Quinta-feira, 7 de Julho de 2011

7 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 

Começámos com palavras de Caetano Veloso num concerto em Santiago de Compostela, em 21 de Julho de 2008 na Praça Quintana dos Mortos. Confirmando a afirmação do grande cantautor brasileiro, Elias Torres, Professor Titular da Universidade de Santiago de Compostela e presidente da Associação Internacional de Lusitanistas, numa entrevista ao Portal Galego da Língua – http://www.pglingua.org/ – usava como metáfora uma situação de um conto de Álvaro Cunqueiro: «a Galiza está sentada sobre um tesouro e nom o sabe».

 

Esse tesouro a que o Professor se refere é, obviamente. a língua galego-portuguesa, um idioma falado por cerca de 240 milhões de pessoas, ultrapassando línguas de grande prestígio, como o francês, o alemão e o italiano. A nossa língua comum é a terceira mais falada nos continentes africano e europeu e, segundo projecções baseadas na evolução demográfica dos oito Estados e nove nações (com a Galiza) que têm o idioma como língua oficial, deverão totalizar 350 milhões de habitantes em 2050. Como Elias Torres salienta e podereis escutar no vídeo abaixo, a Galiza, não tendo contenciosos históricos nem com Portugal nem com nenhum dos outros países integrantes do espaço lusófono, poderá constituir um «magnífico ponto de encontro». Ademais, acrescentamos nós, a Galiza é o berço do idioma, embora tenha sido no Sul, em Portugal, que ele se tornou autónomo da matriz neolatina e, furtando-se à aculturação castelhana, se transformou na língua universal que hoje é - com Fernão Lopes, com Gil Vicente, Camões, António Vieira...

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00
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Quarta-feira, 6 de Julho de 2011

7-- José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

(Continuação)

 

O derradeiro exílio-I

 

Em Janeiro de 1912 realizou-se em Praga a conferência em que se deu a cisão total e definitiva no seio do Partido Social-Democrata, nascendo desta cisão o Partido Bolchevique. Koba foi proposto para o comité central. De regresso, reatou o seu trabalho clandestino em Baku, Tiflis e Sampetesburgo. Foi novamente preso e desterrado para a região de Narym. Voltou a evadir-se, passando uma temporada em Sampetesburgo para tomar parte na campanha das eleições para a quarta Duma.

 

No primeiro número do jornal Pravda, participou escrevendo o editorial. Deslocou-se depois a Cracóvia para se encontrar com Lenine. Em 1913 colocou pela primeira vez  o nome de Estaline num artigo. Publicou a obra O Marxismo e a Questão Nacionalista. Em Julho  foi deportado para a região de Turujansk.

 

 

 

Enquanto esperava  que o seu destino fosse decidido, Estaline sentia-se abatido, amargurado, mas decidido a continuar. As autoridades entretendo decidiram - iria ficar confinado num extremo da Sibéria. Foi com este sentimento de impotência que chegou à colónia de exilados de Monastrikroe, onde uma surpresa o aguardava.

 

(Continua)

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00
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6 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

Temos neste blogue dedicado atenção quer a Cabo Verde, quer à Galiza, dois países irmãos, duas culturas intimamente ligadas a Portugal – a galega a montante, nos alvores da nossa identidade, a cabo-verdiana a jusante, consequência das nossas navegações e do povoamento que fizemos das terras que achámos. Ligações entre essas duas culturas? Existem e não são poucas. Há uma colónia de cabo-verdianos na Galiza, maioritariamente constituída por homens do mar. Um grupo de doze cabo-verdianas, residentes em Burela (Lugo), ensaia desde há cerca de uma dezena de anos, recuperando ritmos ancestrais como a «Batuka».

 

Vamos falar destas corajosas mulheres que não querem que a memória e a voz da sua cultura se percam. O grupo nasceu durante um jantar em Burela. Uma das actuais componentes do grupo, perguntou: por que não batucamos como as velhas da nossa terra? E a pergunta, floresceu, resultando no «Batuko Tabanka». Diz Antonina de Cangas, a solista do grupo: «As mulheres não podiam falar e, comunicavam, batendo no peito como manifestação de protesto. Depois utilizaram um trapo molhado» e depois, acrescentou, um saco de couro colocado entre as pernas. A «batuka» é uma música de trabalho, como a da «pandereteira» galega ou a das adufeiras portuguesas; está à margem das dolentes mornas que Cesária Évora internacionalizou.

 

Vamos então ouvi-las:

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 05/07/2011 às 18:33
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Terça-feira, 5 de Julho de 2011

6 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

(Continuação)

 

Koba o agitador

 

Estávamos ainda em 1905.  Em Abril realizou-se em Londres o III - Congresso do Partido Social Democrata, que foi convocado pelos bolcheviques (ala maioritária). Embora os mencheviques (minoria) o tivessem denunciado como ilegal, o congresso fez-se, constituindo um passo em frente na decisão de Lenine de formar um partido revolucionário.Koba aderiu à facção bolchevique. Em Dezembro, munido de um passaporte falso, viajou para Tammefors, na Finlândia para assistir a uma conferência do partido na qual ficou decidido o levantamento armado e o boicote às eleições da Duma (parlamento), Foi uma viagem decisiva na qual, Estaline encontrou pela primeira vez Lenine. Quase vinte anos mais tarde dirá sobre este encontro: «Eu ansiava por ver a  “águia real” do nosso partido, o grande homem; e grande não apenas na política, mas também fisicamente, porque na minha imaginação, eu via Lenine como um majestoso e imponente gigante. Qual não foi, pois a minha decepção quando se me deparou um homem normal, de estatura inferior à média e em nada, literalmente em nada, diferente dos outros homens (…) Só mais tarde compreendi que a simplicidade e a modéstia de Lenine, a sua luta por passar despercebido, era uma das características mais destacadas como novo líder das novas massas, das massas simples e representativas da humanidade na sua essência.»

