Quinta-feira, 3 de Fevereiro de 2011

ADULTÉRIO - por Raúl Iturra

 

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Maria Callas (Μαρία Κάλλας): Madama Butterfly - Puccini

Escrever sobre adultério, não é simples nem fácil. A própria definição do verbo o salienta: Violação da fidelidade conjugal. Apesar da definição fornecida antes, ser a mais atribuída ao facto que analiso, também há outras formas que colocam em risco a vida das pessoas, como falsificação ou a adulteração de um produto. Não é apenas um engano social, é um risco para a vida, um eterno suspeitar de que o que adquirimos possa estar fora de prazo, porque o comércio é comércio e para não perder, apagam-se as datas de validade e, como ninguém se importa em consultar as datas, essa adulteração coloca em risco a vida e a saúde da pessoa. Como aconteceu antes de ontem com a minha neta May Malen Isley: foram almoçar ao University Center da nossa Universidade de Cambridge, que, ultimamente, é um fiasco comercial. Foi de imediato levada para o hospital, os antibióticos a salvaram pela prontidão dos pais, a minha filha Camila e o meu genro Félix. No dia seguinte, já estava bem. Não sou homem de fé, mas dou graças à divindade, como aos meus filhos, de terem salvo a única descendência que, por enquanto, têm.

No Islam, a violação à fidelidade conjugal é punida como é possível ver na imagem que ilustra o texto. Está tudo escrito no Alcorão que, de forma impediosa, trata as faltas, especialmente as das mulheres que podem levar no seu ventre o filho de outrem, com o qual, como diz o livro sagrado mencionado, parte a família ao entrar sangue que não lhe pertence, não tem direitos nem pais. Escolhi esta imagem por corresponder à de um caso, perdido, denunciado pela Amnistia Internacional, a mulher Kabila da Argélia, faleceu de fome, sede e apedrejamento. Quem por ela passasse, tinha a obrigação de lançar pedras para manter a ordem social. Tanto o Islam como o Cristianismo exortam os seus adeptos às acções virtuosas e à vida piedosa. Condenam a falsidade, a desonestidade, a hipocrisia, a injustiça, a crueldade, o orgulho, a ingratidão, a traição, a intolerância, a luxúria, a preguiça, o ciúme, o egoísmo, a apatia, a expressão injuriosa, a ira e a violência. Ambos prescrevem aos seus seguidores fé e confiança em Deus, arrependimento, verdade, pureza, coragem, justiça, caridade, benevolência, simpatia, misericórdia, autodisciplina e probidade. Pode ler-se no Alcorão Sagrado, capítulo 6, versículo 151.

Os cristãos parecem ser mais piedosos. Acodem ao divórcio desde o Século XIX. No entanto, tem uma definição completa no catecismo romano de Karol Wojtila, 1991:

A.19.1 Adultério e coração do homem


Pode-se distinguir os pecados segundo seu objeto, como em todo ato humano, ou segundo as virtudes a que se opõem, por excesso ou por defeito, ou segundo os mandamentos que eles contrariam. Pode-se também classificá-los conforme dizem respeito a Deus, ao próximo ou a si mesmo; pode-se dividi-los em pecados espirituais e carnais, ou ainda em pecados por pensamento, palavra, ação ou omissão. A raiz do pecado está no coração do homem, em sua livre vontade, segundo o ensinamento do Senhor: "Com efeito, é do coração que procedem más inclinações, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações. São estas as coisas que tomam o homem impuro" (Mt 15,19-20). No coração reside também a caridade, princípio das obras boas e puras, que o pecado fere.


O coração é a sede da personalidade moral: "É do coração que procedem más intenções, assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e difamações" (Mt 15,19). A luta contra a concupiscência da carne passa pela purificação do coração e a prática da temperança:

Conserva-te na simplicidade, na inocência, e serás como a criancinhas, que ignoram o mal destruidor da vida dos homens.

A.19.2 Adultério e desejo


Jesus veio restaurar a criação na pureza de sua origem. No Sermão da Montanha, Ele interpreta de maneira rigorosa o plano de Deus: "Ouvistes o que foi dito: 'Não cometerás adultério'. Eu, porém, vos digo: todo aquele que olha para uma mulher com desejo libidinoso já cometeu adultério com ela em seu coração" (Mt 5,27-28). O homem não deve separar o que Deus uniu.

A Tradição da Igreja entendeu o sexto mandamento como englobando o conjunto da sexualidade humana.

Wojtila ou beato João Paulo II, Papa Católico antes de Bento XVI (Joseph Ratzinger), o alemão que governa os católicos actualmente, Karolus Wojtila, dizia eu, não deixa fio sem atar. Só lendo o texto, poderemos apreciar que o Beato Karolus procura a pureza original do cristianismo.

No entanto, se o adultério não é perdoado, pelo menos o sacramento, quer dizer, esse actoAto instituído por Deus para purificar e santificar as almas, como dizem todas as confissões cristãs, o sacramento da confissão, dizia eu, perdoa as faltas.

Mas, que grande falta! Insisto no meu padroeiro de ser a libido e o Iso ou Id, os que comandam o mundo. Hoje em dia a maior parte da população é adúltera, como tem sido estudado pela patrística e como deduz Anália Torres Cardoso nos seus livros, o mais importante, na minha opinião, o de 1996, Celta Editores: Divórcio em Portugal. Ditos e interditos.

Para acabar, comentaria apenas que hoje em dia não há praticamente adultério: as pessoas vivem juntas, não casam, amam-se, mas também, pela calada da noite, têm as suas aventuras que não contam a ninguém para não entrar em vida de bordel.

No meu caso, ai deus! Se quem amo me troca por outro, a vida acaba. Especialmente se o adultério é cometido pela mulher que amo, metáfora de pedido de fidelidade se nós amamos também.

