Quarta-feira, 9 de Março de 2011

A República nos livros de ontem nos livros de hoje - 11, por José Brandão

 

 

 

A Carbonária em Portugal


(1897-1910)

 

António Ventura


Livros Horizonte, 2004

 

O estudo das organizações secretas está limitado, como é natural, pelo seu carácter reservado, pela quase inacessibilidade ou inexistência de documentos que nos permitam olhá-las como simples objecto de investigação.

 

Em Portugal, é assinalada a existência de uma organização carbonária no início da década de trinta do século XIX, possivelmente com origem em emigrados liberais refugiados em Paris. Intermitentemente, ao longo da centúria de Oitocentos, surgem referências mais ou menos difusas à existência da Carbonária, nas décadas de quarenta e de cinquenta, tendo como centro irradiador a cidade de Coimbra.

 

Procuramos, neste livro, estudar, com as limitações já referidas, duas organizações carbonárias, ambas fundadas nos finais do século XIX, e que tiveram um papel determinante na preparação do advento da República: a Carbonária Portuguesa e a Carbonária Lusitana.

publicado por João Machado às 17:00
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Terça-feira, 8 de Março de 2011

A República nos livros de ontem nos livros de hoje - 10, por José Brandão

 

 

 

Carbonária - O Exército Secreto da República

 

José Brandão

 

Perspectivas & Realidades, 1984

 

Portugal 1910. A revolução republicana está na rua. Como foi, como se chegou a este dia, como se conseguiu derrubar um regime secular. Quem lutou, quem na hora da verdade não desistiu do combate, quem organizou com êxito a mais importante revolução da História de Portugal.

 

Estas e outras situações podem ser compreendidas com a leitura de «Carbonária - O Exército Secreto da República», que, sem sombra de dúvida, vem colmatar uma inexplicável brecha existente na bibliografia histórica sobre aquela que foi a mais poderosa associação secreta constituída em Portugal.

 

A Carbonária era diferente das outras associações do género. Não lhe interessava oradores e panfletários. Como não exibia os chefes em público não precisava de gente ‘educada’ para falar nos comícios e escrever nos jornais.

publicado por João Machado às 17:00
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Segunda-feira, 4 de Outubro de 2010

O Regicídio e a Carbonária -III (Centenário da República)

(Continuação)


Romagem às campas dos regicidas.


Segundo parece, o acordo estabelecia que os republicanos contribuíssem com os homens dispostos a sacrificar a vida (porque todos sabiam que disso se tratava) e os monárquicos com o dinheiro para reunir os meios necessários à execução do plano. Eram necessárias armas de grande qualidade e, portanto, caras.


Meses antes, ainda em 1907, a fábrica norte-americana Winchester lançara um novo modelo de carabina semiautomática, com bloco de culatra reforçado de modo a suportar o elevado calibre 351. Era uma arma de grande fiabilidade, certeira, com um acabamento de grande qualidade, com inovações muito avançadas para a época. Dava garantias de precisão e eficácia, desde que utilizada por um bom atirador, naturalmente.

O armeiro Heitor Ferreira, estabelecido no actual Largo D. João da Câmara (a loja ainda existe) encomendou, pois, à sucursal europeia da Winchester, a casa Monkt, de Hamburgo, nove carabinas desse novo modelo. Cada uma custava uma pequena fortuna.

Mal a encomenda chegou, vendeu três carabinas a gente conhecida (e rica). As vendas foram sendo registadas num livro que, durante as investigações do processo do regicídio, desapareceu. As restantes seis ficaram reservadas. A outra arma encontrada no local do atentado, a pistola FN Browning de calibre 7,65, usada pelo Alfredo Costa era igualmente de um modelo muito avançado, portátil, funcional. Foi realmente adquirida no estabelecimento de Heitor Ferreira (com o número de registo 349-432). Na foto abaixo, podemos ver uma arma destas, produzida em 1906-1908.

Há quem  afirme que Afonso Costa se gabava de ter sido ele a oferecer a arma ao Costa. Vemos que, ou se trata de um mito, ou Afonso Costa mentia.  Pensando bem, por que iria Afonso Costa mentir? As armas dos regicidas mortos no local, foram devidamente identificadas e conhece-se a sua proveniência. Aliás, nesta matéria, na qual o factual, o documentadmente histórico, deveria prevalecer, a relativa proximidade temporal, leva a que haja sempre quem tenha ouvido do pai, do avô, versões sem qualquer consistência. Meros boatos, como os que hoje correm sobre as personagens da política actual - porém, a estes a patina de um século confere-lhes respeitabilidade. Principalmente os monárquicos, ãpoiando a sua versão histórica em ses, alimentam muito as suas crenças ideológicas em mitos - denegrindo as personagens republicanas e esquecendo que a queda da Monarquia se deveu sobretudo á corrupção, à incompetência, quando não mesmo à mais rasteira traição, dos políticos monárquicos. Adiante.