 

Estaline e Lenine no VIII Congresso

 

 

 

Em 1906, participou em Estocolmo no IV Congresso do partido. Escreveu artigos sobre o anarquismo, a questão agrária, a luta de classes e a revolução. Em 1907, assistiu ao V Congresso em Londres. Após um espectacular  assalto a um banco no centro de Tiflis, viu-se forçado a refugiar-se em Baku, onde iria desenvolver a sua actividade clandestina. Estava com quase trinta anos.

 

Pensa-se que terá sido em 1908 que nasceu o seu filho Yakob. Em Março desse ano foi preso e encarcerado na prisão de Bailov. Em Dezembro foi desterrado para Vologda e depois, em Janeiro de 1909, para a cidade de Solvychegodsk. Porém, conseguiu evadir-se, refugiando-se primeiro em Baku e depois em Tiflis.

 

Durante este período, escreveu artigos sobre a crise que o Partido atravessava, criticando duramente a direcção bolchevique instalada no exílio. Declarou-se a favor de uma mudança estratégica – o Partido enveredar pela luta legal no interior do país. Em 1910 actuava em Baku como representante do Comité Central. Foi novamente preso, sendo deportado para Solvychegodsk. Em 1911 viajou clandestinamente para Sampetesburgo, sendo preso e desterrado. Desta vez para Vologda.

 

Foram tempos difíceis.

 

(Continua)

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 04/07/2011 às 22:25
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Domingo, 3 de Julho de 2011

4 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

(Continuação)

 

Koba o revolucionário

 

Após ter saído do seminário, o jovem Estaline definiu um objectivo – desafiar e destruir o regime czarista. Seria um percurso acidentado. No Primeiro de Maio de 1900 participou na manifestação realizada em Tiflis. Pela primeira vez, falou em público, revelando-se um orador poderoso e incisivo.

 

Em 1901, o seu gabinete no observatório onde trabalha foi passado a pente fino pela polícia. Koba conseguiu escapar. No Dia da Festa do Trabalho, organizou uma manifestação de massas. Houve uma dura repressão – numerosos participantes foram presos e espancados pela polícia e pelos cossacos. Foi por esta altura que começou a escrever no jornal Brdzola (A Luta). Nos seus artigos fez uma defesa aberta da linha marxista ortodoxa.

 

Manifestação em Moscovo no ano de 1905

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Porém, na sua opinião, de todas as armas revolucionárias as mais eficazes eram as manifestações violentas, pois o derramamento de sangue tornava o povo mais forte e consciente, reforçando a sua militância e proporcionando-lhe mais um motivo para lutar. Animado por estes princípios, mudou-se para Batum, dedicando-se a tempo inteiro à agitação política.

 

Em 1902 foi detido, percorrendo várias prisões. Em 1904 conseguiu evadir-se indo refugiar-se em Tiflis. Foi também neste ano que se casou com Ekaterina Svanidze,  filha de um trabalhador do caminho-de-ferro e
irmã de um ex-seminarista, tal como ele. Ambos, sogro e cunhado, seriam seus companheiros no Partido.

 

Estaline nunca se iria referir a este casamento. No entanto, supõe-se que terá casado pela Igreja ortodoxa, pois Ekaterina era muito devota, nunca tendo aderido aos ideais revolucionários do marido, do pai e do irmão. Em 1910, em plena juventude, uma tuberculose pulmonar ceifou-a. Foi enterrada segundo o rito ortodoxo.

 

Mas voltemos atrás. Em 1905 por toda a Rússia se vivia um clima de tensão política e social. Disso falaremos amanhã.

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 14:28
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Sábado, 2 de Julho de 2011

3 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

(Continuação)


Iosif, o pequeno seminarista

 

Em 21 de Dezembro de 1879, em Gori, pequena povoação a cerca de 50 quilómetros de Tiflis, na Geórgia, nasceu Iosif Djugachvili,  filho do então servo Vissarion e de sua mulher Ekaterina. Vissarion era um sapateiro iletrado, alcoólico e muito violento – existe aliás na tradição georgiana, a expressão “beber como um sapateiro”. O homem dava frequentes tareias na mulher e no filho. Conta-se que Iosif numa dessas cenas recorrentes, saindo em defesa da mãe, arremessou uma faca ao pai. Mais tarde, alguém dirá que terá sido este ambiente de ódio e de violência que modelou o carácter despótico de Estaline.