A libido comanda o corpo e a mente. Karolus Wojtila sabia-o, mas, com essa sua bondade, falava imenso com o pecador e escrevia encíclicas.

A vida a dois é complexa, especialmente se é estrita, como os islâmicos e como os que tomam conta da pureza da sua família. No meu ver, o adultério, do tipo que for, não tem perdão da divindade nem dos grupos sociais que tomam partido por ele, ou por ela ou defendem esse terceiro….

Adultério, para quê se ama? Juntos riem? Juntos brincam? Juntos amam?

É preciso uma nova patrística… e um amor com libido activa.

publicado por Carlos Loures às 15:00

editado por Luis Moreira em 02/02/2011 às 22:46
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7 comentários:
De augusta clara a 3 de Fevereiro de 2011
Actos como o que esta fotografia representa têm que ser totalmente abolidos seja qual for a luta dos povos. Os homens não podem libertar-se de tiranias continuando a exercê-las sobre as mulheres. São criminosos dos mais primários e nunca apoiarei a libertação dum povo que vá neste caminho. Que grande mulher foi aquela comentadora da Aljazeera quando condenou estas atrocidades. Com coragem e com risco da própria vida, imagino.
De augusta clara a 3 de Fevereiro de 2011
Aliás, é muito significativo que toda a gente tenha passado por esta fotografia sem ter expressado um pingo de indignação. Libertação dos povos, libertação dos povos! Mas os povos não compostos só por metade da Humanidade.
De Paulo Rato a 5 de Fevereiro de 2011
Augusta,
A propósito do que se passa no Egipto, já comentei (algumas páginas atrás - quantas?), antecipadamente, essa fotografia, ou melhor, a inqualificável e inaceitável situação que denuncia.
Para mim, é muito simples: o Estado tem de ser laico e costumes, "tradições" ou "culturas" que não respeitam direitos básicos do ser humano são desprezíveis e devem ser banidos, onde quer que "floresçam" ou tentem implantar-se: não estou a falar de canibais da Nova Guiné ou de outras etnias perdidas, de costumes ainda desconhecidos, que não é isso que está aqui em causa.
No essencial, e dada a distracção de muitos em relação aos perigos da instauração, no Egipto como noutros países do Próximo e Médio Oriente, de regimes islamistas presididos pelos habituais imbecis fanatizados, referia algo como "preferir Mubarak ao apedrejamento de mulheres por irem para a cama com quem lhes apetece" - fórmula sintética de abordar uma questão complexa, em que o que está em causa, fundamentalmente, é a "verdadeira liberdade individual", inconfundível com qualquer tipo de "liberalismo", e que os "donos" das religiões mais diversas tendem muito a esquecer.
A forma desabrida com que, por vezes, me exprimo talvez explique a resposta algo "estranha" do Carlos Loures (ou que eu terei compreendido mal), chamando-me a atenção para o facto de muitas mulheres muçulmanas aceitarem a "sharia" (o que é que eu e a minha opinião temos a ver com isso?...) e referindo-se a culturas diferentes que não se adaptariam à democracia...
Enfim, algo a que só pode ser dada uma resposta adequada (pela extensão que exige) num artigo, que farei se... tiver paciência.
Talvez mais comentários não tenham surgido por razões semelhantes. Pelo menos, ouso esperá-lo.
De ethel feldman a 5 de Fevereiro de 2011
meu coração sofre com ela
a mulher apedrejada
que presa continua livre
meu coração está com ela
e todas as outras
que numa sociedade sem véus
não conhecem a liberdade
De Carlos Loures a 5 de Fevereiro de 2011
A minha opinião «algo estranha», quis chamar a atenção para uma realidade que não se compadece com opiniões exteriores, «estranhas» ou «lúcidas». As civilizações modificam-se pelo contacto com o exterior, mas são sobretudo dinâmicas internas que produzem as grandes transformações sociais - seja na Nova Guiné ou no Egipto.
De Paulo Rato a 6 de Fevereiro de 2011
Carlos, as opiniões não são invalidadas por serem "exteriores" à "realidade" sobre a qual se manifestam, o que seria um absurdo, porque elas, não sendo já a realidade, são sempre exteriores. Nada é igual a nada, nem os gémeos univitelinos...
Quando falamos ou escrevemos, em geral, simplificamos, o que, na maioria das vezes, é o que torna possível a expressão vocabular, de outro modo perdida na complexidade do real.
A realidade expressa, descrita, é sempre uma interpretação, parcial em mais do que um sentido.
O resto da tua resposta é também "uma" opinião, sobre um tema complexo, passível, obviamente, de abordagens e opiniões diversas.
De qualquer modo, nada do que referes tem a ver com o essencial da minha intervenção anterior, que, como já disse, desenvolverei, se tiver paciência e - talvez mais rigorosamente - tempo, já que outras coisas me ocupam, neste momento; em especial, a preparação de um período de férias, com a minha mulher, em Veneza e arredores, coisa que faço sempre com grande meticulosidade: mais uma das minhas manias...
De Carlos Loures a 6 de Fevereiro de 2011
Não disse que as opiniões eram invalidadas - temos de ser rigorosos também a ler - disse que as nossas opiniões não modificam realidades objectivas sobre o fundamentalismo islâmico ou sobre as sociedades muçulmanas - a transformação tem de ser operada sobretudo do interior.

De um velho dicionário político, extraio a entrada "Voluntarismo" :«Tendência atribuída a sectores revolucionários que incorrem do subjectivismo de dar mais importância aos seus desejos revolucionários (decerto bem intencionados) do que às condições reais de operatividade, até ao ponto de incorrerem num comportamento político irrealizável».

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