Resolvido o problema das armas era necessário encontrar quem as usasse. É aqui que os serviços da «Coruja», uma célula ou canteiro que funcionava fora do controlo da Alta Venda, foram requisitados. Sabe-se que, entre 28 e 31 de Janeiro, houve depois da reunião da Quinta do Ché, houve outras em que todo o plano do Regicídio foi afinado. E terá sido neste ponto que a «Coruja» entrou em cena. O que era a «Coruja»? Era, segundo tudo o indica, uma estrutura paralela à Carbonária. À frente dela estava José Maria de Sousa, António José dos Santos, Coelho Bastos e Henrique Cordeiro, os quais, depois de recrutarem numerosos adeptos, a dissolveram, integrando estes na Carbonária, o que era, afinal, o fim que se propunham. Composta por gente corajosa e exaltada, era ideal para cumprir uma missão que se sabia implicar o sacrifício da vida, pelo menos aos elementos que iam actuar à vista de todos. Portanto, os conspiradores republicanos forneceram aquilo que, brincando com coisas sérias, podemos considerar a mão-de-obra.

Segundo o historiador Mendo Castro Henriques em «Dossier Regicídio», terá sido o visconde de Pedralva a comprar as seis armas. Tentou-se depois fazer passar a ideia de que, embora o alvo da operação fosse João Franco, não tendo conseguido apanhar este, o Buíça e o Costa, tinham de motu proprio decido assassinar a família real. Como se gente tão fanaticamente cumpridora de ordens fosse capaz de decidir uma alteração tão profunda que contrariava as ordens recebidas. Aquilino Ribeiro em «Um Escritor Confessa-se» sugere que terá sido uma inspiração de momento, uma decisão dos regicidas. Não faz qualquer sentido. Uma operação prevista ao segundo, com tiros disparados de diversos pontos da praça e com uma logística complicada, que parecia estar preparada para, caso o Buíça e o Costa falhassem, haver quem levasse a missão a cabo, não se improvisa do pé para a mão.

Segundo o que tenho conseguido apurar, da parte dos republicanos não existia um ódio particular ao rei D. Carlos. Atacavam-no, insultavam-no, aproveitavam os seus mínimos deslizes, os escândalos que ele protagonizava, o despesismo de que fazia alarde… Inventavam escândalos, se fosse necessário. No entanto, não era uma questão pessoal. Fosse outro o rei e fariam o mesmo. Como se viu nos dois anos e meio em que D. Manuel reinou – não houve escândalos e nem por isso a propaganda republicana deixou de atacar o rei.

O Partido Republicano queria derrubar o regime. Se em vez de D. Carlos, estivesse um santo, um modelo de virtudes, seria transformado pela propaganda republicana num monstro. Não temos que nos admirar. Ainda hoje é assim .

Ao contrário dos republicanos, que atacavam o rei só por ele ser o representante de um regime que queriam derrubar, os monárquicos, José de Alpoim, mais do que ninguém. Odiavam profundamente a pessoa de D. Carlos. Quando numa entrevista ao diário parisiense Le Temps, em Novembro de 1907, d. Carlos dissera ao jornalista que tinha inteira confiança em João Franco, lhe elogiara a inteligência e que fora o único político com carácter que encontrara, criara numerosos inimigos entre os monárquicos – então não havia mais ninguém com carácter?

Raul Brandão no volume I das suas «Memórias» afirma que José de Alpoim e os dissidentes forneciam bombas explosivas, armas e dinheiro aos republicanos e, cita João Chagas: «O Alpoim foi quem nos forneceu as armas para a revolução» (…) «Nós tínhamos homens, eles deram-nos armas e bons contos de réis». Como diz Miguel Sanches de Baêna na obra referida: «A sanha contra as instituições monárquicas e contra o rei não parecia ter limites». Como conta Rocha Martins em «D. Carlos», entrando Alpoim na oficina tipográfica do jornal «O Dia», de que era director, dirigiu-se ao tipógrafo Teixeira Severino e perguntou: «Vocês não acham que D. Carlos deve ser morto? E pusera-se a assobiar».

A assinatura do decreto que permitia ao governo deportar os líderes republicanos presos no dia 28, terá tido a sua importância, mas não pode ter sido decisiva. A engrenagem que conduziu ao Regicídio já estava em marcha. Não era possível da noite de 31 para a tarde de 1 de Fevereiro, ter montado todo aquele complexo sistema.

