Quinta-feira, 22 de Julho de 2010

Bakunine por Bakunine

CARTA A ELISÉE RECLUS

Meu caro amigo. Agradeço-te muito pelas tuas boas palavras. Jamais duvidei da tua amizade, este sentimento é sempre mútuo e eu julgo o teu em relação ao meu.

Sim, tens razão, a revolução no momento foi ao leito, recaímos no período das evoluções, quer dizer, naquele das revoluções subterrâneas, invisíveis e frequentemente mesmo insensíveis. A evolução de hoje é muito perigosa, se não para a humanidade, pelo menos para certas nações. É a última encarnação de uma classe esgotada, jogando seu último jogo, sob a protecção da ditadura militar macmahono – bonapartista na França, bismarckiana no resto da Europa.


Lugano, 15 de Fevereiro de 1875. Archives Bakounine, Tomo V. op-pp. LXXXIII - LXXXIV.

Eu concordo contigo em dizer que a hora da revolução passou, não por causa dos horrorosos desastres dos quais fomos testemunhas e das terríveis derrotas das quais fomos vítimas culpadas, mas porque, para meu grande desespero, constatei e constato todos os dias que o pensamento, a esperança e a paixão revolucionários não se encontram absolutamente nas massas, e quando elas estão ausentes, de nada vale fazer esforços inúteis. Admiro a paciência e a perseverança heróicas dos prussianos e dos belgas – estes últimos moicanos da falecida Internacional - e que apesar de todas as dificuldades, adversidades, apesar de todos os obstáculos, no meio da indiferença geral, opõem sua fronte obstinada ao curso absolutamente contrário das coisas, continuando a fazer tranquilamente o que fizeram antes das catástrofes, quando o movimento geral era ascendente e o mínimo esforço criava uma força. Trabalho ainda mais meritório, visto que não colherão os frutos, mas eles podem estar certos de que o trabalho não será perdido nada se perde neste mundo – e as gotas de água, por serem invisíveis, nem por isso deixam de formar o oceano.

Quanto a mim, meu caro, tornara-me muito velho, muito doente, muito desencorajado, e, devo-te dizer, sob muitos pontos de vista muito desiludido, para sentir o desejo e a força de participar nesta obra.

Decididamente retirei-me da luta e passarei o resto dos meus dias numa contemplação não desocupada, bem ao contrário, intelectualmente bem activa, e que, espero, não deixará de produzir alguma coisa de útil.

Uma das paixões que me domina, neste momento, é uma imensa curiosidade. Uma vez que tive de reconhecer que o mal triunfou e que não pude impedi-lo, pus-me a estudar as suas evoluções e os seus desenvolvimentos com uma paixão quase científica, completamente objectiva.

Que actores e que cena. No fundo, e dominando toda a situação na Europa, estão o Imperador Guilherme e Bismarck, à frente de um grande povo lacaio. Contra eles, o papa, com seus jesuítas, com toda a Igreja católica e romana, ricos em biliões, dominam uma grande parte do mundo através das mulheres, pela ignorância das massas, e pela habilidade incomparável dos seus inúmeros filiados, tendo os seus olhos e as suas mãos em todos os lugares.

Terceiro actor – A civilização francesa, encarnada em Mac-Mahon, Dupanloup e Broglie, colocando as correntes num grande povo em declínio. E em torno de tudo isso, a Espanha, a Itália, a Áustria e a Rússia, fazendo cada uma sua careta de ocasião, e de longe a Inglaterra, não podendo decidir-se a voltar a ser alguma coisa, e ainda mais longe, a República modelo dos Estados Unidos da América, já se engraçando com a ditadura militar.

Pobre humanidade!

É evidente que ela só poderá sair desta cloaca por uma imensa revolução social. Mas como fará esta revolução? Nunca a reacção internacional da Europa esteve tão formidavelmente armada contra todo o movimento popular. Ela fez da repressão uma nova ciência que se ensina sistematicamente nas escolas militares aos tenentes de todos os países. Para atacar esta fortaleza inexpugnável o que temos? As massas desorganizadas. Mas como organiza-las, quando elas não são suficientemente apaixonadas pela sua própria salvação, quando elas não sabem o que devem querer e quando não querem a única coisa que pode salvá-las.

Resta a propaganda, tal como a fazem os jurassianos e os belgas. É alguma coisa sem dúvida, mas muito pouca coisa, algumas gotas de água no oceano; e se não houvesse outro meio de salvação, a humanidade teria tido tempo de apodrecer dez vezes antes de ser salva.

Resta uma outra esperança: a guerra universal. Estes imensos Estados militares devem-se entre destruir e se entre devorar, cedo ou tarde. Mas que perspectiva!

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Bakunine refere os habitantes da Cordilheira de Jura: O Jura é uma cadeia de montanhas culminando a 1720 m, situada ao norte dos Alpes, na França, Suíça e Alemanha.

Em França, cobre essencialmente a região Franche-Comté e estende-se pela região Rhône-Alpes, a leste do departamento de Ain e a noroeste do départamento da Savoie (Savóia) (chaîne de l'Epine e dent du Chat).
Na Suíça, cobre a fronteira oeste com a França, nos cantões de Basiléia, Soleura (Solothurn), Jura, Berna, Neuchâtel e Vaud.
A cordilheira prolonga-se pela Alemanha por dois planaltos calcários de altitude modesta, o Jura suabo e franconiano, situados principalmente na Baviera.
O Jura deu nome ao departamento francês do Jura e ao cantão suíço do Jura

O túmulo de Bakunin no cemitério de Bremgarten, em Berna.
publicado por Carlos Loures às 15:00
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