Terça-feira, 30 de Novembro de 2010

Ora então esta noite é assim:

à uma hora, chega a Judy Garland com uma canção romântica; às duas falaremos de um soldado oliventino e às três poderão ler um conto de Arthur Koestler (o autor de O Zero e o Infinito).

Para já. ficamos com Raul Solnado e a sua ida à guerra de 1908:


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publicado por Carlos Loures às 23:55
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Fórum para a Liberdade de Educação




O Fórum para a Liberdade de Educação lança hoje o seu novo site, através do qual se pretende corresponder com mais eficácia e eficiência ao interesse que a nossa proposta de Serviço Público de Educação tem despertado junto da comunidade educativa e da opinião pública portuguesa em geral.

O novo site do FLE tem diversas funcionalidades que merecem a devida atenção.

Desde logo, procuraremos acompanhar as notícias mais importantes e as opiniões mais relevantes publicadas na comunicação social e na blogosfera – a consulta da rubrica DIÁRIO DA EDUCAÇÃO será uma excelente maneira de se manter actualizado relativamente ao desenvolvimento da liberdade de educação no nosso país e no estrangeiro.

As diversas actividades e conferências promovidas pelo FLE, assim como outros acontecimentos com relevância educativa, estarão devidamente assinaladas na AGENDA do site, proporcionando uma forma fácil e acessível de planear a sua própria agenda.

Finalmente, o site inclui a rubrica ESPAÇO FLE, onde se encontram os nossos artigos e opiniões, publicados na imprensa de referência, assim como as intervenções públicas que vamos tendo um pouco por todo o País.

O novo site do FLE será ainda um gerador de comunicação entre o FLE e os amigos do FLE, por via do envio periódico da nossa NEWSLETTER.

Confiamos que o nosso novo site do FLE constituirá um passo de gigante no cumprimento da missão a que o FLE se propôs em 2002, ano em que foi fundado por um conjunto de cidadãos empenhados na promoção da liberdade de educação em Portugal, para o qual contamos com o interesse e colaboração de todos.

Seja muito bem-vindo ao novo site do FLE em www.fle.pt.

Fernando Adão da Fonseca
Presidente
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FLE - Fórum Liberdade Educação

www.FLE.pt

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Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos
Art.º 26º da Declaração Universal dos Direitos do Homem
publicado por CRomualdo às 23:30
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Deus como problema (5)




Agora não é Saramago mas o meu amigo quem diz “que a segurança dos que não acreditam é invejável e que a intolerância se verifica mais em relação àqueles que crêem”. Plenamente de acordo. Tal facto deve-se a que a segurança dos que não crêem não existe, e antes constitui um exercício permanente de aprendizagem, interrogação, reflexão e descoberta ao longo do difícil caminho da razão.
“Se me tivessem provado que com a morte tudo termina, creio que já teria partido voluntariamente”, confessa o meu amigo. Penso que o Homem não tem, gratuitamente, provas de nada, e pode rejeitar todos os argumentos falaciosos ou extra-humanos que de nada lhe servem. Bastam-lhe as provas que nascem do desenrolar da sua razão. Por que motivo o meu amigo rejeita a força das hipóteses lógicas, racionais, a luz da ciência – pobre ciência humana, é certo – mas que o meu amigo aceita e utiliza numa elevadíssima percentagem dos actos da sua vida, e adere à fragilidade de teses fantasistas, ilógicas e mesmo irracionais, carecendo de todo e qualquer substrato que não seja a fé, fé essa – não pode negar – directamente proporcional à ignorância, à incultura e a toda a espécie de fundamentalismos mais ou menos acéfalos. Isto não significa que não haja pessoas crentes muito inteligentes e muito cultas – que é o caso do meu amigo -. Simplesmente, em meu entender, não foi a cultura mas outra razão qualquer que gerou e enraizou a crença. A verdadeira cultura é, habitualmente, um obstáculo e remete muito mais para o antagonismo do que para o agonismo da fé.
Para quem espera o céu, a gente sabe que a razão da vida não pode ser o natural percurso desta pequeníssima dimensão humana no seio infinito da natureza e do Universo, em permanente mutação e movimento, mas uma espécie de celestial e eterna pensão de reforma que a imaginação deste limitado ser, mesmo dando-lhe o fluido nome de alma, não consegue despir das materiais aspirações, prerrogativas e necessidades do corpo que por cá ficou. Com a vida tudo e nada começa e com a morte nada termina. A parte é diluída no todo. Em cada instante o Universo é outro. O início da minha decomposição é, precisamente, o início da minha contribuição para a formação ou transformação de milhares ou milhões de outros seres.
“Já não adianta nada dizer que matar em nome de Deus é fazer de Deus um assassino”, diz Saramago. “Para os que matam em nome de Deus”, continua, “Deus não é só o juiz que os absolve, é o Pai poderoso que dentro das suas cabeças juntou antes a lenha para o auto-de-fé e agora prepara e coloca a bomba”. Não sei se esta bomba a que se refere Saramago é a do Pai poderoso de cá se a do Pai poderoso de lá. Ou se é de ambos. Permito-me, de qualquer forma, alguns comentários, cujas ilações pertencerão a cada um que as queira tirar. Vejamos.

(Continua).
publicado por Carlos Loures às 22:30
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Para uma redefinição da União Económica e Monetária Europeia: da crítica dos seus fundamentos à crítica da crise actual - 3

(Continuação)

Júlio Mota, Luís Lopes e Margarida Antunes*

FALSA EVIDÊNCIA N.º 1: OS MERCADOS FINANCEIROS SÃO EFICIENTES

Hoje, todos os observadores constatam um facto: o papel fundamental que desempenham os mercados financeiros no funcionamento da economia. É o resultado de uma longa evolução, que começou no final dos anos setenta. Qualquer que seja a forma de a analisar, esta evolução marca uma ruptura clara, tanto quantitativa como qualitativa, em relação às décadas anteriores. Sob pressão dos mercados financeiros, a regulação geral do capitalismo modificou-se profundamente, dando origem a uma nova forma de capitalismo, que alguns apelidaram de “capitalismo patrimonial”, de “capitalismo financeiro” ou ainda de “capitalismo neoliberal”.

Estas mutações encontraram a sua justificação teórica no postulado da eficiência informacional dos mercados financeiros. De facto, segundo este postulado, importa desenvolver os mercados financeiros, garantir que eles possam operar tão livremente quanto possível, porque são o único mecanismo de afectação eficiente do capital. As políticas obstinadamente levadas a cabo ao longo dos últimos trinta anos estão em conformidade com esta recomendação. Trata-se de criar um mercado financeiro integrado a nível mundial, em que todos os agentes (empresas, famílias, Estados, instituições financeiras) podem negociar qualquer tipo de valor mobiliário (acções, obrigações, dívidas, derivados, divisas) para qualquer maturidade (longo prazo, médio prazo, curto prazo). Os mercados financeiros têm vindo a assemelhar-se aos mercados “sem fricção” dos manuais: o discurso económico conseguiu recriar a realidade. Sendo os mercados cada vez mais “perfeitos”, no sentido da teoria económica dominante, os analistas acreditaram que o sistema financeiro estava agora muito mais estável do que no passado. A “grande moderação” — este período de crescimento económico sem aumento de salários que os Estados Unidos viveram entre 1990 e 2007 — pareceu confirmá-lo.

Ainda hoje, o G20 continua a defender a ideia de que os mercados financeiros são o mecanismo adequado para a afectação de capital. A primazia e a integridade dos mercados financeiros continuam a ser os objectivos finais da sua nova regulação financeira. A crise não é interpretada como um resultado inevitável da lógica da desregulamentação dos mercados, mas sim como uma consequência da desonestidade e da irresponsabilidade de alguns agentes financeiros, mal enquadrados pelos poderes públicos.
No entanto, a crise encarregou-se de demonstrar que os mercados não são eficientes e que também não conduzem à afectação eficiente do capital. As consequências desta realidade factual são imensas, em matéria de regulação e de política económica. A teoria da eficiência assenta na ideia de que os investidores procuram e encontram a informação mais fiável possível sobre o valor dos projectos alternativos que disputam entre si o financiamento. A acreditar nesta teoria, o preço que se estabelece no mercado reflecte as decisões dos investidores e sintetiza toda a informação disponível: constitui, portanto, uma boa estimativa do efectivo valor dos títulos. Ora, pressupõe-se que este valor sintetize toda a informação necessária para orientar a actividade económica e, deste modo, a vida social. Assim, o capital é investido nos projectos mais rentáveis e deixa os que são menos eficientes. Esta é a ideia central desta teoria: a concorrência financeira gera preços justos, os quais constituem sinais fiáveis para os investidores, orientando eficazmente o desenvolvimento económico.

Mas a crise veio confirmar os vários trabalhos críticos que tinham posto em causa esta ideia. A concorrência financeira não gera necessariamente preços justos. Pior, a concorrência financeira é muitas vezes desestabilizadora e leva a movimentos de preços excessivos e irracionais, as bolhas financeiras especulativas.

O principal erro da teoria da eficiência dos mercados financeiros consiste em transpor para os produtos financeiros a teoria usada para os mercados de bens comuns. Nestes mercados, a concorrência é parcialmente auto-reguladora devido ao que se chama a “lei” da oferta e da procura: quando o preço de um bem sobe, os produtores aumentam a oferta, enquanto os compradores reduzem a procura; em consequência, o preço irá descer e chegar perto do seu nível de equilíbrio. Por outras palavras, quando o preço de um bem sobe, as forças de mercado tendem a impedir e depois a inverter esse aumento. A concorrência produz o que se chama “feedbacks negativos”, ou seja, forças de repercussão em sentido oposto, na direcção oposta à do choque inicial. A ideia de eficiência decorre de uma transposição directa deste mecanismo para os mercados financeiros.

Ora, para estes últimos, a situação é muito diferente. Quando o preço aumenta, é comum observar-se, não uma diminuição, mas um aumento na procura! Na verdade, o aumento nos preços significa uma rentabilidade maior para os detentores dos títulos, devido às mais-valias realizadas. O aumento de preços atrai assim novos compradores, o que reforça ainda mais o aumento inicial. As promessas de bónus estimulam os traders a reforçar ainda mais este movimento. Até se verificar um incidente, imprevisível mas inevitável, que provoque a reversão das expectativas e o crash. Este fenómeno, digno dos rebanhos de carneiros panúrgicos, é um processo de “feedbacks positivos” que agrava os desequilíbrios. É a bolha especulativa: um aumento cumulativo de preços que se auto-alimenta. Este processo não produz preços justos, mas, antes pelo contrário, produz preços inadequados.

A posição preponderante que os mercados financeiros ocupam não pode assim conduzir a nenhuma eficiência. Pior ainda, é uma fonte permanente de instabilidade, como é evidenciado pela série ininterrupta de bolhas especulativas conhecidas desde há 20 anos: Japão, Sudeste Asiático, Internet, Mercados Emergentes, Imobiliário, Titularização. A instabilidade financeira traduz-se desta forma nas fortes flutuações das taxas de câmbio e das Bolsas, claramente sem qualquer relação com os fundamentais da economia. Esta instabilidade, nascida no sector financeiro, propaga-se à economia real através de vários mecanismos.
Para reduzir a ineficiência e a instabilidade dos mercados financeiros, sugerimos quatro medidas:

Medida n.º 1: Compartimentar estritamente os mercados financeiros e as actividades dos agentes financeiros, proibir aos bancos especularem por sua própria conta, para evitar a propagação de bolhas especulativas e crashs.

Medida n.º 2: Reduzir a liquidez e a especulação desestabilizadora, através do controlo dos movimentos de capitais e de impostos sobre as transacções financeiras.

Medida n.º 3: Restringir as transacções financeiras às que correspondam às necessidades da economia real (por exemplo, CDS apenas aos detentores de títulos segurados, etc.).