Embora seja evidente que o plano foi bem preparado, a verdade é que houve uma displicência muito grande por parte do Governo no que se refere à segurança do chefe de Estado e dos seus familiares. Não faz sentido que, com o clima pré-revolucionário que se vivia em Lisboa, o transporte se tenha feito em landau e não em automóvel fechado e com uma escolta reforçada. Nem João Franco, nem o rei acreditavam que fosse possível haver um atentado.

A verdade completa sobre o Regicídio, dificilmente virá a ser conhecida. Com o desaparecimento do respectivo processo, restam as conjecturas, as suposições, as teorias. José de Alpoim disse em diversas ocasiões «Só há duas pessoas em Portugal que sabem tudo – eu e outra». Soube-se depois que a pessoa a quem ele se referia era ao visconde da Ribeira Brava. Muito mais haveria a dizer sobre este tema.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Domingo, 3 de Outubro de 2010

O Regicídio e a Carbonária - II (Centenário da República)

(Continuação)

Carlos Loures

A fórmula do juramento que os neófitos pronunciavam perante a assembleia de iniciados encapuçados, era a seguinte: «Juro, pela minha honra de cidadão livre, guardar segredo absoluto dos fins da existência desta sociedade, derramar o meu sangue pela regeneração da Pátria, obedecer aos meus superiores e que os machados dos rachadores de cada canteiro se ergam contra mim se faltar a este solene juramento.

Os populares iniciados, operários quase todos eles, foram colocados nas Choças que com o abandono dos académicos tinham ficado muito desguarnecidas. A primeira Choça, exclusivamente formada por trabalhadores, recebeu o nome de “República”.

A Alta-Venda, comando supremo da Carbonária, era composta pelo Grão-Mestre eleito na Venda Jovem-Portugal e por mais quatro Bons Primos nomeados e escolhidos por este de entre os membros da Carbonária Portuguesa. Os nomes eram conservados como secretos. Esta Alta-Venda era a instância máxima da Carbonária Portuguesa.

Para além da estrutura civil acima descrita, havia em paralelo uma outra organização constituída por militares, com um organograma similar ao do ramo civil. Por ser gente mais disciplinada e enquadrada hierarquicamente, o ritual de iniciação era bastante simplificado, quase se limitando ao juramento.

Após a implantação da República, a Carbonária ainda foi útil na mobilização popular contra as incursões monárquicas. Porém, as lutas internas nos partidos, nomeadamente a divisão do Partido Republicano Português em diversas outras formações políticas, determinou a extinção do «exército secreto da República»

Por diversas vezes, até ao golpe militar de 1926 que veio a dar lugar à ditadura, várias diligências foram feitas no sentido de recuperar a Carbonária, todas elas sem resultado. Alguns núcleos de carbonários subsistiram – gente que foi recrutada para a «Formiga Branca» de Afonso Costa, por exemplo. A organização enquanto tal, esgotou-se no processo de luta pela República. Implantada esta, deixava de fazer sentido a sua existência.

Foi, portanto desta organização secreta que saíram as ordens para eliminar os membros da família real. Os seus responsáveis máximos sempre negaram ter a Carbonária alguma coisa a ver com o Regicídio. No entanto, os dois regicidas eram membros da Carbonária.

O que se terá passado? Quem mentia? identificados e mortos no local do atentado, Manuel dos Reis da Silva Buíça, 32 anos, natural de Vinhais, professor do Colégio Nacional, e Alfredo Luís da Costa, 28 anos, natural de Casével, Alentejo, comissionista comercial, eram indiscutivelmente republicanos e carbonários. O que se passara?




Bandeira da Carbonária Portuguesa.

Pelos últimos dias do ano de 1907, por ocasião do Congresso Internacional de Imprensa que se realizou em Paris, tiveram lugar algumas reuniões entre políticos republicanos portugueses e revolucionários franceses. Os encontros realizaram-se no café de um hotel, que creio ainda existir, pois não há muitos anos fiquei lá hospedado uns dias – o Hotel Brébant, no Boulevard Poissonière (um hotel relativamente barato, mas que não recomendo – um rato resolveu fazer-me companhia e comer parte de uma tablete de chocolate que deixei sobre a mesa da televisão…).

Nessa reunião de há 103 anos o assunto em agenda era, nem mais nem menos do que a supressão física de João Franco, chefe do Governo português. Na sequência dessa e doutras reuniões, foi criado o «Grupo dos 18», com a missão especifica de organizar a execução de João Franco. Um mês depois, em 28 de Janeiro de 1908, eclodiu a chamada «Revolta do Elevador», da qual falei aqui. Como disse, a revolta falhou e muitos dos líderes foram presos.