 

Em 1886, o pequeno Iosif contraiu varíola, enfermidade que o desfigurará para sempre. Quando melhorou, Vissarion não queria que o filho (com sete anos) fosse para a escola, pois pretendia que aprendesse o seu ofício e viesse a ser sapateiro como ele. Porém, desta vez, não levaria a melhor. Ekaterina ambicionava para Iosif a condição de sacerdote da Igreja Ortodoxa e, dando esperança a esse sonho, em 1888 o rapaz seria admitido na escola paroquial de Gori. Em 1890, Vissarion foi morto, esfaqueado numa rixa de bêbedos.

 

 

Em 1894 entrou no seminário de Tiflis. Nesse ano caiu  novamente doente – uma grave intoxicação no sangue 

iria impedir o desenvolvimento normal do ser braço esquerdo. Tinha quinze anos e datam desta época poemas de sua autoria, dos quais publicou alguns – foi, nesta idade, um leitor compulsivo e voraz, lendo, entre outros, Marx e Darwin.  Tornou-se ateu e assumiu um pseudónimo – “Koba o inflexível, inspirado num herói dos romances populares da Geórgia. Em 1898 aderiu a um movimento social-democrático.

 

 

Em 1898 aderiu a um movimento ecologista. Em Maio de 1898 filiou-se num partido social-democrata. Sua mãe, a doce e paciente Ekaterina, que morreria em 1936, quando o pequeno Iosif era já o todo-poderoso José Estaline, não aprecia aquela  grandeza e omnipotência a que o filho se guindou. Quando este lhe fez uma última visita, disse-lhe.  - Que pena não teres sido sacerdote!

 

(Continua)

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 17:03
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2 - Terreiro da Lusofonia - por Carlos Loures

 

 

 

São as palavras, os sons e as cores do nosso universo lusófono. Hoje é Caetano Veloso que desce (ou sobe?) ao Terreiro para defender a Língua Portuguesa.

 

 

Caetano Veloso nasceu em 7 de Agosto de 1942 em Santo Amaro da Purificação,

município do estado da Baía. É um dos mais

apreciados músicos e cantores brasileiros. Na sequência do subgénero musical  que, surgindo no final da década de 50 do século XX,  ficaria conhecido como bossa nova e que teve repercussão mundial, movimento marcado por nomes como os de Vinicius de Moraes, António Carlos Jobim, João Gilberto, eclodiu uma nova geração de cantores, onde avultam nomes como os de Gilberto Gil, Chico Buarque, Maria Bethânia, Gal Costa e, naturalmente, Caetano Veloso.

 

A ditadura militar que se instalou no Brasil reprimiu tanto quanto podia esta

vaga de cantores que hostilizava o poder, mas que tinha um grande apoio

do povo brasileiro, que os adorava, e começava a ganhar prestígio internacional.

Em 1969 Caetano Veloso foi preso e, quando o libertaram partiu para o exílio,

em Londres. Voltou em 1972.

 

Uma discografia com dezenas de álbuns, fruto de mais de quatro décadas de

trabalho, constituem um testemunho da capacidade criativa de um músico

que é, indiscutivelmente, um dos maiores cantautores do mundo lusófono.

 

 

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publicado por Carlos Loures às 11:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 16:59
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Sexta-feira, 1 de Julho de 2011

2 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

 

(Continuação)

 

 

A última ceia

 

 

 

Numa tarde sábado, em 28 de Fevereiro de 1953, na sua datcha de Kuntsevo, Estaline convidou Malenkov, Béria, Bulganine e Kruchtchev para jantar. Ao longo de toda a refeição manteve-se de bom humor. Depois, despediu-se dos convidados e recolheu ao seu quarto. Sentia-se muito fatigado. Olhou em redor. Nas paredes havia grandes ampliações de fotos tiradas na Primavera e no Verão de 1929, nos seus anos de felicidade com Nadja.

Viu-se no espelho – uma sombra confusa apareceu-lhe diante dos olhos, iluminada como um ícone por elogios religiosamente fanáticos e distorcida por clamores de indignação e ódio. Um santo, o «pai da pátria socialista», um déspota perverso, o “maior criminoso da história”?

 

Richard Pipes, professor de História Russa da Universidade de Harvard, dirá que Estaline não tem talento de estadista e que a sua principal capacidade terá sido a de “penetrar no pior da natureza humana” e que com essa capacidade negativa terá mesmo induzido Hitler a desencadear a guerra. Muitos historiadores, marxistas inclusive, endeusam Lenine, remetendo para Estaline todo o odioso de algumas décadas em que uma nação vasta como um planeta passou de atrasada e agrícola a potência industrializada e moderna. Uma transformação
destas dificilmente se conseguiria através de métodos democráticos.

 

A sensação de fadiga aumenta.

 

Estende-se vestido sobre um tapete. À memória ocorrem-lhe imagens dispersas da sua vida que devotou inteiramente a duas causas – ao engrandecimento da sua pátria adoptiva, a Rússia, e ao marxismo-leninismo.

 

(Continua)



 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 17:03
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Quinta-feira, 30 de Junho de 2011

1 - José Estaline (Иосиф Виссарионович Сталин)* - por Carlos Loures

 

Subitamente na rádio Moscovo

 

Às primeiras horas da manhã de sexta-feira, 6 de março de 1953, a

Rádio Moscovo anunciou subitamente a morte de Estaline.