Medida n.º 4: Estabelecer limites máximos para a remuneração dos traders.


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FALSA EVIDÊNCIA N.º 2: OS MERCADOS FINANCEIROS FAVORECEM O CRESCIMENTO ECONÓMICO

A integração financeira alcandorou o poder da finança ao seu zénite, na medida em que unificou e centralizou a propriedade capitalista à escala global. Agora é a finança que determina as normas de rentabilidade exigidas pelo conjunto de todos os capitais. O projecto era o de a finança de mercado substituir o sistema de financiamento bancário dos investimentos. Projecto que aliás falhou, uma vez que hoje, globalmente, são as empresas que financiam os accionistas e não o contrário. A governança das grandes empresas foi, no entanto, profundamente transformada para corresponder às normas de rentabilidade do mercado. Com a ascensão dominante do valor accionista, instituiu-se uma nova concepção da empresa e da gestão, pensadas como estando ao serviço exclusivo do accionista. A ideia de interesse próprio comum dos diferentes interessados na vida da empresa desapareceu. Os gestores das empresas cotadas na Bolsa têm agora a principal missão de satisfazer o desejo de enriquecimento dos accionistas e nada mais. Consequentemente, deixam eles próprios de ser assalariados, como mostra bem o aumento desmesurado das respectivas remunerações. Como sugere a teoria do “agenciamento”, trata-se de fazer com que os interesses dos gestores passem a estar em convergência com os dos accionistas.

Uma ROE (“Return on Equity” ou rentabilidade dos capitais próprios) de 15% a 25% passa a ser a norma imposta pelo poder da finança às empresas e aos assalariados. A liquidez é o instrumento deste poder, permitindo a todo o momento aos capitais não satisfeitos de mudarem para outras paragens. Confrontados com este poder, os assalariados, tal como a soberania política, surgem, pela sua fragmentação, em situação de inferioridade. Esta situação de desequilíbrio leva a exigências de lucros irrazoáveis, porque definham o crescimento económico e conduzem a um aumento contínuo das desigualdades de rendimentos. Por um lado, as exigências de lucros inibem fortemente o investimento: quanto mais elevada for a rentabilidade exigida, mais difícil é encontrar projectos que sejam suficientemente rentáveis para a satisfazer. As taxas de investimento continuam a ser historicamente fracas na Europa e nos Estados Unidos. Por outro lado, esses requisitos provocam uma pressão constante sobre a baixa dos salários e sobre o poder de compra, o que não é favorável à procura. A travagem simultânea do investimento e do consumo conduzem a um baixo crescimento e a um desemprego endémico. Os países anglo-saxónicos têm procurado opor-se a esta tendência através do aumento crescente do endividamento das famílias e através de bolhas financeiras especulativas, que criam uma riqueza fictícia, permitindo o crescimento do consumo sem salários, mas que acabam por redundar em crashs.

Para ultrapassar os efeitos negativos dos mercados financeiros sobre a actividade económica, colocamos em debate três medidas:

Medida n.º 5: Reforçar significativamente os contra-poderes nas empresas, para obrigar as direcções a ter em conta os interesses de todas as partes.

Medida n.º 6: Aumentar significativamente a imposição fiscal sobre os rendimentos muito elevados, para desencorajar a corrida a rendimentos insustentáveis.

Medida n.º 7: Reduzir a dependência das empresas face aos mercados financeiros, desenvolvendo uma política pública de crédito (taxas preferenciais para as actividades prioritárias no plano social e ambiental)

FALSA EVIDÊNCIA N.º 3: OS MERCADOS AJUÍZAM BEM A SOLVABILIDADE DOS ESTADOS


Segundo os defensores da eficiência dos mercados financeiros, os operadores do mercado têm em conta a situação objectiva das finanças públicas para avaliar o risco de subscrição de um empréstimo ao Estado. Tomemos o caso da dívida grega: os operadores financeiros e os políticos decidem exclusivamente na base de avaliações financeiras para avaliar a situação. Assim, quando a taxa de juro exigida à Grécia aumentou para mais de 10%, todos concluíram que o risco de incumprimento estava próximo: se os investidores exigem um tal prémio de risco, é porque o perigo é extremo.

Trata-se de um profundo erro, quando se conhece a verdadeira natureza da avaliação pelos mercados financeiros. Não sendo os mercados financeiros eficientes, geram muito frequentemente preços totalmente dissociados dos “fundamentais económicos”. Nestas circunstâncias, não é razoável confiar exclusivamente nas avaliações financeiras para julgar uma determinada situação. Avaliar o valor de um título financeiro não é uma operação que se compare a medir uma grandeza objectiva, como por exemplo, a estimar o peso de um objecto. Um título financeiro é um direito sobre rendimentos futuros: para o avaliar é necessário prever o que será este futuro. Trata-se de uma questão de julgar, não de medida objectiva, porque no momento t, o futuro não está de forma nenhuma predeterminado. Nas salas dos mercados financeiros, trata-se só do que os operadores imaginam o que vai ser. O preço de um activo financeiro resulta de um acto de julgar, de uma crença, de uma aposta no futuro: não há nenhuma garantia de que os juízos feitos pelos mercados financeiros tenham qualquer superioridade sobre outras formas de julgar.

Sobretudo, a avaliação financeira não é neutra: afecta o objecto medido, compromete e constrói o futuro que ela própria imagina. Assim, as agências de rating desempenham um papel importante na determinação das taxas de juro nos mercados de obrigações, através da atribuição de notações de risco marcadas por forte subjectividade e, até mesmo, pelo desejo de alimentar a instabilidade, fonte de lucros especulativos. Ao degradar a notação de um Estado, estas agências aumentam a taxa de juro cobrada pelos actores financeiros para adquirir os títulos da dívida pública desse Estado e, consequentemente, aumentam por aí mesmo o risco de falência que anunciaram.

Para reduzir a influência da psicologia dos mercados no financiamento dos Estados, colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 8: As agências de rating não devem ser autorizadas a apoiar arbitrariamente a elevação das taxas de juro nos mercados das obrigações pela degradação da notação financeira de um Estado: dever-se-ia regulamentar as suas actividades, exigindo que as notações resultem de um cálculo económico transparente.

Medida n.º 8bis: Libertar os Estados da ameaça dos mercados financeiros, garantindo a recompra dos títulos públicos por parte do BCE.

FALSA EVIDÊNCIA N.º 4: A FORTE E RÁPIDA SUBIDA DA DÍVIDA PÚBLICA RESULTA DE UM EXCESSO DE DESPESA

Michel Pebereau, um dos “padrinhos” da banca francesa, descrevia, em 2005, num desses relatórios oficiais ad hoc, uma França sufocada pela dívida pública e a sacrificar as gerações futuras, ao permitir-se despesas sociais descomunais. O Estado a endividar-se como um pai alcoólico que bebe acima das suas posses: esta é a visão normalmente propagandeada pela maioria dos editorialistas. A recente explosão da divida pública na Europa e no mundo deve-se, porém, a uma outra coisa: aos planos de salvamento da finança e, especialmente, à recessão causada pela crise bancária e financeira, que começou em 2008: o défice público médio na zona euro era apenas de 0,6% do PIB em 2007, mas a crise fê-lo passar para 7% em 2010. A dívida pública aumentou, ao mesmo tempo, de 66% para 84% do PIB.

No entanto, a subida da dívida pública, em França e em muitos países europeus, foi inicialmente moderada e anterior a esta recessão: a subida tem origem, fundamentalmente, não numa tendência ascendente das despesas públicas — já que estas, em proporção do PIB, têm, pelo contrário, níveis estáveis ou mesmo em declínio na UE, desde o início dos anos 90 — mas sim na erosão das receitas públicas, devido ao fraco crescimento económico nesse período e à contra-revolução fiscal levada a cabo pela maioria dos governos nestes últimos vinte e cinco anos. Em termos de mais longo prazo, a contra-revolução fiscal tem continuamente alimentado o empolamento do volume da dívida, de recessão em recessão. Assim, em França, um recente relatório parlamentar calculou em cerca de 100 mil milhões de euros o custo, em 2010, das reduções de impostos feitas entre 2000 e 2010, mesmo sem incluir as isenções das contribuições sociais (30 mil milhões) e outras “despesas fiscais”. Na ausência de harmonização fiscal, os Estados europeus têm-se envolvido numa concorrência fiscal, baixando os impostos sobre as empresas, sobre as pessoas de altos rendimentos e sobre os grandes valores patrimoniais, as grandes fortunas. Mesmo que o peso relativo destas componentes varie de país para país, a subida quase geral dos défices públicos e dos rácios da dívida na Europa, no decurso destes últimos trinta anos, não resulta principalmente de um descontrolo condenável da despesa pública. Um diagnóstico que, obviamente, abre outros caminhos para além da sempiterna redução da despesa pública.

Para restaurar um debate público informado sobre a origem da dívida e, portanto, sobre os meios para a superar, colocamos em debate uma proposta:

Medida n.º 9: Realizar uma auditoria pública e de cidadania sobre a dívida pública, para determinar a sua origem e conhecer a identidade dos principais detentores de títulos de dívida e quais os montantes detidos.

FALSA EVIDÊNCIA N.º 5: É NECESSÁRIO REDUZIR AS DESPESAS PARA REDUZIR A DÍVIDA PÚBLICA

Mesmo que o aumento da dívida pública resultasse em parte do aumento das despesas públicas, reduzir as despesas não contribuiria necessariamente para a solução. Porque a dinâmica da dívida pública pouco tem a ver com a de uma família: a macroeconomia não é redutível à economia doméstica. A dinâmica da dívida depende na sua grande generalidade de vários factores: do nível do défice primário, mas também da diferença entre a taxa de juro e a taxa de crescimento nominal da economia.
Pois, se esta última taxa for inferior à taxa de juro, a dívida vai aumentar mecanicamente por causa do "efeito bola de neve": o montante dos juros explode e o défice total (incluindo os juros da dívida) também. Assim, no início de 1990, a política do franco forte, conduzida por Beregovoy, e mantida apesar da recessão de 1993-94, levou a uma taxa de juro mais elevada que a taxa de crescimento, o que explica o aumento da dívida pública da França durante esse período. É o mesmo mecanismo que explica o aumento da dívida, na primeira metade da década de 80, sob o impacto da revolução neoliberal e das políticas de altas taxas de juro conduzidas por Ronald Reagan e Margaret Thatcher.

Mas a própria taxa de crescimento económico não é, em si mesmo, independente das despesas públicas: a curto prazo, a existência de despesas públicas estáveis limita a dimensão das recessões (“estabilizadores automáticos”); a longo prazo, os investimentos e as despesas públicas (educação, saúde, investigação, infra-estruturas...) estimulam o crescimento. É errado dizer que todo e qualquer défice faz crescer, no mesmo montante, a dívida pública, ou que qualquer redução do défice reduz a dívida de igual montante. Se a redução do défice tem efeitos negativos sobre a actividade económica, a dívida tornar-se-á cada vez mais pesada. Os comentadores liberais sublinham que alguns países (Canadá, Suécia, Israel) realizaram cortes brutais nas suas contas públicas nos anos 90 e que conseguiram imediatamente uma recuperação económica, um forte crescimento. Mas isto só é possível se o ajustamento se referir a um país isolado, que ganhe rapidamente competitividade sobre os seus concorrentes. Mas, obviamente, esquecem os adeptos dos ajustamentos estruturais europeus que os países europeus têm como principais clientes e concorrentes os outros países europeus, uma vez que a UE é globalmente pouco aberta ao exterior. Uma redução simultânea e maciça da despesa pública dos países da UE só pode ter como efeito o agravamento da recessão e, portanto, um novo avolumar da dívida pública.

Para evitar que a recuperação das finanças públicas não venha a provocar um desastre social e político colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 10: Manter o nível de protecção social, ou mesmo melhorá-lo (subsídio de desemprego, de habitação…).