Entre os republicanos que a polícia encarcerou, estava Luz de Almeida, o comandante supremo da Carbonária. Grandes vultos do Partido Republicano Português – João Chagas, França Borges, António José de Almeida e muitos outros, foram também presos. Alguns conseguiram fugir, como os monárquicos dissidentes do Partido Progressista, entre eles José Maria de Alpoim e o visconde da Ribeira Brava. Como é que monárquicos estavam ligados a republicanos e com eles conspiravam para derrubar a Monarquia?

Pode dizer-se que a tragédia começou no interior do Partido Progressista de onde Alpoim saíra, rompendo com o líder José Luciano de Castro. Com duas dezenas de deputados que o seguiram na ruptura, criou a Dissidência Progressista. Deixando de ter uma participação activa na vida política, terá concluído que só derrubando o regime voltaria a ter poder. Em Maio de 1907, acompanhado pelo visconde da Ribeira Brava, terá tido as primeira reuniões conspirativas com Afonso Costa. Em Junho do mesmo ano, reúnem-se com o jornalista João Chagas e, depois, haverá uma reunião em casa de Alpoim, onde, segundo Chagas, citado por Rui Ramos, estiveram, os republicanos Afonso Costa e Alexandre Braga, dois militares e, pelo lado dos monárquicos dissidentes, José Maria de Alpoim, líder da Dissidência Democrática e ex-ministro da Justiça de Luciano de Castro, Francisco Correia Herédia, visconde da Ribeira Brava e o médico Egas Moniz, futuro prémio Nobel. Segundo Chagas, disse ainda havia também entre os conspiradores políticos regeneradores.

Na Quinta do Ché, perto dos Olivais, em Lisboa, realizou-se uma reunião onde terão estado presentes alguns dos elementos do chamado «Grupo dos 18», criado na sequência da reunião de Paris, grupo que tinha como missão executar João Franco. Não se sabe o que terá sido resolvido nessa reunião, mas parece ter sido aí que se tomou a decisão de abater, não João Franco, como estava previsto, mas sim o rei e outras pessoas da família real.

Carbonários em 5 de Outubro de 1910.
 
(Continua)
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Sábado, 2 de Outubro de 2010

O Regicídio e a Carbonária – 1 (Centenário da República)

Carlos Loures


Aproxima-se o dia do centenário da implantação da República e vou, com esta série de três textos, encerrar o tema do Regicídio. Com a plena consciência de que muito (ou mesmo quase tudo) fica por dizer. Tendo servido de assunto a muitos livros, a questão do Regicídio não se esgota em pequenas crónicas que, como esta, apenas permitem aflorar, muito superficialmente, alguns aspectos. Como disse, todas as reconstituições iconográficas do Regicídio são, no mínimo imprecisas. A que vemos acima é, apesar de tudo, uma das menos fantasiosas. O cenário está perfeito, é a Rua do Arsenal sem invenções. O Costa está a ser agarrado pelo cívico que lhe vai disparar um tiro na cabeça. Mas, à esquerda vemos Buíça, que tinha ficado no Terreiro Paço e ali terá sido acutilado e morto. Todavia, mesmo com este erro, talvez seja, entre as muitas dezenas de reconstituições que vi, a que menos mente.

Em todo o caso, ficou na sombra algo que nunca se esclareceu. No Terreiro do Paço, além de Buíça e de Costa, quantos elementos intervieram. Pela peritagem da Polícia Científica, chega-se à conclusão de que foram pelo menos cinco, os que participaram no atentado. É uma evidência que os projecteis encontrados, nos corpos, no landau, nas arcadas, foram provenientes de cinco armas diferentes, embora duas delas fossem iguais – carabinas Winchester de calibre 351. Identificou-se também as munições de calibre 7,65, da pistola Browning do Costa. No landau, foram encontrados vestígios de projécteis de calibre 6,35 e, também no landau, a perfuração de um projéctil 5,5 do chamado tipo «Vello-dog», revólveres de pequeno calibre e fraco poder de penetração que os ciclistas usavam para afastar os cães. Alguns destes disparos parecem ter sido feitos apenas para espalhar o pânico. Algumas testemunhas oculares, falam num intenso tiroteio. Buíça e Costa teriam a missão de matar os membros da família real, enquanto os outros três serviram para criar um clima de confusão e terror. E, tanto os dois regicidas mortos como os nomes que foram apontados (entre eles, o de Aquilino Ribeiro, que sempre negou ter participado na acção) como sendo os dos seus acompanhantes, pertenciam a republicanos. No imaginário popular, cristalizou-se a ideia de que o atentado mortal de 1 de Fevereiro de 1908 foi obra de republicanos ao serviço do Partido Republicano Português é uma ideia falsa.

