Wilson Pereira são Pedras de Minas, Anta Editora, Brasília, 1994; e Menino sem fim, 2ª. ed., Edit. Miguilim, Belo Horizonte, 1996: “Ao escritor Silvio Castro ofereço este MENINO SEM FIM com o abraço de amizade e admiração Wilson Pereira Brasília, 17/09/97“ Do saudoso Fernando Mendes Viana é o volume Marinheiro no Tempo (1956 – 1986) – Antologia, Thesaurus edit., Brasília, 1986: “Caro Sílvio Castro, lamentando a escarsês de tempo do encontro e a perda de rumo para aqui chegar, (culpa não minha...) Mendes Viana 4 de set. 95 Brasília“. E de José Jeronymo Rivera, Poesia francesa – Pequena antologia bilíngue, Thesaurus Editora, Brasília, 1998: “Ao ilustre escritor Sílvio Castro, com os parabéns pelo seu trabalho de divulgação de nossos grandes poetas, a admiração e o abraço afetuoso do José Jeronymo Rivera Brasília, 15.9.98“.
Estamos chegando à conclusão do grande inventário das obras dos poetas da Geração de 56 que me enriqueceram culturalmente com as ofertas de seus livros de poemas. Mais do que nunca, por tudo quanto exposto neste trabalho, encontro justificação para o trabalho que me prometo há anos de realizar, isto é, uma análise a mais ampla que será possível desta importante Geração da poesia brasileira contemporânea. Por enquanto e para dar continuidade a este meu exercício de agrimensor das letras amigas, passo a considerar um grupo de poetas dividindo-os segundo a região de origem. Assim fazendo encontro três regiões representadas nessa circunstância declaradamente limitada: a Região Sul, excluindo São Paulo; a Região Nordeste, incluindo a Bahia; e a Região Norte, dividindo-a nas grandes áreas maranhense e amazônica. Do Sul temos: o poeta e romancista Miguel Sanches Neto que, como digno autor pertencente ao tempo da Geração de 56, procura o mais possível as concordâncias praticáveis entre prosa e poesia. Dele tenho um volume de poemas que o autor me presentea em duas oportunidades, no espaço de um mês do ano 2000, Venho de um país obscuro, Travessa dos Editores, Curitiba, 2000. Na primeira oferta do volume temos a seguinte dedicatória: “Para Sílvio Castro, estes poemas de uma infância pobre. Abraço do Miguel ctba, 31 07 00”. Descendo para Santa Catarina, tenho a presença do poeta, ensaísta e professor universitário de literatura, Alcides Buss, de acentuada tendência para a pesquisa formal e de linguagem, como o demonstra nos poemas de Sinais // Sentidos, M:A:L: Edições, Ilha de Santa Catarina, 1995: “Ao Sílvio Castro, um abraço do Alcides Buss Ilha de Santa Catarina, 27.02.96“. Do Rio Grande do Sul tenho os presentes do poeta, romancista, ensaísta e professor universitário de literatura, José Clemente Pozenato, como tantas outros representantes da Geração de 56 entregue à criatividade literária oscilante entre prosa e poesia. Na poesia em exemplos como os poemas de Mapa de viagem (poesia reunida), Edição da Universidade de Caxias do Sul-EDUCS, Rio Grande do Sul, 2000, no qual o autor me dirige as seguintes palavras: “Para Silvio Castro, com amizade, José Clemente Pozenato 31/07/01“.
O poeta e ensaísta Itálico Marcon trabalha muito a sua linguagem poética a partir da experiência mais ampla de seu grupo de origem e em correspondência com a sua memória pessoal. Dele é Tempo de exílio, Liv. Sulina Editora, Porto Alegre, 1969:
“Para o querido amigo
Sílvio Castro,
homenagem
e saudade do
Itálico Marcon
- 1969.”
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