Uma enorme multidão começou a concentrar-se na Praça Vermelha. Chorando silenciosamente, comprimindo-se umas contra as outras, suportando o frio que subia da mistura de lama e neve que cobria o pavimento, as pessoas esperavam que o corpo fosse colocado na Sala das Colunas do Kremlin. A turba não cessou de aumentar e, ao fim da tarde dessa sexta-feira, a bicha ultrapassava já os quinze quilómetros. Dezenas de milhares de cidadãos soviéticos, de Moscovo e de regiões distantes, passaram perante a urna. Para arranjar lugar nesta fila imensa, atropelavam-se, espezinhavam-se. Diz-se que mais de mil e quinhentas pessoas morreram esmagadas.

 

 

De Vladivostoque, no remoto leste, até Leninegrado; de Arcangel a Astracã, portas e janelas exibiam bandeiras vermelhas com tarjas negras. Mesmo nos campos de trabalho, cheios de homens e mulheres que sofriam na carne uma dura repressão, há desolação e dor. Um estado com duzentos milhões de pessoas parecia sofrer de um sentimento colectivo de orfandade.

 

Em 1936, Louis Aragon, o grande poeta francês, considerou a Constituição estalinista que criara a União Soviética, uma obra acima das de Shakespeare, Rimbaud, Goethe e Puchkine, e Estaline um génio, um filósofo na acepção marxista do termo. Dele disse Milovan Djilas, o político e escritor montenegrino: “No caso de Estaline qualquer crime era possível, pois não existe nem um só que ele não tenha cometido. Seja qual for a medida que usarmos para o medir, merecerá sempre a glória – esperemos que eterna – de ser o maior criminoso da história.”

 

Foi Estaline um génio, como afirmou o autor de Os Sinos de Basileia ou um criminoso como disse o entrevistador de Conversations with Stalin:. Se foi um génio, que ecos restam dessa genialidade e que possam ser comparados a Romeu e Julieta, por exemplo? Se foi um criminoso, como explicar que o povo que oprimiu o chorasse, preferindo morrer espezinhado a deixar de lhe prestar uma última homenagem?

 

 

Numa série de pequenos artigos vamos tentar aprofundar um pouco o mistério de José Estaline.

 

 

(Continua)

 

----------------

*Este texto é, com algumas alterações, o que foi publicado em 1997 no livro Oitenta Vidas que a Morte não Apaga, antologia de biografias ficcionadas dirigida por Fernando Correia da Silva.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado em 01/07/2011 às 14:18
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Um dia saberei – poema e ilustração de Carlos Loures

 

 

 

 

 

 

 

 

Um dia saberei a tua face luminosa

de  colina húmida e
amanhecente.

Subirei os socalcos da tua ironia,

descerei o caule do teu sorriso

até à rosa incandescente onde

nasce o dia e a vida, à terra negra

e pedregosa onde o regato murmura.

Lá, onde, silencioso o pinheiro vigia

a frágil toalha da neblina pura,

cortando com verdes agulhas

o sol nascente

………………………………

Sim, um dia saberei também

os teus seios de cidade ensanguentada

pela fina poalha do sol moribundo…

 

(fragmentos de “Mais uma canção de amor”, in O Cárcere e o Prado Luminoso,
Lisboa, 1990)

publicado por Carlos Loures às 10:00

editado por João Machado em 29/06/2011 às 17:28
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Terça-feira, 28 de Junho de 2011

A tragédia de Superga e uma memória da infância - por Carlos Loures

 

 

  

 

 

A 3 de Maio de 1949, realizou-se o jogo de despedida do capitão do Benfica, Francisco Ferreira. A  

equipa convidada para esse jogo foi a do Torino. Era de longe a melhor equipa italiana do momento. O Benfica ganhou, vitória que não foi festejada ou só o foi durante umas horas. Quando regressavam a Turim, o Fiat  G212 que transportava a equipa do Torino Calcio chocou com a fachada da basílica de Superga, perto de Turim. A equipa, jornalistas, directores e técnicos e a tripulação, todos morreram – 31 pessoas. Passou em 4 de Maio mais um aniversário sobre a terrível tragédia de Superga.

 

 

 

Foi ao ler a evocação desta tragédia no livro de Sílvio Castro, Um Novo Coração, que relembrei esse dia . Uma pleurisia atrasou a minha vida escolar – sabia ler desde os quatro anos, mas não pude entrar para a escola aos sete anos como era regra na época. Quando fiquei curado estava perto dos oito anos e o ano escolar ia  adiantado.

 

 Fui então para um colégio da Rua da Madalena, o Colégio Peninsular. Era um colégio feminino, mas a directora resolveu admitir-me. Entre dezenas de miúdas, apenas eu e um gordo. Não me sentia mal.

 

Em Outubro de 1948 lá entrei na Escola 44. Estava matriculado na primeira classe, mas na mesma manhã passei para a 2ª e depois para a 3ª. Os professores vendo o que sabia, foram-me chutando para cima - Deveria ter ido para a 4ª, mas havia um exame na 3ª e daí a lei já não permitiu que passasse.