Medida n.º 11: Aumentar o esforço orçamental em matéria de educação, de investigação, de investimento na reconversão ambiental... para materializar as condições de um crescimento sustentável, capaz de induzir uma significativa diminuição do desemprego.

FALSA EVIDÊNCIA N.º 6: A DÍVIDA PÚBLICA TRANSFERE PARA OS NOSSOS NETOS OS ENCARGOS DOS NOSSOS EXCESSOS

É uma outra declaração falaciosa, que confunde a economia das famílias com a macroeconomia, segundo a qual a dívida seria uma transferência de riqueza em detrimento das gerações futuras. A dívida pública é, com certeza, um mecanismo de transferência de riqueza, mas, sobretudo, uma transferência dos contribuintes comuns para quem vive dos rendimentos.
De facto, com base na crença, raramente confirmada na realidade, de que baixando os impostos estimular-se-ia o crescimento e, no final de tudo, aumentar-se-iam as receitas públicas, os Estados europeus, depois de 1980, puseram-se a imitar os Estados Unidos, com uma política sistemática de minimização fiscal. A redução dos impostos e das cotizações sociais patronais multiplicaram-se (impostos sobre os lucros das empresas, sobre os rendimentos dos mais ricos e sobre o património, sobre as contribuições patronais para a segurança social...), mas o seu impacto sobre o crescimento económico manteve-se muito incerto. Estas políticas fiscais anti-redistributivas agravaram, assim, de forma cumulativa, as desigualdades sociais e os défices públicos.

Estas políticas fiscais forçaram os governos a endividarem-se junto dos detentores de mais elevados rendimentos e dos mercados financeiros para financiar os défices entretanto criados. É aquilo que poderia chamar-se um “efeito jackpot”: com o dinheiro economizado nos impostos, os ricos puderam adquirir títulos de dívida pública (que rendem juros), títulos esses emitidos para financiar os défices públicos causados pelos cortes de impostos... O serviço da dívida pública em França representa assim 40 mil milhões de euros anuais, quase tanto como as receitas do imposto sobre o rendimento. Um golpe tanto mais brilhante quanto, em seguida, se conseguiu convencer o público de que a dívida pública se devia aos funcionários públicos, aos reformados e aos doentes.

O aumento da dívida pública na Europa ou nos Estados Unidos não resulta de políticas keynesianas expansionistas ou de dispendiosas políticas sociais, mas sim de uma política que favorece as classes privilegiadas: as “despesas fiscais” (baixas de impostos e de cotizações patronais) aumentam o rendimento disponível daqueles que menos precisam, os quais, nessa sequência, podem aumentar ainda mais as suas aplicações financeiras, nomeadamente em Títulos do Tesouro, cuja remuneração de juros é paga pelos impostos cobrados a todos os contribuintes. Em suma, desenvolve-se um mecanismo de redistribuição em sentido inverso, das classes mais baixas para as classes de maiores rendimentos, através da dívida pública, cuja contrapartida vai sempre parar aos detentores de rendimentos privados.

Para endireitar de forma justa as finanças públicas na Europa e em França, colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 12: Voltar a dar um carácter fortemente redistributivo à fiscalidade directa sobre o rendimento (supressão de nichos privilegiados, criação de novas segmentações e aumento das taxas de imposto sobre os rendimentos...)

Medida n.º 13: Eliminar as isenções fiscais concedidas às empresas que não tenham efeitos suficientes em termos de emprego.

FALSA EVIDÊNCIA N.º 7: É PRECISO TRANQUILIZAR OS MERCADOS FINANCEIROS PARA SE PODER FINANCIAR A DÍVIDA PÚBLICA


A nível mundial, o aumento da dívida pública deve ser analisado em correlação com o processo de “financeirização” da economia. Ao longo dos últimos trinta anos, graças à liberalização total dos fluxos de capitais, a finança reforçou de forma significativa o controlo sobre a economia. As grandes empresas recorrem cada vez menos aos empréstimos bancários e cada vez mais aos mercados financeiros. As famílias vêem também uma parte crescente das suas economias escoar-se para a finança no âmbito dos sistemas de pensões, por via dos diversos produtos de aplicações financeiras, ou ainda, em certos países, através do financiamento da habitação (empréstimos hipotecários). Os gestores de carteiras de títulos, para diversificarem os riscos, procuram títulos de dívida pública para contrabalançar as dívidas dos particulares. Encontram-nos facilmente no mercado porque os governos empreendem políticas no mesmo sentido, que levam a um aumento dos défices: taxas de juro elevadas, reduções fiscais beneficiando especificamente os altos rendimentos, incitações maciças à poupança das famílias para favorecer os sistemas de pensões assentes em aplicações financeiras de capitalização, etc.

Ao nível da União Europeia, a “financeirização” da dívida pública foi inscrita nos Tratados: a partir de Maastricht, os Bancos Centrais foram proibidos de financiar directamente os respectivos Estados, os quais têm que recorrer aos mercados financeiros. Esta “repressão monetária” acompanha a “liberalização financeira” e tem exactamente o sentido oposto das políticas adoptadas depois da Grande Depressão dos anos 30, que foram de “repressão financeira” (restrições severas à liberdade de acção da finança) e de “libertação monetária” (com o fim do “padrão-ouro”). Trata-se de submeter os Estados que, supostamente, por natureza, são muito gastadores, à disciplina dos mercados financeiros que, supostamente, por natureza, são eficientes e omniscientes.

Como resultado desta opção doutrinária, o Banco Central Europeu não tem, portanto, o direito de subscrever directamente as emissões de títulos de dívida pública dos Estados europeus. Privados da garantia de poderem financiar-se sempre junto dos respectivos Bancos Centrais, os países do Sul foram, assim, vítimas de ataques especulativos. Certamente, passados alguns meses, apesar de sempre se ter recusado a fazê-lo em nome de uma ortodoxia inabalável, o BCE passou a comprar títulos de dívida pública dos Estados, às taxas de juro de mercado, para acalmar as tensões no mercado obrigacionista europeu. Mas nada nos diz que isso será suficiente, caso a crise da dívida se agrave e as taxas de juro de mercado dispararem. Pode ser então difícil manter esta ortodoxia monetária, que não tem base científica sólida.
Para resolver o problema da dívida pública, colocamos em debate duas medidas:

Medida n.º 14: Autorizar o Banco Central Europeu a financiar directamente os Estados (ou a exigir que os bancos comerciais subscrevam a emissão de títulos públicos), com taxas de juro baixas, libertando-se assim da canga com que os mercados financeiros os sufocam.

Medida n.º 15: Se necessário, reestruturar a dívida pública, por exemplo, limitando o peso do serviço da dívida pública a uma determinada percentagem do PIB, introduzindo uma discriminação entre os credores de acordo com o volume de títulos que possuem: os detentores de grandes volumes de títulos da dívida pública (pessoas ou instituições) devem consentir fazer uma distensão substancial do perfil da dívida, e até mesmo a sua anulação total ou parcial. É também necessário renegociar as taxas de juro exorbitantes dos títulos emitidos pelos países em dificuldade desde que a crise começou.

* Docentes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra





(Continua)
publicado por Carlos Loures às 21:00
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Porque não estou de acordo com Carlos Loures no seu texto: “Evento da Literatura Brasileira ‘ qual o momento chave?”

Sílvio Castro

Estou em total desacordo com o meu caríssimo amigo Carlos Loures, do qual conheço desde há muito o empenho cultural e a consciência civil de um verdadeiro progressista, a grande erudição, a sensibilidade na criação literária. Mas, mesmo assim, não posso deixar passar despercebida a tomada de posição que ele erege com a sua conhecida sensibilidade e tato, quando elabora os raciocínios básicos da contestação ao meu texto sobre A Carta de Pero Vaz de Caminha como Evento primeiro e substancial na história da literatura brasileira.

Estamos no dia 1º. de maio de 1500 e a “Carta” está por embarcar no dia seguinte para Lisboa, levada por Gaspar de Lemos para o Rei Venturoso, D. Manuel. Mas o Brasil ainda não existe concretamente, e muito menos a sua literatura. Certo. Então, porque considerar e eleger o texto do magnífico Escrivão português como primeiro produto da literatura brasileira? Simplesmente porque a moderna historiografia literária, ao contrário da tradição positivista, não considera a história política como sua referência essencial para a análise da história literária. Mas, ao contrário, reinvendica cientificamente a sua condição de ciência autônoma, e portanto livre de eleger para suas deduções metodológicas as mais inovadoras teses e com ela criar uma nova dialética cultural. Assim agindo, a moderna historiografia literária supera os defeitos das sedimentações medíocres de um saber histórico passado, e se opõe à repetição de lugares-comuns. Dizer que as literaturas nacionais dos países nascidos do fenômeno da colonização, em particular, aqueles das Américas, podem ser consideradas autônomas somente depois de suas respectivas independência política é um pensamento vazio e anacronístico. Quando alguém, mesmo com todas as qualidades que todos reconhecemos em Carlos Loures, afirma um tal aberrante lugar-comum, não nos resta senão pensar que uma escolaridade fortemente tradicionalista fixa para sempre os maiores lugares-comuns. No caso da questão inexistente, por todos os seus defeitos, da origem da literatura brasileira fixada depois do 7 de setembro de 1822, tudo isso se deve à grande difusão de diversos manuais de história da literatura brasileira, tanto em Portugal, quanto mesmo no Brasil. Mas, depois de tudo, o que realmente vale para os fins do melhor conhecimento da história da literatura é o seu direito de, não ignorando absolutamente a dimensão diacrônica do fenômeno histórico, iluminá-lo maiormente com uma eficaz e coerente tese baseada na sincronia. Daí, entre outras, a tese de que a Carta de Pero de Caminha é o Evento inicial da literatura brasileira porque nela se representa pela primeira vez aquela dimensão que depois será uma constante da criação literária brasileira, a força do território. Território enquanto dimensão geográfica, mas igualmente enquanto dimensão antropológica. Bem como porque o mágico texto desde logo traduz-se lexicalmente apoiado nas conotações típicas da realidade nova, suas cores, vibracidade, dinamicidade, humanidade. O escrivão, vindo da aberta cidade do Porto, saindo da foz do Douro para encontrar o mar-oceano, não é mais aquele “eu” inicial, mas um “outro” nascente dele mesmo.

Quando os liberais de 1820, vitoriosos e ativos no Poder, espantam o mundo ao reiterar a valência de uma radical política colonialista de Portugal e, com isso, desprezando, quanto ao Brasil, a grande conquista da diplomacia joanina que chegara ao Reino Unido, esses liberais já então atuam o defeito que vem de longe e ainda hoje muitas vezes vige, a do predomínio do pensamento ligado aos valores de um cego “europeísmo cultural”. Ao contrário de quanto escreve Carlos Loures, a Independência do Brasil então desencadeia não da parte dos nobres parasitas, mas de patriotas brasileiros da dimensão de José Bonifácio e de Frei Caneca. Mas muito antes disso, o sentimento brasileiro já encontrara inovadoras traduções em poetas como Gregório de Matos, Cláudio Manuel da Costa, Tomás Antônio Gonzaga.