Talvez a confusão derive do facto de se saber que o atentado foi executado por carbonários e de se considerar que a Carbonária era uma organização republicana. Ora isto não corresponde à verdade, ,pois havia monárquicos na Carbonária.

Para já, vamos ver, em traços muitos largos, no que consistia a Carbonária.

A Carbonária, proveniente do italiano “carbonaro” (carvoeiro) foi organizada de acordo com o modelo maçónico, embora com uma nomenclatura diferente. Obedecendo a um conjunto de grandes princípios (a fé e a virtude, por exemplo), obrigava os candidatos a demonstrar, antes de admitidos no seio da Ordem, serem pessoas de bom carácter, dispostos a ajudar os infelizes, a combater as injustiças, etc. Só passada esta prova inicial, eram admitidos como “aprendizes”. Todos os carbonários, se tratavam entre si por tu e por “bons primos”, substituindo o tratamento de “irmãos”, da Maçonaria. As estruturas equivalentes às lojas maçónicas, designavam-se por “choças”. Havia quatro graus iniciáticos – rachadores, carvoeiros, mestres e mestres sublimes.

Falando das origens: em 1822, deslocou-se a Portugal um grupo de italianos para organizar aqui uma Carbonária, inspirada no modelo italiano. Houve novas tentativas ao longo dos tempos, mas só 1896, surgiu com a sua estrutura definitiva a Carbonária Portuguesa que iria ter um papel importante no derrube do regime monárquico.

Artur Augusto da Luz Almeida, bibliotecário da Câmara Municipal de Lisboa e diplomado pela Faculdade de Letras, com o Curso Superior de Letras, sozinho organizou toda a estrutura: “choças” de 20 homens, cujos 20 chefes formavam uma “barraca”, sendo que cada 20 chefes de “barraca”, constituíam uma “venda”. Portanto, uma «venda» correspondia a cerca de 8 mil homens. Cada responsável de “venda” fazia parte de uma cúpula – a «Suprema Alta Venda».

Havia ainda os “canteiros”, núcleos de base que eram compostos por cinco Bons Primos, por Rachadores que se conheciam a todos entre si, mas que não conheciam mais ninguém. Era uma medida de segurança, que previa a prisão, a tortura, e a impossibilidade de, nessas condições, denunciar mais do que os quatro outros membros do mesmo “canteiro”. Quando se reuniam nos outros órgãos apresentavam-se sempre todos de capuz negro ou com a cara mascarrada de carvão, o que tornava assim impossível a identificação dos superiores, os quais, no entanto, conheciam os subalternos. As primeiras Choças foram formadas com elementos vindos da Maçonaria Académica. Numa das primeiras sessões da “Alta-Venda provisória”, foi apresentada a proposta para serem admitidos elementos populares na Carbonária Portuguesa. Proposta aprovada, mas que motivou a saída de «bons primos» que defendiam que só académicos podiam integrar a organização.

(Continua)
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Sexta-feira, 20 de Agosto de 2010

As sociedades secretas e a revolução - por António Ventura*

Com a devida vénia, transcrevemos do jornal Público d o passado dia 18 d Agosto, este artigo do Professor António Ventura



Confundir o papel da Maçonaria e da Carbonária no período que levou à implantação da República é um erro comum, mas grosseiro. Eram em tudo distintas, embora lutassem as duas pelo fim da Monarquia. Quando o regime caiu, os seus destinos também foram bem diferentes.
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É habitual, quando se fala da proclamação da República, em 1910, relacionar o evento com a acção determinante das sociedades secretas - a Maçonaria e a Carbonária -, o que frequentemente gera confusões, equívocos e erros grosseiros. Estamos perante duas organizações distintas, a todos a níveis, desde as origens, contextos fundacionais, referências, composição social e objectivos. Enquanto a Carbonária era de facto uma organização secreta, agindo no maior sigilo, nada transparecendo para o exterior, a Maçonaria dificilmente podia ser classificada como tal, uma vez que eram conhecidos os nomes dos seus dirigentes e publicava boletins e anuários com informações sobre muitos responsáveis a nível nacional e local.

A Maçonaria surgiu no início do século XVIII em Inglaterra. Esta é a realidade histórica, não obstante as referências lendárias que lhe foram associadas. Nascida num contexto inglês, numa sociedade que sofreu dezenas de anos de guerras religiosas e políticas, era um espaço privilegiado de reflexão, um ponto de encontro e de diálogo entre homens com ideias políticas e religiosas díspares. Daí a interdição de discussões de carácter político ou religioso fracturantes. Era naturalmente elitista - bastava a obrigatoriedade de saber ler e escrever para lhe limitar drasticamente o acesso.