 

Adaptei-me logo, embora as diferenças fossem abismais – menos gentileza, por dá cá aquela palha, pegava-se tudo à porrada, mas também guardo boas recordações. O Edmondo de Amicis e o seu Cuore, é considerado uma pessegada, mas li-o por essa altura e achei que retratava com algum realismo a vida nas escolas.

 

Jogos de berlinde, troca de cromos, e a violência com que se puniam desacatos. Em toda aquelas dezenas de apazes, haveria malucos, mas hiperactivos nem um, nem tipos com excesso de personalidade. O excesso de personalidade, ali pagava-se caro. Naquele dia de Maio, com exame e férias à vista, percorri o caminho de todos
os dias, caminhando até ao Largo de Santa Justa, subindo as escadinhas da mesma santa e chegando assim à Rua da Madalena.

 

E naquela manhã lá trilhei esse caminho até ao cimo da rua da Madalena, pois a escola ficava quase no ponto em que a rua desce na direcção da Sé. E fui vendo rostos fechados, gente às portas dos estabelecimentos. Percebi que se passava qualquer coisa de anormal. Só quando cheguei à escola 44 soube o que se passara. É uma das recordações mais tristes das que conservo daqueles anos.

 

 

 

publicado por Carlos Loures às 21:00

editado por João Machado às 00:12
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Quinta-feira, 23 de Junho de 2011

Raul Brandão, um «rasto visível» na literatura portuguesa do século XX - 2 - por Carlos Loures

 

 

 

 

  

 

À direita:Com sua esposa, Angelina Brandão (quadro de Columbano)

 

 

Falemos então deste escritor forjado não só pela sua grande sensibilidade como também pela sua experiência de vida – a escolar, a jornalística, a militar... A obra de todos os escritores é sempre, de uma ou de outra forma, o produto das suas respectivas vivências. Raul Brandão, porém, é um homem que baseia os seus livros em consistentes alicerces, construídos com a argamassa das recordações que foi acumulando, memórias de seres humanos com os quais se foi cruzando ao longo da sua existência. As suas personagens, a Candidinha, o Gabiru, o Gebo, a Joana, a Luísa, o Ziem, o Vaz, são arrancadas à vida real, sentimo-las palpitar, na sua carne de papel e tinta – convivem e interagem connosco.

 

                                                                                                                                                       

 

 

Pelo princípio da derradeira década do século XIX, Raul fazia parte da imensa hoste de escritores seduzidos pelo Simbolismo vivendo um período dominado pelo nefelibastismo. Porém, a preocupação humanista pela sorte dos humilhados e ofendidos, a condenação da exploração do homem pelo homem, a denúncia das chagas sociais feita um pouco à maneira dos seus mestres russos, constitui a nota dominante da sua produção literária, surgindo sempre, sob as diversas camadas sedimentares que vai acumulando ao longo da sua evolução como escritor, como visão estruturante e unificadora da sua obra – «Por cada homem que amontoa ouro há cem criaturas morrendo de desespero», diz em Os Pobres.

 

São também bastante elucidativas as palavras com que termina o romance Húmus: «Não só os sentimentos criam palavras, também as palavras criam sentimentos. As palavras formam uma arquitectura de ferro. [...] É com palavras que são apenas sons que tudo edificamos na vida. Mas agora que os valores mudaram, de que nos servem estas palavras? É preciso criar outras, empregar outras, obscuras, terríveis, em carne viva, que traduzam a cólera, o instinto e o espanto.»

  

Quando, em 1890, ainda sob a influência das ideias filosóficas, políticas, sociológicas e religiosas de Sampaio Bruno bem como do estilo ironicamente acutilante de Fialho e da prosa requintada, mas ferina, de Eça (para não falar de uma técnica narrativa que algo terá bebido em Camilo Castelo Branco), publica o seu primeiro livro, Impressões e Paisagens, recorre a pedaços da sua experiência da infância vivida entre lavradores e gente do mar, para esboçar quadros da vida dos camponeses e dos pescadores. Em 1886, José Pereira de Sampaio Bruno publica o ensaio Geração Nova, no qual contesta o realismo-naturalismo e o positivismo de Auguste Comte e defende os valores do moderno romance russo, exaltando particularmente Fedor Dostoievski: «o novo romance é um mundo moderno, uma concorrência cognitiva, representa uma crise moral.», diz Sampaio Bruno no seu ensaio.

 

E esta parece ser a bússola por onde Brandão orienta as suas primeiras navegações.     Mas nem só das memórias da infância e da juventude e das influências de Bruno, Fialho e Eça, construiu o seu primeiro livro, pois numa carta a Alberto Allen Bramão, um dos seus companheiros das lides jornalísticas (que viria a ser deputado e secretário particular do penúltimo chefe de governo do regime monárquico, Ernesto Hintze Ribeiro), diz-lhe que foi também das discussões que em tempos tiveram sobre Arte que aqueles contos nasceram. Quando, sob o pseudónimo colectivo de Luís Borja subscreve o panfleto Os Nefelibatas, o seu decadentista arsenal literário e ideológico continua a ser sensivelmente o mesmo: «Anarquistas das Letras, petroleiros do Ideal, desfraldando ao vento sobre os uivos e os apupos dos sebastianismos retóricos o estandarte de seda branca da Arte Moderna.»5