Carlos Loures naturalmente não tem nada a ver com aqueles liberais de 1820. As possíveis raízes de seu pensamento político eu as vejo num verdadeiro revolucionário como Herculano, prosseguindo por Oliveira Martins. Carlos Loures – e disso eu sempre soube e admirei – é um verdadeiro intelectual, partecipante e sempre responsável quanto ao seu tempo. Assim ele é, reafirmo. Mas, no seu testemunho sobre a origem da literatura brasileira infelizmente afloram muitas das qualidades predominantemente negativas do “europeísmo cultural”. Eu quase não acredito que seja ele mesmo aquele que escreveu: “Na minha opinião, tudo o que se escreveu no Brasil até a independência do território, pertence ao acervo da Literatura Portuguesa”. Não, tenho a certeza, não é ele.Mas, sim, Cândido de Figueireido!
publicado por Carlos Loures às 19:30
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Dicionário Bibliográfico das Origens do Pensamento Social em Portugal (46)

O Século XIX em Portugal


Vários


Editorial Presença, 1979


Reeditam-se no presente volume – depois de haverem sido publicados no n.º 61/62 da revista Análise Social do GIS, que rapidamente, em duas semanas, se esgotou – os textos das comunicações enviadas ao colóquio, com uma única excepção, a da importante comunicação da Prof. Miriam Halpern Pereira, a quem não foi possível aprontar para publicação o respectivo texto, nem naquele número de Análise Social, nem neste volume.
De certo modo, os trabalhos aqui reunidos definem o ponto da situação em que presentemente se encontra a generalidade da investigação histórica em Portugal nos vários domínios da pesquisa sobre o século XIX português. Simultaneamente, porém, abrem-se neste volume perspectivas e linhas de investigação inovadoras, que desde já definem muito do sentido em que o trabalho histórico sobre o período em causa se irá desenvolver.

___________________

O Século XIX em Portugal – Cronologia e Quadro de Gerações


António Machado Pires

Livraria Bertrand, 1975

Um confronto com os acontecimentos internacionais e, ao nível de geração, com individualidades não nacionais, procura ampliar este auxiliar de estudo, que, no entanto, ainda está longe de satisfazer o seu autor. Uma sugestão ao leitor – e parece-nos que uma sugestão praticável – seria a de fazer um mapa, com os autores por ordem de nascimento, fazendo-lhe corresponder numa coluna vertical paralela, os autores ou individualidades estrangeiras. Tal «cartografia» das gerações elucidaria muitos problemas de interinfluências, desajustamentos culturais e atrasos de entrada de ideologias. É a certeza das datas que confere realidade aos factos, não os deixando desprendidos e flutuantes no nosso espírito, obrigando-os a criar um espaço mental com localizações históricas seguras.
Julho de 1973
António M. Bettencourt Machado Pires
publicado por Carlos Loures às 18:00
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Economia - A Crise da União Monetária

Rolf Damher


Há dias li em SPIEGEL ONLINE um artigo sobre a salvação do euro. Por considerar o seu conteúdo um perigoso disparate, comentei-o aos meus amigos alemães. Abaixo encontra a tradução do resumo do artigo e do meu referido comentário. O artigo original na íntegra, em alemão, encontra em: http://www.spiegel.de/wirtschaft/unternehmen/0,1518,730712,00.html
Rolf Damher


Crise da União Monetária

Só um novo pacto salva o euro

Uma contribuição de debate de Henrik Müller

Porque é que a Europa não foi capaz de dissipar as dúvidas sobre a sua moeda?

Poderá o euro realmente sobreviver? Sim, mas só com uma condição: a União Monetária deverá tornar-se uma verdadeira União de Destino e de Transferência na qual todos os estados ficam responsáveis uns pelos outros. Para a Alemanha isto soa pouco atractivo mas as alternativas seriam de longe piores – caos e hiperinflação.

"Não somos seres humanos passando por uma experiência espiritual... Somos seres espirituais passando por uma experiência humana". Teilhard de Chardin


Segundo relata Spiegel Online de 25.11.10, existem propostas para soltar “na aldeia” uma nova “porca” de gigantescas dimensões: propõem uma transição da UE de União Monetária para uma União de Destino na qual todos os estados ficam responsáveis uns pelos outros.


O assunto está (aparentemente) claro: para escapar ao “diabo” alegadamente não existe outra alternativa senão pedir a protecção de “belzebu”. Na verdade isto é falso mas a maior parte das pessoas acredita – excepto talvez aqueles que, entre outros, leram e compreenderam o livro “The Logic Of Failure: Recognizing And Avoiding Error In Complex Situations” do professor de psicologia Doutor Dietrich Dörner.

Pelos vistos, entre o actual pessoal político e económico totalmente desnorteado, não há ninguém a quem isto diga respeito.


Se já na „verdadeira“ e natural comunidade de destino, Alemanha, os estados federais ricos resmungam contras as transferências para os estados federais menos ricos, gostaria de ver o que aconteceria se a Alemanha e mais alguns poucos membros da UE tivessem que transferir por obrigação legal dinheiros aos assim chamados estados “PIIGS” – fazendo a Alemanha de financeiro principal e de tesoureiro, claro. Logo que um tal projecto fosse conhecido, p.ex. em Portugal, instalar-se-ia o puro entusiasmo. De facto, finalmente os portugueses poderiam relaxar-se legal e legitimamente e fazer só isto de que são falsamente acusados: férias vitalícias na praia. Em contrapartida abdicar-se-ia da sensação crónica de inveja contra o “benfeitor” Alemanha. Também os então necessários controladores de Bruxelas que controlam por assim dizer os “serviços mínimos”, seriam aceites. Não haveria problemas, pois com o grande know-how da prática do “para inglês ver”, existe uma experiência centenária.

Todavia falta saber que a causa dos actuais problemas não reside na alegada total incapacidade dos estados PIIGS de se sustentarem a eles próprios. Não! A verdadeira causa consiste no facto desses estados terem seguido quase cegamente uma estratégia errada de uma União Europeia que há 30 anos não foi corrigida na sua essência. Foi assim possível acontecer que os líderes da UE com grande proximidade a Bruxelas – p.ex. Alemanha – ainda estejam a operar com um aparente sucesso, enquanto outros estados membros menos fortes, sobretudo aqueles que se envolveram com o euro, começam a ter que passar pelas armas.

Enfim: a proposta feita constitui um perfeito disparate, pois agravaria fortemente os problemas. E: em sistemas abertos – enquanto ainda estiverem mesmo abertos – não existem situações sem saída que obriguem a escolher entre o diabo e belzebu.

A alternativa sistémica-holística (cf. esboço estratégico New Deal), que deixa de fora tanto o diabo como belzebu, é conhecida. Com efeito, sob um grande projecto da UE, uma espécie de golpe libertador, onde se trata de converter cerca de 3.000 milhões de pessoas pobres no mundo em participantes de mercado e futuros clientes, sem ter que entrar logo com milhares de milhões de euros sujeitos a desaparecer em canais obscuros, dissolveriam os actuais conflitos intra e extra europeus que ameaçam a coesão social da UE e da sua moeda.

E com este grande projecto em execução ver-se-ia com que brilho a minha segunda pátria, Portugal, daria conta da tarefa atribuida no âmbito do seu grupo-alvo ideal, as antigas colónias. E mesmo os gregos que sob o falso objectivo e total falta de líderança da UE resvalaram para o famigerado sistema económico conhecido por “fakelaki”, conseguiriam saír do atoleiro – sem dinheiros alemães!

Uma Comunidade de Destino imposta por cima por políticos desnorteados, incompetentes, medíocres e de pouca credibilidade, levaria a que os actuais problemas voltassem rapidamente – então com belzebu “ao volante”. Teriamos insurreição e guerra. Ao contrário, uma mudança de estratégia/comportamento efectuada no sentido acima referido, resultaria num movimento vindo de baixo. A desejada e – no média e longo prazo – necessária Comunidade Europeia de Destino, onde todos são responsáveis por todos, seria, pois, a consequência natural e harmónica daquela mudança de estratégia efectuada.

E tudo isso seria possível realizar dentro de um prazo relativamente curto, graças às forças espirituais-psíquicas (motivação e entusiasmo) que a realização de um objectivo de tais dimensões e tais benefícios óbvios gera. Agora tudo dependerá da evolução da pressão do sofrimento por um lado – afirmo: a evolução terá lugar exponencialmente! – e da urgência e necessidade de efectuar mudanças de fundo, por outro.

Conclusão: o euro sobreviverá e até gerará enormes benefícios sob a estratégia virada para fora do “New Deal”. Escrevi sobre isso sob o título “O EURO: COMO TRANSFORMAR PERIGOS EM OPORTUNIDADES” no Semanário Económico de 28.08.1998. Como ninguém se lembrou de tomar as medidas sugeridas, o meu vaticínio tornou-se realidade – temos crise! Mas ainda estamos a tempo de saír dela airosamente.



Rolf Damher
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publicado por Luis Moreira às 17:00
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Está qua se a chegar ao fim a Cartilha do Ziraldo - página 19

publicado por CRomualdo às 16:00
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Para Sempre, Tricinco ALLENDE E EU - autobiografia de Raúl Iturra - (14)

(Continuação)

 
Estas lembranças acompanharam o meu exílio no meu retorno à Inglaterra e eram referidas por mim em todas as conferências que eu proferia sobre o Chile do Antigamente, apesar de que as pessoas, o que queriam ouvir, era sobre Allende, o seu Governo, a denominada via chilena para o socialismo e a vida pessoal do Presidente, como era a pesquisa no Chile, a sua literatura e outros assuntos, contadas por mim neste capítulo. Foi o tempo de falar de Gabriela Mistral, a nossa poetisa, que aparece na minha memória quando lembro Arturo Pratt, o nosso parente Serrano e a Intendência Antiga, onde tive a felicidade de conhecer essa nossa poetisa laureada, que era bem conhecida no estrangeiro e não no Chile.

Depois de muitos anos de ser galardoada, foi ao Chile a convite do Presidente da República, Carlos Ibáñez del Campo, Presidente eleito, esta vez por votação livre, como digo na Introdução a este trabalho, já não ditador como era em 1927, mas votado, derrotando ao candidato Salvador Allende. Governou entre 1952 e 1958. Em 1952, convidou à Poetisa, cujo prémio tinha sido comunicado pelo o Ministro Conselheiro da Embaixada no Brasil, o irmão do meu sogro, o nosso tio Higinio González e a sua mulher, a tia Rebeca Tornero de González, os dois de feliz memória, com excelente desempenho nas Embaixadas não apenas do Brasil , bem como também Grã-bretanha, Alemanha, USA, Lisboa, entre outras . No Chile foi preciso imprimir, a toda velocidade, os livros da poetisa, desconhecida no Chile, mas o povo chileno, mal soube da notícia da visita, como não havia mais para fazer, saiu as ruas a aclamar e louvar a Gabriela Mistral.

Foi-me contado pelo tio da minha mulher, filha do então já General de Aviação, mas Capitão de Bandada na visita à Alemanha, Higinio González , que a poetisa era arrogante e soberba ao dizer: “Yo ya sabia, a quién mas podían premiar se no a mi? Pienso que merezco este prémio”, enquanto bebia a sua habitual mistela ou vinho com agua e açúcar, pouco vinho, muita agua e muito açúcar. De facto merecia, pelo seu empenhamento na escrita, pela sua auto educação, pelos caminhos percorridos como professora primária sem grau nenhum, e porque Pedro Aguirre Cerda, professor de Castelhano no Liceu da Cidade de Los Andes, Centro-Este do Chile, limite com Argentina, tinha dito: “Lucila, tú escribes muy bien y debes salir de aqui para ser la poetisa de Chile, que es lo que mereces,fuera de Chile, vas a aprender más”. Aguirre Cerda, enquanto trabalhava, estudava Direito e foi Advogado. Como membro do Partido Radical, esse partido de ideias laicas e da igualdade, concorreu como candidato à Presidência da República em 1938, e ganhou. Como Presidente, de imediato lembrou-se da sua amiga Lucila e a enviou como consulesa a París.