Em contrapartida, a Carbonária, que nasceu 100 anos depois, em Nápoles, em plena Restauração, com ramificações no Jura e na Floresta Negra, implantou-se em Itália e em França reunindo descontentes com o rumo da Europa depois do Congresso de Viena, congregando liberais, antigos militares que serviram no exército napoleónico, burgueses, intelectuais e estudantes. Era uma organização política e popular, virada para o combate político, o que a distinguia da Maçonaria, utilizando um simbolismo relacionado com a floresta e os trabalhos nela realizados, o que de novo contrastava com o simbolismo maçónico da construção e dos construtores. Os seus membros tinham a designação de Bons-Primos e organizavam-se em Barracas.

Enquanto em 1727 já se assinala actividade maçónica em Portugal, as primeiras referências à Carbonária datam do início da década de 30 do século XIX, possivelmente entre emigrados liberais refugiados em Paris. As notícias dessa Carbonária desaparecem depois da guerra civil (1834), para voltarem a surgir na década de 40, com a Antiga e Sublime Ordem da Carbonária Lusitana. Após um período de actividade entre 1842 e 1843, desapareceu para ressurgir depois da Patuleia, e sob os ecos das Revoluções de 1848. Até 1852 teve uma intensa actividade com a organização de Choças e Barracas e a eleição de uma Alta-Venda, tendo Coimbra como principal centro de irradiação. Algumas estruturas persistiram até aos finais do século, mas a Carbonária que participará na revolução republicana é outra, ou melhor, são outras, no plural.

Ritos iniciáticos

Em 1897 surge a Carbonária Portuguesa, republicana, a partir de uma organização estudantil, a Maçonaria Académica. A sua actividade é modesta nos anos subsequentes, sendo o seu órgão máximo a Alta-Venda chefiada por Luz de Almeida como grão-mestre. As iniciações faziam-se no interior de casas, em especial nos Centros Republicanos António José de Almeida e Botto Machado, e no Teatro Heliodoro Salgado. A cerimónia decorria num ambiente decorado para inspirar temor ao candidato, usando os carbonários presentes balandraus (um capote largo e comprido) ou máscaras.

Paralelamente existiu outra organização, com a designação de Bonfim, também conhecida como Liga Progresso e Liberdade. A sua sede foi descoberta pela polícia, sendo o núcleo dissolvido pelos próprios membros, todos anarquistas intervencionistas ou republicanos avançados, que fundaram outro, a que deram o título de Carbonária Lusitana, também conhecida pela designação de Carbonária dos Anarquistas. Heliodoro Salgado foi o seu grande dinamizador. Esta Carbonária estava ligada, a partir de 1899, à loja maçónica irregular Obreiros do Futuro. As iniciações eram diferentes das que ocorriam na Carbonária Portuguesa, faziam-se ao ar livre, no campo, nos arredores de Lisboa, nas estradas e nos caminhos para a Tapada de Ajuda, nas minas do Canto, no Casal do Alvito, nas furnas da serra de Monsanto e até no Cemitério dos Prazeres.

Embora a Carbonária Lusitana fosse autónoma e formada maioritariamente por elementos operários que não recusavam a luta política, a colaboração táctica com o Partido Republicano Português (PRP) teve consequências e alguns militantes acabaram por se passar para o campo republicano.

A fusão entre as duas carbonárias ocorreu nos finais de 1907 ou início do ano seguinte. Ao ser exposta a actividade dos Obreiros do Futuro após a explosão na Estrela, com prisões e fugas para o estrangeiro, muitos dos seus membros integraram-se na Carbonária Portuguesa. A absorção ocorreu sem qualquer acordo formal, sentindo os carbonários lusitanos necessidade de serem enquadrados. As iniciações de António Maria da Silva e de Machado Santos tiveram importantes reflexos no futuro da Carbonária, pelos papéis que ambos iriam desempenhar, integrando a sua direcção juntamente com Luz de Almeida. As suas responsabilidades seriam ainda maiores após a ida do grão-mestre para o exílio, de onde só regressou depois de proclamada a República.

A iniciação de António José de Almeida trouxe à Carbonária um prestigiado caudilho republicano e facilitou as suas relações com a Maçonaria, cada vez mais sensível ao ideal republicano. Luz de Almeida, com a sua figura discreta de bibliotecário, percorria o país, fazia contactos, promovia iniciações, fundava novos canteiros ou Choças. Mesmo os elementos isolados, que não se podiam integrar nas estruturas ordinárias, mantinham uma ligação na qualidade de Vedetas. A sua ida para o estrangeiro impediu que estivessem em Portugal no momento da revolução. Há notícia da existência de outras organizações de cariz carbonário, autónomas mas actuando em consonância como os grupos Coruja e Mineiros.