 

Em 1896, ainda sob a influência bruniana atrás referida, misturando textos de ficção com outros de ideias que viera produzindo desde 1890, publica História Dum Palhaço. Em 1899 representa-se no Teatro de D. Maria II, a peça A Noite de Natal, que escreve de colaboração com Júlio Brandão Em 1901 sai um outro seu panfleto, O Padre. Em 1902, sobe à cena, desta vez no D. Amélia (actual São Luís) o drama de sua autoria O Maior Castigo. Em 1903 publica mais uma obra de ficção, A Farsa, que dedica «Ao Grande Poeta Guerra Junqueiro», romance de que nos fica a imorredoira personagem da Candidinha; em 1906, é a vez de Os Pobres (um dolorismo redentor), com um prefácio de Guerra Junqueiro, onde o poeta diz «Não vejo diante de mim um poema estéril, obra dos sentidos, da imaginação e da volúpia. Vejo um acto profundo, espontâneo de imensidade religiosa. O homem que se confessa abala-me e deslumbra-me.» Figuras como o Gebo e o Gabiru, surgem-nos neste conjunto de ficções em toda a grandeza da sua dimensão humana. Na sua edição de 1984, este livro contém um esclarecedor «estudo-introdutório» escrito por Vítor Viçoso (esclarecedor não só sobre este livro, mas sim sobre toda a obra de Raul Brandão).  Todavia, será a partir de 1912 que irão surgir as suas obras de maior fôlego e significado. É neste ano que se publica a sua obra historiográfica El-Rei Junot, dedicado a sua mulher, em cuja introdução proclama: «A história é a dor, a verdadeira história é a dos gritos.»; em 1914, sairá, também de raiz histórica, 1817: A Conspiração de Gomes Freire6, dedicado à memória de Maximiliano de Azevedo, escritor, jornalista e investigador, que foi director do Arquivo Histórico Militar. A propósito destas incursões de Brandão no campo da historiografia, Victor de Sá, no seu excelente prefácio à edição de 1988, salienta: «É certo que Raul Germano Brandão [...] não foi propriamente um historiador, nem nunca se terá pretendido como tal. A sua obra literária, de intenso humanismo e entranhada interioridade, está aí para o demonstrar.» [...] «No caso de Raul Brandão importa sobretudo considerar o estado em que se encontrava a historiografia portuguesa no início da República, cuja mudança de regime fugazmente lhe despertou a veia historicista.» A visão dolorosa da realidade nacional impôs-lhe a intervenção num terreno que, em princípio, nunca seria o seu.   

 

Ainda em 1917, publicará aquele que é na opinião de muitos a sua mais bela obra - o romance Húmus. No dizer de José Régio, é um romance moderno na medida em que a sua escrita corresponde ao «espírito moderno» [...] «assimilável ao espírito romântico – tomando os termos na sua mais ampla acepção.»7 Em 1919 publicar-se-á o primeiro volume das suas Memórias, com o segundo a ser editado em 1925 (ou 1926), e o terceiro (Vale de Josafat) a sair postumamente, em 1933. Esta obra, tão reveladora do permanente sentimento humanista do escritor, fala bastante mais dos outros do que de si mesmo. Na sua tertúlia de amigos, ouvia, registava na sua memória e na sua sensibilidade fotográficas os pormenores mais impressivos dessas conversas, tomava depois notas em jeito de diário e lega-nos, desse modo, uma das obras mais notavelmente elucidativas sobre o que foram, no campo social, moral, político e cultural, essas primeiras três agitadas décadas do século XX. Tempo de revoltas e de revoluções, de regicídios e de golpes militares; em suma, de convulsões profundas.   

 

No ano de 1923 dará à estampa outra das suas mais belas obras, Os Pescadores, resultado quer do seu conhecimento da vida do mar, quer de uma viagem que faz aos Açores e de um percurso que realiza por praias e por aldeias de pescadores. No prefácio da edição de 1988, José Cardoso Pires salienta: «Um escritor que registou a paisagem com esta inquietação e com estas referências não cabe nas molduras que alguns leitores apressadamente ainda pretendem impor-lhe com veneração. A sua leitura do país vai mais longe, tem outro futuro - projecta-se na actualidade do nosso viver e da nossa escrita.»8

   