Antes de passar mais em frente, é preciso dizer que o meu sogro foi o seu Edecán Aereo, ou o representante das Forças da Aviação oficiais de alta patente que devem acompanhar ao Presidente do Chile, um Edecán por cada rama das forças militares Comandante em Chefe das Forças Armadas. Raúl González Nolle era de tendência liberal radical, mais ainda ao seu retorno da Alemanha do Hitler, que visitou por ter sido enviado, não por prazer ou ideologia. Foi Edecán de Aguirre Cerda, quem falecera durante o seu mandato, e a seguir, do eleito Presidente Juan António Ríos, Radical até a sua morte, também durante o desempenho do mandato Presidencial. Foi por essa tendência que ele apoiara ao dito González Videla, referido na Introdução. Mas, acrescento esta nota para salvar a feliz memória do pai da minha mulher, o General já falecido, Raúl González Nolle, cuja memória nos acompanhara no exílio por ter sido Adido Aéreo na Embaixada do Chile em Londres e falar com a sua Secretária, que nos contava as histórias do Simpático e Senhor que era “our Dear General”!

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A volta a Inglaterra estava impregnada dessas lembranças e companhias fantasmagóricas, para ajudar a sobrevivência que tínhamos ganho. Sobrevivência cheia de lembranças do país perdido, esse, denominado pela nossa compatriota e colega de cidadania, Isabel Allende, País Inventado. Apenas que o seu é uma história como a minha, onde todo está provado. Como provada ficou a existência no país de memória estreita e curta, a festividade do Roto Chileno. Relatei e provei, apenas que não referi o motivo do nome. Era um arrieiro que levava, junto a sua manada de animais, cartas segredas entre os patriotas no Chile e o Ejército Libertador Chileno-Argentino, na Cidade de Cuyo, Província de Mendoza, na nova República Argentina . Memórias que acompanharam a nossa volta para Inglaterra ou Grã-bretanha, como é denominada.

Apenas mais duas ideias. Não esqueço que Lucila Godoy ou Gabriela Mistral, foi enviada fora por Aguirre Cerda, mas antes, já tinha estado no México a convite do Governo, para colaborar na Reforma Educativa desse país.

Apenas uma nota final. A nossa volta a Cambridge, foi também um encontro de exilados, não apenas o nomeados chilenos, bem como, e é por isto que lembro esses encontros, do poeta mexicano Octávio Paz, muito influenciado por Gabriela Mistral, como Neruda, já falecido nesses dias, Julio de la Fuente, cujo pulóver ainda guardo como oferta para mim, feita por ele, Mário Vargas Llosa Catedrático por um ano na Cadeira Simón Bolivar, oferecida pela Venezuela ao Centro de Estudos Latino-americanos ou Latin American Centre à Universidade de Cambridge. Mas, a Venezuela não tinha suficientes cientistas para presidir a Cátedra, a que era oferecida a escritores da América Latina, que por aí iam ficando. Um chileno, antigamente o meu amigo, Edgardo Flotto, ocupou também essa Cátedra, no Centro referido e presidido pelo meu grande amigo David Lehman. Mais tarde, a mulher que me salvou da depressão, a mina amiga francesa que eu conheci como Françoise Barbira-Freddman, conhecida por mim antes como de Schazzochio e referida em nota de rodapé em este Capítulo, do Centro de Estudos Latino-americanos ou Latin American Centre, afiliada como Professora ao Departamento de Antropologia Social, membro da Faculdade Darwin ou Darwin College, também ocupou a Cátedra, pelo seu trabalho de campo e publicações sobre a República do Peru

De resto, o meu grande apoio foi sempre a minha mulher, até ela ficar deprimida e querer que eu não acaba-se o meu doutoramento: “Total, Raúl, somos exiliados y no tienes obligación ninguna”. Foi o dia que Françoise visitou-me especialmente, para me dizer se eu estava doido ou quê! Se queria ser mais um, bom, não acabar o caminho, mas que ela lutava por mim, porque diziam por ai, do meu grande valor como académico. A esse empurrão emotivo, devo esse acabamento da minha pesquisa e escrita da tese, a depressão que a minha mulher teve – típico dos deprimidos psicológicos tentar afundar outros para se salvar a si próprios, como o nosso analista me explicara, Martín Cordero. O meu sucesso foi, durante um tempo, a ruína da minha mulher, que, finalmente se recompôs. Mas essa história é dela e eu respeito o seu sofrimento e a sua interpretação dos factos.

Senhor Leitor, vamos ter que parar um pouco, para me recompor e passarmos ao próximo Capítulo, onde vamos recuperar aos meus amigos de Compostela que financiaram dos seus bolsos, o acabamento da minha tese e a sua impressão, bem como ao Jack (Sir Jack Goody, hoje), que me orientara para pedir ajudas de custo para a tese à Cátedra William Wyse. Ele sabia que ia receber dinheiro. Quem não sabia que era da sua decisão, era eu! No dia do meu exame de tese, a minha mulher, recuperada mas muito em baixo, fez um grande esforço, foi a rua, comprou vinho e levou-me numa travessa a garrafa com copos. Camila e Paula comentaram: “Well now, we have no need to go to the Surgery anymore. We have a Doctor at home!”…
Foi o princípio do fim da minha estada em Cambridge e a minha entrada a Lisboa pela mão dos meus amigos Alan Macfarlane e a sua mulher Sarah Harrison, ao que referiram o meu nome e o de Brian O´Neill, para os planos de pesquisa Gulbenkian em Lisboa, ao meu grande suporte anglo-brasileiro, o Magister Robert Rowland, que fez, um dia, da sua casa, o meu lar, junto com Helena , nessa altura, a sua mulher.
Para agradecer há !tantos! que era necessário uma wikipédia e não é essa a minha intenção. A minha intenção é apenas relatar como é a via chilena ao socialismo, que começa como via crucis e acaba como...ainda não sei!

Notas:
A única referência encontrada, é a da página web, que denomina ao Chile a Prusia de América do Sul, por causa da visita em 1937 do Comandante em Chefe da Força Aérea, General Del Aire Diego Aracena, e sus assistentes, entre os quais o Capitão de Bandada Raúl González Nolle, que tinha preparado essa visita a Alemanha em 1935, ao ser enviado a visitar o Terceiro Reich por motivos apenas comerciais: texto na página web: http://www.espacioblog.com/dolar/post/2007/05/03/la-prusia-america-del-sur . Outro texto diz”: “Por eso se esmeraban los diplomáticos, representantes industriales alemanes en invitar a oficiales de Estado Mayor latinoamericanos para que conocieran en Alemania las últimas novedades técnicas. A fines de 1935 viajaron al Tercer Reich tres altos oficiales de la Fuerza Aérea: el comandante Basaure, el capitán de bandada González Nolle y el comodoro del aire Manuel Franke. Los huéspedes chilenos visitaron los consorcios de armamentos de Krupp en Essen, Siemens en Berlín, Daimler Benz y la fábrica de aviones Klemm en Stuttgart, quedando profundamente impresionados con la "extraordinaria organización y disciplina" del país anfitrión”. Texto retirado da página web: http://www.accionchilena.cl/Pagina%20Central/prusia.htm e do sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Hist%C3%B3ria+de+vida+Fam%C3%ADlia+chilena+Gonz%C3%A1lez++Nolle+&btnG=Pesquisar&meta=



Higínio González Nolle, ver a página web: http://archivo.minrel.cl/webrree.nsf/PagLisTodosServExtEnChile?openpage&count=100&start=2801o que refere no sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Chile+1950+General+Ra%C3%BAl+Gonz%C3%A1les+Nolle&btnG=Pesquisar&meta=1 949, González Nolle, Higinio, Cónsul General, Francia


Para saber mais e reivindicar uma memória, visite o sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Chile+1940++Ra%C3%BAl+Gonz%C3%A1les+Nolle&btnG=Pesquisar&meta=


O nome do Arriero, nunca foi conhecido. A quem diga que era Manuel Rodriguez, outros, apenas um patriota anónimo e sempre diferente. A memória do Chile é curta, especialmente por ter sido necessário, tantas vezes, lutar pela liberdade e a cidadania. Vezes sem fim, havia lutas pelo poder, até o sistema político se estabilizar no Século XX, a seguir o derrube da, até hoje, a derradeira ditadura do bem conhecido general. Somos denominados a Inglaterra da América do Sul, mas de facto...Não resisto reproduzir cá o que encontréi na página web: http://entuciudad.cl/2006/02/15/el-roto-chileno/” Hace un poco menos de un mes, se celebró el día del roto chileno. En la plaza Yungay de la comuna de Santiago existe un monumento que recuerda a este personaje sin nombre y donde cada 20 de enero se conmemora su trascendental participación en la batalla de Yungay. Además de todo lo que significó como aporte al nacimiento de la patria.


Por que el concepto de roto no es peyorativo, al contrario. Es un calificativo para una clase social, con un origen humilde, carente de educación y bienes materiales, pero al mismo tiempo, es rica en entrega, en trabajo, en cariño por la vida, y por los demás.


¿Quedan rotos aún? ¿y en la ciudad? Yo creo que sí. A pesar de los nuevos y mediatícos conceptos de flaite, y huachaca, el roto sigue existiendo, manteniendo su valor, su identidad, y su dignidad.”Retirado da página web citada, no sítio Net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Fiesta+del+Roto+Chileno+en+tu+ciudad+Plaza+Yungay&btnG=Pesquisar&meta= Publicado no Jornal o Periódico, como se diz no Chile, El Ciudadano, Periódico mensual, año 3, número 51, fundado en marzo del 2005, do qual sou subscriptor via Net.


Gabriela Mistral foi Educadora, Poetisa e Diplomata. A partir de 1933, por causa das intervenções de Pedro Aguirre Cerda junto ao Ditador desse tempo, Carlos Ibáñez del Campo e durante 20 anos, foi cônsul de seu país em cidades como Madrid, Lisboa e Los Angeles, entre outras. Foi nomeada directamente pelo Pedro Aguirre Cerda como Consulesa no Brasil, e residia na cidade de Petrópolis, quando foi eleita Prémio Nóbel de Literatura. Como se diz no Chile, Chileno que triunfa no Estrangeiro, no Chile não tem nenhum valor. Pelo que o prémio de Literatura, o mais importante galardão literário do Chile, foi-lhe outorgado apenas no ano 1951. Foi recebe-lo ao Chile, mais uma vez ao pé do hoje eleito Presidente Carlos Ibáñez del Campo. Como me fora dito pela minha família, não tinham de quê falar e viajavam em silêncio. Para saber mais, visite a pagina web: http://www.sergiosakall.com.br/americano/materia_chile.html , do sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Gabriela+Mistral+foi+C%C3%B3nsul+do+Chile+nos+pa%C3%ADses+de&btnG=Pesquisar&meta= Não resisto reproduzir nesta nota, uma informação valiosa da vida de Gabriela: Sua fama como poetisa (ainda que preferisse ser chamada de "poeta") começou em 1914, logo que foi premiada por seus Sonetos de la muerte, inspirados no suicídio de seu grande amor, o jovem Romelio Ureta. Foi nesse concurso que se apresentou com o pseudónimo que a acompanharia por toda a vida. Nunca casou e faleceu a seguir essa única viagem ao Chile de 1951, em 1957, no Hospital Os Cedros do Líbano, USA e levada a enterrar ao Chile de Ibáñez , no mesmo ano. O seu corpo, lembro-me eu, esteve em Câmara ardente nas portas da Universidade do Chile. Na Revista Estudos Feministas, vol.13 no.2 Florianópolis May/Aug. 2005, a Doutora Licia Fiol-Matta, no seu texto Mulher-raça": a reprodução da nação em Gabriela Mistral, na página web: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0104-026X2005000200002&script=sci_arttext .






