No convívio com franceses, apercebi-me de que, muitos anos depois da ocupação alemã ter acabado, persistiam em vastos sectores da população, nomeadamente nas camadas mais pobres, ódio e preconceito contra os judeus. Ouvimos, lemos, vemos filmes sobre as o heroísmo da Resistência, mas a outra face da moeda foi o colaboracionismo. Porque durante uma ocupação ou uma ditadura, à maioria das pessoas oferecem-se duas possibilidades. Resistir ou colaborar.
O conceito de resistência abrange um vasto leque de opções que vai desde a distribuição de panfletos à luta armada contra o invasor. Colaborar é também conceito abrangente, indo desde não fazer nada, aceitando as ordens de quem manda, até à denuncia dos resistentes. Em Portugal, durante o período da ditadura, grande parte da população colaborou, mais que não fosse com a sua passividade, embora houvesse quem preenchesse as fileiras das forças repressivas ou se alistasse na Legião Portuguesa. Como se sabe, houve também quem resistisse.
Estamos a falar de coisas diferentes. Resistir em Portugal, contra a ditadura, ou em França contra o ocupante alemão, significaram graus de risco não comparáveis. Aqui, houve quem fosse assassinado, houve prisões prolongadas, torturas, represálias. Em todo o caso, muitos dos que resistiram, sobreviveram para narrar o que lhes aconteceu. Em França, fuzilamentos, campos de concentração e câmara de gás, depois da prisão e da tortura, foram a regra. A sobrevivência, foi a excepção.
Em primeiro lugar um bem-haja pela informação referente ao filme que, pelo tema que aborda, é de classificar como " A NÃO PERDER".
Sobre a passividade de uma grande maioria dos portugueses, durante o período da ditadura em Portugal, a mesma estava relacionada com o nível cultural da população que o regime pretendia fosse o mais elementar possível. Na Alemanha queimaram livros das bibliotecas. O regime em Portugal, controlava o que se publicava. Extrapolando para os dias de hoje eu diria que agora impera o medo da represália. O medo da exclusão. Esse medo reflecte-se na conivência dos colaboradores dos meios de comunicação social, que escrevem para o dono e para quem manda. Resta-nos a liberdade de podermos falar uns com os outros sem, por enquanto sermos presos, mas sem qualquer protecção jurídica se nos quiserem incriminar e tudo isto porque o polvo tem tentáculos por todo o lado. Vamos tentar, com artigos como o teu, lutar contra as injustiças e a liberdade em que acreditamos.
Obrigado, Luís. Sabes como sou crítico relativamente aos partidos do bloco central - PS e PSD, para mim, ainda que teoricamente diferentes, são frutos da mesma árvore. No entanto, não perfilho a tendência que leva muita gente a comparar a actual situação com a que vivemos durante a ditadura. Não há comparação possível. A mordaça, que no salazarismo atingia todos os que contestassem a situação, hoje atinge principalmente os oportunistas da oposição que contestam os oportunistas que estão no poleiro - é uma luta de cães por um mesmo osso, o osso do poder, das sinecuras. Os laranjas falam muito nos jobs for the boys, mas a mágoa que têm é a de não ser eles os contemplados. É uma guerra de gangues bandalhos contra crápulas. Não tomo partido. Mas não façamos comparações que ofendem os que morreram no Tarrafal, os que foram assassinados, os que passaram anos de juventude encarcerados... Um grande abraço, Luís.