Da velha Carbonária Lusitana - a Carbonária dos Anarquistas - sobreviveu um pequeno núcleo em redor de José do Vale, João Borges e Bartolomeu Constantino, que participarão no 5 de Outubro, mas sob a direcção da Carbonária Portuguesa. Nos relatos sobre as jornadas de Outubro de 1910, dos antigos carbonários lusitanos restam Bartolomeu Constantino, Carlos Antunes, António Alcochetano e José de Jesus Gabriel.

Quanto à Maçonaria, apesar de se dever manter fora da acção política num sentido partidário, a verdade é que a sua progressiva republicanização era evidente, ainda antes do grão-mestrado de Magalhães Lima, o que levou a um envolvimento mais directo dos maçons na mudança de regime. Sendo a Maçonaria uma organização progressiva, isto é, que sempre pugnou pelo progresso da Humanidade a todos os níveis, para muitos maçons, em Portugal, esse progresso era incompatível com a manutenção do regime monárquico. Daí a necessidade de mudança, não por razões partidárias, mas por razões nacionais. Foi o que sucedeu de um modo mais visível a partir da reunião de 14 de Junho de 1910, realizada no Palácio Maçónico, com centenas de maçons, na qual foram dados ao grão-mestre plenos poderes para organizar uma Comissão Maçónica de Resistência, em articulação com o Directório do PRP, composta por José de Castro - grão-mestre adjunto do Grande Oriente Lusitano Unido -, Miguel Bombarda, Cândido dos Reis, Francisco Grandela, José Cordeiro Júnior, José Simões Raposo, Manuel Martins Cardoso, António Maria da Silva e pelo próprio Machado Santos. Estes dois últimos, simultaneamente dirigentes da Carbonária Portuguesa.

A reunião de 29 de Setembro de 1910, na sede do Directório do PRP, na qual se preparou a revolução, é esclarecedora quanto aos elementos e forças envolvidos, dirigentes partidários, da Carbonária, de lojas maçónicas e do Grande Oriente Lusitano Unido: Simões Raposo, Machado Santos, José Cordeiro Júnior, António Maria da Silva, José Barbosa, Inocêncio Camacho, Cândido dos Reis, Manuel Martins Cardoso, Eusébio Leão, José Relvas, e Miguel Bombarda.

Crises e cisões

O papel da Carbonária nas jornadas de Outubro de 1910 foi determinante. Note-se que o almirante Cândido dos Reis, chefe máximo do movimento, era simultaneamente carbonário e maçom, o mesmo sucedendo com Machado Santos, o "pai" da República, que assumiu a chefia dos revoltosos na Rotunda.

Sobre a actividade da Carbonária após o 5 de Outubro de 1910, as informações ainda são escassas. Teve um papel mobilizador contra as incursões monárquicas, mas as dissenções no interior do Partido Republicano Português puseram termo à organização que tanto fez pela proclamação da República. Continuaram, certamente, a existir grupos de cariz carbonário, na sua maior parte ligados ao sector "democrático" do PRP, mas a velha Carbonária deixou de existir, porque a Monarquia, razão de ser da sua fundação e labor, também já não existia. Fora uma organização de contrapoder que visava destruir um regime e os pilares que o suportavam.

Entre 1910 e 1926, a Maçonaria estará presente em todos os níveis da vida política, social, económica e cultural do país. Em Março de 1910, o Grande Oriente Lusitano Unido contava com 97 Lojas e 58 Triângulos. Em igual data de 1911, aqueles números subiram para 122 Lojas e 79 Triângulos, e os efectivos passaram de 2844 em Março de 1910 para 3192 em igual mês do ano seguinte. Essa afluência também se deveu ao oportunismo dos que buscavam atestados de republicanismo.

Durante a Primeira República, cerca de metade dos ministros e dos parlamentares foram maçons. O mesmo sucedeu com três dos Presidentes da República: Bernardino Machado, Sidónio Pais e António José de Almeida, tendo o primeiro e o último sido grão-mestres do Grande Oriente Lusitano Unido.