Françoise Schazzochio, como eu conheci, é hoje Fançoise Barbira-Freedman,, ao juntar o seu nome pessol Barbira, com o do seu marido. Hoje em dia é, não apenas Antropóloga, bem como tem-se graduado em medicina após o seu trabalho de campo na Amazonia Peru, em Tarapotos. Aparece referida no sítio net: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Fran%C3%A7oise+Barbira-Freedman&btnG=Pesquisa+do+Google&meta= , que comenta que Françoise Barbira-Freeman, após ter feito trabalho de campo na amazonia peruviana, acabou por fundar uma obra caritativa, ou centros de ioga para pessoas que iam ter filhos e facilitar o parto das mulheres a dar a luz. É a Françoise a quem devo, praticamente, a minha vida académica, que ia a cair por causa de uma depressão que não era a minha. As sua funções de médica de ioga para parturentas, estão referidas em: http://www.google.pt/search?hl=pt-PT&q=Fran%C3%A7oise+Barbira-Freedman&btnG=Pesquisa+do+Google&meta= Não apenas ensina no Latin American Centre, bem como abriu uma instituição de estrutura caritativa denominada Birthlight, sedeada em Londres. Além de ser a fundadora desta obra sem fins lucrativos, é Professora Afiliada, ou Adjunta diríamos, ao Departamento de Antropologia da Universidade de Cambridge. O meu agradecimento para ela é eterno, salvou-me de uma vida triste e aborrecida e, sem ela saber, colaborou para a minha recuperação e a da minha mulher, pelas opções livres e firmes que escolhemos: nunca mais sob o mesmo tecto, mas sempre amigos e pais das mesmas filhas e, hoje em dia, avós dos mesmos netos. A sua obra está referida na página web: http://www.birthlight.com/public/teachers/teacher.aspx?id=f06b303f-f93b-48c8-bb97-14436d457908 , que começa por dizer: “The founder of Birthlight, Françoise Barbira Freedman is a medical anthropologist.” O resto, fica com o leitor. No entanto, devo, pelo menos, fornecer a morada electrónica da fundadora desta obra caritativa: http://www.birthlight.com/public/home/ e o sítio web que refere a sua obra:


www.birthlight.com. E mais nada acrescento para esta a minha inacreditável e sabida amiga, encontrada na net. A sua obra está referida em: http://www.buy.com/search/q/loc/106/search_store/3/querytype/books/francoise+barbira+freedman.html


Não resisto a tentação de informar directamente ao leitos destas invasões, com o pará
publicado por Carlos Loures às 15:00
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As economias, a criação de riqueza e o pensamento económico contemporâneo

José Reis*

0. Palavras iniciais

Antes de quaisquer outras palavras quero deter-me no significado da realização de encontros como este e saudar os seus organizadores. São três as “marcas genéticas” que me parece que aqui se nos apresentam e que eu quero elogiar. A primeira é que se tem uma visão larga e exacta do que é o debate económico. O debate económico é um debate de ideias, é um debate para gerar cultura. É certamente por isso que aqui se conjugam, de forma exemplar, economia e análise económica com cinema. Se bem entendo a motivação dos meus colegas, trata-se, pois, de sugerir que também aprendemos economia na medida em que desenvolvamos cultura económica. A segunda marca que rodeia uma iniciativa como esta é que os avanços do conhecimento, nos dias de hoje, precisam que reconheçamos que nos rodeia uma inquietação profunda – e que é preciso partir dela mas encontrarmos respostas satisfatórias. Não é portanto por mera opção estética que os filmes e os temas tratam do que tratam – de pessoas na sua individualidade difícil, de relações sociais assimétricas, de problemas que nos interrogam com veemência. Por isso, em terceiro lugar, esta iniciativa é um contributo claro para o pluralismo e para a valorização do conhecimento crítico

1. A financeirização da economia internacional e os caminhos da especulação

São conhecidas as circunstâncias tumultuosas dos tempos correntes: a entrega do financiamento e do crédito internacionais aos mercados liberalizados e à especulação desencadeou uma crise financeira e esta transformou-se rapidamente numa crise económica profunda e certamente prolongada, mal a turbulência se manifestou num sistema bancário desregrado.

Em termos muito gerais, vale, no entanto, a pena relembrar que, de forma mais profunda, estivemos e estamos perante dois fenómenos incontornáveis. Um deles consistiu no facto de a função social do crédito e do financiamento se ter desconectado radicalmente da economia e dos objectivos de geração de riqueza e de promoção das capacidades individuais e colectivas, em favor de uma autonomização descontrolada da intermediação financeira e da especulação. O que devia ser instrumental tornou-se fonte das normas e assumiu capacidade de mando.

O segundo fenómeno – porventura o mais profundo – resultou da própria desconexão da economia relativamente à sociedade. A economia deveria ser entendida como um sistema de provisão e uso de bens e serviços e como um processo de geração de bem-estar e de melhoria das capacidades humanas, tanto individuais como colectivas. E, assim sendo, a economia e a sociedade terão de ser concebidas como duas realidades articuladas. Quer dizer, a economia não pode ser alheia ao conjunto plural de indivíduos e organizações e aos padrões culturais e institucionais que eles estabelecem, bem como aos compromissos e objectivos que resultam do conflito e dos acordos que as comunidades humanas vão gerando. Mas bem sabemos que esta relação se inverteu à medida que tendeu a prevalecer uma noção normativa e redutora da economia, em que esta se impõe à sociedade, em vez de com ela se relacionar positivamente.

Este duplo processo de “desligamento” originou situações generalizadas de insustentabilidade, que agora não se limitam ao domínio financeiro, visto que dizem respeito aos próprios domínios económicos e sociais, para já não referir os ambientais. O que parece claro é que o quadro de circulação e disponibilização de capitais escapou quer a formas de regulação ajustadas, quer à presença prudente de um conjunto plural de mecanismos de alocação de recursos, com a enorme fragilização da esfera pública. Pelo contrário, caminhou-se para uma solução única, totalizante e, seguramente, totalitária – a dos mercados sem fim. O resultado mais evidente foi uma multiplicação de situações turbulentas, que desencadearam irracionalidades, fomentaram desigualdades, consolidaram periferias e reforçaram assimetrias. Como seria, aliás, lógico esperar-se, em vista da “desconstrução” social e económica a que comecei por aludir.
Esta crise é, pois, o culminar destes processos e apresenta-se, por isso, como um poderoso factor de insustentabilidade social e política.

2. Os limites da União Económica e Monetária revelados

O quadro europeu não foi alheio a este contexto e as estas tendências. A União Económica e Monetária pressupôs que bastava assegurar a convergência nominal das economias que a viessem a integrar e que isso era um caminho certo para a convergência real que esbatesse e tornasse pouco importante as relações assimétricas do tipo centro-periferia que pré-existiam à intenção da moeda única. No novo quadro de integração monetária, a disciplina imposta pelos critérios nominais de convergência bastariam para que não houvesse turbulência nem desestabilização. As economias ajustariam as respectivas competitividades e, por essa via, limitariam a sua propensão para gerar desequilíbrios no plano internacional. O crédito e o financiamento não representariam problema que os mercados não resolvessem quer pela disponibilidade que gerariam, quer pela sanção de custo que imporiam. Não seria, portanto, à esfera pública que competiria gerir tal assunto, antes pelo contrário. A esta caberia manter a ortodoxia monetária. Os Estatutos do BCE deram bem conta disso, ao atribuir-se finalidades nobres de controlo monetário, assegurando um enviesamento deflacionário, e compromissos apenas subsidiários ou marginais em matéria de crescimento económico.

A realidade, no entanto, foi às avessas. A lógica centro-perifera das relações dentro da União tornou-se muito evidente, com os problemas de competitividade das economias mais pobres a tornarem-se gritantes. Viu-se depressa que estes eram problemas que a integração monetária não resolvera nem previra e, dizem alguns, agravara dramaticamente. Apesar de ser um problema de monta, este não era, no entanto, um problema que uma Europa solidária, positiva, ambiciosa no plano da coesão social e como valores claros que guiassem o seu futuro não pudesse resolver. De facto, a integração dos países, das grandes federações (caso dos EUA) e mesmo de alguns quadros transnacionais (como o que a “velha” Europa dos fundadores utópicos e dos continuadores generosos pretendia ser) fez-se na base da integração das periferias e da sua transformação estrutural. Isso supõe transferências de capitais e igualmente uma perspectiva global de convergência social e de reorganização produtiva, alterando as especializações e fomentando as bases estruturais que determinam a competitividade.

Essa Europa esfumou-se no mesmo tempo histórico em que a União Económica e Monetária se ia afirmando como quadro normativo mas não como instrumento de desenvolvimento das economias. A “nova” Europa é, ao contrário do sonho, um espaço de incidência de interesses e lógicas nacionais, governada de forma hierárquica pelo centro, isto é, pelas economias que a UEM beneficia, com as periferias a serem entendidas não como os parceiros de um projecto comum que se supunha que tinha sido lançado pela ambição da moeda única, mas antes como sujeitos menores e infractores sistemáticos e incorrigíveis que importaria sancionar.

A base factual para dar este quadro como coisa provada não era difícil de encontrar. De facto, as economias periféricas europeias, com as dificuldades competitivas que tinham – e que algumas, como a Irlanda, foram capazes de disfarçar através de soluções não sustentáveis – revelaram cedo os seus défices e nem sequer se tratou de os entender como custos a suportar transitoriamente, em vista de objectivos de médio prazo de desenvolvimento e de uma mais profunda integração europeia. Os défices passaram a definir o principio e o fim da conversa. É certo que durante algum tempo ainda foram vistos como problemas benignos, enquanto os interesses dos financiadores se sentiam compensados pelos serviços da dívida, isto é por uma remuneração segura e confortável dos seus capitais. Mas rapidamente a situação se tornou tumultuosa. E assim estamos perante uma União que perdeu o seu sentido fundador e que se revela essencialmente como um ser incapaz de se organizar e desenvolver de forma conjunta e solidária. A União Monetária e Financeira, nas suas miopias e nas suas fragilidades contribuiu muito para isso. Poderá contribuir também para uma nova resposta aos problemas?

3. É possível pensar em novos termos?

As bases da Europa e dos seus projectos são, antes de tudo, políticas. É também a partir de uma economia política da construção europeia que os problemas de hoje podem encontrar soluções. E essas soluções existem. Parece-me indiscutível que é a refundação política da Europa, de uma Europa capaz de assumir a globalidade do seu espaço social, político e económico, que pode ser a base de alternativas credíveis. O que não discuto aqui é a probabilidade de tais soluções se concretizarem em momento adequado...
Contudo, é possível pensar em novos termos, inclusive para saber como é que o Euro e a União Económica e Monetária se devem governar. No início tem de estar o papel que se atribui ao Banco Central Europeu. Deve ele ser uma entidade capaz de intervir no mercado primário da dívida soberana? Isto é, deve haver capacidade de intervenção pública no financiamento de défices dos países, fazendo como que tal função não esteja apenas entregue aos mercados e à especulação? Deve evitar-se, como se tornou claro nesta crise, que o BCE financie a taxas de juro baixas os bancos, e apenas os bancos, que financiam a custos elevados os países, deixando estes sujeitos a todas as pressões? Com a ironia de que as garantias dos empréstimos do BCE são os próprios títulos da dívida dos países financiados... Parece evidente que a resposta à pergunta inicial só pode ser positiva, isto é, o BCE deve intervir no mercado primário da dívida soberana.
Mas é também claro que a União deve importar-se tanto com os défices das balanças correntes como com os excedentes. É aí que, no quadro intra-europeu, se encontra uma medida dos problemas estruturas que carecem de política económica – de uma política económica europeia. Dessa política há-de fazer parte a política orçamental e essa há-de ter também uma base europeia (“federal”, se se lhe quiser chamar assim) que a distancie claramente da actual situação, em que o orçamento comunitário não é mais do que 1% do PIB comunitário. Limitar-se a cuidar dos interesses das economias exportadoras (ou, noutro plano, dos bancos alemães) é uma negação profunda da Europa e a mais radical demissão de um compromisso com o desenvolvimento da integração europeia. Da integração real, claro.