As Ilhas Desconhecidas, livro publicado em 1926, insere-se dentro da mesma linha de evocação de mitos locais e de descrição de quadros da faina piscatória. Neste mesmo ano de 1923 publica três peças de teatro - o Doido e a Morte, O Rei Imaginário e O Gebo e a Sombra.  Em 1929, será editada outra das suas obras mais destacadas – O Avejão. O Pobre de Pedir, na linha confessional e autobiográfica das Memórias, apenas será publicado postumamente em 1931. Na edição de 1984, além de uma apresentação expressamente escrita por Guilherme de Castilho (que viria a falecer em 1987), inclui-se ainda um valioso estudo introdutório de Vítor Viçoso. Um comovido texto de Maria Angelina Brandão, vindo da edição original, integra ainda este volume. Também com edição póstuma, sai em 1984, precedida de uma exaustiva introdução de Túlio Ramires Ferro, a sua obra Os Operários. Constituiria uma grave omissão falar da obra de Raul Brandão sem referir a «Casa do Alto», situada na Nespereira (Guimarães), uma aldeia minhota enterrada entre pinheirais e serranias, para onde, já casado foi viver em 1903. Ela desempenhou um importante papel na sua vida de escritor, pois ali, na sua torre, produziu textos como El-rei Junot, A Conspiração de 1817, Húmus, A Farsa, os dois primeiros volumes das Memórias, Os Pescadores, As Ilhas Desconhecidas e O Portugal Pequenino, escrito em colaboração com Maria Angelina. Diz nas Memórias: «A certa altura da vida tive a impressão de que me despenhara num mundo de espectros. A face humana meteu-me medo pelo que nela descobria de repulsivo e de grotesco. Fugi para poder viver [...] Fugimos para a aldeia... a nossa casa fica a meia encosta da colina. Por trás, o mar verde dos pinheiros, em frente, os montes solitários. Este cantinho rústico criei-o eu palmo a palmo.»

 

 

 

publicado por João Machado às 15:00

editado por Carlos Loures às 15:11
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Quarta-feira, 22 de Junho de 2011

Raul Brandão, um «rasto visível» na literatura portuguesa do século XX - 1, por Carlos Loures


 

 

 

 

É muito difícil encontrar um escritor português cuja obra, como a de

Raul Brandão, tenha influenciado

de forma tão evidente a escrita de tantos outros escritores das gerações e das escolas literárias que à sua se seguiram. A matriz positivista comtiana cujas pegadas encontramos também em escritores portugueses anteriores e posteriores, como Guerra Junqueiro, Teixeira de Pascoais, Fernando Pessoa, para não falar na grande maioria dos escritores da chamada Geração de 70 e, depois, a dimensão humanitarista por ele assimilada, sobretudo, através da atenta leitura dos grandes ficcionistas russos Tolstoi, Dostoievski e Gorki, irá ter eco, século XX adentro, no grupo da Presença – José Régio, Branquinho da Fonseca, António Navarro, João Gaspar Simões, Edmundo de Bettencourt, Adolfo Casais Monteiro, Miguel Torga, Fausto José... e evidenciar a sua semente noutras obras posteriores, como a de Ferreira de Castro, José-Rodrigues Miguéis, José Gomes Ferreira, Manuel Mendes, Carlos de Oliveira, Jorge de Sena, José Cardoso Pires, Herberto Hélder, para referir apenas alguns dos casos mais relevantes.

 

 

Na realidade, «poucos autores portugueses deixaram até nós um rasto tão visível», como disse a seu respeito Óscar Lopes.     Pertencente a uma geração literária fortemente influenciada pelo Simbolismo-Decadentismo que de França nos chegava, escritores cujas obras iriam iluminar o século seguinte, fazendo parte daquela a que também chamaram a «geração de 90», da qual fizeram parte, entre outros, Eugénio de Castro, Camilo Pessanha, Wenceslau de Morais, António Patrício, António Nobre, Alberto de Oliveira, Júlio Brandão, Justino de Montalvão, D. João de Castro, todavia, Raul Brandão seria, entre todos eles, o que, rompendo com esse decadentismo finissecular, mais raízes veio a deixar na literatura das décadas futuras. A sua obra não terá por certo sido das mais vastas, contudo é das mais ricas na gama de tonalidades humanas das suas personagens e até mesmo nas hábeis dissonâncias que soube criar entre o trágico e o grotesco das situações ficcionais em que as envolveu. Talvez por isso, por essa modernidade latente na sua técnica efabulatória, tenha funcionado como um farol, como uma luminosa referência para as gerações seguintes.

 

Filho e neto de gente do mar, «o mar será também para ele um apelo sempre presente».1 A infância passa-a nesse ambiente que virá a descrever de forma tão eloquente quanto comovida em Os Pescadores. Nas suas Memórias descreve: «Esta Foz de há cinquenta anos, adormecida e doirada, a Cantareira, no alto do Monte, depois o farol e sempre ao largo o mar diáfano ou colérico, foi o quadro da minha vida. Aqui ao lado morou a minha avó; no armário, metido na parede como um beliche, dormiu em pequeno o meu avô, que desapareceu um dia no mar com toda a tripulação do seu brigue, e nunca mais houve notícias dele.» [...] «O que sei de belo, de grande ou de útil, aprendi-o nesse tempo, o que sei das árvores, da ternura, da cor e do assombro, tudo me vem desse tempo... Depois não aprendi coisa que valha. Confusão, balbúrdia e mais nada»2    

 