As lutas políticas e as rivalidades pessoais não tardaram a fazer-se sentir, afectando a unidade do Partido Republicano. Os confrontos na Constituinte acabaram por revelar uma realidade que poucos continuavam a querer ignorar: alcançada a mudança de regime, a unidade era dispensável. O velho PRP irá fragmentar-se, dando origem a várias formações partidárias, e esse fenómeno acabou por ser transmitido à Maçonaria, que conheceu a partir de 1913 convulsões internas e uma grave cisão, em 1914, que só foi solucionada em 1926, pouco antes do 28 de Maio, quando já era tarde de mais. Outras sociedades secretas existiram nessa época e aguardam um estudo mais profundo, da Legião Vermelha aos Cavaleiros da Luz.
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*Professor da Faculdade de Letras de Lisboa e director do Centro de História da Universidade de Lisboa
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Quarta-feira, 9 de Junho de 2010

A República nos livros de ontem nos livros de hoje - 12 e 13 (José Brandão)

A Carbonária em Portugal
(1897-1910)

António Ventura

Livros Horizonte, 2004

O estudo das organizações secretas está limitado, como é natural, pelo seu carácter reservado, pela quase inacessibilidade ou inexistência de documentos que nos permitam olhá-las como simples objecto de investigação.
Em Portugal, é assinalada a existência de uma organização carbonária no início da década de trinta do século XIX, possivelmente com origem em emigrados liberais refugiados em Paris. Intermitentemente, ao longo da centúria de Oitocentos, surgem referências mais ou menos difusas à existência da Carbonária, nas décadas de quarenta e de cinquenta, tendo como centro irradiador a cidade de Coimbra.

Procuramos, neste livro, estudar, com as limitações já referidas, duas organizações carbonárias, ambas fundadas nos finais do século XIX, e que tiveram um papel determinante na preparação do advento da República: a Carbonária Portuguesa e a Carbonária Lusitana.
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Cartas de El-Rei D. Carlos a João Franco

João Franco

Lisboa, 1924

El-Rei D. Carlos recebera uma educação primorosa. Com uma instrução geral que o não deixava encontrar hóspede em qualquer assunto de conversação; conhecedor e possuidor das línguas, especialmente do francês e do inglês, por forma que delas se servia como da sua própria (e já o imperador Carlos V dizia que um homem que fala três línguas vale por três homens) dado ao gosto e cultura das Belas-Artes, em uma das quais, a pintura, foi distintíssimo; habituado aos sports e, como atirador, excepcionalmente forte – reunia a tudo isso ser o homem mais bem criado do seu pais, dotado de humor sempre igual, sem descair nunca na vulgaridade, nem deixar perceber de si, em qualquer circunstancia, sinal de contrariedade, despeito ou irritação.
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publicado por Carlos Loures às 18:00
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Segunda-feira, 7 de Junho de 2010

A República nos livros de ontem nos livros de hoje - 10 (José Brandão)




Carbonária - O Exército Secreto da República

José Brandão

Perspectivas & Realidades, 1984

Portugal 1910. A revolução republicana está na rua. Como foi, como se chegou a este dia, como se conseguiu derrubar um regime secular. Quem lutou, quem na hora da verdade não desistiu do combate, quem organizou com êxito a mais importante revolução da História de Portugal.

Estas e outras situações podem ser compreendidas com a leitura de «Carbonária - O Exército Secreto da República», que, sem sombra de dúvida, vem colmatar uma inexplicável brecha existente na bibliografia histórica sobre aquela que foi a mais poderosa associação secreta constituída em Portugal.

A Carbonária era diferente das outras associações do género. Não lhe interessava oradores e panfletários. Como não exibia os chefes em público não precisava de gente ‘educada’ para falar nos comícios e escrever nos jornais.
publicado por Carlos Loures às 18:00
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Sexta-feira, 14 de Maio de 2010

Apresentando José Brandão



José Augusto de Jesus Brandão, nasceu em Lisboa em 1948. Operário metalúrgico, entre 1969 e 1971 esteve na guerra em Moçambique. Ligado à ARA a partir de 1972, participou em diversas operações de reconhecimento de objectivos. Esteve preso pela PIDE em 1973. Após a revolução de Abril, foi empregado na Carris e dirigente sindical. Militante do PS, foi membro da Comissão Nacional entre 1980 e 1988 e, entre 1985 e 1987, pertenceu à Comissão Política.

Historiador, especializado na violência armada no período contemporâneo, tem uma vasta obra publicada, da qual se salienta: Sidónio – Ele Tornará Feito Qualquer Outro (1.ª ed. 1983), Carbonária – O Exército Secreto da República (1.ª ed. 1984), 100 Anos por 1 Dia, (1987), A Noite Sangrenta (1991),Suicídios Famosos em Portugal (2007); Portugal Trágico – O Regicídio,(2008), Cronologia da Guerra Colonial (2008) e A Vida Dramática dos Reis de Portugal ( 2008).

Baseada na sua obra Suicidios Famosos em Portugal, iniciaremos amanhã a publicação de uma série de textos sobre o tema. Os textos que aqui apresentaremos, revistos e alterados pelo autor, são diferentes da edição de 2007.
publicado por Carlos Loures às 20:00
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