4. A criação de riqueza e o pensamento económico contemporâneo

Há mais dois tópicos que me parecem estritamente associados às reflexões anteriores. O primeiro refere-se à necessidade imperiosa de regressarmos a uma compreensão apurada do que é a economia, a sua matriz constitutiva e as suas finalidades. Disse anteriormente que a economia deve ser entendida como um sistema de provisão e uso de bens e serviços e como um processo de geração de bem-estar e de melhoria das capacidades humanas, tanto individuais como colectivas. A economia não é, portanto, um jogo simples e livre (libertino) de afirmação de interesses, de interpretação de motivações ou de difusão errática de incentivos ou sanções. Quem centra a economia em lógicas individualistas, em relações competitivas de natureza interesseira ou egoísta pode dar-se bem com definições muito estritas dos sistemas económicos e da disciplina que se foca numa concepção maximizadora e normativa de racionalidade individual e na redução do conjunto dos mecanismos sociais de alocação de recursos e de coordenação económica a um único deles – o do jogo dos mercados.

No entanto, quando se postula que a economia é um sistema social de provisão e uso que tem a criação de riqueza e a capacitação individual e colectiva como sua finalidade essencial, então o quadro de problemas que se associa à economia há-de ser diferente. Por isso, parece-me claro que o problema da criação e distribuição de riqueza tem de regressar à primeira linha de prioridades da economia e da organização económica. É de estratégias de crescimento que se trata. Estratégias significam opções voluntaristas, concertação de acções e de meios, presença central do interesse colectivo.

Uma coisa me parece certa. Nos dias de hoje, nem os puros mecanismos de mercado (“os mercados”, essa entidade obscura e quase divina que ouvimos repetidamente ser invocada no dia a dia da discussão em Portugal) nem o sistema internacional são suficientes para relançar o crescimento e o bem-estar. Sobre a apropriação especulativa e financeira da chamada lógica do mercado estamos entendidos. E, quanto ao sistema económico internacional, quanto ao contexto em que o comércio internacional foi um poderoso factor de crescimento de economias nacionais de feição exportadora, parece razoável dizer-se, como alguns o fazem com veemência, que também conhecemos os limites da persistência de elevados défices comerciais externos por parte de grandes economias.

Quer isto dizer que me parece acertado colocar na agenda, sobretudo para economias periféricas, o regresso a política industriais activas. Estas políticas hão-de resultar do propósito de repor o crescimento nos lugares cimeiros das prioridades. E hão-de, sobretudo, consistir em meios pelos quais se regresse a transformação produtiva das economias, dando lugar a uma lógica de investimento que origine produções não-tradicionais susceptível de valorização internacional.

Parece-me claro que inquietações desta natureza sugerem inquietações de idêntica natureza quanto ao conhecimento económico que mais facilmente se tem difundido e reproduzido nas últimas décadas. Sou dos que acham que a teoria económica dominante foi um dos responsáveis activos pela crise, designadamente pela teoria dos mercados que propalou. Quer isto dizer que a crise comporta um convite irrecusável ao regresso ao pluralismo das concepções económicas, o que certamente há-de estar associado a visões prudentes sobre a organização económica e os mecanismos de que dispomos para promover a coordenação dos agentes. Uma parte desse convite não pode ser ignorado por uma faculdade de economia – refiro-me à maneira como ensinamos economia e como sugerimos aos estudantes formas de aprendizagem robustas, inteligentes e capazes de produzirem benefícios sociais relevantes.

Ora, acho eu, iniciativas como esta são já um contributo inestimável para estes últimos propósitos e por isso felicito de novo os organizadores.

*Director e Professor Catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra. Investigador do Centro de Estudos Sociais


publicado por Carlos Loures às 14:00
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Semana da Economia - A terceira Ponte é demasiado cara.

Luis Moreira

Um engenheiro que percebi ser quadro da Brisa, veio à TVI explicar que a Terceira Ponte sobre o Tejo para servir o TGV é demasiado comprida e cara, pelo que a solução é a Ponte 25 de Abril, onde já lá temos comboios a 60 Kms/hora.Mas vamos à matéria:

De alguém que me mandou este texto, onde se colocam interrogações apropriadas.Poderá ser conhecido por alguns dos leitores mas, sendo simples e comparando com países que todos conhecemos, ajuda a compreender as dúvidas acerca da rentabilidade dos investimentos públicos.

· Estádios de futebol, hoje às moscas,
· TGV,
· novo aeroporto,
· nova ponte,
· auto-estradas onde bastavam estradas com bom piso,
· etc. etc.

A quem na verdade serve tudo isto? A quem vai servir o TGV?

1. aos fabricantes de material ferroviário que já não existem em Portugal, por isso há que os comprar lá fora.
2. às construtoras de obras públicas (sempre elas...)
3. e, claro, aos bancos que as financiam

Ao contrário os portugueses ficarão mais endividados!

Experimente ir de Copenhaga a Estocolmo de comboio.Comprado o bilhete, dá consigo num comboio que só se diferencia dos nossos 'Alfa' por não ser tão luxuoso e ter menos serviços de apoio aos passageiros.(é verdade, eu próprio já fiz esta viagem)

A viagem, através de florestas geladas e planícies brancas a perder de vista, demorou cerca de cinco horas. Não fora conhecer a realidade económica e social desses países,daria comigo a pensar que os nórdicos, emblemáticos pelos superavites orçamentais, seriam mesmo uns tontos.

Se não os conhecesse bem perguntaria onde gastam eles os abundantes recursos resultantes da substantiva criação de riqueza. A resposta está: . na excelência das suas escolas,
· na qualidade do seu Ensino Superior,
· nos seus museus e escolas de arte,
· nas creches e jardins-de-infância em cada esquina,
· nas políticas pró-activas de apoio à terceira idade.

Percebe-se bem porque não construíram :
· estádios de futebol desnecessários,
· nem optam por ter comboios supersónicos que só agradam a meia dúzia de multinacionais.

O TGV é um transporte adequado a países de dimensão continental, extensos,
onde o comboio rápido é, numa perspectiva de tempo de viagem/custo por passageiro,
competitivo com o transporte aéreo.

É por isso que, para além da já referida pressão de certos grupos que
fornecem essas tecnologias, só existe TGV em França ou Espanha
(com pequenas extensões a países vizinhos).

É por razões de sensatez que não o encontramos
· na Noruega,
· na Suécia,
· na Holanda
· e em muitos outros países ricos.

Tirar 20 ou 30 minutos ao 'Alfa' Lisboa-Porto à custa de um investimento de cerca de 7,5 mil milhões de euros não trará qualquer benefício à economia do País. E quem tem pressa em chegar a Madrid viaja num dos muitos aviões que a todas as horas partem de Lisboa, do Porto ou de Faro.

Para além de que, dado ser um projecto praticamente não financiado pela União Europeia, ser um presente envenenado para várias gerações de portugueses que,
com mais ou menos engenharia financeira, o vão ter de pagar.

Com 7,5 mil milhões de euros podem construir-se:

- 1000 (mil) Escolas Básicas e Secundárias de primeiríssimo mundo
que substituam as mais de cinco mil obsoletas e subdimensionadas existentes ,(a 2,5 milhões de euros cada uma);

- mais 1.000 (mil) creches (a 1 milhão de euros cada uma);

- mais 1.000 (mil) centros de dia para os nossos idosos (a 1milhão de euros cada um).

E ainda sobrariam cerca de 3,5 mil milhões de euros para aplicar em muitas outras carências,como, por exemplo,na urgente reabilitação de toda a degradada rede viária secundária e, também na reabilitação dos centros urbanos.

Cabe ao povo ver que tudo isto é um negocio entre partes, que ninguem sabe quais, tendo a certeza que essas mesmas partes irão tirar os dividentos de tal negócio megalómano endividando as proximas três ou quatro geraçoes deste país. Qualquer pessoa minimamente inteligente e sem interesses directos no negócio vê que Portugal nao necessita de um tgv para nada!!

PS: Soube-se por estes dias que a Terceira Ponte sobre o Tejo é da tal maneira comprida e cara que está fora de questão construí-la, pelo que se procuram alternativas. A mais provável é a Ponte 25 de Abril, a tal que já lá tem os comboios sub-urbanos a andar a 100 Kms/hora.A bitola das linhas é diferente pelo que o comboio ao entrar na linha já existente e que serve a Ponte muda automaticamente de bitola,tudo a 300/hora. Imaginação é o que há mais só é pena andarem-nos a vender a ideia que estava tudo estudado e afinal descobriram agora estes pormenorzitos, sem importância nenhuma.

Estou em crer que sempre se consegue meter 3/4 comboios/dia a 300/hora entre os "pastelões" que em cima da ponte andam a 60Kms/hora. Como se vê está tudo estudado, os concursos seguem o seu caminho, dinheiro não há, ponte também não, alguma coisa se há-de arranjar.

Entretanto, o parque escolar tem já centenas de escolas a serem recuperadas, criando emprego e puxando pelas construtoras e por todas as empresas subempreiteiras, em plena crise que é quando o investimento é necessário.

É esta a diferença entre os investimentos públicos de proximidade e os mega-investimentos que só dão resultados (se derem) daqui a 4/5 anos.
publicado por Luis Moreira às 13:00
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A Semana da Economia conta com a participação de valiosos textos de

docentes da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

Às 21:00 estamos a apresentar diariamente a colaboração dos Professores Júlio Marques Mota, Luís Lopes e Margarida Antunes.

Hoje, às 14:00, publicaremos "As economias, a criação de riqueza e o pensamento económico contemporâneo", do
Professor José Reis, Investigador do Centro de Estudos Sociais, e Director e Professor Catedrático daquela Faculdade.
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publicado por Carlos Loures às 12:30
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"Lá vem Cristóvão Colombo, que tem muito que contar”

Carlos Loures

O Luís Moreira publicou aqui um artigo em que procura provar que Cristóvão Colombo era português. Não cita as fontes onde colheu as informações e faz mal, pois assim compromete-se pessoalmente com uma tese que não faz qualquer sentido defender. “Lá vem Cristóvão Colombo, que tem muito que contar” - foi este título que o Professor Luís de Albuquerque (1917-1992), no seu livro “Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses” (Lisboa, 1990), deu ao capítulo onde abordava a questão da nacionalidade de Cristóvão Colombo. Em 1987, Mascarenhas Barreto lançara “O Português Cristóvão Colombo, agente secreto de D. João II”.


Antes de me adentrar na polémica que a afirmação de Mascarenhas Barreto provocou, devo lembrar que a nacionalidade do descobridor tem sido disputada por diversas nações. Por Itália, desde logo, embora o estado italiano não existisse à época, que lhe chama Cristoforo Colombo, por Espanha que lhe atribui o nome de Cristóbal Colón, pelos portugueses, que o designam por Cristóvão Colombo, pelos catalães que afirmam ser Cristòfor Colom o nome do almirante dos reis católicos. Esta última candidatura, digamos, surgiu em 1988, pela voz de um conhecido livreiro de Barcelona – Josep Porter e que em entrevista de 28 de Junho desse ano dada ao La Vanguardia, afirmava “Cristòfor Colom foi catalão e nasceu em Barcelona». E apresentava documentos e argumentação, contando toda a história de Colombo, desde que nasceu em 1376 na cidade condal. Um dia destes, falarei desses argumentos. Convincentes, pelo menos para quem queira ser convencido.

É uma especulação (há quem lhe chame fraude científica) que ciclicamente é posta em circulação. A última avançada desta fantasia apareceu nas vésperas do centenário colombino e foi a de Mascarenhas Barreto. Luís de Albuquerque saiu à liça e desfez os ténues argumentos, se assim se pode chamar às especulações esotéricas, cabalísticas, moedas que na ciência histórica nada valem. A lenda da naturalidade portuguesa de Colombo tem precedentes.