Na escola que, sob a direcção das senhoras Militoas, funcionava por essa época na Foz Velha, aprende as primeiras letras. Devido a incidentes da sua saúde frágil interrompe os estudos por dois anos, indo depois com os pais para o Porto, onde inicia o curso liceal no Colégio de São Carlos. Sobre este período da sua vida, recorremos de novo às suas Memórias: «Inverno. Luz turva. Um casarão enorme no alto da Rua Fernandes Tomás dentro de uma cerca calcinada... Entro: sala enorme, cheia de petizes dominados pelo mesmo sentimento de terror - 8×7? - 8×7? - Entre as bancadas passeia um homem atarracado e grosso de cabelo encarapinhado de mulato, botas de montar e a palmatória metida no cano das botas: - 8×7? - E o seu vozeirão mete medo. - Eu tinha todos os dias cólicas horríveis, antes de entrar no colégio de S. Carlos, e foi ali que principiei a estragar os meus nervos e a amargar a vida. [...] Foi ali», dirá também «que principiei a estragar os meus nervos e a amargurar a vida; há quem tenha saudades do colégio: eu sonho às vezes com ele e acordo sempre passado de terror...»3  Porém, nem tudo terá sido tão sinistro como a aprendizagem da tabuada, pois é naquela escola que Brandão desperta para as letras – no Andaluz. Em 1888 completa o curso liceal e, no ano lectivo seguinte, começa a frequentar como ouvinte o Curso Superior de Letras da Universidade do Porto.

    

Entretanto, é promulgada a obrigatoriedade da prestação do serviço militar e Raul assenta praça, matriculando-se depois na Escola do Exército. Recorramos de novo às suas Memórias: «Na Escola do Exército ensinavam, no meu tempo, coisas inúteis que me deram mais trabalho a esquecer que a aprender.» Na realidade, a carreira militar não se adequava à sua natureza pacífica e contemplativa. No registo das provas que presta, em 1893, no Regimento de Infantaria nº. 6, do Porto, figuram as seguintes elucidativas classificações: «Tiro: atirador de 2ª classe; ginástica: medíocre; esgrima: medíocre.» No entanto, segundo parece, a vontade do pai e o desejo de sua mãe de o ver garbosamente uniformizado, prevaleceram.    

 

De acordo com elementos constantes da sua folha de serviço, além de algum tempo de quartel, uma grande parte da sua vida de oficial decorreu imerso em papelada, em trabalho meramente burocrático. Quando, já na idade madura, faz um balanço da sua vida militar, diz-nos: «Durante o tempo que fui tropa vivi sempre enrascado, como se diz em calão militar. Tudo me metia medo, os homens aos berros que ecoavam no quartel (era o Cibrão na secretaria); castigo para um lado, castigo para o outro; e as coisas negras, feias, agressivas, a parada, a caserna, as retretes. Levo para a cova a imagem daquelas retretes como uma das coisas mais infames que conheci na vida. O Inferno deve ser uma retrete de soldado em ponto maior...»4

 

publicado por João Machado às 15:00

editado por Luis Moreira às 15:41
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Terça-feira, 21 de Junho de 2011

A República nos livros de ontem nos livros de hoje - CLXXXII e CLXIII, por José Brandão

A Sinfonia da Morte

 

 

Carlos Loures

 

Âncora Editora, 2008

 

 

A Sinfonia da Morte , terceiro romance do autor, utilizando como pano de fundo o tema do Regicídio de 1908 e a escaldante situação política em Portugal na primeira década do século XX, traça-nos uma interessante trama ficcionística, onde são colocadas questões eternas, tais como a existência ou a inexistência de Deus, a prevalência (ou não) do amor sobre os interesses materiais, a vitória ou a derrota da bondade na sua luta contra a ferocidade que o homem herdou da sua condição animal. Esta obra é uma co-edição com as Edições Colibri.

 

Carlos Loures nasceu em 1937 em Lisboa. Entre 1958 e 1960, foi um dos organizadores da Revista Pirâmide, na qual colaboraram numerosos escritores. Com Manuel Simões, organizou uma série de antologias temáticas de poetas portugueses. Talvez um Grito (1985) e A Mão Incendiada (1995), são as suas anteriores incursões no território da ficção.

 

___________________

 

A Situação Política

 

Alfredo Pimenta

 

Lisboa, 1918

 

 

…como o regímen republicano que é diferente da pessoa do sr. Sidónio Pais, não merece confiança á Nação, esta, nas eleições de 28 de Abril, manifestando-se como se manifestou, deu provas evidentes do seu sentir monárquico, cercando os deputados e senadores, monárquicos de uma votação bem significativa.

 

A situação politica só se esclarecerá definitivamente no dia em que a Nação puder responder livremente á pergunta que se lhe faça sobre as instituições politicas que prefere. Por ora, sabemos isto apenas: a Nação é conservadora, e aclama quem lhe garantir, eficazmente e honradamente, o princípio da Autoridade. Nada mais.

 

l0 de Maio de 1918.

_____________________________________

publicado por João Machado às 17:00
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Segunda-feira, 20 de Junho de 2011

Fotografia de José Magalhães com poema de Carlos Loures

 

ATLAS ILUMINADO

 

.................................................

Um rosto velho, cansado

é manto de nevoeiro

que cobre a deriva louca

do veleiro que percorreu

o rio da nascente à foz

e chega a um mar de espanto

grito morto na garganta

- boca que perdeu a voz

que a água do rio venceu

na passagem destruída

sobre a ponte inexistente

muro entre o sonho e a vida

que nos coube em sorte a nós

........................................................

 

Carlos Loures

 

(Fragmento do poema inédito "Atlas Iluminado")

 

Às 23:00 chega o Josep Anton Vidal que com um belo poema acompanha uma excelente fotografia do José Magalhães.

publicado por Carlos Loures às 22:30

editado por João Machado às 22:03
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