Em 1927, Patrocínio Ribeiro editou em Lisboa (edição bilingue, português -inglês) –A Nacionalidade Portuguesa de Cristóvão Colombo. Solução do Debatidíssimo Problema da sua Naturalidade pela Decifração Definitiva da Cifra Hieroglífica; em 1928, nova arremetida – D. Cristóbal Colón ou Syman Palha, na História e na Cabala, obra de Pestana Júnior; em 1930 foi a vez do major Santos Ferreira, com Salvador Gonsalves Zarco (Cristóbal Cólon). Os Livros de D. Tivisco; Alexandre Gaspar da Naia publicou em 1950 e 1951 dois livros – Cristóbal Colón. Instrumento da Política Portuguesa da Expansão Ultramarina Portuguesa e D. João II e Cristóbal Colón. Factores Complementares na Consecução de Usar o Mesmo Objectivo. Há ainda um opúsculo de Manuel Luciano da Silva – O português Cristóbal Colón. Como se vê, Mascarenhas Barreto, trinta e tal anos depois da última tentativa, avançou com a sua.


Ofereceu o livro ao Professor Luís de Albuquerque onde exaltava a sua honestidade e erudição, manifestando a sua profunda admiração. Porém, quando o Professor desmontou peça por peça o seu tosco artefacto de ilusionismo circense, passou a ser qualificado como «escumalha», «comunista», «marxista-leninista», «internacionalista». Alguns jornais exultaram, pondo em pé de igualdade mistificador e cientista, ofensor e insultado. Jornalistas pouco escrupulosos (há alguns) aproveitaram a polémica para compor artigos sensacionalistas, apelando ao nacionalismo, como se para ser patriotas tivéssemos que acreditar em fantasias.

Não vou aqui esmiuçar a questão – remeto-vos para o livro citado de Luís de Albuquerque.. Porque a questão resume-se a isto – não há questão - existem provas documentais insofismáveis de que Colombo nasceu em Génova e perante essas provas o que são «explicações» esotéricas ou que vem fazer a história dos Templários (que tem sido pau para toda a obra)? Que José Rodrigues dos Santos defenda a mesma tese no romance “Codex 632” (Lisboa, 2005), compreende-se – é um romancista. Que um historiador queira falsificar a história, é coisa que não se aceita.

E depois porquê tanta discussão por causa de um navegador que, mesmo com estrolabio, estava num continente que os mapas da época não registavam, supondo estar nas Índias e que morreu sem saber que estava enganado? Temos o Vasco da Gama que quis ir à Índia e foi; o Pedro Álvares Cabral que queria achar um Novo Mundo e achou! Para que queremos nós o Colombo? Nasceu em Génova - é genovês.

O amor à pátria é uma virtude, o chauvinismo é peçonha. Queremos o que é nosso – Olivença, por exemplo – Itália tem direito a Cristoforo Colombo – apesar de estar mais ligado à nossa história (e sobretudo à de Castela) do que à de Génova. O mesmo aconteceu com Fernando Bulhões - nasceu em Lisboa, mas foi em Pádua que foi Santo António – é português. Colombo é genovês. E isto parecendo um conselho ao nosso Luís Moreira para não defender teses fantasiosas e desacreditadas, tem sobretudo a ver com uma troca de impressões que vou ter com o nosso Professor Sílvio Castro a propósito da Literatura Brasileira. Mas isso fica para amanhã.
publicado por Carlos Loures às 12:00
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Homenagem a António Victorino d' Almeida

Clara Castilho


António Victorino d’Almeida fez este ano 70 anos de idade e 55 de carreira. Esta dupla celebração juntou a Câmara Municipal de Lisboa e a Orquestra Metropolitana, desafiadas por Anne Victorino d’Almeida, filha mais nova do homenageado, a promover uma homenagem, concretizada num concerto que ocorreu no dia 26 de Novembro no Auditório do Campus de Campolide da Universidade Nova. No concerto comemorativo foram tocados duas obras do maestro, compositor e pianista, «Abertura Breve» e «Sinfonia para um Homem bom», bem como uma peça de Anne Victorino d’Almeida, «Sete Sonetos de Camões», em estreia absoluta.

A finalizar a Orquestra tocou o “Fado do campo grande” que aqui ouviremos num voz de uma fadista:



Não pretendo aqui fazer a história deste homem, nem recitar a sua vastíssima obra. Mas relatar uma noite a que me juntei com gosto a esta iniciativa. Prefiro sempre homenagear as pessoas vivas e não as que já nos deixaram…
Talvez recordar algumas das suas músicas.

A VIDA DE UM NÃO HEROI



Música para o filme “Capitães de Abril” de sua filha Maria de Medeiros:

publicado por Carlos Loures às 11:00
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Sempre Galiza! - Síntese do reintegracionismo contemporâneo (22), por Carlos Durão

coordenação de Pedro Godinho

Síntese do reintegracionismo contemporâneo (22)
  por Carlos Durão



(continuação)

Higino Martins Esteves: “O til deve ser recuperado porque doutro jeito nom há possibilidade nenhũa de integrar os diversos dialectos galegos. Nom só historicamente no passado, mas também no presente” (2008: 56). “Nom descarto escrever na norma portuguesa em contextos amplos. Só quero reservar-me o direito de usar formas galegas legítimas, que nom diminuem a consolidaçom da língua e enriquecem aos mesmos portugueses, que nelas se reencontram./ A norma AGAL foi e é boa para aproximarem-se os de fora, os que andavam desapercebidos da questom. A norma AGAL oficial de máxima (com til) cumpre-lhe aos que já conhecem e entendem a história. Além desse ponto nom há mais formalizações que a portuguesa, a brasileira e a do Acordo do 90 (2008: 69-70)”.

Mª Rosa da Rocha Valente: “Por Galiza resto e resistencia entendo e delimito o Grupo Geracional da Lusofonia que vem das Irmandades da Fala historicas e do seu portavoz a revista NÓS. Grupo hoje reinvestido de uma força nova e nova luz” (1990, 21-26: 37).

Leodegário A. de Azevedo Filho: “os caminhos do reintegracionismo são os únicos que podem garantir ao idioma galego a sua própria sobrevivência” (1986, I: 22); “Assim, é rigorosamente a mesma a origem lingüística do galego e do português, não havendo separação entre eles na poesia medieval cultivada pelos trovadores e jograis daquela época. [...] se o galego é um dialeto rural do português, a sua norma culta só pode ser a portuguesa. Afinal, o português de nossos dias não pertence apenas a Portugal [...] a reintegração ou reincorporação total da Galiza no seu  mundo lingüístico próprio, mundo de que ela é a própria matriz histórica [...] com ampla e evidente expansão cultural do galego, seria a melhor solução do problema. [...] sem reintegrar-se no sistema luso-brasileiro, num processo de revitalização, jamais conseguirá expressão culta e literária [...] no lugar de recuperação do idioma, talvez seja melhor falar em sua revitalização” (1985.1988, 7-12: 96-110).

Gladstone Chaves de Melo: “É preciso abandonar de vez a idéia naturalista e romântica de que o único artífice das línguas é o povo.[...] só o povo é dono e modelador da língua? Qual povo? [...] concluamos que a língua é a mesma e que podemos, tranqüilos, passar do ‘diassistema’ ao ‘sistema’” (1993, III: 91-92-96); emprega também a expressão “reintegração galego-portuguesa” (1980.1985, 4/5: 41-56).

Sílvio Elia: “Vemos, pois, que para a Profª Henríquez Salido não haveria, a rigor, uma língua galega e sim uma norma-padrão galega, dentro do sistema lingüístico galego-português. A minha posição é a da existência de um sistema lingüístico galego-português, historicamente realizado como “domínio lingüístico galego-português”. Por motivos político-militares, houve, em certo momento da história, uma separação (não cisão) entre o galego e o português [...] Língua, tanto numa perspectiva (sic) estruturalista, quanto um enfoque sociolingüístico, realmente o galego não o é, pois a língua de fato historicamente existente é o galego-português. A questão desloca-se, assim, para o plano cultural, onde, só por extensão, se poderia atribuir ao galego a condição de “língua”” (1993, III: 131).

Evanildo Bechara: “há sempre um descompasso entre o que se pronuncia e o que se escreve [...] O problema se torna mais agudo, quando a língua serve a países diferentes, como é o caso da nossa, que está a serviço de brasileiros, galegos, portugueses e das recentes nações africanas. Não ocorrem complicações maiores, porque a ortografia é fonêmica, e não fonética, isto é, não se preocupa com registar variedades de fala [...] Entretanto, brasileiros e portugueses divergiram em pequenos pontos que agora os governos, pelas suas Academias, e os representantes das jovens nações africanas de língua portuguesa além dos galegos querem ver unificados. Tal intento é perfeitamente exequível, sem se perder de vista que unidade ortográfica não significa conformidade de língua se bem que uma língua histórica não deve ter mais de uma ortografia” (1990/91, 19-28: 49-50). “Falar em reintegracionismo do galego é do ponto de vista lingüístico algo pleonástico porque não se pode reintegrar algo que nunca deixou de integrar. /E do ponto de vista lingüístico o galego é uma vertente desta realidade da língua histórica que se chama língua comum, que é o grande guarda chuva ideal, modalizado pela cultura que abriga todas as variedades lingüísticas de todos os quadrantes geográficos em que essa realidade maior que se chama língua portuguesa é falada e é escrita. /De modo que do ponto de vista lingüístico, o galego nunca se separou do português como uma entidade que pertence a essa realidade histórica que caracteriza uma língua de civilização e de cultura como é o português” (2008).

Salvato Trigo: “O Minho, com suas terras e com suas gentes, reservou, desde muito cedo, lugar na literatura que se exprime neste idioma, que nos moldou o carácter e predispôs a alma de “cavaleiros andantes” em busca do mundo. Idioma, que nos uniu na Galécia, sem nos apagar totalmente os rastos celtas que nos imprimiram o acrisolado amor ao torrão natal de que a saudade é a expressão eloquente. [...] Idioma, em fim, que, apesar de alguns ventos contrários, nos fez reencontrar a nós, galegos e portugueses, nos caminhos da História que os gerou” (1993.1994, 35-40: 31); “[...] um galeguista como eu, que muitas vezes afirmo e sempre assumo a minha galeguidade do sul, de entre Minho e Lima [...]” (1996-1998, 51-58: 203).

José da Costa e Silva: «Portugal e a Galliza falaram sempre a mesma língua; e a historia testefica esta asserção. Todos os antigos escriptores hespanhoes chamam língua gallega, ou língua portugueza, ao idioma das duas nações; d’aqui vem que Macias el Enamorado é contado por uns entre os Poetas Gallegos, e por outros entre os Poetas Portuguezes; daqui vem dizerem uns que El-Rei D. Affonso, o Sábio, escrevêra grande número de cantigas para musica em Gallego, ao passo que outros dizem que foram escriptas em Portuguez, mas a verdade que todos dizem a mesma cousa, usando de denominações differentes./ Mas qual é a razão, perguntará alguem, porque o mesmo idioma apparece tão outro na boca das duas nações de quem elle é a linguagem natural ? A razão é mui fácil de deduzir. Portugal constituio-se reino sobre si, teve, e tem tido independencia, e litteratura; Galliza ficou sempre provincia de Hespanha. Portugal poude por isso cultivar a sua lingua, regularisa-la, opulenta-la com muitos vocabulos latinos, gregos, e de outras nações, apurar a sua syntaxe, e tornar flexivel, e harmoniosa a sua prosodia. Galliza, que nunca teve independencia, nem litteratura propria, não poude fazer outro tanto; os homens sabios, que tem produzido, escreveram em castelhano; a lingua popular circumscripta aos usos caseiros, e ás necessidades do vulgo, foi condemnada a ficar na sua rudeza, e na sua barbarez primittiva; de que só poderá sahir, si por algum caso inesperado tornar a unir-se comnosco» (1850).

(continua)
publicado por estrolabio às 10:00
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